Avicultura Tecnologia
Vacinação de aves de ciclo longo chegou a era 4.0
Toda essa evolução fez com que a vacinação deixasse de ser um procedimento operacional padrão e se transformasse em um ponto crítico de controle

Artigo escrito por Eva Hunka, médica veterinária, MSc. Medicina Veterinária Preventiva e gerente de negócios Biológicos da Phibro; e Eric Culhari, zootecnista, MSc Bioclimatologia e Bem-estar animal e especialista pHi-Tech da Phibro
O termo Pecuária 4.0 e a linha do tempo desta evolução, assim como a origem deste termo, ainda são pouco conhecidas. O termo Pecuária 4.0 faz referência à indústria 4.0. Pensando de maneira análoga ao desenvolvimento da indústria, podemos dividir a história da produção animal da seguinte forma:
-Primeira revolução industrial: a máquina a vapor proporcionou incremento de produtividade e mobilidade de seres humanos. Fazendo uma analogia com a produção animal, podemos considerar que o primeiro evento disruptivo na sociedade ocorreu muito tempo antes, quando os humanos deixaram de caçar, e domesticaram os animais. Este processo possibilitou que a energia empregada na caça fosse redirecionada para outros fins.
– Segunda revolução industrial: se caracteriza pela produção em massa e adoção do método científico (observar, medir, testar hipóteses e concluir) como ferramenta para incremento da produção. Ambas as revoluções citadas, provocaram alterações na sociedade como o êxodo rural, aumentando a população urbana e consequentemente diminuindo a rural.
Sendo assim, a produção de alimentos teve que se alterar, pois aquelas pessoas que praticavam agricultura de subsistência e eram capazes de produzir seu próprio alimento, agora morando na cidade necessitavam comprar este alimento produzido por outros, exigindo maior produtividade nos estabelecimentos de produção animal. Com isso, temos a segunda mudança relevante na maneira de se produzir animais.
– Terceira revolução industrial: é marcada pelo início da digitalização dos processos. Neste período computadores e outros equipamentos eletrônicos vieram em substituição aos meios analógicos utilizados até então para gerar, armazenar e analisar dados. Na pecuária não foi muito diferente. Com o avanço da eletrônica e da capacidade computacional, dados antes registrados e armazenados fisicamente, em folhas de papel, passaram para planilhas eletrônicas, facilitando a análise e visualização dos resultados obtidos. Além disso, equipamentos como alimentadores automáticos passaram a ser vistos em granjas de suínos e aves, ordenha mecanizada em sistemas de produção leiteira, entre outros equipamentos.
– Quarta revolução industrial: tanto na indústria quanto na produção animal, estamos falando do emprego de sensores, ferramentas computacionais avançadas e técnicas estatísticas modernas para coleta de dados massiva e em tempo real, armazenamento destas grandes bases de dados (“big-data”) em nuvem e uso de inteligência artificial para interpretar e gerar resultados a partir de padrões não captados pelo cérebro humano. Neste cenário, exploramos a internet das coisas (IoT) nos mais diferentes processo, como é o caso dos dispositivos de vacinação 4.0, que são capazes de gerenciar todo processo de vacinação, a partir de um dispositivo injetor, que, durante a vacinação, coleta informações sobre o processo e nos permite controle em tempo real e análises complexas, baseadas em dados da própria granja.
A agroindústria vem se tornando cada vez mais competitiva e isso fez crescer a necessidade por tecnologia, aumentando o controle e a eficiência do processo produtivo. Estes processos inteligentes trazem benefícios em diferentes setores da cadeia, desde os relacionados diretamente à produção bem como os que promovem melhores condições de trabalho para os operadores. Este tipo de movimento ajuda a fixar os trabalhadores no campo e promovem um movimento contrário ao êxodo rural, atraindo jovens para o campo.
Empregando as tecnologias que fazem parte deste pacote chamado de pecuária 4.0, estamos gerando uma quantidade de informações muito grande, com qualidade e velocidade incomparáveis aos processos anteriormente utilizados. De posse destas informações a tomada de decisão ocorre também mais rápido, e de maneira mais assertiva, melhorando não só o desempenho, mas a vida das aves de maneira geral.
Tão importante quanto o desempenho, é pensarmos na vida dos animais que estamos criando. Aspectos como comportamento, nutrição e sanidade são avaliados para determinação do grau de bem-estar dos indivíduos de uma criação. Com a utilização de tecnologias como visão computacional, bio-acústica e outras do pacote 4.0, é possível monitorar as condições de bem-estar animal em tempo real, além de identificar problemas e encontrar soluções de maneira mais rápida, melhorando a qualidade de vida das aves. Desta maneira estamos produzindo alimentos de forma responsável e eficiente.
A passos largos
Na avicultura este movimento anda a passos largos, promovendo melhor utilização dos insumos, maior controle dos processos e até mesmo segurança alimentar. A avicultura 4.0 permite uma tomada de decisão mais ágil, evitando erros ou desperdício, com isso temos reduções significativas no consumo de energia, custos com manutenção, maior aproveitamento das matérias primas e consequente aumento de produtividade.
Com toda esta tecnologia, processos antes obscuros, como é o caso da vacinação intramuscular das matrizes, deixam de ser uma operação simples e passam a ser vistos como Pontos Críticos de Controle. Sistemas de gerenciamento do processo vacinal permitem uma ação corretiva em tempo real e tem o smartphone como peça fundamental nesta comunicação entre o equipamento e os supervisores do processo, ou mesmo os tomadores de decisão, visto que todas as informações são armazenadas em “nuvem” e podem ser acessadas pelos diferentes níveis da companhia.
Este tipo de equipamento permite a integração do processo vacinal às rotinas de monitoramento da granja, onde podemos, através de painéis de controle, perceber desvios e tomar decisões com base em dados coletados no campo.
Toda esta tecnologia trouxe e continuará a trazer um aumento de desempenho e produtividade no campo. Atualmente a conectividade ainda é um dos principais gargalos nas propriedades rurais, mas tudo isso é um caminho sem volta e, assim como a tecnologia, a conectividade será uma realidade em breve.
A vacinação 4.0, também traz benefícios sanitários e isto pode ser visto através da monitoria sorológica, que é uma das principais ferramentas para averiguação da proteção vacinal em aves de ciclo longo. Estas aves recebem vacinas inativadas com a finalidade de elevar os títulos de anticorpos e, consequentemente, promover uma proteção mais duradoura, pois os anticorpos específicos, oriundos de uma imunização ativa, geralmente perduram por longos períodos.
Quando falamos em resultados de sorologia, é natural que logo pensemos em qualidade ou potência da vacina utilizada, visto que existes muitas variáveis no produto, que podem interferir nesta resposta como: adjuvantes, tipo de emulsão, concentração e tipo do antígeno etc. Mas muitas vezes esquecemos que o processo de vacinação é tão importante quanto o produto e também impacta neste resultado.
Vacinação evolui
O processo de vacinação evoluiu muito pouco nos últimos anos. Tivemos alguma evolução no que se refere a equipamentos de vacinação, mesmo assim são equipamentos que estão muito dependentes do fator humano. Exceto pelo processo de vacinação in ovo, este já consolidado no Brasil, e foi um grande passo para a automação dos incubatórios.
No caso da vacinação a campo, temos as seringas de precisão, bastante usadas na vacinação intramuscular, mas estas, também tem o homem como peça fundamental para a qualidade do processo, visto que é totalmente manual.
Um trabalho realizado em 2012, em Israel, mostra que o simples fato de a equipe de vacinação saber que está sendo avaliada, altera a sorologia das aves (Gráfico 1). Isso mostra claramente que o processo de vacinação é uma parte essencial do resultado.
Gráfico 1. Titulação de HI para TE (Meningoencefalite Viral de Perus) em lotes onde os vacinadores não sabiam da monitoria (G1 e G2) versus vacinadores que sabiam que estavam sendo monitorados (Monitor.)

Novos equipamentos de vacinação, com uma nova proposta, onde o erro humano é minimizado e o processo de coleta, compartilhamento e armazenamento de dados do processo possibilita correções pontuais, e também, a tomada de decisões mais estratégicas e de longo prazo. Estes equipamentos usam e abusam da internet das coisas e usam a tecnologia 4.0 a seu favor. Com esta melhoria no processo, a soroconversão é mais eficiente e uniforme.
Gráfico t. Titulação de IBD (Elisa IDEXX) em lotes vacinados com dispositivo 4.0 e lotes vacinados com vacinadora manual

Na avicultura trabalhamos com vacinações massais, onde muitos animais são tratados ao mesmo tempo. Neste processo nós temos o lote como unidade epidemiológica, e todos os animais do lote devem ser o mais uniforme possível. Quando falamos em processo eficiente, devemos garantir que todos os animais recebam a mesma dose, em um mesmo momento e por isso devem se comportar, sanitariamente, de um modo muito parecido.
Os equipamentos automatizados trouxeram a processo de vacinação para os dias atuais, elevando o status sanitário das aves e transformando este processo em um ponto crítico de controle da produção.
Nem todo animal que recebeu a vacina esta imunizado, pois existem diferentes fatores que contribuem para a eficácia da vacinação, fatores que variam desde a armazenagem correta do produto até erros de aplicação como dose incompleta, vacinação a partir de frascos vazios ou mesmo aplicação em local errado, podem alterar os resultados sorológicos. Quanto mais controlado for este processo de vacinação, menores são as chances de erros. Um lote bem vacinado tende a apresentar títulos sorológicos mais uniformes, com um abaixo coeficiente de variação. Esta uniformidade diminui a quantidade de indivíduos suscetíveis na população, e no caso de reprodutoras, isso também se reflete da transferência de anticorpos para a progênie.
Toda essa evolução fez com que a vacinação deixasse de ser um procedimento operacional padrão e se transformasse em um ponto crítico de controle. Onde podemos atuar, quer seja em tempo real, por meio da correção dos erros e ajustes no momento da vacinação, ou mesmo em decisões estratégicas de longo prazo, por meio da análise dos dados coletados, oriundo dos diferentes episódios de vacinação realizados, ordenados e compilados, permitindo uma visualização completa dos processos.
Outras notícias você encontra na edição de Nutrição e Saúde Animal de 2020 ou online.

Avicultura
Paraná registra queda no custo do frango com redução na ração
Apesar da retração no ICPFrango e no custo total de produção, despesas com genética e sanidade avançam e mantêm pressão sobre o sistema produtivo paranaense.

O custo de produção do frango vivo no Paraná registrou nova retração em outubro de 2025, conforme dados da Central de Inteligência de Aves e Suínos (CIAS) da Embrapa Suínos e Aves. Criado em aviários climatizados de pressão positiva, o frango vivo custou R$ 4,55/kg, redução de 1,7% em relação a setembro (R$ 4,63/kg) e de 2,8% frente a outubro de 2024 (R$ 4,68/kg).
O Índice de Custos de Produção de Frango (ICPFrango) acompanhou o movimento de queda. Em outubro, o indicador ficou em 352,48 pontos, baixa de 1,71% frente a setembro (358,61 pontos) e de 2,7% na comparação anual (362,40 pontos). No acumulado de 2025, o ICPFrango registra variação negativa de 4,90%.
A retração mensal do índice foi influenciada, principalmente, pela queda nos gastos com ração (-3,01%), item que historicamente concentra o maior peso no custo total. Também houve leve recuo nos gastos com energia elétrica, calefação e cama (-0,09%). Por outro lado, os custos relacionados à genética avançaram 1,71%, enquanto sanidade, mão de obra e transporte permaneceram estáveis.

No acumulado do ano, a movimentação é mais desigual: enquanto a ração registra expressiva redução de 10,67%, outros itens subiram, como genética (+8,71%), sanidade (+9,02%) e transporte (+1,88%). A energia elétrica acumulou baixa de 1,90%, e a mão de obra teve leve avanço de 0,05%.
A nutrição dos animais, que responde por 63,10% do ICPFrango, teve queda de 10,67% no ano e de 7,06% nos últimos 12 meses. Já a aquisição de pintinhos de um dia, item que representa 18,51% do índice, ficou 8,71% mais cara no ano e 7,16% acima do registrado nos últimos 12 meses.
No sistema produtivo típico do Paraná (aviário de 1.500 m², peso médio de 2,9 kg, mortalidade de 5,5%, conversão alimentar de 1,7 kg e 6,2 lotes/ano), a alimentação seguiu como principal componente do custo, representando 63,08% do total. Em outubro, o gasto com ração atingiu R$ 2,87/kg, queda de 3,04% sobre setembro (R$ 2,96/kg) e 7,12% inferior ao mesmo mês de 2024 (R$ 3,09/kg).
Entre os principais estados produtores de frango de corte, os custos em outubro foram de R$ 5,09/kg em Santa Catarina e R$ 5,06/kg no Rio Grande do Sul. Em ambos os casos, houve recuos mensais: 0,8% (ou R$ 0,04) em Santa Catarina e 0,6% (ou R$ 0,03) no território gaúcho.
No mercado, o preço nominal médio do frango vivo ao produtor paranaense foi de R$ 5,13/kg em outubro. O valor representa alta de 3,2% em relação a setembro, quando a cotação estava em R$ 4,97/kg, indicando que, apesar da melhora de preços ao produtor, os custos seguem pressionados por itens estratégicos, como genética e sanidade.
Avicultura
Produção de frangos em Santa Catarina alterna quedas e avanços
Dados da Cidasc mostram que, mesmo com variações mensais, o estado sustentou produção acima de 67 milhões de cabeças no último ano.

A produção mensal de frangos em Santa Catarina apresentou oscilações significativas entre outubro de 2024 e outubro de 2025, segundo dados da Cidasc. O período revela estabilidade em um patamar elevado, sempre acima de 67 milhões de cabeças, mas com movimentos de queda e retomada que refletem tanto fatores sazonais quanto ajustes de mercado.
O menor volume do período foi registrado em dezembro de 2024, com 67,1 milhões de cabeças, possivelmente influenciado pela desaceleração típica de fim de ano e por ajustes de alojamento. Logo no mês seguinte, porém, houve forte recuperação: janeiro de 2025 alcançou 79,6 milhões de cabeças.

Ao longo de 2025, o setor manteve relativa constância entre 70 e 81 milhões de cabeças, com destaque para julho, que atingiu o pico da série, 81,6 milhões, indicando aumento da demanda, seja interna ou externa, em plena metade do ano.
Outros meses também se sobressaíram, como outubro de 2024 (80,3 milhões) e maio de 2025 (80,4 milhões), reforçando que Santa Catarina segue como uma das principais forças da avicultura brasileira.
Já setembro e outubro de 2025 mostraram estabilidade, com 77,1 e 77,5 milhões de cabeças, respectivamente, sugerindo um período de acomodação do mercado após meses de forte atividade.
De forma geral, mesmo com oscilações, o setor mantém desempenho sólido, mostrando capacidade de rápida recuperação após quedas pontuais. O comportamento indica que a avicultura catarinense continua adaptável e resiliente diante das demandas do mercado nacional e internacional.
Avicultura
Setor de frango projeta crescimento e retomada da competitividade
De acordo com dados do Itaú BBA Agro, produção acima de 2024 e aumento da demanda doméstica impulsionam perspectivas positivas para o fechamento de 2025, com exportações em recuperação e espaço para ajustes de preços.

O setor avícola brasileiro encerra 2025 com sinais de recuperação e crescimento, mesmo diante dos desafios impostos pelos embargos que afetaram temporariamente as margens de lucro.
De acordo com dados do Itaú BBA Agro, a produção de frango deve fechar o ano cerca de 3% acima de 2024, enquanto o consumo aparente deve registrar aumento próximo de 5%, impulsionado por maior disponibilidade interna e retomada do mercado externo, especialmente da China.

Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a competitividade do frango frente à carne bovina voltou a se fortalecer, criando espaço para ajustes de preços, condicionados à oferta doméstica. A demanda interna tende a crescer com a chegada do período de fim de ano, sustentando a valorização do produto.
Além disso, os custos de produção, especialmente da ração, seguem controlados, embora a safra de grãos 2025/26 ainda possa apresentar ajustes. No cenário geral, os números do setor podem ser considerados positivos frente às dificuldades enfrentadas, reforçando perspectivas favoráveis para os próximos meses.



