Peixes
Uso de ferramentas biotecnologicas para enfrentar desafios na aquicultura
Uso de probióticos e biorremediadores com cepas de Bacillus e bactérias láticas transforma o manejo ambiental e sanitário, promovendo equilíbrio microbiológico, melhor qualidade da água e maior desempenho produtivo em peixes e camarões.

Artigo escrito por Bruna Wagner, promotora técnica e comercial da Imeve. Jessyca Alexandre, promotora técnica e comercial da Imeve. Renato de Almeida, gerente de produtos da Imeve
A utilização de biotecnologias na produção é uma realidade em diversas espécies animais. Na aquicultura, o emprego de bactérias benéficas teve início na década de 80, quando os primeiros probióticos começaram a ser utilizados como promotores de crescimento. Desde então, o avanço científico ampliou a aplicação dessas ferramentas, que hoje desempenham papéis essenciais no controle de qualidade da água e matéria orgânica, agindo como biorremediador, quando utilizadas diretamente no ambiente; na modulação da microbiota e na prevenção de enfermidades, competindo com bactérias patogênicas e atuando como biocontrole tanto no ambiente como no lúmen intestinal dos animais; e na promoção da saúde intestinal e maior absorção de nutrientes, como probiótico na nutrição de peixes e camarões. Essas estratégias tornam-se indispensáveis à medida que os sistemas de cultivo se intensificam, demandando maior controle ambiental e sanitário para garantir produtividade e sustentabilidade.
Biotecnologia empregada em desafios ambientais
* Ação de probióticos e biorremediadores frente à compostos nitrogenados.
Nos sistemas intensivos de produção, o acúmulo de compostos nitrogenados representa um dos principais riscos à saúde dos animais. A amônia, o nitrito e o nitrato são resultado do metabolismo proteico dos peixes e da decomposição da matéria orgânica. Naturalmente, o processo de nitrificação, é realizado por bactérias presentes no ambiente (Nitrossomonas e Nitrobacter), que transformam amônia em nitrito e depois em nitrato. A utilização de probióticos como biorremediadores auxilia na degradação desses compostos, acelerando esse processo, contribuindo para a manutenção da qualidade da água. Estudos mostram que cepas de Bacillus apresentam elevada eficiência para essa finalidade.
As bactérias do gênero Bacillus, desempenham um papel central como agentes biorremediadores em sistemas aquícolas devido à sua capacidade de interagir ativamente em diferentes etapas do ciclo do nitrogênio. Esses microrganismos atuam sobre compostos nitrogenados tóxicos, como amônia e nitrito, promovendo sua transformação em formas menos prejudiciais ao ambiente. Essa conversão ocorre por meio de rotas metabólicas como a nitrificação heterotrófica e a desnitrificação, nas quais enzimas catalisam reações de oxidação e redução de compostos nitrogenados.
No processo de nitrificação heterotrófica, as bactérias utilizam enzimas como a hidroxilamania oxirredutase, que converte a hidroxilamania, composto inorgânico intermediário, em nitrito. Já durante a desnitrificação, enzimas como nitrito redutase (Nir) reduzem nitrito a óxidos gasosos de nitrogênio, removendo o excesso de nitrogênio do sistema de cultivo. Esse processo auxilia não apenas na detoxificação da água, mas também no fechamento do ciclo biogeoquímico, devolvendo nitrogênio à atmosfera em formas gasosas.
Estudos científicos e trabalhos à campo (Imagem 1) demonstram que a utilização de biorremediadores atuam reduzindo os picos de compostos nitrogenados nocivos ao desempenho e sobrevivência de peixes e camarões.

Imagem 1. Níveis de Nitrito (mg/l) antes e após o início de utilização de bactérias do gênero Bacillus em produção de juvenis em sistema intensivo. Fonte: IMEVE
Mineralização de Matéria Orgânica
A matéria orgânica (MO) proveniente de excreções dos animais, restos de ração, detritos vegetais e organismos mortos em decomposição pode ser um grande desafio para a produção. Sua mineralização é um dos processos mais relevantes para a manutenção do equilíbrio em sistemas aquícolas, pois o acúmulo de MO pode levar à eutrofização e ao aumento da carga de compostos nitrogenados tóxicos. As bactérias do gênero Bacillus têm papel central nesse processo devido à sua capacidade de produzir enzimas que aceleram a degradação da matéria orgânica complexa em compostos simples e menos impactantes ao ambiente, como celulase, amilase e protease, degradando macromoléculas em unidades menores. (Imagem 2) As proteases hidrolisam proteínas em peptídeos e aminoácidos, liberando nitrogênio orgânico que pode ser convertido posteriormente em amônia. As amilases degradam carboidratos como o amido, enquanto as lipases atuam sobre lipídios, liberando ácidos graxos e glicerol. Esse processo de degradação enzimática é essencial para transformar a matéria orgânica sedimentada em nutrientes disponíveis para outros microrganismos e fitoplâncton, ao mesmo tempo em que reduz a formação de lodo que pode prejudicar processos de manejo e despesca ou impactar diretamente na qualidade de água.

Imagem 2. Coleta de solo para análise e halos criados por bacillus devido à síntese de celulase. Fonte: Imeves
Além disso, o metabolismo de Bacillus permite que parte dos compostos liberados durante a mineralização seja utilizado em rotas de assimilação e ciclagem do nitrogênio e carbono. Por exemplo, aminoácidos liberados podem ser convertidos em amônia e, posteriormente, entrar nas rotas de nitrificação ou desnitrificação já desempenhadas por essas bactérias. Dessa forma, Bacillus conecta diretamente a mineralização da matéria orgânica com o ciclo do nitrogênio, citado anteriormente, atuando tanto na degradação de resíduos quanto na remoção de compostos tóxicos dissolvidos. Essa ação multifuncional faz dessas cepas ferramentas indispensáveis na biorremediação de sistemas intensivos.
Exclusão competitiva
A exclusão competitiva é uma ferramenta muito importante pela qual os probióticos e biorremediações são empregados em sistemas de cultivo aquícolas. Esses microrganismos agem competindo por nutrientes no ambiente e sítios de adesão nos animais, além de produzirem metabólitos antimicrobianos, como ácidos orgânicos e bacteriocinas, que dificultam a proliferação de bactérias patogênicas. Existem trabalhos que comprovam que essa modulação reduz significativamente o crescimento de gêneros oportunistas como Vibrio importante para o cultivo de camarões, e Aeromonas, Streptococcus e Francisella, que causam enfermidades em peixes, provocando mortalidade e perdas econômicas (Imagem 3).

Imagem 3. Halo de inibição de promovido pela produção de compostos orgânicos bactericida por probióticos compostos por blend de bactérias ácido láticas e bactérias do gênero bacillus em Francisella noatunensis (59162D – Prevet). Fonte: Imeve.
No ambiente aquático, a exclusão competitiva também impacta a dinâmica de algas e microrganismos que promovem disbiose ambiental. Em situações de eutrofização, o acúmulo de nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo, favorece a proliferação de organismos indesejáveis, como cianobactérias que estão ligadas à produção de toxinas que conferem a presença de off-flavor (sabor indesejável) na carne de peixes. A ação dos Bacillus na redução da matéria orgânica disponível e no controle de compostos nitrogenados diminui a disponibilidade de substrato para esses organismos e evitando blooms tóxicos que comprometem a qualidade da água.
Quando ocorre disbiose, a diversidade microbiana é reduzida e há favorecimento de bactérias patogênicas e algas nocivas. Isso compromete tanto a saúde dos animais quanto a resiliência ambiental do sistema, resultando em maior mortalidade e instabilidade produtiva. Os probióticos promoverem a exclusão competitiva, restauram o equilíbrio da microbiota aquática e intestinal dos organismos cultivados
Assim, sua utilização contínua, não apenas previne doenças, mas também atua como estratégia de manejo sustentável contra os efeitos da eutrofização e da disbiose ambiental.
Probióticos via ração e promoção de saúde Intestinal
O fornecimento contínuo das bactérias probióticas na dieta favorece a colonização do trato gastrointestinal, onde esses microrganismos aderem à mucosa intestinal. A partir dessa adesão, ocorre o estímulo ao desenvolvimento da camada epitelial, o que potencializa a absorção dos nutrientes da dieta e contribui para uma melhor digestibilidade dos ingredientes presentes na dieta. Indiretamente, quando os nutrientes são mais aproveitados nutricionalmente, os impactos gerados pelos resíduos também serão menores no ambiente, ajudando a controlar a microbiota e diminuindo a pressão patogênica. A eficácia do uso de probióticos está diretamente relacionada a fatores que influenciam sua colonização no intestino, como a concentração de microrganismos administrados e o tempo de fornecimento da dieta. À medida que essa colonização se estabelece, observa-se a redução de patógenos aderidos aos enterócitos, resultado da produção de compostos antimicrobianos e da competição por sítios de adesão e nutrientes. Essa diminuição de patógenos promove um equilíbrio no processo de multiplicação e apoptose celular, favorecendo o crescimento dos vilos intestinais e o aumento da área de absorção de nutrientes, o que resulta em melhor aproveitamento dos alimentos, e consequentemente, em maior desempenho produtivo. Em um experimento com tilápias, esse crescimento ficou evidente quando foram suplementadas com Bacillus cereus var. Toyoi e Bacillus subtilis na dieta por 60 dias como demonstrado na comparação histológica entre o grupo controle e o grupo suplementado (Imagem4).

Imagem 4. Comparativo histológico da vilosidade intestinal de tilápias sem a suplementação de probióticos (esquerda) frente à vilosidade de animais suplementados com probióticos (direita). Fonte: Imeve.
De forma semelhante, resultados positivos também foram observados na carcinicultura. Assim como as bactérias do gênero Bacillus, as bactérias láticas destacam-se pela eficiência na síntese de compostos antimicrobianos bacteriostáticos e bactericidas (Imagem 5). Contudo, outros mecanismos também estão envolvidos, como a competição por nutrientes e sítios de adesão, a interferência no sistema de Quórum sensing, a produção de ácidos orgânicos de cadeias médias e curtas e a síntese de peptídeos antimicrobianos. Esse conjunto de estratégias favorece a redução e o controle de bactérias patogênicas no intestino e no hepatopâncreas dos animais. Em um estudo realizado em uma fazenda em Aracati (CE), o monitoramento das Unidades Formadoras de Colônias (UFC) de Víbrios totais no hepatopâncreas demonstrou que os camarões suplementados com probiótico na dieta apresentaram médias inferiores de unidades formadoras de colônia (UFC) em comparação ao grupo não suplementado durante as sete últimas semanas de cultivo.

Imagem 5. Média de UFC presentes no hepatopâncreas dos animais que consumiram blend de bactérias lácticas e do gênero bacillus (azul) e dos animais do grupo controle sem probióticos na dieta (laranja). Fonte: Imeve.
Fatores determinantes para o sucesso
* Conhecendo as bactérias e como utilizá-la.
A escolha e o conhecimento das bactérias utilizadas como biorremediadores ou probióticos são fatores determinantes para o sucesso das estratégias biotecnológicas na aquicultura. A definição correta começa pela avaliação do desafio a ser enfrentado. Em situações de natureza sanitária, bactérias produtoras de ácido lático, como Lactobacillus, Enterococcus e Bifidobacterium, destacam-se por reduzir o pH e, assim, inibir o crescimento de microrganismos patogênicos. Já em cenários ambientais, marcados pelo excesso de matéria orgânica e compostos nitrogenados, o uso de Bacillus mostra-se mais eficiente.
A forma de aplicação também exerce papel crucial. A mesma cepa bacteriana pode atuar de maneiras distintas: quando administrada via ração, exerce efeito probiótico, promovendo equilíbrio intestinal e melhorando a saúde dos animais; quando aplicada diretamente na água, atua como biorremediador, favorecendo a qualidade do ambiente de cultivo. Assim, a escolha correta da via de aplicação deve estar alinhada ao desafio específico e ao objetivo pretendido.
Quando se trata da utilização de biorremediadores, microrganismos do gênero Bacillus possuem elevado potencial para a degradação da matéria orgânica e participação no ciclo do nitrogênio, mas sua eficiência depende das condições ambientais do sistema. A oxigenação, por exemplo, é um fator crítico, já que a maior parte dos processos metabólicos de degradação e transformação de compostos nitrogenados ocorre utilizando oxigênio. Baixas concentrações de oxigênio reduzem a eficiência enzimática e favorecem bactérias indesejáveis que prosperam em condições anaeróbias, aumentando o risco de acúmulo de gases tóxicos.
A alcalinidade é outro ponto essencial na biorremediação, pois processos como a nitrificação consomem carbonatos e bicarbonatos, reduzindo o poder tampão da água e levando à acidificação. Para que cepas de Bacillus expressem todo o seu potencial, é necessário manter uma faixa adequada de alcalinidade, garantindo a estabilidade do pH e o funcionamento do metabolismo bacteriano. A temperatura também regula diretamente a atividade metabólica: em faixas intermediárias, entre 25 °C e 35 °C, ocorre maior produção de enzimas extracelulares, como proteases, lipases e amilases. Fora dessa faixa, a mineralização da matéria orgânica e o controle de compostos nitrogenados podem ser reduzidos.
Portanto, compreender as características fisiológicas e os requisitos ambientais das bactérias utilizadas como biorremediadores é essencial. Esse conhecimento permite não apenas selecionar cepas mais adequadas a cada desafio produtivo, mas também ajustar o manejo, garantindo que esses microrganismos expressem seu potencial de ação.
Uso de análises laboratoriais para avaliação de eficiência
A aplicação de probióticos em sistemas aquícolas tem demonstrado efeitos consistentes sobre a qualidade de água e solo, sendo as análises ambientais ferramentas essenciais para comprovar sua eficiência. O monitoramento periódico do solo e da coluna d’água permite acompanhar a dinâmica da matéria orgânica e identificar o impacto positivo dos microrganismos probióticos na mineralização de resíduos. As bactérias dos gêneros Bacillus, Lactobacillus, Enterococcus e Bifidobacterium apresentam alta capacidade enzimática, atuando na degradação de proteínas, lipídios e carboidratos complexos, acelerando a conversão desses compostos em formas mais simples e menos tóxicas. Esse processo contribui para reduzir o acúmulo de lodo no fundo dos viveiros, melhorar a disponibilidade de nutrientes reciclados e minimizar a formação de substâncias nocivas, como amônia e sulfeto de hidrogênio.
Entre as metodologias empregadas na avaliação da eficiência dos probióticos, a respirometria tem se destacado por quantificar a atividade metabólica das comunidades microbianas. Ao medir o consumo de oxigênio durante a oxidação da matéria orgânica, essa técnica fornece um indicador sensível do potencial de biodegradação presente no sistema. Assim, maiores taxas respiratórias estão diretamente relacionadas à maior atividade dos microrganismos probióticos, refletindo em eficiência na estabilização da matéria orgânica e no controle de cargas poluidoras. Essa ferramenta tem permitido demonstrar, de forma objetiva, que a suplementação probiótica potencializa a atividade microbiana benéfica, diferenciando-se de manejos convencionais que dependem exclusivamente da microbiota natural.
Dessa forma, a integração entre análises de solo, qualidade de água e respirometria constitui um conjunto robusto de indicadores que não apenas comprova a eficiência dos probióticos, mas também evidencia seu papel como diferencial tecnológico. O resultado é a manutenção de viveiros mais estáveis, com menores oscilações nos parâmetros críticos de cultivo e maior suporte para o desempenho zootécnico dos animais.
A atividade enzimática desempenha um papel central na eficiência dos probióticos aplicados em sistemas aquícolas, uma vez que esses microrganismos liberam uma ampla variedade de enzimas extracelulares responsáveis pela degradação de compostos orgânicos complexos. Enzimas como proteases, lipases, amilases e celulases, produzidas principalmente por bactérias dos gêneros Bacillus, Lactobacillus, Enterococcus e Bifidobacterium, atuam na hidrólise de proteínas, lipídios e polissacarídeos presentes nos resíduos de ração não consumida, excretas e material em decomposição. Essa atividade acelera a mineralização da matéria orgânica, reduz o acúmulo de lodo e previne a formação de compostos tóxicos, como amônia e sulfeto de hidrogênio. Além de contribuir para a melhoria da qualidade da água e do solo, a ação enzimática otimiza a reciclagem de nutrientes e favorece a manutenção de uma microbiota mais equilibrada no ambiente de cultivo.
Monitoramento contínuo
O uso de probióticos em sistemas aquícolas representa uma ferramenta estratégica para o controle microbiológico e a melhoria da qualidade ambiental, mas sua eficiência depende diretamente de um acompanhamento técnico contínuo e da avaliação criteriosa dos parâmetros do cultivo.
Avaliação da qualidade da água
A análise sistemática de variáveis físico-químicas, como oxigênio dissolvido, pH, alcalinidade, amônia, nitrito, transparência e demanda bioquímica de oxigênio, é essencial para compreender o efeito da aplicação de probióticos sobre o equilíbrio do ambiente aquático. O monitoramento desses indicadores permite verificar a degradação da matéria orgânica, a redução da toxicidade nitrogenada e a estabilidade dos parâmetros críticos ao longo do ciclo produtivo.
Avaliação do solo dos viveiros
O acompanhamento das condições do solo é indispensável para avaliar o impacto da mineralização da matéria orgânica, especialmente no fundo dos viveiros, onde ocorre acúmulo de resíduos de ração e excretas. Análises de respirometria, matéria orgânica total e composição microbiana auxiliam na comprovação da eficiência enzimática dos probióticos e na redução de compostos nocivos, como sulfetos e amônia, que comprometem a saúde dos animais.
Ajuste de protocolos de manejo
Com base nos resultados obtidos nas análises, protocolos de aplicação de probióticos podem ser ajustados para cada realidade de cultivo. A dosagem, frequência de aplicação e a forma de uso (via água ou dieta) devem considerar a densidade de estocagem, a sazonalidade, a qualidade da ração fornecida e o estágio de crescimento dos animais. Esse ajuste dinâmico garante maior eficiência biotecnológica e melhor custo-benefício para o produtor.
Assistência técnica especializada
A integração entre monitoramento laboratorial e visitas técnicas em campo constitui o diferencial para potencializar os resultados. A presença de profissionais especializados que avaliem a eficiência do protocolo, saúde dos animais e realizem coletas e análises, assegura uma interpretação adequada dos dados, orienta correções imediatas no manejo contribui para que os produtores compreendam o papel do probiótico como ferramenta de prevenção, e não apenas de correção, dentro do sistema de produção.
Em síntese, o acompanhamento técnico aliado às análises de solo e água fortalece a eficiência do uso de probióticos e proporciona maior previsibilidade na produção aquícola, garantindo ambientes mais estáveis e animais com melhor desempenho zootécnico (imagem 7).

Imagem 7. Imagem mostrando a atuação técnica em campo, sendo coleta de solo (esquerda), análise presuntiva em peixes (centro) e análise presuntiva de larvas de camarão (esquerda). Fonte Imeve.
O acesso é gratuito e a edição pode ser lida na íntegra on-line clicando aqui. Boa leitura!

Peixes
Exportações de pescados ganha impulso com novo convênio firmado entre ApexBrasil e Abipesca
Parceria estratégica prevê investimentos de cerca de R$ 12 milhões e participação em atividades, eventos e feiras internacionais para buscar mercados alternativos e ampliar presença global do setor.

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e a Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca) renovaram na quarta-feira (26) o convênio para o projeto setorial Brazilian Seafood, que apoia a internacionalização das empresas brasileiras do setor de pescados. A renovação, realizada em Brasília, marcou também o momento da comemoração do décimo aniversário da associação que representa a indústria brasileira de pescados e trabalha para fortalecer a cadeia produtiva e ampliar a competitividade do setor no mercado global.

Foto: Divulgação/OPR
Firmado em 2023, o convênio inicial entra agora em sua segunda fase, com vigência até 2027. A assinatura desta renovação prevê um investimento total de R$ 12 milhões, sendo R$ 6 milhões aportados pela ApexBrasil e R$ 6 milhões como contrapartida da Abipesca. Na fase anterior, foram investidos R$ 8,88 milhões, entre 2023 e 2025, que contribuíram para o melhor desempenho do setor nos últimos 15 anos. Na cerimônia de assinatura, o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, lembrou que o Brasil produz, em média, 223 milhões de toneladas de pescados e defendeu o fortalecimento das políticas públicas para o setor. O valor deste convênio ainda é pouco diante do setor da economia, responsável por alimentar boa parte da população do mundo. Temos potencial para muito mais˜, disse o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana.
Com o projeto setorial Brazilian Seafood, o Brasil registrou avanços significativos. Em 2010, as exportações somavam US$ 30 milhões, enquanto em 2024 atingiram US$ 150 milhões. Apesar do crescimento, a participação brasileira no mercado global ainda é modesta: representa aproximadamente 0,12% de um montante estimado em US$ 120 bilhões. Os números revelam o espaço para expansão. Segundo o presidente da Abipesca, Eduardo Lobo, este é um momento histórico para o setor. “Com o apoio da ApexBrasil, conseguimos resultados expressivos e o setor teve o melhor desempenho dos últimos 15 anos. Agora temos condições de avançar ainda mais. Nosso foco é consolidar a presença do pescado brasileiro em mercados estratégicos, como Estados Unidos e China˜, ressaltou.
Entre as ações previstas para este próximo ciclo, estão a participação em feiras internacionais, como a China Fisheries & Seafood Expo, além de iniciativas para ampliar o acesso a mercados estratégicos mapeados pela Agência.
Peixes
Como o manejo alimentar pode definir o gosto do peixe
Boas práticas, nutrição e qualidade da água transformam açudes da região central do Rio Grande do Sul e elevam a produção de tilápia com sabor e qualidade superiores.

A paisagem rural da região central do Rio Grande do Sul sempre teve os açudes como elemento constante. Por décadas, porém, eles serviram sobretudo como reserva hídrica e espaço para pescarias esporádicas. Esse cenário começou a mudar com o avanço do Programa de Geração de Renda e Qualidade do Pescado (ProgeAqua), iniciativa ligada ao Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O projeto, selecionado pelo PROEXT-PG, atua na capacitação de produtores rurais interessados em transformar seus açudes em unidades produtivas, ampliando a renda familiar e o acesso a uma fonte de proteína saudável.

Professor da UFSM e coordenador do ProgeAqua, Rafael Lazzari: “Se a ração tiver nutrientes desequilibrados ou excesso de gordura, isso vai ser depositado no peixe. É como na nutrição humana: se o organismo gasta menos do que consome, acumula gordura” – Foto: Arquivo pessoal
Coordenador do ProgeAqua, o professor Rafael Lazzari explica que a piscicultura na região ainda opera sob práticas ultrapassadas. “Até agora, o modelo que tem se praticado aqui é antigo, das décadas de 1980 e 1990, baseado na criação de carpas. Hoje, porém, o grande foco do mercado é a tilápia, voltada à produção de filé”, afirma.
Segundo ele, a preferência pela tilápia tem motivos claros: trata-se de um peixe amplamente aceito pelo consumidor, sobretudo por não apresentar espinhos, característica que facilita o consumo por crianças e idosos.
Lazzari destaca que o sabor do peixe e a qualidade do filé são diretamente influenciados pelo manejo. “A qualidade do filé e o sabor do peixe são consequência direta das boas práticas de criação”, explica. Dois fatores são determinantes: nutrição e qualidade da água, aspectos que, segundo o pesquisador, estão intimamente relacionados.
No campo nutricional, os peixes podem se alimentar tanto de ração específica quanto dos microrganismos presentes na água, como algas e fitoplâncton. A tilápia, em especial, aproveita bem ambas as fontes. Essa flexibilidade, contudo, exige atenção. “Se a ração tiver nutrientes desequilibrados ou excesso de gordura, isso vai ser depositado no peixe. É como na nutrição humana: se o organismo gasta menos do que consome, acumula gordura. E essa gordura vai interferir na textura e, principalmente, no sabor e na aceitabilidade do filé”, alerta o professor.
O excesso de gordura, segundo ele, também prejudica a conservação do alimento, favorecendo processos de rancificação quando armazenado de forma inadequada.
Nos cursos promovidos pelo ProgeAqua, produtores aprendem manejo alimentar, incluindo número de refeições, quantidade ideal de ração, horários e cálculos básicos. O objetivo, explica Lazzari, não é ensinar a formular ração, tarefa executada pelo grupo de pesquisa, mas orientar o manejo correto para garantir crescimento adequado e qualidade do filé.
A qualidade da água é outro pilar central. O ambiente do açude, assim como os resíduos orgânicos acumulados, determina se o local é

Foto: Shutterstock
adequado para criação. “Quando o ambiente é muito barrento e com acúmulo de lodo, torna-se inadequado, pois há acúmulo de gases e risco de contaminação”, explica o professor.
Nessas condições, podem surgir bactérias que produzem substâncias absorvidas pela pele do peixe, comprometendo o sabor. Os cursos incluem orientações que vão desde a construção do açude até o monitoramento da água.
A cor é um dos indicadores mais acessíveis: águas muito verdes sugerem excesso de algas; muito barrentas exigem ajustes no manejo. Para análises mais precisas, produtores podem recorrer tanto a equipamentos eletrônicos quanto a kits simples semelhantes aos usados em piscinas, que avaliam parâmetros como oxigênio, transparência, pH, alcalinidade e amônia. “Se os produtores seguirem as recomendações técnicas, eles ganham em produtividade, renda e qualidade dos peixes produzidos”, sintetiza Lazzari.
A equipe do ProgeAqua utiliza fotos e estudos de caso para demonstrar como erros de manejo afetam o pescado. “A gente mostra, por exemplo, uma água muito verde, com excesso de algas, e explica que isso muda o sabor do filé, ou, quando o produtor coloca muita ração, o oxigênio cai e os peixes morrem. Mostramos as fotos e explicamos o porquê”, relata o coordenador.

Foto: Shutterstock
Além de qualificar produtores, o projeto busca fortalecer a piscicultura regional e ampliar o acesso da comunidade a pescado de qualidade. A expectativa é envolver o poder público para que prefeituras incorporem peixe local em programas como o Programa Nacional de Aquisição de Alimentos (PAA). Algumas cidades da região já iniciaram iniciativas de monitoramento da água e inclusão de pescado regional na merenda escolar. Para Lazzari, o avanço da piscicultura familiar depende do apoio institucional: “É fundamental que haja políticas de incentivo, como leis municipais de apoio e ações de acompanhamento técnico”.
O pesquisador lembra ainda que a tilápia tem ganhado espaço para além da alimentação. Sua pele vem sendo utilizada em pesquisas para tratamento de queimaduras, com perspectiva de aplicação no Sistema Único de Saúde (SUS). A inovação reforça o potencial da espécie e amplia o impacto econômico e social da piscicultura regional.
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MPA encerra COP30 destacando força da pesca e da aquicultura como soluções climáticas
Ministro André de Paula defende protagonismo do Brasil e reforça que sistemas alimentares aquáticos têm emissões muito menores, papel estratégico na segurança alimentar global e potencial decisivo na agenda climática.

O Ministério da Pesca e Aquicultura se despediu da COP30 na última sexta-feira (21) em clima de missão cumprida. Isso porque os setores pesqueiro e aquícola foram colocados como prioritários na pauta das negociações entre os países. E foi nesse espírito que o ministro André de Paula falou sobre o tema Sistemas Alimentares Aquáticos como Soluções Climáticas.
Com o fim da COP30, André de Paula enfatizou o quanto as mudanças climáticas têm afetado o a rotina de quem vive da pesca. “Estamos vivendo um momento decisivo: as mudanças climáticas já impactam profundamente oceanos, rios, estuários e comunidades pesqueiras. Milhões de pessoas enfrentam inundações, perda de renda, insegurança alimentar e deslocamentos forçados”, ressaltou.
O ministro completou mostrando o impacto que a os sistemas alimentares aquáticos podem ter na mitigação da crise. “Entre 23% e 43% das emissões globais estão associadas aos sistemas alimentares. E os alimentos oriundos das águas apresentam pegada de carbono muito menor que as proteínas terrestres. Espécies cultivadas como sardinhas, carpas e tambaquis podem ter emissões até cem vezes menores do que proteínas de origem terrestre. E produzem mais alimento por área, reduzindo a pressão sobre florestas e outros biomas”, acrescentou.
Solução climática global
Segundo o ministro, cerca de 10% da população mundial vive da pesca extrativa, gerando renda para mais de 800 milhões de pessoas. Além disso, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), os sistemas aquáticos são a principal fonte de proteína para mais de 3,3 bilhões de pessoas no mundo, um mercado que movimento mais de US$ 500 bilhões por ano.
Assim, André de Paula acredita que o mercado da pesca e aquicultura precisa ser fortalecido por meio de iniciativas globais. “Esses números mostram o potencial transformador dos sistemas alimentares aquáticos — para o clima, para a economia e para a segurança alimentar mundial”.
Ele também enalteceu o protagonismo do Brasil nessas iniciativas. “O Brasil tem atuado com determinação para fortalecer essa agenda global. No G20, sob presidência brasileira, os sistemas alimentares aquáticos foram reconhecidos pela primeira vez como essenciais para a nutrição global e a resiliência climática, com apoio ao plano de ação para Transformação Azul da FAO. No BRICS, sob nossa liderança, a pesca e a aquicultura foram colocadas no centro da agenda agrícola”, declarou.
Ações do Governo Brasileiro
O ministro André de Paula encerrou a participação do MPA na COP30 destacando as ações recentes do governo para a manutenção dos sistemas alimentares aquáticos. Entre eles está o Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura, a Estratégia Nacional Oceano sem Plástico (ENOP) e o Roteiro Belém-Campo Grande para a Pesca e Aquicultura Sustentáveis. “Sob a liderança do presidente Lula, o Ministério da Pesca e Aquicultura foi recriado para fortalecer políticas públicas que integrem sustentabilidade, inclusão social e inovação tecnológica”.
Por fim, ele falou sobre a importância da COP30 na Amazônia para as comunidades que vivem das águas. “A Amazônia nos convoca à coragem. O mundo nos convoca à responsabilidade. E as comunidades pesqueiras nos ensinam o caminho da sustentabilidade. Que esta COP30 marque o início de um novo ciclo, em que os sistemas alimentares aquáticos estejam no centro das estratégias de mitigação, adaptação e justiça climática”, concluiu.



