Suínos Nutrição
Utilização de acidificantes protegidos em dietas para leitões desmamados
Suplementação de ácidos orgânicos em dietas para leitões desmamados é uma eficiente estratégia para atenuar os impactos deletérios da prática sobre o desempenho

Artigo escrito por Fabiana Miuki Higa, mestranda em Zootecnia e coordenadora de nutrição e formulação da Polinutri e por Gabriel Viana, zootecnista, pós-doutor e gerente de nutrição e formulação da Polinutri
O desmame é caracterizado como o período mais crítico da suinocultura industrial, sendo determinante no retorno econômico da atividade, visto deste inevitável processo depende o futuro desempenho animal e o número de suínos terminados por matriz por ano. Durante a transição entre a maternidade e a fase de creche, leitões enfrentam como desafios severas mudanças sócio-ambientais como a separação da matriz e de sua leitegada com o subsequente estabelecimento de nova hierarquia social com leitões provenientes de outras leitegadas, e a abrupta mudança nos hábitos alimentares.
A ação combinada de tais fatores desencadeia alterações no padrão de secreção de hormônios do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, que por sua vez culminam em modificações morfofisiológicas na mucosa intestinal como a sua atrofia e o aumento na permeabilidade de membrana com consequente perda de seletividade. Embora a interrupção na fase de aleitamento tenha caráter instantâneo, a adaptabilidade do trato gastrintestinal de leitões desmamados em produzir enzimas e secreções digestivas em taxas que garantam a adequada digestão dos nutrientes atinge sua plenitude de maneira gradativa, o que acarreta presença de substratos não digeridos no lúmen intestinal favorecendo a um quadro de disbiose intestinal.
A disbiose é, por definição, o desiquilíbrio na microbiota intestinal representado pelo decréscimo na população de microrganismos benéficos e proliferação de bactérias enterotoxigênicas (ex. Escherichia coli, Clostridium perfringens, Salmonella ssp, etc.) que podem afetar negativamente o organismo através do reconhecimento de sua parede celular por receptores específicos localizados no epitélio intestinal; e/ou das toxinas produzidas por seu metabolismo. Quando o patógeno é reconhecido pelo hospedeiro, há um estímulo para aumento na produção de citocinas pró-inflamatórias pela mucosa intestinal. Estes potentes mediadores químicos, dentre as várias ações no organismo, estimulam a migração de células de defesa como monócitos, neutrófilos, e macrófagos para mucosa intestinal além de aumentar o turnover celular no epitélio intestinal.
Consequentemente, nutrientes que a priori seriam utilizados para funções de mantença e deposição proteica muscular, são redirecionados para produção de células de defesa, muco, e mediadores de respostas imunes, o que acarreta redução na expressão do potencial de crescimento dos leitões. A infiltração de algumas enteroxinas produzidas por patógenos como Clostridium perfringens e Escherichia Coli na mucosa intestinal desencadeia a produção de eicosanoides, que assim como citocinas, também estimulam a produção de células de defesa, e aumentam a vasodilatação de tecidos e permeabilidade vascular, causando edemas e a sensação de dor.
Tradicionalmente, quadros de disbiose são prevenidos e/ou combatidos através do uso de antibióticos administrados em dosagens de promotor de crescimento. Contudo, restrições comerciais de mercados consumidores em importar proteínas de origem animal provenientes de criações onde antibióticos são administrados como promotor de crescimento tem levado a agroindústria a desenvolver/validar aditivos que possam substituir antibióticos, como é o exemplo dos ácidos orgânicos. Ácidos orgânicos são ácidos graxos de cadeia curta constituídos de 1 a 7 carbonos, considerados fracos em função de seu grupo carboxila (COOH–).
A atividade antimicrobiana dos ácidos orgânicos deve-se ao fato de que os mesmos, em sua forma não dissociada, podem ser transportados, por difusão simples, através da membrana plasmática de microrganismos para o interior de seu citoplasma, onde o pH próximo a 7 causa a dissociação dos ácidos orgânicos. A dissociação dos ácidos orgânicos no interior de células bacterianas resulta em acidificação do meio devido a liberação de íons H+, que dentre efeitos deletérios reduzem a atividade de enzimas bacterianas, transporte de nutrientes para o interior da células e aumentam o gasto energético celular para o bombeamento de íons H+ para o meio extracelular. O sinergismo entre tais efeitos deletérios culmina na morte da célula bacteriana.
Estratégias
É indubitável a eficácia de ácidos orgânicos em combater patógenos e prevenir e/ou atenuar o efeito da disbiose no intestino de leitões desmamados. Contudo, a utilização de algumas estratégias como a suplementação de blends de ácidos orgânicos com diferentes constantes de dissociação e a aplicação de tecnologias como sua proteção através de encapsulamento com lipídios podem potencializar a ação antimicrobiana deste aditivo. As diferenças nas constantes de dissociação dos ácidos orgânicos são vantajosas pois permitem sua atuação antimicrobiana em faixas de pH mais amplas, enquanto a técnica de microencapsulamento garante que maiores quantidades destas moléculas alcancem as frações mais distais do intestino. Pesquisadores verificaram que a suplementação de um blend de ácidos orgânicos (fumárico, cítrico, málico, cáprico e caprílico) protegidos por matriz lipídica promoveu aumento no consumo de ração e ganho de peso diário de leitões desmamados em comparação a leitões alimentados com dietas não suplementadas com o aditivo em questão.
Os mesmos autores verificaram que a suplementação dos ácidos protegidos aumentou a digestibilidade de energia e matéria seca das dietas, além de reduzir a contagem de Escherichia Coli e aumentar a presença de Lactobacillus nas fezes dos animais. De forma similar, estudiosos ao contrastarem benefícios da suplementação dos ácidos orgânicos acima descritos na forma protegida e não protegida em dietas para leitões desmamados, verificaram que a forma protegida dos ácidos proporcionou maior ganho de peso diário dos leitões, além de aumentar a digestibilidade da matéria seca das dietas, aumentar a proporção de Lactobacillus e diminuir a presença de Salmonella nas fezes dos animais. Os autores em questão verificaram que aumento de 0,1 para 0,2% na suplementação dos ácidos protegidos reduziu a contagem de Salmonella e Escherichia Coli e a concentração de amônia nas fezes dos leitões e reduziu escore de diarreia dos animais.
A suplementação de ácidos orgânicos em dietas para leitões desmamados é uma eficiente estratégia para atenuar os impactos deletérios da prática sobre o desempenho e saúde intestinal dos animais; e sua proteção acarreta em potencial aumento na efetividade de sua ação antimicrobiana.
Outras notícias você encontra na edição de Suínos e Peixes de maio/junho de 2019.

Suínos
Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura
Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.
O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.
As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.
Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.
Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.
Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.
Suínos
Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças
Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.
Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.
No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.
Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.
Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.
Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.



