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Causas e impactos da úlcera de sola em rebanhos leiteiros

Vários fatores intrínsecos e extrínsecos contribuem para o desenvolvimento de afecções podais em bovinos leiteiros. Conheça detalhes sobre a Pododermatite Circunscrita, popularmente conhecida como úlcera de sola.

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Divulgação/iStock

Nas últimas décadas, o Brasil apresentou crescimento considerável na produção leiteira. Um dos motivos desse crescimento é a globalização do mercado, que consequentemente levou os pecuaristas a investirem em melhoramento genético e novas tecnologias. Concomitantemente a essa evolução, sistemas de criação mais modernos foram ampliados e adaptados de acordo com a elevada produtividade.

Todavia, como desvantagem, neste cenário surgiram maiores incidências de enfermidades reprodutivas, afecções da glândula mamária e afecções do sistema locomotor. Nessa perspectiva, abordando especificamente as doenças podais, elas compreendem a terceira maior causa dos prejuízos em vacas leiteiras, por geralmente serem animais confinados, devido aos fatores hormonais ou até mesmo pelo peso do úbere. Assim, é possível listar uma série de enfermidades: Dermatite Interdigital; Erosão Ungular; Dermatite Verrucosa; Dermatite Digital; Flegmão Interdigital; Pododermatite Asséptica (Laminite); Fissuras Longitudinais e Transversais; Deformação Ungular; Doença da Linha Branca; Hiperplasia Interdigital; Pododermatite Séptica e por fim, a Pododermatite Circunscrita, conhecida também como Úlcera de Sola, que será tratada neste texto.

A Pododermatite Circunscrita ou Úlcera de Sola é caracterizada por provocar lesões que interrompem o funcionamento regular do casco, sendo considerada consequência do enfraquecimento do tecido córneo da região. Todo esse processo resulta em grande desconforto ao animal, redução na produção de leite, menor desempenho reprodutivo, descarte precoce, dificuldades no manejo, entre outros problemas.

Vale ressaltar que os animais acometidos por afecções locomotoras permanecem em decúbito por longos períodos, o que compromete até mesmo uma alimentação regular, favorece o aparecimento de outras doenças, como a mastite, e consequentemente prejudica a produtividade leiteira. Além desses problemas, vacas com cascos lesionados têm taxas de concepção mais baixas, maior prevalência de cistos ovarianos, podem apresentar cio silencioso ou anestro, havendo também comprometimento da imunidade.

Esta afecção se caracteriza pela presença de uma ferida na sola do casco, causando hemorragia, dor e claudicação. Geralmente os animais apresentam incialmente relutância discreta em caminhar, o que vai progredindo no decorrer do tempo. É possível observar, em vários casos, perda de peso e o aparecimento de infecções secundárias. Desta forma, é muito importante que seja feita a observação periódica dos cascos dos animais.

De forma geral, as afecções podais são caracterizadas por envolverem a região dos dígitos dos bovinos, apresentando maior incidência em rebanhos leiteiros com sistemas de confinamentos, não sendo diferente para rebanhos de gado de corte confinados. Além disso, outros fatores predisponentes são as más condições de higiene, piquetes sujos, com muito barro, limpeza deficiente das camas, pisos altamente abrasivos, vias de passagem contendo muito cascalho, umidade excessiva, casqueamento e manejo incorretos, fatores infecciosos, hereditários (animais com deficiência de aprumos) ou até mesmo o acometimento por trauma. Outros autores constataram ainda que hormônios da reprodução, que são liberados no pré-parto, também podem predispor o problema, uma vez que influenciam na frouxidão dos tecidos conectivos presentes na região do casco.

Prevenção e controle

Devido a relevância da enfermidade na pecuária, medidas de prevenção e controle tornam-se indispensáveis. Existem diretrizes preventivas que podem ser seguidas para reduzir os casos como: preservar o coxim através de uma nutrição balanceada, visto que a nutrição está diretamente ligada à saúde e à integridade dos casos; assegurar superfície de repouso confortável, de modo que a vaca descanse por pelo menos 12 horas por dia; casqueamento preventivo recorrente.

Além disso, outras medidas são eficazes, dentre elas a atenção quanto aos fatores predisponentes, incluindo a prevenção do estresse térmico, das doenças reprodutivas e doenças metabólicas no período de transição. Como manejo adicional recomenda-se o uso de pedilúvio com soluções de sulfato de cobre e formaldeído, descrito como altamente eficaz na prevenção de pododermatites, promovendo mais firmeza ao casco e contribuindo para a eliminação de possíveis agentes infecciosos. Por fim, é muito importante prezar sempre pelo melhoramento genético do rebanho.

Como forma de tratamento recomenda-se a remoção cirúrgica das regiões necrosadas, antissepsia com iodo, uso de tamancos (tacos de madeira ou EVA) no dígito contralateral. Adicionalmente, é indicada a utilização de bandagem, que deve ser trocada com intervalos de pelo menos 72 horas, podendo se estender a depender da cicatrização da ferida, ausência de infecção e qualidade de impermeabilização do curativo.

É importante que seja feito o controle das infecções e inflamações através do uso de antimicrobianos e anti-inflamatórios. Dentre os antimicrobianos indicados está o Ceftiofur (cefalosporina de terceira geração), que apresenta amplo espectro de ação, boa perfusão em tecidos periféricos e não requer período de carência para consumo do leite. Podendo, assim, ser utilizado em associação com um anti-inflamatório não hormonal, como o Cetoprofeno. Por fim, ressalta-se que o protocolo de tratamento deve ser sempre instituído por um médico veterinário.

As referências bibliográficas estão com a autora. Contato via: juliana.melo@jasaudeanimal.com.br.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de bovinocultura, commodities e maquinários agrícolas acesse gratuitamente a edição digital Bovinos, Grãos e Máquinas.

Fonte: Por Juliana Ferreira Melo, médica-veterinária na JA Saúde Animal.

Bovinos / Grãos / Máquinas

Com ações localizadas, Adapar trabalha para monitorar e mitigar casos de raiva no Paraná

Vigilância ativa busca identificar novos casos suspeitos, com a coleta de material do sistema nervoso central de animais mortos para diagnóstico. Além disso, os técnicos orientam os produtores sobre a vacinação de animais suscetíveis e o uso de pasta vampiricida em casos de ataques por morcegos.

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Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

A Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) trabalha para conter os casos de raiva no Paraná. Segundo dados da divisão de Prevenção e Controle da Raiva e EET do departamento de Saúde Animal (Desa), em 2024, já são 232 casos positivos em 203 focos. O valor superou aos 148 focos registrados em 2023.

A raiva é uma doença viral que afeta o sistema nervoso central e não tem cura. É uma zoonose de grande importância em saúde pública devido à sua alta a letalidade de 100% com alto impacto socioeconômico.

No enfrentamento à raiva no Paraná, a Adapar trabalha com ações de vigilância e mitigação da doença em áreas com registros de focos. Segundo a divisão de Prevenção e Controle da Raiva da Adapar, em cada caso positivo, um raio de 10 quilômetros é estabelecido ao redor da propriedade afetada para definir o perifoco. Esse mapeamento é realizado com auxílio do Sistema de Geoprocessamento, que identifica todas as propriedades com animais suscetíveis e localiza abrigos de morcegos hematófagos cadastrados.

Dentro dessa área delimitada, uma série de ações é colocada em prática. A vigilância ativa busca identificar novos casos suspeitos, com a coleta de material do sistema nervoso central de animais mortos para diagnóstico. Além disso, os técnicos orientam os produtores sobre a vacinação de animais suscetíveis e o uso de pasta vampiricida em casos de ataques por morcegos.

A Adapar também realiza revisões nos abrigos de morcegos cadastrados, implementando medidas de controle populacional por meio de capturas estratégicas. Paralelamente, atividades de educação sanitária são promovidas junto à comunidade, utilizando diversos meios de comunicação para conscientizar sobre os riscos da doença e as formas de prevenção. Em situações em que pessoas tiveram contato com animais positivos, a agência notifica e encaminha os casos para o sistema de saúde, garantindo a proteção da população.

Em 2024, dois treinamentos com atividades teóricas e práticas foram realizados para 53 fiscais e assistentes de fiscalização em Guarapuava. Os treinamentos reforçaram os preparos para pronto atendimentos desses servidores aos casos de suspeita da zoonose. “Com essa abordagem integrada, o Estado busca reduzir o impacto da raiva no setor agropecuário e proteger a saúde da população, reforçando o compromisso com a vigilância e a prevenção dessa zoonose”, afirma o diretor-presidente da Adapar, Otamir Cesar Martins.

Casos

De acordo com a divisão de prevenção e controle da Raiva, a região de Cascavel lidera os registros de casos da doença no Estado, com 105 ocorrências de janeiro até o início de novembro. Em seguida, a região de Laranjeiras do Sul ocupa a segunda posição, com 27 casos. Ponta Grossa, com 19 registros, e União da Vitória, com 17, completam as quatro regiões com maior número de casos.

Além disso, foram registrados casos em outras regiões: Dois Vizinhos, com 16; Curitiba, com 14; Guarapuava, com 10; Cornélio Procópio, com 9; Paranavaí, com 6; Umuarama, com 5; e Francisco Beltrão e Jacarezinho, com 2 registros cada.

Entre os casos diagnosticados, foram identificados 199 bovinos, 18 equinos, 1 muar, 1 ovino, 6 suínos, 3 morcegos hematófagos e 4 morcegos não hematófagos, distribuídos em 45 municípios dessas regiões.

De acordo com a chefe da divisão que realiza o monitoramento e o controle da doença no Estado, a médica- veterinária Elzira Pierre, a motivação do aumento desses casos no Paraná decorre da falta de vacinação preventiva nos animais. “Muitos produtores não estão usando a vacina para prevenir a doença, mas sim somente depois que acontece algum caso em sua propriedade. Então, nosso alerta aqui é que façam o uso preventivo da vacina, não esperem chegar a doença na propriedade para vacinar seus animais” explicou Pierre.

Prevenção

O Departamento de Saúde Animal da Adapar alerta para a necessidade da vacinação preventiva por parte dos produtores de seus animais. A doença pode afetar todos os mamíferos, incluindo seres humanos, e é transmitida principalmente pelo contato com a saliva de animais contaminados, sendo o morcego hematófago (vampiro) o principal transmissor para os herbívoros.

Os sinais mais comuns nos herbívoros incluem isolamento, salivação, incoordenação motora, paralisia dos membros traseiros e movimentos de pedalagem. Os animais infectados geralmente morrem de 3 a 7 dias após o início dos sintomas.

A detecção de sinais nervosos em herbívoros deve ser notificada imediatamente à Adapar no Escritório Local da agência mais próxima ou pelo link.

Apoio

A Adapar disponibilizou uma cartilha educativa sobre a raiva dos herbívoros no Instagram, através do Adapar Educa. Acesse o material aqui.

Fonte: AEN-PR
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Bovinos / Grãos / Máquinas

Qualidade da forragem é discutida no último painel do 13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite

Processo de suplementação deve partir de conceitos básicos e do entendimento completo do sistema de produção, considerando três pontos fundamentais: o animal, a pastagem e o suplemento.

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Fotos: Caroline Lorenzetti

Médico veterinário Eduardo Bohrer de Azevedo: “Uso da suplementação como estratégia para alta produção de leite em pastagens”

O terceiro e último dia do 13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite, promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet), em Chapecó (SC), trouxe como tema principal o Painel Qualidade da Forragem. O médico veterinário Eduardo Bohrer de Azevedo, doutor em Zootecnia e professor do departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), apresentou a palestra “Uso da suplementação como estratégia para alta produção de leite em pastagens”. Em sua fala, o coordenador do Grupo de Estudos em Nutrição de Ruminantes e Equinos (GENUR) destacou a importância da suplementação em sistemas de pastejo para garantir produtividade e rentabilidade na produção de leite.

Segundo Azevedo, o processo de suplementação deve partir de conceitos básicos e do entendimento completo do sistema de produção, considerando três pontos fundamentais: o animal, a pastagem e o suplemento. Ele ressaltou que conhecer as características e as necessidades do rebanho é essencial para ajustar a dieta conforme o estágio de lactação e o potencial produtivo de cada vaca.

Para Azevedo, para melhorar o sistema de pastejo, é fundamental entender a qualidade nutricional que ele oferece. Ele frisou a importância de ajustar o pasto para uma oferta forrageira de alta qualidade, com proporções maiores de folhas e nutrientes essenciais, como proteínas e menor teor de fibras, fatores que garantem maior digestibilidade e aproveitamento pelo animal. “Um pasto bem manejado proporciona a ingestão de nutrientes de melhor qualidade e torna a suplementação mais eficaz”, afirmou.

No manejo de pastagens, Azevedo destacou a necessidade de oferecer ao animal uma quantidade suficiente de forragem para que ele possa exercer seletividade e, assim, consumir os nutrientes mais concentrados. Ele ressaltou que as plantas apresentam uma variação nutricional ao longo da folha, sendo mais nutritivas nas pontas. Esse detalhamento permite ajustes mais precisos na suplementação, visando atender à demanda nutricional sem comprometer o crescimento da forragem.

“O que acontece com o consumo de pasto quando utiliza-se um suplemento? A resposta é: efeito associativos. A definição dos objetivos de suplementação varia de acordo com as condições de cada propriedade e com o tipo de animal. Em sistemas de alta produção, os suplementos podem incluir aditivos que melhorem a fermentação ruminal e aumentem a eficiência no uso do volumoso”, apontou o professor, explicando que o efeito da suplementação pode variar de acordo com a qualidade do pasto e o nível de exigência nutricional do rebanho. “Quanto maior a diferença entre o potencial produtivo do animal e o que o pasto oferece, maior será a resposta à suplementação”, observou.

Forragem, desempenho e comportamento alimentar

Zootecnista e doutor em Nutrição de Vacas Leiteiras, Luiz Ferraretto: “Uma dieta baseada em alta forragem influencia o comportamento alimentar e o ‘time budget’ das vacas – isto é, o tempo que elas passam comendo versus descansando”

Em sua primeira viagem a Santa Catarina, o zootecnista e doutor em Nutrição de Vacas Leiteiras, Luiz Ferraretto, professor e extensionista em Nutrição de Ruminantes da

Universidade de Wisconsin, Madison (EUA), compartilhou conhecimentos valiosos sobre qualidade de forragem e otimização do amido em duas falas realizadas durante o Painel Qualidade da Forragem.

Foram duas palestras complementares, nas quais o professor apresentou um panorama detalhado, destacando a importância de fatores nutricionais na produtividade e no comportamento alimentar das vacas, focando especialmente na digestibilidade da fibra e do amido em diferentes tipos de silagem.

Ferraretto abriu sua primeira palestra com o tema “Como a qualidade da forragem altera o desempenho e o comportamento alimentar?”, e reforçou a importância da digestibilidade das fibras, apresentando indicadores que facilitam a avaliação da qualidade da silagem. Segundo o especialista, o consumo de forragem pode ser limitado pelo enchimento do rúmen, impactando diretamente na produção de leite e na formulação de dietas ricas em fibras. Citando pesquisas realizadas nos Estados Unidos, Ferraretto apontou que um aumento de 1% na digestibilidade da fibra, eleva em cerca de 250 gramas por dia a produção de leite, corrigido para 4% de gordura. Em outro estudo, uma dieta com mais de 40% de silagem de milho resultou em 141 gramas diários adicionais de leite com 3,5% de gordura.

O professor também apresentou um experimento realizado na Universidade de Wisconsin com 64 vacas holandesas, onde investigou-se os efeitos da substituição de fibras de forragem por fibras não forrageiras.

Os resultados evidenciaram que dietas de alta forragem prolongam o tempo de alimentação, o que pode reduzir a produção de leite, pois as vacas passam menos tempo descansando. “Uma dieta baseada em alta forragem influencia o comportamento alimentar e o ‘time budget’ das vacas – isto é, o tempo que elas passam comendo versus descansando. O melhor indicador, que nem sempre é fácil de avaliar, é o tempo em que as vacas passam ruminando deitadas”.

Amido na silagem de milho e grão úmido

Na segunda palestra, Ferraretto explorou “Práticas para maximizar o uso do amido na silagem de milho e no grão úmido”, destacando que fatores como o tamanho das partículas, a maturidade dos grãos e a fermentação são cruciais para a digestibilidade do amido. “O processamento do milho, bem como a duração da fermentação, têm efeitos diretos na densidade energética e na eficiência alimentar. A fermentação adequada da silagem pode aumentar a disponibilidade de amido, essencial para a energia das vacas e para otimizar a produção de leite”, afirmou. Ferraretto demonstrou que grãos mais maduros, com endospermas mais duros, apresentam digestibilidade reduzida, enquanto o uso de inoculantes microbianos pode melhorar a fermentação e a estabilidade aeróbica da silagem.

Ferraretto também apontou a importância de grãos quebrados na silagem, pois isso facilita a fermentação e melhora a digestibilidade. “Atrasos na colheita podem aumentar a dureza do grão, dificultando a fermentação e reduzindo a eficiência de digestão do amido. Nesse contexto, o uso de inoculantes microbianos foi recomendado para melhorar o perfil de fermentação e garantir a estabilidade aeróbia da silagem, permitindo uma maior disponibilidade energética sem comprometer a produção. A combinação desses elementos impacta não apenas a produtividade do leite, mas também o comportamento e o bem-estar dos animais”, enfatizou.

Com seu olhar clínico e experiência internacional, o especialista contribuiu significativamente para os debates do simpósio, oferecendo soluções práticas para produtores brasileiros que buscam maximizar a eficiência e sustentabilidade na nutrição de ruminantes.

Fonte: Assessoria Nucleovet
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Bovinos / Grãos / Máquinas 13º SBSBL

A saúde emocional e o comportamento dos bovinos com o projeto “Traduzindo Vacas”

Método de análise comportamental do rebanho é tema de palestra no 13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite.

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Fotos: Caroline Lorenzetti

Durante o 13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite, profissionais especialistas renomados tomaram o palco do Centro de Cultura e Eventos Plinio Arlindo De Nes, em Chapecó, para discutir a realidade mundial e inovações envolvendo toda a cadeia leiteira.

Médico veterinário, mestre em Produção Animal com ênfase em Etologia e PhD em Endocrinologia, Marcelo Cecim: “A inteligência artificial é uma ferramenta poderosa, mas precisamos também de pessoas capacitadas nas fazendas para interpretar esses sinais de comportamento”

O médico veterinário, mestre em Produção Animal com ênfase em Etologia e PhD em Endocrinologia, Marcelo Cecim, veio ao evento apresentar o seu  projeto “Traduzindo Vacas”, um método de análise comportamental que permite interpretar sinais emitidos pelos bovinos, com o objetivo de melhorar o entendimento do bem-estar desses animais e suas necessidades específicas. A abordagem inovadora é hoje utilizada no treinamento de auditores de bem-estar em diferentes programas.

Marcelo Cecim relatou que a ideia para o projeto surgiu quando trabalhava com inteligência artificial e sensores para monitoramento remoto do comportamento bovino. Ele desenvolveu um sistema que permite identificar alterações sutis no comportamento das vacas, muitas vezes, precursores de doenças. “Esse monitoramento preventivo busca detectar os ‘sinais’ que as vacas emitem antes de adoecerem. Muitas vezes, percebemos que o animal parece ‘diferente’, mas não sabemos o que isso significa”, explicou Cecim. “A inteligência artificial é uma ferramenta poderosa, mas precisamos também de pessoas capacitadas nas fazendas para interpretar esses sinais de comportamento”, opinou.

Da inteligência artificial ao olhar sensível: o método traduzindo vacas

Foto: Divulgação/Arquivo OPR

O método é baseado em uma série de escores comportamentais, incluindo medo, rotina, interação, dor, conforto térmico, digestão, entre outros. Cada um desses parâmetros é analisado e pontuado, permitindo uma avaliação detalhada do estado emocional e físico dos animais. Segundo Cecim, a metodologia é simples e acessível, o que facilita o treinamento de auditores de bem-estar. “Já treinei pessoas de 8 a 80 anos para utilizá-lo, com base apenas na capacidade de contar de 1 a 5”, comentou.

Cecim ressaltou que o bem-estar emocional, assim como acontece nos seres humanos, também impacta diretamente a saúde física dos bovinos, contribuindo para a prevenção de problemas como mastite, deslocamento de abomaso e pneumonia. Ele destacou a importância de entender que o animal pode não estar doente, mas isso não significa que está bem. “Alterações de comportamento são o parâmetro mais sensível para reconhecer quando uma vaca – ou mesmo uma pessoa – não está bem. É fácil identificar uma doença, mas reconhecer um mal-estar é difícil, especialmente para um animal, que tende a esconder dor e fraqueza para evitar predadores”.

O impacto da saúde emocional no ciclo de produção foi outro ponto central da palestra, explanando sobre a relação entre saúde emocional e expectativa de vida dos animais. De acordo com Cecim, práticas de manejo inadequadas podem gerar estresse e afetar a saúde das vacas a longo prazo. “Hoje, reconhecemos a relação entre depressão e inflamação. Vacas deixam as fazendas por problemas de casco, infertilidade e mastite, todas condições inflamatórias”, exemplificou. O veterinário comparou o impacto do cuidado materno e dos efeitos epigenéticos com o desenvolvimento humano, explicando que o bem-estar dos bovinos, especialmente das vacas leiteiras, pode afetar até três gerações: a mãe, a cria e a próxima. “Em ambientes desfavoráveis, como calor excessivo, vacas secas no campo terão menor desempenho na próxima lactação, e isso reflete diretamente na sua descendência”, explicou.

O bem-estar animal, inicialmente baseado nas “cinco liberdades” (ausência de fome, sede, desconforto, dor e medo), evoluiu para um modelo mais abrangente que inclui saúde, nutrição, ambiente, produção e estado emocional. “Esses princípios, estabelecidos em 1965, garantem ausência de mal-estar, embora não assegurem bem-estar em si. Em 1994, esses conceitos evoluíram para os cinco estados, que refletem como a vaca se sente no ambiente em que vive. Em toda fazenda, há vacas que demonstram felicidade, enquanto outras não, e essa saúde emocional impacta diretamente sua saúde física, refletindo na expectativa de vida”, informou.

Este último ponto é central para Cecim, que acredita ser fundamental garantir que o ambiente onde os bovinos vivem promova não apenas o desempenho produtivo, mas o conforto psicológico do animal. “A proposta é entender um pouco do que as vacas vêm tentando nos comunicar há cerca de 10 mil anos, desde a domesticação. Elas emitem muitos sinais, mas raramente lhes damos a devida atenção. A medicina de ruminantes vem evoluindo com o tempo, acrescentando as habilidades que necessitamos nos profissionais atualmente. Para entender o que a vaca expressa, precisamos de pessoas capacitadas nas fazendas, aptas a identificar se a alteração é causada por dor, medo ou outro fator”.

O projeto “Traduzindo Vacas” promete trazer avanços para a bovinocultura de leite ao oferecer um novo olhar sobre o comportamento animal, sensibilizando profissionais da área para a importância do bem-estar emocional e físico dos bovinos. Marcelo Cecim mostrou que a empatia, aliada à tecnologia, pode transformar o manejo de rebanhos e gerar melhores resultados na produção leiteira, promovendo um ambiente mais saudável e respeitoso para os animais.

Fonte: Assessoria Nucleovet
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