Suínos
Três décadas estudando doenças prepararam a suinocultura para os próximos desafios
Para entender o atual panorama destas enfermidades, seus desafios, pesquisas realizadas e em andamento, além de iniciativas no setor para monitorar, prevenir e controlar essas doenças no rebanho suíno, o Jornal O Presente Rural conversou com a médica-veterinária e pesquisadora em Sanidade na Embrapa, Janice Zanella. Confira!
Há uma grande quantidade de doenças que afetam a saúde humana e animal espalhadas pelos quatro cantos do planeta. Algumas já são velhas conhecidas, outras estão surgindo e ainda existem aquelas enfermidades que já estavam controladas, mas retornaram fazendo novas vítimas. Essas doenças são classificadas de acordo com seu comportamento epidemiológico, podendo ser emergentes ou reemergentes.
A doença emergente é definida como aquela causada por um patógeno novo que é reconhecido ou sofreu mutação recente, e a reemergente que já ocorreu anteriormente e agora demonstra um aumento na incidência ou expansão na área geográfica, tipo de hospedeiro ou vetor.
Quando as patologias se referem a zoonoses – doenças compartilhadas entre seres humanos e animais – é preciso se atentar para três aspectos: 1) hospedeiro: sendo ele humano, animal (doméstico ou silvestre) ou mesmo o vetor (morcego, roedor, artrópode, dentre outros); 2) patógeno: vírus, bactérias, parasitas; 3) ambiente: terrestre ou aquático e a interação entre esses atores.
Para entender o atual panorama destas enfermidades na suinocultura, seus desafios, pesquisas realizadas e em andamento, além de iniciativas no setor para monitorar, prevenir e controlar essas doenças no rebanho suíno, o Jornal O Presente Rural conversou com a médica-veterinária e pesquisadora em Sanidade Animal na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Janice Zanella, que palestra sobre as lições apreendidas ao longo de 30 anos de prática e pesquisa sobre doenças emergentes e reermergentes de suínos no Pork Expo & Congresso Internacional de Suinocultura, que acontece nos dias 26 e 27 de outubro, em Foz do Iguaçu, PR.
De acordo com ela, as zoonoses emergentes surgem em todos continentes, apesar de existirem hotspots que influenciam e de certa forma agilizam a evolução dos agentes patogênicos e sua emergência como doença. “Os hotspots mais comuns são em territórios com elevada biodiversidade, como o cinturão tropical do globo. Dezenas de fatores têm sido elencados como aceleradores de emergência das zoonoses emergentes, mas o principal é a expansão da população humana, ou seja, mais hospedeiros para os patógenos zoonóticos infectarem e neles evoluírem, propagando assim para os demais seres vivos”, pontua.
Outros fatores são a urbanização, invasão de novas fronteiras, alteração das práticas de manejo de criação animal, interação com animais (e vetores) silvestres, mudanças no meio ambiente e aquisição pelos patógenos de novos fatores de virulência estão entre os principais. “As cidades estão crescendo, invadindo novos habitats, as pessoas estão morando mais próximas de regiões antes não habitadas e os cursos dos rios estão mudando. Isso faz com que vírus e bactérias que estavam restritos a determinadas regiões se desloquem”, explica Janice, acrescentando: “O fato das pessoas viajarem mais, da nossa comida cruzar fronteiras internacionais, faz com que facilite a difusão de agentes patogênicos, além de estarmos envelhecendo mais, o que propicia a diminuição da imunidade, fazendo com que fiquemos mais suscetíveis a doenças. Isso sem contar com a evolução natural dos patógenos”.
A mudança do clima também é apontada por Janice como motivo para a evolução de patógenos. Isso porque o aquecimento global e as alterações ecológicas facilitadas pelo uso da terra têm modificado os hotspots. Em resumo, a maioria dos fatores são impostos pela interferência humana e o desequilíbrio.
No último século, emergiram ou reemergiram dezenas de doenças infecciosas ou parasitárias, dentre elas Covid-19, Ebola, Dengue, Chikungunya, Zika, Febre Amarela, Tuberculose, Sars, Mers, Sarampo, Varíola, HIV-Aids, gripes (Influenzas humanas, aviárias ou suína), parasitoses (tripanossomíases), sendo que mais de 75% delas são originárias através de agentes microbianos de animais.
De acordo com os órgãos de saúde, estima-se que no mundo surjam cinco doenças humanas emergentes a cada ano. E pesquisadores também preveem que poderá haver uma pandemia a cada 10 anos. “As pandemias matam mais do que guerras mundiais”, constata Janice.
Desafios na suinocultura
Garantir a sanidade dos rebanhos suínos é um dos maiores desafios da cadeia, que vive em estado de alerta constante em razão dos eventos sanitários registrados nos últimos anos ao redor do globo, particularmente a ocorrência da Diarreia Epidêmica dos Suínos (PED), nos Estados Unidos (EUA); a Peste Suína Africana, com maior incidência na Europa, Ásia e Caribe; além da infecção pelo Senecavírus A no Brasil e nos EUA. “Esse panorama alerta o setor para a necessidade de se desenvolver mecanismos mais ágeis de monitoramento, detecção, controle e erradicação de enfermidades emergentes na suinocultura. Um dos fatores mais importantes é a inter-relação da produção, porque nunca estivemos tão conectados como agora”, menciona a pesquisadora.
Essa estrutura de produção moderna e complexa proporciona a transferência e transporte de animais e insumos entre os mais diversos locais do planeta, sendo que, somente no Brasil, cerca de 350 mil suínos são transferidos diariamente. Paralelo a isso, a modernização nas operações, maior tecnologia empregada, granjas cada vez maiores e, consequentemente, com alto capital empregado, além da interligação de todos elos da cadeia, elevam consideravelmente o risco econômico da atividade.
Aumento da emergência de patógenos
Patógenos causadores de doenças, sendo elas endêmicas, emergentes ou reemergentes sempre vão causar preocupações e perdas, seja no desempenho do animal ou causando mortalidades. Todavia, o que tem chamado atenção é o aumento significativo de patógenos, principalmente os zoonóticos, com notificações em todos os continentes. “Mesmo com toda tecnologia e altos custos investidos em medicações e vacinas, existem dificuldades em se produzir suínos intensivamente sem a utilização de antibióticos em determinadas fases, o que pode acarretar na resistência de patógenos aos antimicrobianos. Isso sem mencionar falhas vacinais devido ao surgimento de variantes”, expõe a pesquisadora.
De acordo com Janice, nas últimas décadas a maioria dos patógenos emergentes já ocorriam nas criações suinícolas de forma equilibrada, porém acabaram adquirindo fatores de virulência importantes para manifestações de síndromes patológicas, antes desconhecidas. É assim que muitos genótipos patogênicos de diversos agentes infecciosos surgiram e poderão continuar surgindo (ver tabela 1).
Agentes virais
Entre os agentes virais de maior importância, Janice destaca os vírus da Influenza A (H1N1pdm), Circovírus suíno tipo 2 (PCV2), Seneca Valley Vírus (SVV) ou Senecavírus A, vírus da Diarreia Epidêmica dos Suínos (PEDV), vírus da Síndrome Reprodutiva e Respiratória dos Suínos (PRRSV) e Peste Suína Africana.
Outros agentes como o Enterovírus suíno, Sapelovírus suíno (PSV), Kobuvírus suíno (PKBV) e vírus Torque teno sus suíno (TTSuV), Porcine bocavirus (PBoV), Porcine toroviruses (PToV), e Porcine lymphotropic herpesviruses (PLHV), vírus da Hepatite E dos suínos (swine HEV) e o Sapovírus Suíno (porcine SaV) que, embora a importância clínica ainda não esteja clara, estão presentes em lesões ou acompanhados em quadros clínicos com outros agentes.
Além disso, novos vírus emergentes, como Pestivírus suíno atípico (APPV), PCV-3, PCV-4, SADS-CoV, Influenza D e outros com distribuição regional ou mundial constituem um novo desafio para a Medicina Veterinária.
Baseado no que tem surgido na cadeia produtiva, Janice diz que as doenças emergentes podem ser classificadas em três categorias. A primeira se refere aos patógenos suínos endêmicos que mudam em patogenicidade ou forma de transmissão. “Alterações na virulência tanto por rearranjo, recombinação ou mutação de vírus suínos, principalmente os vírus de RNA e DNA de fita simples que têm uma alta taxa de mutação (10-4/10-5 nucleotídeos por ciclo de replicação), facilitam sua adaptação à resposta imune inata. Exemplos relevantes são HP PRRSV (PRRSV de alta patogenicidade), Influenza A H1N1pdm09 (vírus da Influenza pandêmico) e PEDV”, revela.
A segunda está relacionada à patógenos não-suídeos que entram nas populações de suínos e a terceira diz respeito aos agentes zoonóticos não patogênicos que adentram nas populações de suínos. “A transmissão interespécies significa a infecção de agente potencialmente patogênico em um novo hospedeiro, como a Influenza A entre aves migratórias aquáticas e seres humanos. Os morcegos são a fonte do vírus Nipah e da Síndrome da Diarreia Aguda Suína (SADS coronavírus). Trabalhos recentes têm encontrado PCV-3 suíno com alta homologia com PCV-1 de morcegos”, relata Janice.
Por um longo período de tempo, os vírus estiveram presentes como infecções subclínicas e foram descobertos com o desenvolvimento de técnicas metagenômicas, de sequenciamento de última geração ou fatores exógenos -ligados ao estímulo, ao ambiente e à cultura. “Vírus como PCV3, PCV-4, SADS-CoV e LINDA (novo pestivírus causador de tremor congênito conhecido como agente neurodegenerativo indutor de agitação) foram caracterizados por estas técnicas”, menciona.
Conforme a médica-veterinária, os drivers ou impulsionadores de emergência de patógenos em populações de suínos podem ser devidos a dois fatores. O primeiro é probabilístico, ou seja, a ameaça sempre esteve presente e o surgimento é simplesmente uma questão de tempo. O segundo fator, que geralmente se discute mais, e é muito difícil de comprovar, é a mudança da ecologia destes patógenos.
Riscos de doenças na suinocultura
Doenças animais causam enorme impacto econômico, social ou ambiental para a produção. A perda de mercados para os produtos de origem animal é uma realidade quando a saúde pública está em jogo devido a uma zoonose. “Os governos precisam ter a responsabilidade em prevenção e preparo, em vigilância e resposta, em biossegurança e controle da infecção, além do tratamento das doenças infecciosas, que começa entendendo os fatores importantes para emergência de patógenos, evitando o impacto desta emergência e conectando as autoridades locais, regionais, governamentais e mundiais. É de suma importância esse preparo”, enfatiza Janice.
Desta forma, a pesquisadora salienta a importância de investir no conceito saúde única, vigilância epidemiológica, estudo de evolução de patógenos com potencial zoonótico, desenvolvimento de plataformas de vacinas, antivirais, antimicrobianos de última geração e demais ciências são fundamentais para a atenção rápida da saúde. “Vidas humanas, saúde animal e equilíbrio do planeta estão em jogo”, sintetiza.
A médica-veterinária ressalta que a melhor chance de erradicar ou conter uma doença nova ou reemergente é quando ela surge, uma vez que a detecção precoce, a notificação e o compartilhamento de informações e agentes patogênicos com países e com a comunidade internacional é ponto chave para a pronta resposta em nível nacional e global. “A contingência de doenças emergentes requer o compromisso de todas as instâncias de governo e das organizações internacionais”, pontua.
Mitigação das doenças emergentes
O futuro do agronegócio depende da mitigação das doenças emergentes, principalmente as zoonoses, no entanto a vigilância e a mitigação de riscos custam caro.
O custo das doenças animais deve ser levado em conta, porque podem ser divididos em custos diretos – impacto imediato na pecuária e na agricultura; e custos indiretos – que incluem a mitigação e esforços para o controle, as perdas no comércio e outra forma de renda; além dos impactos na saúde humana. “Existem dificuldades em estimar os custos de doenças animais globalmente como preços de produtos de origem animal e a produtividade varia enormemente, assim como os custos para financiar monitoramento e controle de doenças”, evidencia Janice, ampliando: “Embora isso faça com que o custo total das doenças animais em uma escala global seja difícil de acessar, pode-se ter uma noção do impacto social e econômico dos surtos. Países como o Brasil, com grande vocação no agronegócio e com o potencial de abastecer e alimentar o mundo, tem de olhar para o futuro e, mais rapidamente, investir e se estruturar para dar essas respostas”.
Impactos das doenças
O agronegócio brasileiro foi responsável por 27,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021. Assim como é para o Brasil, o setor também é essencial para a economia de diversos países. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), muitas vezes a agricultura familiar é a única fonte de proteína para as pessoas.
O Banco Mundial estima que as doenças zoonóticas afetam mais de dois bilhões de pessoas em todo o mundo, causando mais de dois milhões de mortes a cada ano, resultando em surtos com impactos significativos na saúde pública e na economia.
Entre 1997 e 2009, surgiram seis grandes surtos de doenças zoonóticas fatais, que incluem o vírus Nipah na Malásia; a Febre do Nilo Ocidental nos EUA; a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) na Ásia e no Canadá; o vírus da Gripe Aviária Altamente Patogênica (HPAI) na Ásia e na Europa; a Encefalopatia espongiforme bovina (BSE) ou vaca louca nos EUA e no Reino Unido; e a Febre do Vale do Rift na África. “Todas estas doenças originaram ou envolveram a vida selvagem, que custaram à economia global pelo menos US$ 80 bilhões. Se esses surtos tivessem sido evitados, as perdas de US$ 7 bilhões por ano não teriam ocorrido”, aponta Janice.
Nesse cenário, os investimentos necessários para um Sistema de Saúde Única foram estimados entre US$ 2 bilhões a US$ 4 bilhões por ano, ficando substancialmente abaixo da média de US$ 7 bilhões em perdas devido aos seis maiores surtos de doenças zoonóticas entre 1997 e 2009, considerando que nenhum dos surtos das seis doenças evoluiu para uma pandemia.
Desta forma, foi ainda estimado que um investimento anual entre US$ 2 bilhões a US$ 4 bilhões seria necessário para construir e operar sistemas de prevenção e controle eficazes de doenças em países de baixa e média renda. Conforme o Banco Mundial, o sucesso na prevenção do início de pandemias vem com uma taxa de retorno anual esperada de 86%.
Segundo Janice, o impacto da Covid-19 causado pela pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2) na saúde humana e na economia mundial ficou acima de US$ 30 trilhões. No entanto, a pesquisadora diz que o impacto da pandemia na cadeia de abastecimento alimentar, especificamente na cadeia da carne, foi inesperado. “A alta incidência de Covid-19 em trabalhadores de frigoríficos evoluiu rapidamente para afetar o bem-estar humano, animal e ambiental em vários países. Isso levou ao fechamento de plantas de processamento devido a surtos, especialmente as indústrias de suínos e aves. A redução do abate de animais resultou em aglomeração nas fazendas, o que levou à redução de ração para os animais, sua eutanásia e descarte inadequado das carcaças. Isso teve impacto no bem-estar animal, na renda do produtor, no abastecimento e na biossegurança”, lamenta.
Em alerta constante
Segundo a pesquisadora, as doenças animais respondem por 20% das perdas nas cadeias de proteína animal. Por isso, a Organização Mundial de Saúde, a Organização Mundial para Saúde Animal e a FAO trabalham arduamente para que os países membros previnam essas enfermidades para garantir o abastecimento de alimentos, manter a renda familiar, a saúde e preservar o futuro. “Uma saúde não é apenas um conceito, mas também uma ação de vigilância e controle que todos os países devem implementar”, salienta Janice.
A pandemia do novo coronavírus enfatizou a importância que a discussão e a vigilância de doenças emergentes representam para a sociedade científica, especialmente no caso de doenças zoonóticas. “Mesmo no cenário atual de evolução da pesquisa biomédica, sofisticação de metodologias, equipamentos, instalações de última geração e formação de técnicos, as doenças continuam surgindo na natureza e infectando os seres vivos em todos os continentes”, relata a médica-veterinária.
Entre as doenças animais emergentes mais estudadas estão as doenças virais, devido a sua alta ocorrência no último século e sua gravidade. “Vários fatores desencadearam esses fenômenos, mas falhas na biossegurança, biocontenção e desequilíbrio na imunidade da fazenda devem ser ajustados. Os vírus evoluem naturalmente, por mutação, rearranjo ou recombinação, tornando-se mais ou menos virulentos, mais transmissíveis ou não, podendo até desaparecer”, elenca Janice.
Legado para o futuro
Entre as lições apreendidas ao longo das últimas três décadas, Janice pontua que a pesquisa mostrou que a saúde animal está relacionada com a saúde humana, saúde do meio ambiente e todos esses fatores devem estar conectados para poder entender, controlar e evitar o surgimento e o transbordamento de zoonoses e pandemias. “Doenças emergentes e reemergentes são um risco devido a suscetibilidade da população aos novos agentes. Isso se deu com a Influenza pandêmica (gripe A) em 2009, um vírus novo que ao longo dos anos foi adquirindo outros segmentos de vírus de Influenza humana, suína e aviária, um rearranjo triplo”, evidencia a pesquisadora.
“A tecnologia aplicada nas vacinas, antibióticos e epidemiologia molecular evoluiu substancialmente nos últimos 30 anos, a exemplo do que vimos com a pandemia da Covid-19, em que os cientistas do mundo todo se uniram para uma combinação de compartilhamento de informações, de estruturas laboratoriais, insumos, cooperação de especialistas, empresas, países, atuação forte de organizações internacionais para consórcio de vacinas afim de oportunizar que países em desenvolvimento pudessem vacinar suas populações. Ciência se faz com parcerias, com compartilhamento de insumos, conhecimento e laboratórios, transparência e multidisciplinariedade. É importante que as instituições e os países ajam com transparência, apoiando iniciativas de pesquisa e controle de doenças”, frisa a profissional, acrescentando que as pesquisas no setor público devem ser financiadas.
Neste sentido, têm surgido iniciativas com a criação de startups e agtechs voltadas ao agronegócio. São equipes multidisciplinares formadas por pessoas criativas, onde se formam ecossistemas da inovação. “A união de pesquisadores, produtores, empresas inovadoras e financiadores, que se complementam, trazem soluções práticas com investimento privado. A inovação aberta identifica as ‘dores’ do setor com soluções de retorno rápido”, considera Janice.
Criação do OHHLEP
De acordo com Janice, a pandemia de Covid-19 expôs, segundo a pesquisadora, lacunas importantes no conhecimento de cientistas sobre como as doenças zoonóticas se espalham de animais para humanos e como podem surgir e ressurgir com impactos devastadores em todos os setores, enfatizando a necessidade de maior coordenação e colaboração entre setores e agências nacional e internacionais para melhor prevenir, preparar e responder a essas ameaças.
Diante desta necessidade, em novembro de 2020, a Reunião Ministerial da Aliança para o Multilateralismo, realizada no Fórum de Paz de Paris, convocou a Tripartite – FAO, OIE e OMS – e os representantes do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) para criar um painel de especialistas de alto nível em saúde multidisciplinar, denominado pela sigla em inglês de OHHLEP.
Posteriormente, em fevereiro de 2021, durante a 27ª Reunião Executiva Tripartite, foi definido que o OHHLEP vai auxiliar os países no âmbito da saúde única. Com o apoio dos governos da França e da Alemanha, a iniciativa foi lançada em maio de 2021, com a nomeação de 26 especialistas internacionais, entre eles Janice, para representar uma ampla gama de disciplinas e setores relacionados a políticas relevantes para a saúde única.
Janice conta que a primeira ação do grupo foi criar uma definição nova e expandida de saúde única, passando o conceito a significar: uma abordagem integrada e unificadora que visa equilibrar e otimizar de forma sustentável a saúde das pessoas, dos animais e ecossistemas, reconhecendo que são intimamente ligados e interdependentes. “A nova abordagem de saúde única mobiliza múltiplos setores, disciplinas e comunidades em vários níveis da sociedade a trabalharem juntas para promover bem-estar e combater as ameaças à saúde e aos ecossistemas, abordando a necessidade coletiva de água limpa, energia e ar, alimentos seguros e nutritivos, agindo sobre as mudanças climáticas e contribuindo para o desenvolvimento sustentável”, destaca Janice.
O OHHLEP objetiva analisar evidências científicas sobre os fatores que contribuem para o transbordamento e subsequente disseminação de doenças zoonóticas, desenvolver uma estrutura de gerenciamento de risco e uma Teoria de Mudança OH (ToC) para mover saúde única do conceito à prática, bem como propor um sistema de vigilância em saúde única otimizado. “Todos estão comprometidos em usar o conhecimento gerado pelo OHHLEP para melhorar os sistemas visando prevenir, prever, detectar e responder melhor às ameaças globais à saúde em todos os níveis”, afirma Janice.
Estratégia de Saúde Única
A pesquisadora da Embrapa diz que difícil prever o surgimento ou o retorno de epidemias na suinocultura, no entanto o ponto chave na prevenção de zoonoses emergentes é realizar a identificação precoce de patógenos em animais e dar uma resposta rápida antes que a doença se torne uma ameaça para a população humana.
Neste sentido, a Institucionalização da Estratégia de Saúde Única deve ocorrer em diversos setores que atuam na saúde pública, incluindo pesquisa e desenvolvimento, formular estratégias para conter ameaças de doenças estudando seu comportamento (prevenção) e se preparar para desastres e pandemias de acordo com cada situação (preparação). “A resposta rápida inclui o relatório oportuno da doença e a compensação. É fundamental fomentar parcerias com organizações que tenham experiência em monitoramento da fauna, epidemiologia e treinamento de campo, tenham excelente infraestrutura laboratorial, boa comunicação e planejamento nacional. Deve ter o apoio de diferentes setores públicos e privados, uma forte cooperação e financiamento dedicado”, frisa Janice.
Os procedimentos sanitários, fitossanitários e a biossegurança são importantes para todas as atividades humanas, incluindo a saúde e a produção pecuária. Além disso, implementação de protocolos e planos de ação para controle de doenças como avaliação de risco, comunicação e gestão, quarentena de animais importados e realização de vigilância estruturada de doenças e sorovigilância. “Protocolos eficazes de inativação de vírus ou outros agentes por compostagem, ou ainda outros tratamentos, podem reduzir os riscos de transmissão por esterco ou pela água”, aponta Janice.
Conforme a pesquisadora, vários fatores são importantes a serem considerados na transmissão de doenças ou mesmo no surgimento ou reemergência de doenças. No entanto, três aspectos principais devem ser considerados: hospedeiro, agente e ambiente. Diversas ameaças e desafios são impostos à produção de alimentos de origem animal, entre eles a globalização, o que facilitou e intensificou o comércio de alimentos e rações. “Esta liberalização do comércio mundial, embora ofereça muitos benefícios e oportunidades, também apresenta novos riscos”, pontua.
Organizações internacionais como a OIE e a FAO buscam harmonizar os métodos de diagnóstico, detecção, controle e comunicação de doenças a fim de reduzir as perdas. E o serviço veterinário deve incluir vigilância de rotina, investigações de campo, coleta de amostras, investigações epidemiológicas, análise de risco e mapeamento. “É imperativo que essas abordagens existam em todos os níveis – regional, nacional e internacional – para que uma estrutura organizacional esteja em vigor afim de prevenir e controlar melhor os riscos à saúde animal e humana, além do impacto econômico de doenças animais emergentes e transfronteiriças”, reforça Janice.
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Suínos
Importância do diagnóstico para controle de diarreia em leitões de maternidade
Ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais.
Artigo escrito por Lucas Avelino Rezende, consultor de Serviços Técnicos de suínos na Agroceres Multimix
Uma das causas mais frequentes de morte de leitões na maternidade, sem dúvidas, é a diarreia neonatal, que pode ser causada por diversos fatores, incluindo infecções bacterianas, virais ou parasitárias, bem como problemas nutricionais ou ambientais.
Por ser multifatorial, a simples presença de patógenos entéricos nem sempre é suficiente para produzir doença clínica. Diante disso, é importante saber que é necessário haver uma interação hospedeiro-ambiente-patógeno. Diferenças em práticas específicas de manejo e ambiente, bem como características do animal e do rebanho, podem influenciar muito o risco de ocorrência da doença.
Alguns fatores podem contribuir para o aumento na ocorrência da diarreia pré-desmame, como: leitões de baixo peso ao nascer, baixa temperatura ambiental levando ao estresse pelo frio, higiene ruim da gaiola de parição, ingestão de leite e colostro insuficientes e o número insuficiente de tetos para a prole.
As principais causas infecciosas de diarreia em leitões na maternidade no Brasil são as Clostridioses, Colibacilose, Rotaviroses e Coccidiose. Em alguns casos, a coinfecção de dois ou mais agentes podem estar presentes e agravar o caso de diarreia.
A sobrevivência de leitões é influenciada por vários fatores, incluindo ordem de nascimento, peso ao nascer, ingestão de colostro e níveis séricos de imunoglobulina G (IgG). Esses fatores interagem de maneiras complexas para determinar a suscetibilidade do leitão a doenças e a saúde geral.
Um importante ponto para entender a dinâmica do surgimento de diarreias na maternidade é a avaliação da ingestão de colostro pelos leitões, uma vez que é essencial para a imunidade passiva dos leitões recém-nascidos, já que não há transferência de imunoglobulinas e outros componentes da imunidade materna para os leitões via transplacentária.
De modo geral, granjas com baixo peso ao nascimento ou uma grande variabilidade do tamanho dos leitões nascidos são aquelas mais desafiadas com diarreias na maternidade, porque leitões com menor peso ao nascer podem ter dificuldade em consumir colostro suficiente, resultando em níveis mais baixos de IgG e maior suscetibilidade a infecções.
O diagnóstico clínico da causa da diarreia em leitões pode ser subjetivo e propenso a erros. Fatores como estresse, condições ambientais e outros problemas de saúde subjacentes podem ser muito semelhantes aos sintomas da diarreia. Para isso, devemos desenvolver critérios de diagnóstico mais objetivos para diarreia em leitões, como: monitorar os leitões desde o nascimento, permitindo a detecção precoce da doença, incorporar testes laboratoriais (por exemplo, consistência fecal, pH e níveis de eletrólitos), realizar necropsias e exames complementares a detecção viral ou bacteriana, como histopatologia e imuno-histoquímica.
Diagnóstico
Um diagnóstico preciso ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais. Um dos pilares para isso é a coleta adequada de amostras. Ela permite a identificação dos agentes etiológicos, avaliação da resposta imune e a monitorização da eficácia das terapias.
A escolha do tipo de amostra dependerá do agente etiológico suspeito e dos objetivos do exame. As amostras mais comuns incluem:
- Fezes: A coleta de fezes é o método mais simples e acessível. É importante coletar amostras frescas e representativas de diferentes animais do lote. Para suspeitas virais é importante coletar sempre de animais na fase aguda da doença, quando a eliminação viral é maior. Para casos de suspeita parasitária é importante associar o diagnostico com histopatologia, uma vez que a eliminação do Cystoisospora é intermitente.
- Sangue: A análise do sangue permite avaliar a resposta imune, a presença de anticorpos e detectar alterações bioquímicas.
- Conteúdo intestinal: A coleta do conteúdo intestinal é indicada para a identificação de patógenos que colonizam o intestino delgado ou grosso.
- Tecidos: A coleta de tecidos para histopatologia é parte fundamental e complementar as análises de cultivo bacteriano e detecção viral nas fazes ou conteúdo intestinal.
A coleta de amostras deve ser realizada de forma cuidadosa para evitar a contaminação e garantir a qualidade do material. Os recipientes utilizados para a coleta das amostras devem estar limpos e esterilizados para evitar a contaminação por outros microrganismos. De modo geral, é importante que as amostras sejam bem refrigeradas e nunca congeladas, uma vez que o processo de congelamento pode inviabilizar o cultivo bacteriano.
Após a coleta das amostras, diversos métodos podem ser utilizados para o diagnóstico, dentre eles cultura que possibilita a identificação e o isolamento de bactérias, PCR que detecta a presença de DNA ou RNA de vírus, bactérias com alta especificidade, sorologia para pesquisa de anticorpos contra os agentes infecciosos, indicando uma infecção prévia ou atual e a histopatologia que permite a avaliação de lesões histológicas e a identificação de agentes infecciosos em tecidos.
A histopatologia desempenha um papel crucial no diagnóstico preciso de doenças intestinais em leitões. Através da análise microscópica de tecidos, é possível identificar lesões características de diversas doenças, auxiliando na diferenciação entre condições infecciosas, inflamatórias, neoplásicas e degenerativas.
A escolha do método de coleta de amostra e do exame laboratorial dependerá do agente etiológico suspeito, da fase da doença e dos recursos disponíveis. A correta coleta e o transporte das amostras são essenciais para garantir a qualidade dos resultados.
A interpretação correta dos resultados dos exames laboratoriais é crucial para o diagnóstico preciso e o tratamento adequado da diarreia em leitões. Ela envolve a análise dos dados obtidos, a correlação com os sinais clínicos e a consideração de outros fatores, como a idade dos animais, as condições de manejo e a história epidemiológica do plantel.
Em resumo, o diagnóstico é uma ferramenta essencial no combate à diarreia em leitões de maternidade, uma vez que permite ações direcionadas e eficazes para controlar e prevenir a doença, garantindo a saúde e o bem-estar dos animais.
As referências bibliográficas estão com o autor. Contato: marketing.nutricao@agroceres.com.
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Especialista evidencia importância de os profissionais da cadeia suinícola entenderem o que é sustentabilidade
Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção.
Na suinocultura, a sustentabilidade se tornou um dos principais desafios enfrentados pelos profissionais do setor. O médico-veterinário José Francisco Miranda, especialista em Qualidade de Alimentos, destaca que a compreensão desse conceito é fundamental para que zootecnistas e veterinários contribuam efetivamente para a produção sustentável de suínos. “É preciso entender que a sustentabilidade não é custo, mas investimento”, afirma.
Ele ressalta que, ao longo dos últimos 15 anos, a discussão sobre práticas sustentáveis esteve frequentemente atrelada a um aumento nos custos, envolvendo ações como o plantio de árvores e a adequação da dieta dos animais. “Essas práticas eram vistas como um custo, o profissional precisa desmistificar essa visão. Na verdade, boas práticas de produção estão intimamente ligadas a resultados positivos”, explica.
Para Miranda, a eficiência na conversão alimentar é um exemplo claro de como sustentabilidade e produtividade caminham juntas. “Não existe produção com alta conversão alimentar que não seja sustentável. Os números de emissões são baixos quando a eficiência é alta”, ressalta.
Um ponto destacado pelo especialista é o papel dos zootecnistas e nutricionistas na cadeia produtiva. “Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção. E cada vez mais eles terão um papel significativo na implantação da sustentabilidade dentro das empresas”, afirma.
O entendimento das análises de sustentabilidade e das tecnologias disponíveis é essencial. Miranda menciona, como exemplo, o uso de aditivos nutricionais, como a protease, que permite reduzir a quantidade de soja na ração. “Com isso, é possível diminuir a pegada de carbono em até 12%. No entanto, menos de 40% dos produtores no mundo utilizam essa tecnologia, o que revela uma falta de informação e confiança na eficácia desses produtos”, expõe.
Comunicação e conscientização
Para que as informações sobre sustentabilidade sejam disseminadas na suinocultura é fundamental que os profissionais comuniquem os benefícios dessas práticas não apenas entre si, mas também para a alta direção das empresas. “Os profissionais precisam trazer essa informação para a gestão, conscientes de que a sustentabilidade deve ser uma estratégia de crescimento, não apenas uma preocupação financeira”, destaca Miranda.
O especialista também ressalta a importância de uma colaboração entre academia, indústria e governo para facilitar a adoção de novas tecnologias. “Cada parte da cadeia produtiva deve contribuir para acelerar esse processo. É um esforço coletivo que envolve desde a produção até a comercialização”, enfatiza.
Compromisso do setor
Miranda acredita que o setor está comprometido com a adoção de práticas sustentáveis, embora reconheça a necessidade de discussão sobre o que é realmente necessário para essa transição. “As empresas entendem que a sustentabilidade traz benefícios não apenas para o planeta, mas também para sua própria lucratividade, mas é preciso acelerar a implementação destas práticas sustentáveis”, frisa,
Para se destacar neste cenário, Miranda enfatiza que os profissionais devem se aprofundar nas análises de sustentabilidade e na análise do ciclo de vida dos produtos. “Um bom profissional deve entender desde a produção do grão até o produto final que chega ao consumidor. Se ele se restringir a uma única área, pode perder de vista os benefícios que sua atuação pode trazer para toda a cadeia”, salienta.
A visão do especialista reforça que a sustentabilidade na suinocultura não é uma tendência passageira, mas uma necessidade imediata. “A adoção de práticas sustentáveis, aliada ao conhecimento técnico e científico, é fundamental para garantir um futuro mais responsável e eficiente para a indústria suinícola”, afirma.
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Suinocultura teve ano de recuperação, mas cenário é de cautela
Conjuntura foi apresentada ao longo de reunião da Comissão Técnica de Suinocultura da Faep. Encontro também abordou segurança do trabalho em granjas de suínos.
Depois de dois anos difíceis, a suinocultura paranaense iniciou um período de recuperação em 2024. As perspectivas para o fim deste ano são positivas, mas os primeiros meses de 2025 vão exigir cautela dos produtores rurais, que devem ficar de olho em alguns pontos críticos. O cenário foi apresentado em reunião da Comissão Técnica (CT) de Suinocultura do Sistema Faep, realizada na última terça-feira (19). Os apontamentos foram feitos em palestra proferida por Rafael Ribeiro de Lima Filho, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A mesma conjuntura consta do levantamento de custos de produção do Sistema Faep, que será publicado nos próximos dias.
O setor começou a se recuperar já em janeiro deste ano, com a retomada dos preços. Até novembro, o preço do suíno vivo no Paraná acumulou aumento de 54,4%, com a valorização se acentuando a partir de março. No atacado, o preço da carcaça especial também seguiu esse movimento. A recomposição ajudou o produtor a se refazer de um período em que a atividade trabalhou no vermelho.
Por outro lado, a valorização da carne suína também serve de alerta. Com o aumento de preços, os produtos da suinocultura perdem competitividade, principalmente em relação à carne de frango, que teve alta bem menor ao longo ano: o preço subiu 7,7%, entre janeiro e novembro. Com isso, a tendência é que o frango possa ganhar a preferência do consumidor, em razão dos preços mais vantajosos.
“Temos que nos atentar com a competitividade da carne suína em relação a outras proteínas. Com seus preços subindo bem menos, o frango se tornou mais competitividade. Isso é um ponto de atenção para a suinocultura, neste cenário”, assinalou Lima Filho.
Exportações
Com 381,6 mil matrizes, o Paraná mantém 18% do rebanho brasileiro de suínos. A produção nacional está em estabilidade nos últimos três anos, mas houve uma mudança no portifólio de exportações paranaenses. Com a recomposição de seus rebanhos, a China reduziu as importações de suínos. O país asiático – que chegou a ser o destino de 40% das vendas externas paranaenses em 2019 – vai fechar 2024 com a aquisição de 17% das exportações de suínos do Paraná.
Em contrapartida, os embarques para as Filipinas aumentaram e já respondem por 18% das vendas externas de carne suína do Estado. Entre os destinos crescentes, também aparece o Chile, como destino de 9% das exportações de produtos da suinocultura paranaense. Nesse cenário, o Paraná deve fechar o ano com um aumento de 9% no volume exportado em relação a 2023, atingindo 978 mil toneladas. Os preços, em compensação, estão 2,3% menores. “Apesar disso, as margens de preço começaram a melhorar no segundo semestre”, observou Lima Filho.
Perspectivas
Diante deste cenário, as perspectivas são positivas para este final de ano. O assessor técnico da CNA destaca fatores positivos, como o recebimento do 13º salário pelos trabalhadores, o período de férias e as festas de final de ano. Segundo Lima Filho, tudo isso provoca o aquecimento da economia e tende a aumentar o consumo de carne suína. “A demanda interna aquecida e as exportações em bons volumes devem manter os preços do suíno vivo e da carne sustentados no final deste ano, mantendo um momento positivo para o produtor”, observou o palestrante.
Para 2025, se espera um tímido crescimento de 1,2% no rebanho de suínos, com produção aumentando em 1,6%. As exportações devem crescer 3%, segundo as projeções. Apesar disso, por questões sazonais, os produtores podem esperar uma redução de consumo nos dois primeiros meses de 2025. “É um período em que as pessoas tendem a ter mais contas para pagar, como alguns impostos. Além disso, a maior concorrência da carne de frango pode impactar a demanda doméstica”, disse Lima Filho.
Além disso, o aumento nos preços registrados neste ano pode estimular o alojamento de suínos em 2025. Com isso, pode haver uma futura pressão nos preços nas granjas e nas indústrias. Ou seja, o produtor deve ficar de olho no possível aumento dos custos de produção, puxado principalmente pelo preço do milho, da mão de obra e da energia elétrica. “O cenário continua positivo para a exportação, mas o cenário para o ano que vem é de cautela. O produtor deve se planejar e traçar suas estratégias para essa conjuntura”, apontou o assessor da CNA.
Segurança do trabalho
Além disso, a reunião da CT de Suinocultura da FAEP também contou com uma palestra sobre segurança do trabalho em granjas de suínos. O engenheiro e segurança do trabalho e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sandro Andrioli Bittencourt, abordou as Normas Regulamentadoras (NRs) que visam prevenir acidentes de trabalho e garantir a segurança e o bem-estar dos trabalhadores.
Entre as normativas detalhadas na apresentação estão a NR-31 (que estabelece as regras de segurança do trabalho no setor agropecuário), a NR-33 (que diz respeito aos espaços confinados, como silos, túneis e moegas) e a NR-35 (que versa sobre trabalho em altura). Em seu catálogo de cursos, o Sistema Faep dispõe de capacitações para cada uma dessas regulamentações.