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Vão máximo do piso em granjas brasileiras ultrapassa limites recomendados e compromete bem-estar animal, aponta médico-veterinário

Especialista diz que não existe um piso ideal, pois cada aspecto positivo pode trazer um aspecto negativo. Porém, ele recomenda que é preciso avaliar a realidade de cada fase para fazer a melhor escolha.

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A escolha do piso ideal para suínos não possui uma resposta definitiva, uma vez que depende de diversos fatores e circunstâncias, assim como cada tipo de piso apresenta vantagens e desvantagens em diferentes situações e fases do sistema de produção. Além disso, fatores como clima, umidade, nutrição e genética também devem ser levados em consideração. Quem chama atenção para esses aspectos é o médico-veterinário e mestre em Ciência Animal, Tom Kramer, que foi um dos palestrantes do 17º Encontro Regional da Abraves/PR, realizado em meados de março, em Toledo, PR.

De acordo com um estudo realizado pela Universidade Estadual de Iowa, nos Estados Unidos, foi constatado que cerca de 29% das mortes ou eliminações de suínos no plantel ocorrem devido a problemas locomotores, especificamente relacionados à claudicação. Em outro levantamento realizado em 2007, os problemas locomotores e a claudicação foram responsáveis por cerca de 30% das ocorrências de problemas no plantel de criação de suínos. Contudo, passados quase 20 anos, a suinocultura ainda enfrenta essa mesma realidade. “Isso sugere que há algo que não estamos fazendo corretamente para lidar com esse problema. É fundamental avaliar as práticas de manejo e a nutrição dos animais, bem como as condições de alojamento, a fim de identificar possíveis causas dessas ocorrências e implementar medidas para preveni-las”, menciona o médico-veterinário.

Médico-veterinário e mestre em Ciência Animal, Ton Kramer – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

Ao analisar a realidade brasileira, com base em um levantamento realizado há quase 10 anos, constatou-se que 65% das porcas apresentavam algum grau de claudicação. Em uma amostra de mais de 60 mil fêmeas, avaliadas em 36 granjas, foi identificado que a prevalência de claudicação variava entre 43% e 83%. “Esses dados demonstram que a claudicação é um problema relevante e frequente na suinocultura brasileira, que pode afetar a saúde e o bem-estar dos animais e, consequentemente, a rentabilidade da produção”, revela Kramer.

Além de escolher um tipo de piso adequado, é fundamental considerar o design da instalação, a qualidade construtiva, a manutenção das instalações e a condição dos animais que ocupam esse ambiente. Entre os aspectos que devem ser considerados para definir o piso ideal, destacam-se a durabilidade, a facilidade de limpeza e higienização, o conforto térmico e biomecânico dos animais, a redução dos problemas locomotores e a prevenção de lesões. “É importante buscar informações especializadas para avaliar e selecionar o tipo de piso que melhor se adequa às necessidades da produção, garantindo a qualidade e a eficiência do sistema de produção”, frisa Kramer.

Aspectos anatômicos

O casco dos suínos é composto por uma unha lateral e uma unha medial, e a distribuição do peso nos membros é dividida igualmente, com cerca de 50% do peso nos membros anteriores e 50% nos membros posteriores. Nos membros anteriores, o peso é dividido entre os dois dígitos do casco do suíno, já nos membros posteriores a unha lateral suporta uma carga maior, correspondendo a 78% do peso do membro, ou seja, um quarto do peso total do animal está concentrado na unha lateral. “Compreender o tipo de piso, dimensionamento e design é essencial, uma vez que eles estão diretamente relacionados com a distribuição do peso sobre a superfície. A pressão exercida pelo animal é calculada a partir da divisão do peso pela área em que está apoiado ou exerce esforço. Por isso, a escolha do piso adequado pode contribuir para evitar problemas de locomoção e desconforto nos suínos, além de garantir a saúde e o bem-estar desses animais”, expõe.

Tipo da construção

Ao decidir o tipo de construção ou design para uma instalação destinada à criação de suínos, é fundamental levar em conta o dimensionamento apropriado para a fase dos animais que serão alojados. Ao considerar as diferenças entre os padrões, o americano prioriza a redução da mão de obra, tornando mais fácil a limpeza e manejo dos animais, em contrapartida, o modelo europeu enfatiza o bem-estar animal, procurando oferecer condições de vida mais adequadas para os suínos.

Embora os produtores brasileiros afirmem construir suas granjas com pisos adequados para os leitões, a realidade encontrada nas unidades produtivas é diferente. Com frequência, Kramer diz que é possível observar os animais apoiando suas duas unhas centrais no meio dos orifícios presentes no piso ripado da creche. “Infelizmente, muitos produtores ignoram essa situação, mas é importante destacar que as consequências podem ser graves para a saúde e bem-estar dos animais, comprometendo sua qualidade de vida e produtividade futura”, salienta.

Segundo Kramer, é comum encontrar em granjas a situação em que os leitões em crescimento, ao chegarem na fase de recria ou terminação, são submetidos a uma lâmina d’água que, embora apresente vantagens, pode causar lesões na linha branca dos cascos, como rachaduras laterais. “Essa lesão é a mais frequente encontrada em animais abatidos nos frigoríficos e pode levar à eliminação precoce de leitoas jovens e fêmeas de primeira e segunda gestação. É importante que os produtores estejam atentos a esses aspectos e promovam medidas preventivas para evitar tais problemas na criação de suínos”, pontua o médico-veterinário.

Espaço vazio do piso

Em um estudo de 1984, foi investigado o impacto da relação entre o espaço vazio e a parte sólida no piso ripado na ocorrência de lesões nos suínos. O estudo avaliou o peso corporal dos animais de zero a 140 quilos e determinou que o máximo aceitável para o espaço vazio seria de 30%, especialmente para os animais adultos, e que 70% do piso deveria ser sólido. Kramer destaca que esse estudo não considerou fatores como umidade, presença de dejetos e abrasividade do piso.

No entanto, a prática no campo revela que o piso ripado cilíndrico, comum em maternidades, tem uma superfície de apoio de apenas 10%, enquanto o espaço vazado é de 90%, ultrapassando o máximo de vazio recomendado. Já nas instalações de piso de ferro ou tri-bar, esse vazio aponta uma relação de um para um, aparentemente, 50% de superfície de apoio e 50% de espaço vazado, o que também não é ideal para as leitoas, pois elas podem prender suas unhas nos vãos. Já o piso ripado de plástico oferece apoio de 55%, o de ferro fundido 60% e o de concreto 83%. “É importante considerar essas proporções ao escolher o tipo de piso para os animais, pois a migração para um piso de concreto pode não resolver completamente o problema”, salienta Kramer.

Ao considerar o dimensionamento das estruturas, o profissional lembra que é importante levar em conta a largura das unhas em cada fase dos suínos. Quanto mais jovem o animal, mais estreita é a unha, e quanto mais velho, mais larga. “O vão máximo do piso deve ser um pouco menor do que a largura da unha do animal. Nos Estados Unidos, o padrão é de uma polegada, ou seja, cerca de dois centímetros e meio, o que pode ser aceitável para um animal adulto, mas não seria adequado para uma leitoa em desenvolvimento”, menciona.

Considerando o bem-estar e as diferentes necessidades de cada espécie de suíno, é preciso levar em consideração, quando se trata da escolha do piso, que existem duas questões distintas: a primeira é o apoio do animal sobre o piso e a segunda é a limpeza da instalação, que está relacionada com a permeabilidade do piso. “Para exemplificar, vamos considerar um piso ripado de concreto que siga o padrão americano de 2,5 centímetros de vão de 10,5 centímetros de superfície de apoio, totalizando 13 centímetros. Se imaginarmos um piso ripado que cubra 100% da baia, teremos uma permeabilidade de 19%. Porém, se considerar um piso ripado de 50%, a permeabilidade da instalação diminui para 9,5%. Isso afeta a forma como os resíduos se movem na instalação e, consequentemente, a sua limpeza. A permeabilidade é um fator crucial a ser considerado na manutenção da higiene do ambiente”, frisa Kramer.

Construção

Ao pensar na construção de um ambiente, é importante considerar a qualidade dos materiais e acabamentos utilizados. Esse é um aspecto que pode ser discutido com um engenheiro, mas é recomendado que se siga um padrão mínimo de qualidade para o concreto utilizado na construção e que se leve em consideração aspectos como resistência à compressão, relação máxima água-cimento, consumo mínimo de cimento, cobrimento mínimo para aço e design adequado para pisos e vigas. “O uso de concreto usinado é recomendado para instalações que terão contato com os animais e com os dejetos, pois oferece uma maior durabilidade e resistência, além de uma superfície mais lisa e uniforme, o que facilita a limpeza e reduz o acúmulo de sujeira e bactérias”, afirma o profissional.

Um dos fatores importantes a serem considerados durante a construção da granja é o coeficiente de atrito, que leva em conta a abrasividade e a elasticidade do piso. O ideal é que o coeficiente esteja entre 0,5 e 0,7. “Esse fator afeta de sobremaneira as fêmeas, porque limita sua movimentação para buscar alimento e água e pode levar ao sobrecrescimento das unhas, especialmente considerando as características dos animais atualmente”, reforça o mestre em Saúde Animal.

Kramer salienta que assim como o piso ripado, o piso de ferro fundido também apresenta boas condições de coeficiente de atrito. Já o piso plástico oferece as condições ideais apenas quando está seco. Por outro lado, o piso de ardósia não deve ser considerado, pois não atende aos requisitos de coeficiente de atrito e elasticidade necessários. “Outro aspecto importante a ser considerado no piso é a qualidade dos bordos e a baixa resistência do concreto. Essa condição é muito comum devido à queda de ração do comedouro no piso, que fermenta e produz ácido. Esse ácido reage com o cimento do concreto, expondo a pedra brita, o que só agrava a situação. Além disso, muitas vezes a qualidade do concreto é comprometida devido a economia nos materiais utilizados na construção”, explica.

Primeiros lotes perdidos 

Recentemente tem-se observado que em unidades de produção novas, particularmente em granjas de reprodução, o primeiro lote de porcas é perdido. Mas por que isso ocorre? De acordo com Kramer, os animais desenvolvem o que é conhecido como ‘doença do concreto novo’. Ele explica que o problema está relacionado com a abrasividade excessiva do piso, que desgasta o tecido cornificado associado ao hidróxido de cálcio. Esse desgaste ocorre devido ao pH elevado do concreto, que é causado pela falta de tempo suficiente para a cura adequada do material. “Para diminuir a abrasividade é importante adotar medidas como lavar o piso, usar um raspador metálico e aplicar um banho com barrilha para neutralizar o hidróxido de cálcio. Outra opção é esperar cerca de 30 a 45 dias para que o concreto tenha o tempo necessário de cura antes de introduzir as porcas na instalação”, menciona.

Manutenção

Em um levantamento realizado em 2014, constatou-se que 11% das gaiolas de gestação apresentavam danos, com a melhor granja registrando apenas 2% e a pior com 42%. “As fêmeas que sofrem com dor devido ao piso inadequado ficam preocupadas em se deslocar e acabam perdendo o apetite, o que afeta diretamente o desenvolvimento dos leitões e a produção de colostro”, afirma Kramer, ampliando: “O desenvolvimento de calosidade e bursite é favorecido por pisos escorregadios e úmidos, bem como o ambiente, seleção de marrãs, terminação, genética, manejo e nutrição são fatores que podem interferir na claudicação e outras condições que afetam a locomoção dos animais, não apenas o piso”.

Por fim, ao se considerar a escolha do piso, é importante levar em conta aspectos como dimensionamento, tipo, modelo, qualidade construtiva, manutenção e condição do animal. “Não existe um piso ideal, pois cada aspecto positivo pode trazer um aspecto negativo. É preciso avaliar a realidade de cada fase para fazer a melhor escolha. Por exemplo, leitões precisam de um piso menos abrasivo, enquanto o piso ripado de concreto é melhor para as porcas e o piso ripado cilíndrico é o pior. Já o ripado total é prejudicial à saúde e bem-estar dos animais, pois a umidade e os dejetos não são desejados na instalação”, sustenta.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor suinícola acesse gratuitamente a edição digital de Suínos. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural

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Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura

Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

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Foto: Divulgação/Swine Day

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.

O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.

As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.

Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.

Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.

Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.

Fonte: O Presente Rural
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Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças

Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

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Foto: Shutterstock

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.

Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.

No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.

Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.

Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.

Fonte: Assessoria Cepea
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Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde

Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

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Foto: Jonathan Campos

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.

Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock

Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.

Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.

O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.

Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.

Fonte: O Presente Rural com informações Itaú BBA Agro
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