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Trigo irrigado no Cerrado bate sucessivo recorde mundial de produtividade com cultivar da Embrapa
Altas produtividades de trigo no Cerrado podem levar o Brasil nos próximos anos a ser autossuficiente na produção do grão

As altas produtividades de trigo no Cerrado podem levar o Brasil nos próximos anos a ser autossuficiente na produção do grão. E isso se deve, em grande parte, ao cultivo em dois sistemas de produção: trigo irrigado e trigo de safrinha na região. A cultivar de trigo irrigado BRS 264 , desenvolvida pela Embrapa e que ocupa 70% da área cultivada com trigo na região, bateu novamente o recorde mundial de produtividade diária: 9.630 kg/ha, isto 80,9 kg/ha/dia, ou 160,5 sc/ha, colhidos pelo produtor Paulo Bonato, de Cristalina (GO).
O produtor já era o recordista mundial de produção de trigo por hectare/dia. Em setembro de 2020, ele colheu 8.544 kg/ha, isto é 74,9 kg/ha/dia, ou 142,4 sc/ha de grãos da cultivar BRS 264 em uma área de 50,8 hectares sob pivô central de irrigação. “Acreditávamos mesmo que ele poderia aumentar essa produtividade. Para isso, foram feitos ajustes no manejo durante o ciclo da cultura. O potencial dessa cultivar é impressionante em termos de produtividade e precocidade “, comemorou o pesquisador da Embrapa Cerrados, Júlio Albrecht.
O cultivo do Trigo Irrigado no Cerrado foi tema do Dia de Campo realizado na terça-feira (14), na fazenda Alvorada (PAD-DF), em formato presencial. O evento foi organizado pela Coopa/DF – Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal. “Ao longo dos anos firmamos essa parceria exitosa com a Embrapa para o desenvolvimento de materiais adaptados à região. Por conta disso, o cultivo do trigo irrigado já é realidade”, afirmou o presidente da COOPA-DF, José Guilherme Brenner.
Segundo Brenner, além do trigo irrigado, também deve contribuir para o aumento da produção nacional a introdução do cultivo do trigo safrinha. O chefe-geral da Embrapa Cerrados, Sebastião Pedro, concorda que o trigo é uma opção muito boa para a segunda safra no centro-oeste. “Essa cultura é uma alternativa importante para o sistema de produção do Cerrado. Recordes mundiais de produtividade estão sendo batidos na região. Agora, estamos trazendo opções de trigo sequeiro para produzir em safrinha depois da soja.”, informou.
“Este é o local onde vai acontecer o suprimento de trigo de que o Brasil necessita”, destacou o chefe-geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemanski, também presente no dia de campo. “Queremos que em dois anos a cultura avance mais 100 mil hectares no Cerrado – sendo 75 mil em sequeiro e 25 mil irrigado. Para a balança comercial brasileira significa mais 300 mil toneladas de trigo e menos 450 milhões de reais de despesas com importação de trigo. O dinheiro que sai para o exterior para comprar trigo ficaria na economia interna com os fornecedores de insumos, com os produtores de sementes, com os agricultores, enfim, seria um ganho para toda a cadeia produtiva”, destacou.
Cultivares
O pesquisador Julio Albrecht foi um dos palestrantes do Dia de Campo e apresentou aos participantes as cultivares de trigo desenvolvidas pela Embrapa para a região do Cerrado. “A Embrapa Cerrados sempre acreditou muito na produção de trigo no Cerrado. Temos uma parceria com a Embrapa Trigo (localizada em Passo Fundo/RS) e estamos desenvolvendo novas cultivares e todo um trabalho de manejo da cultura do trigo voltado para essa região”, informou.
Foram apresentadas pelo pesquisador informações e características relacionadas às seguintes cultivares: BRS 264, BRS 404, BRS 254 e BRS 394. As cultivares mais plantadas na região e consideradas top de linha são a BRS 264 e BRS 404 (material para sequeiro). Segundo Albrecht, apesar de a BRS 264 estar no mercado há mais de 10 anos ela continua com alto potencial de produtividade e precocidade. “Sem dúvida é o material que possibilitou a expansão do trigo na região”, afirma.
A BRS 264 é indicada tanto para o sistema de produção irrigado, quanto para o sequeiro (nesse caso, mais para o sul de Minas Gerais). Sendo que a produtividade na safrinha chega a 70 sacos por hectare em média. “É a cultivar de trigo mais precoce do Brasil hoje, e uma das mais precoces do mundo. É muito difícil aliar precocidade com alta produtividade e conseguimos nesse material”, conta Albrecht. Segundo ele, com 90 dias a cultura completa a maturação e com 100 dias a lavoura já pode ser colhida. “Isso é redução de custo de produção”, destaca.
Além da alta produtividade e precocidade, a BRS 264 possui excelente qualidade industrial para panificação. “Se o produtor fala que tem 264 para comercializar, o moinho compra de olho fechado. Ele nem faz testes antes de comprar, tal é a confiança na qualidade do material”, conta. O pesquisador pontuou, ainda, outras características de destaque da cultivar: alta estabilidade (resistência da massa ao tratamento mecânico e ao processo fermentativo na fabricação do pão. Os moinhos exigem, no mínimo, 12 minutos, a BRS 264 pode chegar a 32 minutos); alta força de glúten, bom teor de proteína, grão duro e excelente rendimento industrial.
Já a BRS 404 é o material mais resistente à seca disponível para a região do Cerrado. Segundo Albrecht, apesar de ser indicada para o trigo safrinha, alguns produtores têm utilizado essa cultivar como trigo irrigado também e têm conseguido produtividade de até 100 sacos por hectare. “Este ano foi um ano muito seco, em que os produtores perderam um pouco a produtividade na safrinha em função da baixa umidade no solo, com uma distribuição de chuva bem irregular durante o ciclo da cultura, mas, mesmo assim, com esse material foi possível colher 60 sacos/ha”. De acordo com o especialista, o material tem boa aceitação no mercado moageiro, alta força de glúten, grão duro, proteína alta e estabilidade dentro da demanda dos moinhos.
O pesquisador também apresentou as cultivares BRS 394 e BRS 254. A primeira foi lançada em 2015 e é conhecida como “Trigo melhorador do Cerrado”. É indicada tanto para o cultivo irrigado, quando produz de 120 a 130 sacos/ha, quanto para a safrinha, com 70 a 80 sacos/ha. É um material precoce com colheita sendo feita com 110 dia. É moderadamente resistente ao acamamento. Tem boa aceitação no mercado, em função de seu excelente desempenho na indústria com alta força de glúten e estabilidade.
Por fim, foi apresentada a cultivar BRS 254. Apesar de ter sido lançada em 2005, ainda apresenta excelente produtividade e ótima qualidade industrial, também classificada como trigo melhorador. O ciclo dela é de 120 a 125 dias e é moderadamente suscetível ao acamamento. “Trata-se de um material ainda com bom potencial de produção. É superior aos outros materiais quando o assunto é qualidade industrial, por conta de sua elevada força de glúten. Também possui alta estabilidade e alto teor de proteína”.
Manejo
O pesquisador da Embrapa Trigo, Jorge Chagas, apresentou informações relacionadas ao manejo das cultivares de trigo da Embrapa para a região. Apesar de ser lotado na Embrapa Trigo, ele desenvolve seu trabalho na Embrapa Cerrados conduzindo ensaios tanto na Embrapa, quanto em fazendas parceiras.
O especialista esclareceu, no entanto, que seria muito difícil passar para os participantes o segredo do manejo do trigo irrigado. “Não há como fazer isso, sabemos que cada pivô tem um história de cultivo diferente o que pode resultar em respostas diferentes das cultivares de trigo ao manejo. O que podemos é fazer uma recomendação média para o produtor, uma referência, que pode ser ajustada ao seu sistema de cultivo para que ele não tenha problemas na condução da sua lavoura”, esclareceu.
O pesquisador passou informaçõe sobre datas de semeadura indicadas, a densidade de semeadura e a adubação para cada cultivar, destacando o manejo da adubação nitrogenada e os cuidados com o uso do regulador de crescimento. Ele ainda apresentou o programa que é disponibilizado gratuitamente no site da Embrapa Cerrados de monitoramento de irrigração. A ferramenta indica o momento e a quantidade de água a ser aplicada por irrigação para diversas culturas no sistema irrigado do Cerrado. Acesse aqui o programa.

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Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025
Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves
A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.
Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.
Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.
Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves
Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.
Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.
Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.
Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.
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Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
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Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.



