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Tecnologia no agronegócio: como a efetiva gestão de dados apoia o desenvolvimento do setor
Dados reunidos pelas entidades Embrapa, Sebrae e Inpe apontam que 84% dos entrevistados utilizam ao menos uma tecnologia digital em seu processo produtivo.

A ascensão do conceito de agricultura 4.0, mais do que trazer à tona a importância da conectividade no campo, tem auxiliado o setor a aumentar sua produtividade, bem como a driblar seus principais desafios, como as gestões de pessoas, custos, logística e armazenamento, além da falta de planejamento e a segurança de toda a cadeia. Para tanto, a adoção de tecnologia no agronegócio tem crescido como uma verdadeira aliada.
Dados reunidos pelas entidades Embrapa, Sebrae e Inpe apontam que 84% dos entrevistados utilizam ao menos uma tecnologia digital em seu processo produtivo. Dentre eles, 66,1% a exploram para ter acesso a informações e planejamento das atividades da propriedade; 43,3% para fazer gestão da propriedade rural; 40,5% para compra e venda de insumos, de produtos e da produção; 32,7% para mapeamento e planejamento do uso da terra e 30,2% para previsão de riscos climáticos.
Esse investimento em tecnologia no agronegócio está diretamente conectado à necessidade deste mercado de integrar e escalar suas operações. Isso porque, segundo um relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) no Brasil, em conjunto com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a produção mundial de alimentos precisa aumentar em 70% até 2050 para garantir abastecimento aos quase 10 bilhões de pessoas que vão compor a população mundial até lá.
Tendo em vista este cenário, assegurar tamanho aumento de produção é desafiador, mas os obstáculos podem ser superados, em sua maioria, com uma efetiva gestão de dados, o que torna o investimento em tecnologia uma ação cada vez mais assertiva e estratégica.
O investimento em tecnologia e a gestão de dados no agronegócio
A tecnologia é capaz de trazer uma grande visibilidade de dados ao agronegócio, o que permite aos gestores entender a operação de ponta a ponta. Esse volume de informações permite o aumento da eficiência operacional, uma vez em que é possível rastrear instantaneamente o trabalho de campo, bem como ganhar agilidade nas tomadas de decisão.
Com os dados coletados no campo e inseridos em um sistema, por exemplo, é possível rapidamente mapear a quantidade necessária de insumos, confrontar com o que está disponível em estoque e seguir para o processo de compra, se necessário. Assim, se reduz despesas e tempo, de forma conectada e ágil.
Garantir informações na palma da mão ainda confere mais profissionalismo e segurança, já que atualizam, em tempo real e independentemente do local – se no campo ou na cidade –, todo o histórico de compras, vendas e negociações.
Desafios do setor e como superá-los
Em geral, a gestão é um dos principais desafios do agronegócio atualmente. Quando se fala em gerenciamento de custos, o problema está no aumento constante dos insumos, o que exige um controle adequado para assegurar uma boa margem de lucro na venda final. Tratando-se de gestão de logística, o mercado carece de mais eficiência operacional, que pode ser obtida a partir de uma estratégia de monitoramento de carga, gestão da entrega e distribuição correta.
Com relação ao armazenamento, a tecnologia apoia no gerenciamento dos estoques e distribuição inteligente, garantindo um depósito seguro para tudo o que for produzido, evitando a necessidade de desaceleração da produção por entraves de armazenamento.
Além disso, capacitar e reter bons profissionais é possível com uma boa gestão de banco de dados de talentos, reforçando a atuação da tecnologia no agronegócio até mesmo na divisão de gestão de pessoas.
Por fim, mas não menos importante, embora as novas gerações que têm assumido o trabalho de desenvolvimento do agronegócio estejam preocupadas em adotar melhores práticas apoiadas em tecnologias, a segurança digital ainda está em segundo plano, cultura essa que precisa evoluir, uma vez que os empresários correm riscos ao permitir vulnerabilidades em seus sistemas. Além de backups diários, é fundamental contar com um plano de ação estruturado para que, em casos extremos, seja possível restaurar o ambiente mais recente possível.
Um completo gerenciamento de dados, por sua vez, é o que apoia a resolução de todos esses gargalos, já que ele é capaz de compilar todas as informações e mapear, de forma estratégica, o que precisa ser realizado, considerando o melhor custo-benefício ao empresário.
A implementação da tecnologia no agronegócio
Segundo a pesquisa Emerging Technologies Agro 2022, do MIT Technology Review, as três áreas de tecnologia com maior probabilidade de investimento, por parte das agroindústrias e fabricantes de insumos, estão baseadas em dados, sendo: analytics e big data (4,26), conectividade 5G e internet das coisas (4,25) e inteligência artificial e aprendizado de máquina (4,14).
Todos esses investimentos estão amparados em pilares da tecnologia como soluções em nuvem. Isso porque, com soluções de migração para a nuvem, é possível aumentar a eficiência operacional explorando uma única infraestrutura, independentemente do volume de dados. Já a integração de sistemas permite a conexão da lavoura e da fábrica ao escritório, além de reduzir despesas e agilizar a consolidação de informações, mesmo em regiões remotas.
Por fim, as soluções de segurança garantem que todas essas informações percorram de ponta a ponta de forma eficiente e com mínimos riscos.
Em linhas gerais, a tecnologia no agronegócio é fundamental para o pleno mapeamento das operações e identificação dos pontos de vulnerabilidade. No entanto, é fundamental contar com uma equipe atenta, capaz de monitorar todos os ambientes continuamente e que entenda não só de tecnologia, mas também do setor, para que seja possível identificar os reais desafios e aplicar as soluções mais adequadas, aumentando produtividade e margem.
Ou seja, toda a operacionalização dessa estratégia deve estar sob a responsabilidade de especialistas no assunto que farão as adaptações necessárias para a nuvem e integração dos sistemas, sempre mantendo o ambiente seguro, atentos ao resguardo do ativo mais importante de toda a cadeia que são os dados. Assim, os gestores podem destinar esforços ao que realmente importa e acompanhar de perto a evolução do seu negócio.

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Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.
O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock
Reposicionar para crescer
Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.
Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.
O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.
Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.
Digital: o novo campo do agro
As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels
compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.
Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.
Promoções e estratégias de varejo
Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.
Marketing como elo da cadeia produtiva
A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.
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Expandir sem desmatar: a lógica econômica que vai muito além do discurso
Recuperar áreas degradadas e investir em produtividade sustentável é hoje o caminho mais rentável e estratégico para o agro brasileiro crescer sem comprometer o meio ambiente.

Dias atrás reli um artigo do pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, Décio Luiz Gazzoni, sobre a expansão agrícola sem desmatamento. O texto, publicado em 2023, ainda é muito atual e me fez refletir novamente sobre algo que sempre defendo: a sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental, é uma decisão econômica inteligente.
Como economista e alguém que acompanha o agro de perto, inclusive viajando para conhecer iniciativas em diferentes países, vejo com muita clareza o que Gazzoni já apontava: a grande fronteira do crescimento brasileiro está dentro das áreas já abertas, principalmente nas pastagens degradadas.

Artigo escrito por Fábio Torquato, economista, formado em Relações Internacionais e fundador da AgroTravel – Foto: Divulgação/AgroTravel
E os números mais recentes reforçam essa visão. Estudos da Embrapa, publicados na revista internacional Land, indicam que o Brasil possui cerca de 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas. Isso significa que temos uma área gigantesca pronta para ser recuperada e incorporada à produção, sem a necessidade de avançar sobre novos biomas.
Além disso, durante a COP29, que aconteceu ano passado em Baku, no Azerbaijão, o Brasil lançou o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que prevê US$ 120 bilhões em investimentos nos próximos dez anos para recuperar 40 milhões de hectares. O número do programa é maior do que o estimado pela Embrapa porque considera áreas em diferentes graus de degradação, aptas para conversão produtiva ao longo dos anos.
Do ponto de vista econômico, é um movimento que faz todo o sentido. Segundo o Broto Notícias, o custo de recuperação de uma pastagem varia de R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare, dependendo do nível de degradação, tipo de solo e métodos adotados. Parece caro? Talvez à primeira vista. Mas quando olhamos para o retorno — aumento de produtividade por hectare, redução de custos operacionais e acesso a mercados premium que pagam mais por produtos rastreáveis e sustentáveis — a conta fecha rapidamente.
Vi isso acontecer em fazendas que visitei em viagens técnicas com a AgroTravel ao redor do mundo.
Como bem lembra Gazzoni, o produtor brasileiro já tem tecnologia e conhecimento para fazer essa virada. O que falta, muitas vezes, é entender que sustentabilidade é investimento, e não custo. E agora, com bilhões de dólares disponíveis em crédito via BNDES, Banco do Brasil e fundos internacionais, esse argumento fica ainda mais forte.
Estamos acompanhando os trabalhos da COP30, que este ano acontece no Brasil, e o mundo inteiro está olhando para nosso país. A oportunidade está escancarada: quem se antecipar, quem enxergar a recuperação de pastagens como um ativo estratégico, vai liderar o agro brasileiro do futuro.
Sempre digo nos grupos que acompanham as viagens da AgroTravel: o futuro do agro não está em abrir novas áreas, mas em transformar cada hectare já aberto em um ativo de alta performance. O artigo de Gazzoni só reforçou o que vejo na prática. E, como economista, reafirmo: essa é a equação mais inteligente que já tivemos nas mãos.
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Meio ambiente e cooperativismo
Movimento econômico e social baseado em valores éticos e solidários, o cooperativismo reafirma, em tempos de COP 30, seu papel essencial na construção de um futuro sustentável, unindo produção, preservação e desenvolvimento coletivo.

As cooperativas representam o mais elevado estágio da organização humana em torno de valores éticos, solidários e sustentáveis. Elas não existem apenas para gerar resultados econômicos, mas para promover o desenvolvimento coletivo em harmonia com o meio ambiente e com as comunidades em que atuam. Por essência e por princípios universais, o cooperativismo defende a preservação da natureza, a gestão responsável dos recursos e o equilíbrio entre produção e sustentabilidade. Esse compromisso ambiental não é um apêndice, mas uma convicção enraizada na própria identidade cooperativista.

Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).
Em tempos de COP 30 é essencial lembrar que, nas cooperativas, cada decisão administrativa, cada projeto de ampliação e cada investimento em unidades industriais, agrícolas, logísticas ou administrativas é precedido por uma análise criteriosa dos impactos ambientais. O crescimento não se mede apenas em números, mas também na capacidade de reduzir emissões, otimizar o uso da água, reciclar resíduos e proteger a biodiversidade. É essa consciência prática e constante que diferencia o cooperativismo das demais formas de organização econômica. Ele entende que não há prosperidade possível em um planeta degradado, nem futuro para a economia sem o equilíbrio ambiental.
As cooperativas são parceiras leais do Poder Público na implementação de políticas voltadas ao meio ambiente. Estão sempre presentes em programas de reflorestamento, saneamento básico, manejo de resíduos, recuperação de nascentes e educação ambiental. Mas sua contribuição vai além da sustentabilidade ecológica — elas também participam ativamente de ações que promovem segurança, educação, cultura e mobilidade urbana, compreendendo que a proteção ambiental é inseparável da qualidade de vida e do bem-estar social. Onde há uma cooperativa, há compromisso com o futuro coletivo.
Essas instituições agem com coerência e exemplo, estimulando a cidadania e o senso de responsabilidade em seus empregados, cooperados, clientes e comunidades. Elas ensinam, pelo exemplo, que o progresso verdadeiro não nasce da exploração desenfreada, mas da gestão equilibrada e consciente dos recursos. O cooperativismo forma cidadãos engajados, capazes de compreender que o planeta é uma herança comum e que sua preservação é um dever de todos.
A defesa do meio ambiente é, portanto, um desdobramento natural dos princípios cooperativistas — entre eles, o interesse pela comunidade, a responsabilidade social e a intercooperação. Cada árvore preservada, cada solo recuperado e cada nascente protegida são expressões concretas de uma filosofia que valoriza a vida. As cooperativas não esperam por imposições legais ou incentivos externos para agir: elas o fazem porque acreditam que sua missão é cuidar das pessoas e do mundo em que elas vivem.
O cooperativismo é, por natureza, o caminho da sustentabilidade. Ele demonstra, todos os dias, que é possível crescer produzindo, prosperar preservando e inovar sem destruir. Em tempos de mudanças climáticas e desafios globais, as cooperativas reafirmam sua vocação de construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Elas provam, com ações e resultados, que a economia pode — e deve — caminhar de mãos dadas com o meio ambiente. Essa é a essência do cooperativismo: servir, preservar e transformar.



