Notícias
Trigo está entre os alimentos a serem biofortificados com micronutrientes pela Embrapa
Rede BioFort vai retomar os trabalhos de biofortificação com ferro, zinco e vitamina A nos alimentos do cardápio básico do Brasil.

A próxima fase de uma rede de projetos da Embrapa responsável pelo desenvolvimento de alimentos biofortificados com ferro, zinco e vitamina A – a Rede BioFort – terá como prioridade a finalização do melhoramento para as culturas do arroz, trigo e abóbora. O aumento dos teores de micronutrientes visa minimizar os impactos das deficiências nutricionais que causam doenças em decorrência da chamada “fome oculta”, principalmente nas populações mais vulneráveis.
No Brasil, a pesquisa trabalha com oito alimentos básicos, tendo sido responsável, desde 2002, pelo lançamento de 14 cultivares para culturas como mandioca, feijão, feijão-caupi, batata-doce e milho. A biofortificação, realizada a partir de melhoramento convencional no Brasil, tende a resultar em variedades com melhor produtividade e mais adaptadas a contextos de mudanças climáticas.
“No Brasil, os cultivos, além de serem bons nutricionalmente, precisam ter características que sejam de interesse para o agricultor, como alto rendimento, resistência a pragas e tolerância a estresse; para o consumidor, como aparência, sabor e tempo de cozimento; e para a indústria. No caso de grãos, rendimento e moagem, além de diversos usos como matéria-prima”, explica a pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ) e líder do Projeto, Marília Nutti.
Outra prioridade nos próximos anos será a melhoria da oferta e distribuição de sementes, ainda um gargalo para a capilarização da Rede BioFort, bem como o aumento de parcerias. Estratégias de comunicação, com públicos internos e externos, também devem ser trabalhadas, especialmente para popularizar o conceito de biofortificação e distanciá-lo da transgenia – não trabalhada pela Rede no País.
Diferença entre biofortificação, fortificação e suplementação
Segundo Marília Nutti, a biofortificação consiste no processo de desenvolvimento de variedades com foco no aumento do conteúdo nutricional das porções comestíveis das plantas. Já a fortificação se trata do enriquecimento com nutrientes durante o processamento dos alimentos, enquanto a suplementação consiste na ingestão de nutrientes pela inserção dos mesmos na dieta das pessoas.
Sobre a Rede BioFort
Criado em 2002, o BioFort teve início para melhoria dos teores nutricionais em mandioca, milho e feijão. A iniciativa fazia parte do programa HarvestPlus – consórcio de pesquisa com atuação na América Latina, África e Ásia mantido com recursos da Fundação Bill e Melinda Gates, Banco Mundial e agências internacionais de desenvolvimento – e estava ligada a um programa mundial de biofortificação.
Em 2005, para captação de recursos, uma proposta foi realizada junto ao International Potato Center (CIP), ao Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT) e ao Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT) para América Latina e Caribe. Neste momento, o trabalho de biofortificação foi expandido para as culturas da batata-doce e arroz, bem como para técnicas de pós-colheita.
A identificação de mandiocas biofortificadas foi realizada em 2005, a inclusão de feijão-caupi e trigo ocorreu em 2006 e de abóbora nos anos seguintes. A partir de 2012, o trabalho se tornou uma rede, reunindo diferentes projetos voltados ao desenvolvimento de variedades biofortificadas em todo o país. De 2012 a 2020, o Brasil, por meio da Rede, foi responsável por coordenar todos os trabalhos com biofortificação na América Latina e Caribe.
A partir de 2016, além da pesquisa, a Rede começa a investir num projeto de transferência e avaliação de impacto das tecnologias geradas nos estados do Maranhão, Piauí, Sergipe, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. A ação, então, passa a contar com o apoio de diferentes parceiros – de Unidades da Embrapa a parceiros externos -, que ficam responsáveis por multiplicar e difundir o plantio e o consumo desses alimentos nos territórios.
Em 2020, como fruto desse projeto, surgem os Polos de Biofortificação, que também têm como foco a difusão dos materiais biofortificados. Atualmente, o Projeto conta com sete Polos de Biofortificação, em quatro regiões do país. Nessa área, a etapa atual é de construção de um hub virtual, em conjunto com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), para assistência técnica com foco em nutrição e saúde.
Ao todo, foram instaladas cerca de 190 Unidades de Observação com materiais biofortificados no país. A estimativa é que já tenham sido distribuídas em torno de 800 mil mudas de batata-doce e 700 toneladas de sementes de milho. Em termos de público, os dados indicam que os alimentos biofortificados chegaram a cerca de 250 mil domicílios, em 15 estados brasileiros, o que representa uma média de um milhão de pessoas beneficiadas.
Atualmente, a rede conta com a participação de 16 Unidades da Embrapa; 23 universidades e instituições de ensino; 13 associações, cooperativas e sindicatos; 19 prefeituras e instituições municipais; e quatro empresas privadas. Em 20 anos, estima-se que o BioFort tenha captado cerca de 26 milhões de reais para desenvolvimento do trabalho.
Francisco Lima (13696 DRT/RS)

Notícias
Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025
Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves
A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.
Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.
Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.
Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves
Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.
Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.
Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.
Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.
Notícias
Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
Notícias
Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.



