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Uma importante análise sobre os impactos da PSA na China e o mercado mundial de carnes
O que parece ser uma grande oportunidade de negócios aos países produtores de suínos, aves e bovinos, merece uma análise bem mais aprofundada
Artigo escrito por Cesar da Luz, jornalista corporativo, consultor e pesquisador de mercado, escritor e palestrante, diretor do Grupo C.Agro e do Grupo Paraná Mais
O mercado mundial de carnes está sendo impactado desde que foi registrada a ocorrência da peste suína africana (PSA) no plantel do maior produtor de suínos do mundo, a China, que também é o maior consumidor mundial dessa proteína animal. A doença provocou o abate de milhões de cabeças de suínos na China, algo que já se aproxima de 50% do total de animais daquele país asiático.
O que parece ser uma grande oportunidade de negócios aos países produtores de suínos, aves e bovinos, diante do aumento das exportações para a China, com recordes nos últimos meses, merece uma análise bem mais aprofundada, e não apenas em termos de mercado, mas também nos aspectos econômico e de sanidade animal.
Economia
No tocante ao quadro econômico para o mercado e para a produção comercial de suínos, a análise que recomendamos serve para que se evite problemas no futuro, quando o mercado chinês for ajustado. Afinal, apesar das grandes perdas no país asiático, todos nós bem conhecemos o potencial econômico atual da China, e quem está pensando apenas nos lucros do momento, devido ao aquecimento do setor de carnes e na melhora da remuneração ao produtor, inclusive no mercado interno brasileiro, em decorrência do aumento das exportações para a China e Hong Kong, precisa também analisar o mercado futuro e as medidas que já estão sendo tomadas pelo governo chinês diante dessa que é a maior crise sanitária em um plantel suídeo que se tem notícia.
Sanidade animal
Já em termos de sanidade animal, quem produz suínos precisa ter um olhar mais atento à essa questão, justamente para se evitar que essa doença venha a atingir os planteis dos demais países produtores, como é o caso do Brasil, o quarto maior produtor mundial. Aliás, nesse sentido, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), acaba de emitir a Portaria n.º 273, datada do último dia 25/11, constituindo a Comissão Técnica Consultiva, ou seja, um Grupo de Estudo, para prevenção da peste suína africana por aqui, justamente com o objetivo de apoiar as ações conduzidas no Brasil visando evitar a chegada desta doença aos nossos planteis, o que seria algo devastador para a cadeia suinícola nacional.
Benefícios
De fato, enquanto o mundo está vivendo uma grande oportunidade de negócios com a China, devido à PSA, e isso já está trazendo grandes benefícios para a suinocultura brasileira e para as demais cadeias de proteína animal, com a arroba do boi chegando ao patamar recorde de R$ 250 em São Paulo e de R$ 270 na Argentina, é preciso analisar de forma mais ampla possível este assunto e se deter nos números que envolvem a cadeia produtiva de suínos na China, bem como a própria importância dessa proteína animal para o povo chinês, incluindo aspectos do ponto de vista não apenas dos consumidores, mas também dos produtores da China, que no momento estão sendo igualmente sendo bem remunerados pela crise que lá se instalou.
A China e a carne suína
É bom se lembrar que a China detinha até pouco tempo um plantel de 500 milhões de suínos e um consumo anual de 54,8 milhões de toneladas de carne suína. Com a ocorrência da PSA por lá, estima-se que já tenha ocorrido uma redução de cerca de 40% desse plantel, o que significaria uma perda de 200 milhões de suínos.
O Brasil, por sua vez, tem um plantel de 36 milhões de suínos. Ou seja, isso representa pouco mais de 7% do plantel da China. Exportamos cerca de 15% do que produzimos. E do volume exportado, a maior parte hoje está sendo direcionada para atender a China, seja de forma direta, com novas plantas brasileiras habilitadas a exportar para os chineses, seja indiretamente, através de Hong Kong.
Os chineses já são nossos maiores clientes, para onde mandamos mais de 50% das nossas exportações de carne suína, numa evolução crescente na linha de exportações brasileiras que, na verdade, vem desde 2017, antes mesmo do embargo da Rússia à carne suína do Brasil, em fins daquele ano, e do desembargo ocorrido há exatamente um ano.
Qual o caminho
Reforçamos o que já temos abordado há meses, de que a oportunidade de negócio existe e a ampliação das exportações de carne suína brasileira é um fato. Porém, que o caminho mais imediato para se aproveitar a questão da PSA na China é o de aumentar as exportações brasileiras dentro de um patamar que não provoque uma corrida desenfreada por novos investimentos como já está ocorrendo, seja para ampliação das plantas atuais ou seja para a construção de novas plantas, dentre elas a que está sendo projetada para um município do Mato Grosso do Sul, com investimentos na ordem de R$ 120 milhões. Casos como esse mostram que podemos ter problemas logo ali na frente, para ajustes internos quando a situação estiver resolvida no território chinês.
Não há dúvida de que isso ocorrerá, haja vista a disposição do governo chinês em remunerar o quilo do suíno vivo em quase US$ 6 para o produtor da China, que deverá aprender, mesmo a duras penas, que a sanidade deve ser um fator primordial.
Poderia se pensar, também, em ajustar a questão do destino da produção entre comércio doméstico e exportações, mas jamais o Brasil, ou qualquer outro país produtor de suínos do mundo, deve imaginar ter plenas condições de atender toda a demanda chinesa por carne suína agora e no período pós-PSA. Até porque, o aumento da procura chinesa em torno das carnes de boi e de aves que está ocorrendo agora, pode se manter por um tempo, mas não para sempre. Ou seja, é um bom momento para o produtor brasileiro de suínos, em termos de ganhos para sua atividade, mas também, é um bom momento para meditar sobre tudo o que está envolvido, nos aspectos de mercado, economia e sanidade, e de agir com sabedoria agora para não se arrepender no futuro em breve.
Precisamos aquecer o mercado interno, aumentar o consumo per capta, garantir vazão à produção nacional e valorizar mais o produto suíno, que hoje está na faixa dos R$ 6,00 o quilo do animal vivo no mercado independente do Brasil, e quase na casa dos R$ 5,00 no sistema cooperativo.
É nessa direção que a cadeia deve andar. Pelo menos é o que temos defendido desde o início desse novo quadro do mercado mundial de carnes, incluindo a carne suína, com o advento da peste suína africana na China e em áreas arredores da Ásia ou mesmo da Europa.
Daqui a pouco a coisa se ajusta na China e a oferta volta a estar descontrolada por aqui, e quem pagará a conta, como sempre, será o produtor.
Por fim, precisamos cuidar do maior patrimônio do produtor de proteína animal do Brasil: a sanidade animal, com todas as medidas de biossegurança nas granjas. E quando sobrar receita, que se invista em genética, em automação nas granjas, nas questões relacionadas à preservação do meio ambiente e naquilo que garanta melhor rentabilidade a quem produz, além de qualidade de vida para o produtor e sua família.
Notícias
Feicorte: São Paulo impulsiona mudanças no manejo pecuário com opção de marcação sem fogo
Estado promove alternativa pioneira para o bem-estar animal e a sustentabilidade na pecuária. Assunto foi tema de painel durante a Feicorte 2024
No painel “Uma nova marca do agro de São Paulo”, realizado na Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne – Feicorte, em Presidente Prudente (SP), que segue até o dia 23 de novembro, a especialista em bem-estar animal, Carmen Perez, ressaltou a importância de evitar a marcação a fogo em bovinos.
Segundo ela, a questão está diretamente ligada ao bem-estar animal, especialmente no que diz respeito ao local onde é realizada a marcação da brucelose, que ocorre na face do animal, uma região com maior concentração de terminações nervosas, um ponto mais sensível. Essa ação representa um grande desafio, pois, embora seja uma exigência legal nacional, os impactos para os animais precisam ser cuidadosamente avaliados.
“O estado de São Paulo tem se destacado de forma pioneira ao oferecer aos produtores rurais a opção de decidir se desejam ou não realizar a marcação a fogo. Isso é um grande avanço”, destacou Carmen. Ela também mencionou que os animais possuem uma excelente memória, lembrando-se tanto dos manejos bem executados quanto dos malfeitos, o que pode afetar sua condição e bem-estar a longo prazo.
Além disso, a imagem da pecuária é um ponto crucial, especialmente considerando o poder da comunicação atualmente. “Organizações de proteção animal frequentemente utilizam práticas como a marcação a fogo, castração sem anestesia e mochação para criticar a cadeia produtiva. Essas questões podem impactar negativamente a percepção do setor”, alertou. Para enfrentar esses desafios, Carmen enfatizou a importância de melhorar os manejos e de considerar os riscos de acidentes nas fazendas, que muitas vezes são subestimados quando as práticas de manejo não são adequadas.
“Nos próximos anos, imagino um setor mais consciente, em que as pessoas reconheçam que os animais são seres sencientes. As equipes serão cada vez mais participativas, e a capacitação constante será essencial”, afirmou. Ela finalizou dizendo que, para promover o bem-estar animal, é fundamental investir em treinamento contínuo das equipes. “Vejo a pecuária brasileira se tornando disruptiva, com o potencial de se tornar um modelo mundial de boas práticas”, concluiu.
Fica estabelecido o botton amarelo para a identificação dos animais vacinados com a vacina B19 e o botton azul passa a identificar as fêmeas vacinadas com a vacina RB 51. Anteriormente, a identificação era feita com marcação à fogo indicando o ano corrente ou a marca em “V”, a depender da vacina utilizada.
As medidas foram publicadas no Diário Oficial do Estado, por meio da Resolução SAA nº 78/24 e das Portarias 33/24 e 34/24.
Mudanças estabelecidas
Prazos
Agora, fica estabelecido que o calendário para a vacinação será dividido em dois períodos, sendo o primeiro do dia 1º de janeiro a 30 de junho do ano corrente, enquanto o segundo período tem início no dia 1º de julho e vai até o dia 31 de dezembro.
O produtor que não vacinar seu rebanho dentro do prazo estabelecido, terá a movimentação dos bovídeos da propriedade suspensa até que a regularização seja feita junto às unidades da Defesa Agropecuária.
Desburocratização da declaração
A declaração de vacinação pelo proprietário ou responsável pelos animais não é mais necessária. A partir de agora, o médico-veterinário responsável pela imunização, ao cadastrar o atestado de vacinação no sistema informatizado de gestão de defesa animal e vegetal (GEDAVE) em um prazo máximo de quatro dias a contar da data da vacinação e dentro do período correspondente à vacinação, validará a imunização dos animais.
A exceção acontecerá quando houver casos de divergências entre o número de animais vacinados e o saldo do rebanho declarado pelo produtor no sistema GEDAVE.
Notícias
Treinamento em emergência sanitária busca proteger produção suína do estado
Ação preventiva do IMA acontecerá entre os dias 26 e 28 de novembro em Patos de Minas, um dos polos da suinocultura mineira.
Com o objetivo de proteger a produção de suínos do estado contra possíveis ameaças sanitárias, o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) realizará, de 26 a 28 deste mês, em Patos de Minas, o Treinamento em Atendimento a Suspeitas de Síndrome Hemorrágica em Suínos. A iniciativa capacitará mais de 50 médicos veterinários do serviço veterinário oficial para identificar e responder prontamente a casos de doenças como a Peste Suína Clássica (PSC) e a Peste Suína Africana (PSA). A disseminação global da PSA tem preocupado autoridades devido ao impacto devastador na produção e na economia, como evidenciado na China que teve início em 2018 e se estendeu até 2023, quando o país perdeu milhões de suínos para a doença. Em 2021, surtos recentes no Haiti e na República Dominicana aumentaram o alerta no continente americano.
A escolha de Patos de Minas como sede para o treinamento presencial reforça sua importância como polo suinícola em Minas Gerais, com cerca de 280 mil animais produzidos, equivalente a 16,3% do plantel estadual, segundo dados de 2023 da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). A Coordenadoria Regional do IMA, em Patos de Minas, que atende cerca de 17 municípios na região, tem mais de 650 propriedades cadastradas para a criação de suínos, cuja sanidade é essencial para evitar prejuízos econômicos que afetariam tanto o mercado interno quanto as exportações mineiras.
Para contemplar a complexidade do tema, o treinamento foi estruturado em dois módulos: remoto e presencial. Na fase on-line, realizada nos dias 11 e 18 de novembro, especialistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade de Castilla-La Mancha, da Espanha e de empresas parceiras abordaram aspectos clínicos e epidemiológicos das doenças hemorrágicas em suínos. Já na fase presencial, em Patos de Minas, os participantes terão acesso a oficinas práticas de biossegurança, desinfecção, estudos de casos, discussões sobre cenários epidemiológicos, coleta de amostras e visitas a campo, além de simulações de ações de emergência sanitária, onde aplicarão o conhecimento adquirido.
A iniciativa do IMA conta com o apoio de cooperativas, empresas do setor suinícola, instituições de ensino, sindicato rural e a Prefeitura Municipal de Patos de Minas, além do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A defesa agropecuária em Minas Gerais depende de ações como essa, fundamentais para evitar a entrada de patógenos e manter a competitividade da produção local. Esse treinamento é parte das ações para manutenção do status de Minas Gerais como livre de febre aftosa sem vacinação.
Ameaças sanitárias e os impactos para a economia
No Brasil, a Peste Suína Clássica está sob controle nas zonas livres da doença. No entanto, nas áreas não reconhecidas como livres, a enfermidade ainda está presente, representando um risco significativo para a suinocultura brasileira. Esta enfermidade pode levar a alta mortalidade entre os animais, além de causar abortos em fêmeas gestantes. Por ser uma enfermidade sem tratamento, a prevenção constante e a vigilância da doença são fundamentais.
A situação é ainda mais crítica no caso da Peste Suína Africana, para a qual não há vacina eficiente e cuja propagação levaria a prejuízos imensos ao setor suinícola nacional, com risco de desabastecimento no mercado interno e aumento dos preços para o consumidor final. Os animais infectados apresentam sintomas como febre alta, perda de apetite, e manchas na pele.
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Faesp quer retratação do Carrefour sobre a decisão do grupo em não comprar carne de países do Mercosul
Uma das principais marcas de varejo, por meio do CEO do Carrefour França, anunciou que suspenderá vendas de carne do Mercosul: decisão gera críticas e debate sobre sustentabilidade.
O Carrefour França anunciou que suspenderá a venda de carne proveniente de países do Mercosul, incluindo o Brasil, alegando preocupações com sustentabilidade, desmatamento e respeito aos padrões ambientais europeus. A afirmação é do CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, nas redes sociais do empresário, mas destinada ao presidente do sindicato nacional dos agricultores franceses, Arnaud Rousseau.
A decisão gerou repercussão negativa no Brasil, especialmente no setor agropecuário, que considera a medida protecionista e prejudicial à imagem da carne brasileira, amplamente exportada e reconhecida pela qualidade.
Essa decisão reflete tensões maiores entre a União Europeia e o Mercosul, com debates sobre padrões de produção e sustentabilidade como pontos centrais. Para a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), essa decisão é prejudicial ao comércio entre França e Brasil, com impactos negativos também aos consumidores do Carrefour.
Os argumentos da pauta ambiental alegada pelo Carrefour e pelos produtores de carne na França não se sustentam, uma vez que a produção da pecuária brasileira está entre as mais sustentáveis do planeta. Esta posição, vinda de uma importante marca de varejo, é um indício de que os investimentos do grupo Carrefour no Brasil devem ser vistos com ressalva, segundo o presidente da Faesp, Tirso Meirelles.
“A declaração do CEO do Carrefour França, Alexandre Bompard, demonstra não apenas uma atitude protecionista dos produtores franceses, mas um total desconhecimento da sustentabilidade do setor pecuário brasileiro. A Faesp se solidariza com os produtores e espera que esse fato isolado seja rechaçado e não influencie as exportações do país. Vale lembrar que a carne bovina é um dos principais itens de comercialização do Brasil”, disse Tirso Meirelles.
O coordenador da Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da Faesp, Cyro Ferreira Penna Junior, reforça esta tese. “A carne brasileira é a mais sustentável e competitiva do planeta, que atende aos padrões mais elevados de qualidade e exigências do consumidor final. Tais retaliações contra o nosso produto aparentam ser uma ação comercial orquestrada de produtores e empresas da União Europeia que não conseguem competir conosco no ‘fair play’”, diz Cyro.
Para o presidente da Faesp, cabe ao Carrefour reavaliar sua posição e, eventualmente, se retratar publicamente, uma vez que esta decisão, tomada unilateralmente e sem critérios técnicos, revela uma falta de compromisso do grupo com o Brasil, um importante mercado consumidor.
Várias outras instituições se posicionaram contra a decisão do Carrefour, e o Ministério da Agricultura (Mapa). “No que diz respeito ao Brasil, o rigoroso sistema de Defesa Agropecuária do Mapa garante ao país o posto de maior exportador de carne bovina e de aves do mundo”, diz o Mapa em comunicado. “Vale reiterar que o Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo e atua com transparência no setor […] O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros”, continua a nota.
Veja aqui o vídeo do presidente.