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Transição energética e desenvolvimento durável
A esperada transição para fontes renováveis de energia ao longo das próximas décadas poderá alterar de maneira profunda o panorama geopolítico, com países e provedores deixando de ser poderosos devido à energia fóssil que produzem.

O adjetivo “durável” é frequentemente associado ao conceito de desenvolvimento sustentável como forma de enfatizar condições que favoreçam progresso em prazos longos, com estabilidade, equilíbrio e resiliência. Energia é um componente crítico nesta equação, em função da sua essencialidade para a maioria das atividades da sociedade moderna. Por isso, a busca de um modelo de desenvolvimento durável passa, necessariamente, pela reinvenção do atual modelo energético, concentrado em fontes fósseis poluidoras e dependente de poucos provedores.
Apesar de todos os esforços para racionalização do consumo global de energia, a humanidade está fadada a aumentar sua dependência energética, de acordo com o estudo “Global Energy Perspectives 2022” da consultoria McKinsey. Em 2050 o consumo global de energia deverá ser quase o dobro daquele que tínhamos em 1990. Hoje a humanidade depende de energia fóssil para mais de 60% de suas necessidades, e apesar da redução de demanda causada pela pandemia, uma forte recuperação é esperada nos próximos 2-3 anos, podendo levar o uso de combustíveis fósseis para perto de 70% do total.
Outro fato relevante é que a política energética que impera em todo o mundo trabalha contra os direitos das comunidades e indivíduos de fazerem suas próprias escolhas em relação às formas, escalas e fontes de energia. E não são poucas as barreiras à transição para sistemas energéticos descarbonizados, essenciais para o desenvolvimento limpo e durável. No entanto, as crises concomitantes que vivemos – mudanças climáticas, pandemia, guerra no leste Europeu, inflação e distúrbios nos fluxos globais de insumos e alimentos – poderão alterar esta realidade, apressando a transição energética que o mundo tanto necessita.
A esperada transição para fontes renováveis de energia ao longo das próximas décadas poderá alterar de maneira profunda o panorama geopolítico, com países e provedores deixando de ser poderosos devido à energia fóssil que produzem. Alternativas energéticas renováveis e virtualmente inesgotáveis, como hidrogênio, sol e ventos dificilmente se tornarão monopólios de países, regiões ou empresas, pois estão em todos os lugares e sua exploração sustentável poderá ajudar a desarmar armadilhas geopolíticas operadas por provedores de energia fóssil há décadas.
Ao se discutir alternativas energéticas para um desenvolvimento sustentável e durável, o hidrogênio (H), que é o elemento químico mais abundante no universo, está entre as opções mais lembradas. Apesar de sua abundância, o hidrogênio só é encontrado em combinação a outros elementos, como na água (combinado ao oxigênio) ou em hidrocarbonetos (combinado ao carbono). E sua obtenção ainda envolve processos de separação complexos, custos econômicos altos e, muitas vezes, impactos ambientais significativos.
Hoje a maior parte do hidrogênio é produzida a partir de combustíveis fósseis – o chamando “hidrogênio cinza”, que resulta em grandes emissões de CO2. Quando o carbono gerado no processo é capturado, neutralizando as emissões, temos o “hidrogênio azul”. Só o hidrogênio produzido de fontes renováveis não emite carbono, sendo chamado de “hidrogênio verde”, resultante da quebra da molécula de água em oxigênio e hidrogênio, usando eletricidade de fontes solar e eólica.
Comparado aos combustíveis convencionais, o hidrogênio possui o maior conteúdo de energia por unidade de peso, três vezes maior do que a gasolina, com a grande vantagem de não produzir emissões poluentes. Por isso o mercado de hidrogênio verde vive um momento auspicioso, com vários países respondendo às pressões pela descarbonização profunda das suas economias com planos de transição energética que priorizam esse recurso limpo e inesgotável.
O hidrogênio poderá também viabilizar os arranjos sistêmicos necessários para uma transição energética planejada, gradual e inteligente. Por exemplo, é possível utilizar o hidrogênio para se mobilizar energia limpa a partir de fontes intermitentes – como solar e eólica – de locais onde pode ser produzida de forma barata e segura, para locais onde há grande demanda. Como pode ser facilmente estocado e transportado, o hidrogênio funcionaria como transportador e não como fonte primária de energia.
O hidrogênio oferece também novas possibilidades de descarbonização do setor de transporte, com a inserção de veículos elétricos que não dependam de baterias – que têm alto custo, demandam recargas constantes e produzem impactos ambientais negativos. Já é possível, por exemplo, utilizar combustíveis líquidos, como o etanol, em uma célula de combustível que produz hidrogênio e, a partir dele, energia elétrica, sem a necessidade de bateria e sem emissão de carbono, tendo apenas água e calor como subprodutos do processo. Conceito semelhante poderá ser usado para levar eletricidade a muitos rincões distantes das redes de distribuição, bastando que comunidades possam ter acesso à mesma tecnologia adaptada às suas necessidades.
No livro A Ilha Misteriosa, publicado em 1874, o visionário escritor Júlio Verne antecipou: “um dia a água será empregada como combustível, o hidrogênio e o oxigênio que a constituem – usados isoladamente ou em conjunto, fornecerão uma fonte inesgotável de calor e luz.” Quase 150 anos se passaram e o mundo tem finalmente os meios para concretizar a ousada visão de Verne.

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Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.
O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock
Reposicionar para crescer
Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.
Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.
O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.
Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.
Digital: o novo campo do agro
As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

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compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.
Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.
Promoções e estratégias de varejo
Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.
Marketing como elo da cadeia produtiva
A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.
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Expandir sem desmatar: a lógica econômica que vai muito além do discurso
Recuperar áreas degradadas e investir em produtividade sustentável é hoje o caminho mais rentável e estratégico para o agro brasileiro crescer sem comprometer o meio ambiente.

Dias atrás reli um artigo do pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, Décio Luiz Gazzoni, sobre a expansão agrícola sem desmatamento. O texto, publicado em 2023, ainda é muito atual e me fez refletir novamente sobre algo que sempre defendo: a sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental, é uma decisão econômica inteligente.
Como economista e alguém que acompanha o agro de perto, inclusive viajando para conhecer iniciativas em diferentes países, vejo com muita clareza o que Gazzoni já apontava: a grande fronteira do crescimento brasileiro está dentro das áreas já abertas, principalmente nas pastagens degradadas.

Artigo escrito por Fábio Torquato, economista, formado em Relações Internacionais e fundador da AgroTravel – Foto: Divulgação/AgroTravel
E os números mais recentes reforçam essa visão. Estudos da Embrapa, publicados na revista internacional Land, indicam que o Brasil possui cerca de 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas. Isso significa que temos uma área gigantesca pronta para ser recuperada e incorporada à produção, sem a necessidade de avançar sobre novos biomas.
Além disso, durante a COP29, que aconteceu ano passado em Baku, no Azerbaijão, o Brasil lançou o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que prevê US$ 120 bilhões em investimentos nos próximos dez anos para recuperar 40 milhões de hectares. O número do programa é maior do que o estimado pela Embrapa porque considera áreas em diferentes graus de degradação, aptas para conversão produtiva ao longo dos anos.
Do ponto de vista econômico, é um movimento que faz todo o sentido. Segundo o Broto Notícias, o custo de recuperação de uma pastagem varia de R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare, dependendo do nível de degradação, tipo de solo e métodos adotados. Parece caro? Talvez à primeira vista. Mas quando olhamos para o retorno — aumento de produtividade por hectare, redução de custos operacionais e acesso a mercados premium que pagam mais por produtos rastreáveis e sustentáveis — a conta fecha rapidamente.
Vi isso acontecer em fazendas que visitei em viagens técnicas com a AgroTravel ao redor do mundo.
Como bem lembra Gazzoni, o produtor brasileiro já tem tecnologia e conhecimento para fazer essa virada. O que falta, muitas vezes, é entender que sustentabilidade é investimento, e não custo. E agora, com bilhões de dólares disponíveis em crédito via BNDES, Banco do Brasil e fundos internacionais, esse argumento fica ainda mais forte.
Estamos acompanhando os trabalhos da COP30, que este ano acontece no Brasil, e o mundo inteiro está olhando para nosso país. A oportunidade está escancarada: quem se antecipar, quem enxergar a recuperação de pastagens como um ativo estratégico, vai liderar o agro brasileiro do futuro.
Sempre digo nos grupos que acompanham as viagens da AgroTravel: o futuro do agro não está em abrir novas áreas, mas em transformar cada hectare já aberto em um ativo de alta performance. O artigo de Gazzoni só reforçou o que vejo na prática. E, como economista, reafirmo: essa é a equação mais inteligente que já tivemos nas mãos.
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Meio ambiente e cooperativismo
Movimento econômico e social baseado em valores éticos e solidários, o cooperativismo reafirma, em tempos de COP 30, seu papel essencial na construção de um futuro sustentável, unindo produção, preservação e desenvolvimento coletivo.

As cooperativas representam o mais elevado estágio da organização humana em torno de valores éticos, solidários e sustentáveis. Elas não existem apenas para gerar resultados econômicos, mas para promover o desenvolvimento coletivo em harmonia com o meio ambiente e com as comunidades em que atuam. Por essência e por princípios universais, o cooperativismo defende a preservação da natureza, a gestão responsável dos recursos e o equilíbrio entre produção e sustentabilidade. Esse compromisso ambiental não é um apêndice, mas uma convicção enraizada na própria identidade cooperativista.

Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).
Em tempos de COP 30 é essencial lembrar que, nas cooperativas, cada decisão administrativa, cada projeto de ampliação e cada investimento em unidades industriais, agrícolas, logísticas ou administrativas é precedido por uma análise criteriosa dos impactos ambientais. O crescimento não se mede apenas em números, mas também na capacidade de reduzir emissões, otimizar o uso da água, reciclar resíduos e proteger a biodiversidade. É essa consciência prática e constante que diferencia o cooperativismo das demais formas de organização econômica. Ele entende que não há prosperidade possível em um planeta degradado, nem futuro para a economia sem o equilíbrio ambiental.
As cooperativas são parceiras leais do Poder Público na implementação de políticas voltadas ao meio ambiente. Estão sempre presentes em programas de reflorestamento, saneamento básico, manejo de resíduos, recuperação de nascentes e educação ambiental. Mas sua contribuição vai além da sustentabilidade ecológica — elas também participam ativamente de ações que promovem segurança, educação, cultura e mobilidade urbana, compreendendo que a proteção ambiental é inseparável da qualidade de vida e do bem-estar social. Onde há uma cooperativa, há compromisso com o futuro coletivo.
Essas instituições agem com coerência e exemplo, estimulando a cidadania e o senso de responsabilidade em seus empregados, cooperados, clientes e comunidades. Elas ensinam, pelo exemplo, que o progresso verdadeiro não nasce da exploração desenfreada, mas da gestão equilibrada e consciente dos recursos. O cooperativismo forma cidadãos engajados, capazes de compreender que o planeta é uma herança comum e que sua preservação é um dever de todos.
A defesa do meio ambiente é, portanto, um desdobramento natural dos princípios cooperativistas — entre eles, o interesse pela comunidade, a responsabilidade social e a intercooperação. Cada árvore preservada, cada solo recuperado e cada nascente protegida são expressões concretas de uma filosofia que valoriza a vida. As cooperativas não esperam por imposições legais ou incentivos externos para agir: elas o fazem porque acreditam que sua missão é cuidar das pessoas e do mundo em que elas vivem.
O cooperativismo é, por natureza, o caminho da sustentabilidade. Ele demonstra, todos os dias, que é possível crescer produzindo, prosperar preservando e inovar sem destruir. Em tempos de mudanças climáticas e desafios globais, as cooperativas reafirmam sua vocação de construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Elas provam, com ações e resultados, que a economia pode — e deve — caminhar de mãos dadas com o meio ambiente. Essa é a essência do cooperativismo: servir, preservar e transformar.



