Suínos
Tempo de observação: os animais nos dizem muitas coisas
Para garantir o bom funcionamento das etapas que envolvem o processo de produção é necessário atentar-se aos sinais dos animais, que demonstram que algo pode estar inadequado, desde a presença de comportamentos anormais, “estereotipias”, ou até mesmo fatores diretamente relacionados ao desempenho do suíno.

Todos os dias muitas atividades são repassadas aos colaboradores nas granjas: acompanhar o processo de desmame, transferências, vacinações, o trato dos animais, limpeza das instalações, assistência ao parto, entre outras. Ainda, os colaboradores podem assumir outras atividades em função de imprevistos, a exemplo a ausência de outro colaborador, ou até mesmo, folgas semanais.
A intensa movimentação diária, popularmente conhecida como “correria”, pode contribuir para que pontos importantes passem despercebidos, como a observação diária dos animais.
Para garantir o bom funcionamento das etapas que envolvem o processo de produção é necessário atentar-se aos sinais dos animais, que demonstram que algo pode estar inadequado, desde a presença de comportamentos anormais, “estereotipias”, ou até mesmo fatores diretamente relacionados ao desempenho do suíno.
Durante as visitas nas unidades de produção é possível encontrar situações não observadas pelos colaboradores, que muitas vezes se questionam como deixaram passar a observação de determinada situação.
Exemplos práticos
Na figura 1 é possível visualizar uma leitegada de padrão desejável. Porém, no momento da descida do leite, um dos leitões não está em aleitamento. Pode não ser nada, como também pode ser alguma alteração no aparelho locomotor, o que dificultaria ao leitão ganhar a disputa por um teto.
Na figura 2A nota-se que um leitão continua buscando leite, mesmo num momento em que os outros leitões já estão dormindo, indicando que, provavelmente, haja uma baixa produção de leite no teto definido pelo animal.
No segundo caso (figura 2B), no momento do aleitamento observa-se um leitão mais fraco que os outros e com o focinho sujo, já o teto mais limpo que os demais.
Na figura 3A temos uma situação em que os leitões estão amontoados no escamoteador, gerando dúvidas sobre se o aquecimento está funcionando adequadamente. Já na figura 3B temos um caso em que os leitões estão dormindo fora do raio de aquecimento da lâmpada, o que nos leva a questionar se a mesma deveria estar acesa, ou se seria necessário um ajuste da altura, ou do aquecimento.

Figura 3A (esquerda) – Leitegada buscando aquecimento. Figura 3B (direita) – Leitegada próxima a fonte de aquecimento.
Ambiência de creche
Nas figuras 4A e 4B, verificamos um pouco dos desafios do ambiente de creche, sendo que, no primeiro caso, há um claro sinal de que o aquecimento utilizado, muitas vezes, pode ser insuficiente para os desafios do ambiente. Já na figura 4B, percebe-se uma disputa nos bebedouros, sinalizando a necessidade de ajuste nas cortinas, ou até mesmo verificar se há disponibilidade de água suficiente nas chupetas.

Figura 4A (esquerda) – Leitegada buscando aquecimento. Figura 4B (direita) – Suínos em disputa pelo acesso ao bebedouro.
Tempo de observação
A falta de tempo específico para observar os animais pode representar perdas de oportunidades para pequenos ajustes, que na maioria das vezes permitiriam melhores condições aos suínos naquele momento.
A observação do comportamento dos animais pode nos direcionar, desde um ajuste de cortinas, até a necessidade de intervenção nas baias, como a retirada de animais por algum problema. Muitas dessas situações só são possíveis de serem percebidas após o treinamento contínuo dos colaboradores.
Esses são alguns exemplos das oportunidades de ajustes que a inclusão do “tempo de observação” poderá trazer de benefícios para a granja.
Para que isso ocorra é necessário incluir esse tempo na rotina dos colaboradores, pois em alguns casos eles acabam ficando com receio de dizer que só estão andando entre as baias, ou olhando os animais, sem nada nas mãos, ou somente um marcador.
Com a criação do hábito de observar os animais durante esse chamado “tempo de observação” temos, aos poucos, a inclusão dessa ação entre as rotinas das atividades da granja, evitando que esses pontos passem despercebidos.
É muito importante que, durante a fase de implantação desse manejo, seja feito um treinamento para que, depois, isso aconteça de forma automática, como algumas ações que realizamos ao dirigir um carro, por exemplo.
Algumas sugestões de pontos de observação no momento de transitar em cada um dos setores:
Gestação
- No momento em que as fêmeas estão em pé nas gaiolas, não deixe de verificar se estão mancando, ou com dificuldade para apoiar as quatro patas ao mesmo tempo;
- Algumas horas após o fornecimento de ração na baia, verificar se ainda há fêmeas buscando ração no piso e qual a condição corporal dessa fêmea em relação às outras da baia;
- As fêmeas que apresentem uma movimentação diferente das demais do grupo devem ser acompanhadas para verificar a necessidade de alguma medicação ou intervenção de manejo;
- Ao limpar as baias, ou remover os resíduos das gaiolas, observar se há secreções ou sinal de sangramento, pois pode ocorrer um aborto.
Maternidade
- Avaliar como os leitões estão distribuídos nas baias quando estão deitados (próximo à fêmea, sob o aquecimento, dentro do escamoteador);
- Mesmo não sendo a hora do aleitamento, verificar se há leitões que seguem insistindo por algo a mais no teto da fêmea;
- Avaliar como estão os movimentos respiratórios da matriz e o seu consumo de ração e água.
Creche, recria e terminação
- Observar o posicionamento dos animais nas baias (amontoados e/ou acumulados próximos às chupetas de água). Ainda, entrar cuidadosamente na sala antes de abrir a porta ou despertar os animais (figura 5A e 5B);
- Verificar se há quantidade disponível de ração nos comedouros e no piso. Tanto pode ser apenas uma questão de regulagem de comedouros como também (já chegou-se a verificar) muita ração no piso devido à falta de água no barracão;
- Ao movimentar os animais, atentar-se àqueles que permanecem deitados, pois pode ser algum caso de artrite a ser tratado, ou quadros graves de febre e apatia.

Figura 5A (esquerda) – Observação dos animais. Figura 5B (direita) – Animais despertando lentamente.
Considerações finais
O tempo de observação é muito importante no dia a dia da granja. Ainda, as avaliações comportamentais e fisiológicas podem estar ligadas à sanidade e produção e, quando associadas, podem ser ferramentas eficientes na identificação do bem-estar dos animais e, consequentemente, expressão do máximo potencial produtivo.
Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor suinícola e da piscicultura acesse gratuitamente a edição digital Suínos e Peixes. Boa leitura!

Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.
Colunistas
Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.
O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock
Reposicionar para crescer
Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.
Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.
O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.
Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.
Digital: o novo campo do agro
As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels
compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.
Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.
Promoções e estratégias de varejo
Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.
Marketing como elo da cadeia produtiva
A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.
Suínos Imunização inteligente
Gel comestível surge como alternativa para reduzir estresse e melhorar vacinação de suínos
Tecnologia permite imunização coletiva com menos manejo, mantém eficácia contra Salmonella e ganha espaço como estratégia para elevar bem-estar animal e eficiência produtiva.


Fotos: Divulgação/American Nutrtients
Artigo escrito por Luiza Marchiori Severo, analista de P&D na American Nutrients do Brasil e acadêmica do curso de Farmácia; e por Daiane Carvalho, médica-veterinária e coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento e Responsável Técnica da American Nutrients do Brasil.
A suinocultura enfrenta desafios complexos na busca por eficiência produtiva, controle sanitário, escassez de mão de obra e bem-estar animal. Doenças infecciosas, como a salmonelose, ainda figuram entre as principais preocupações sanitárias em granjas comerciais, exigindo estratégias de imunização compatíveis com práticas alinhadas a maior eficiência na aplicação e menos estresse aos animais. Nesse contexto, o debate sobre métodos alternativos de vacinação ganha cada vez mais força.
Vacinas orais compostas por microrganismos vivos podem ser administradas aos suínos tanto individualmente, utilizando o método de drench, quanto coletivamente por meio da água de bebida. A aplicação coletiva via bebedouros apresenta a vantagem de reduzir significativamente o estresse dos animais e dos operadores, pois é um procedimento rápido e que demanda pouca mão de obra. Por outro lado, a administração oral individual, como o drench frequentemente empregado em leitões na maternidade, exige contenção um a um para garantir a ingestão adequada, tornando o processo mais trabalhoso e potencialmente mais estressante para os suínos.
Neste contexto, a aplicação oral de vacinas exige soluções tecnológicas que assegurem maior praticidade, estabilidade do imunógeno, homogeneidade da distribuição e, principalmente, aceitação espontânea pelos animais. É neste ponto que o conhecimento dos aspectos relacionados à fisiologia sensorial dos suínos é fundamental no desenvolvimento de produtos que possam atuar como veículos de alta atratividade para vacinas via oral, garantindo maior eficiência nos processos vacinais, bem-estar animal e praticidade.
Gel Comestível
O gel comestível é uma matriz semissólida, palatável e nutritiva, que contém componentes seguros e atrativos ao consumo dos suínos. Esse veículo possibilita a administração coletiva da vacina diretamente em comedouros auxiliares – sem a necessidade de manejo individualizado. Ao ser disponibilizado em áreas acessíveis das baias, o gel é consumido de forma espontânea pelos leitões, respeitando seu comportamento natural e reduzindo drasticamente o estresse associado ao processo de vacinação.
Em estudo conduzido em 2024 avaliou-se a eficácia da vacinação oral contra Salmonella Typhimurium por meio da aplicação através do gel, comparando-se os resultados com a administração tradicional por drench oral. Os leitões vacinados com o gel apresentaram desempenho zootécnico semelhante ao grupo que recebeu a vacina por drench. Além disso, os animais vacinados com o gel apresentaram menor incidência de lesões intestinais após o desafio com cepa virulenta do agente patogênico. Estes resultados comprovam a eficiência do processo de vacinação com a utilização do gel palatável. Da mesma forma, outros pesquisadores, ao avaliar a eficiência de acesso a um gel comercial comestível, evidenciaram que de 10 leitegadas avaliadas, 92% dos animais acessaram o gel, sendo 89% em até 6 horas. Como conclusão os autores afirmaram que o alto percentual de leitões consumidores observados neste estudo demostrou ser uma via de aplicação promissora na vacinação na suinocultura.
Além de favorecer o bem-estar animal, o gel comestível oferece benefícios operacionais significativos: economia de tempo, redução de mão de obra e maior biosseguridade, visto que que se reduz consideravelmente a necessidade de uma equipe externa de vacinadores.
Qualidade, Eficiência e Sustentabilidade
Para que a vacinação via gel comestível seja efetiva, é essencial garantir a homogeneidade da distribuição da vacina no veículo, assegurando que todos os animais recebam uma dose adequada. Ensaios realizados em laboratórios e granjas já demonstram que essa tecnologia é capaz de manter a viabilidade do imunógeno por períodos compatíveis com a recomendação de consumo de vacinas via oral após diluídas, mantendo sua eficácia mesmo em condições ambientais variáveis.
Além disso, o uso de veículos comestíveis está alinhado às boas práticas de fabricação e aos princípios de biosseguridade preconizados por legislações nacionais e internacionais. Com isso, a alternativa se mostra viável tanto técnica quanto economicamente, oferecendo à suinocultura uma ferramenta inovadora para o controle sanitário.
Considerações Finais
A adoção de métodos alternativos à vacinação tradicional representa um avanço estratégico para a suinocultura brasileira, ao aliar eficiência imunológica a práticas mais humanizadas e sustentáveis. Soluções como a vacinação oral, os dispositivos sem agulha e o uso de veículos comestíveis – como o gel – permitem reduzir significativamente o estresse animal, simplificar rotinas de manejo e minimizar riscos operacionais. Investir nessas tecnologias é essencial para fortalecer um modelo de produção alinhado aos princípios do bem-estar animal, da biosseguridade e da competitividade no mercado global.
As referências bibliográficas estão com as autoras. Contato: cq@americannutrients.com.br
Com distribuição nacional nas principais regiões produtoras do agro brasileiro, O Presente Rural – Suinocultura também está disponível em formato digital. O conteúdo completo pode ser acessado gratuitamente em PDF, na aba Edições Impressas do site.





