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Tecnologia impulsiona agronegócio, mas LGPD traz novos desafios ao setor
Ao adotar medidas adequadas de segurança e privacidade, as empresas podem se destacar no mercado, fortalecer suas relações comerciais e garantir a confiança dos envolvidos.

O agronegócio passou por uma verdadeira revolução tecnológica nos últimos anos. O advento de novas tecnologias, como drones, sensores, sistemas de irrigação por inteligência artificial e análise de dados, impulsionou a produtividade, a eficiência e a sustentabilidade no campo. Essas inovações, conhecidas como “Big Data Farm”, trouxeram ganhos significativos em governança, gestão e tomada de decisões para o setor agrícola. No entanto, esse novo cenário também trouxe desafios no que diz respeito à privacidade de dados e à conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
A LGPD, que entrou em vigor em 2020, estabelece regras claras para a coleta, o armazenamento, o processamento e o compartilhamento de dados pessoais no Brasil. Embora a legislação tenha sido criada com o objetivo de proteger a privacidade dos indivíduos, ela também impacta profundamente o setor do agronegócio, que lida com uma enorme quantidade de informações sensíveis.
O uso de drones equipados com câmeras de alta resolução e sensores, por exemplo, permite que os produtores rurais monitorem suas lavouras de forma mais eficiente, identificando pragas, doenças e irregularidades no campo. No entanto, esses dispositivos também coletam dados pessoais, como imagens e localização geográfica, que podem ser considerados dados sensíveis pela LGPD. Nesse contexto, os produtores rurais precisam estar cientes de suas responsabilidades legais e garantir que o uso dessas tecnologias esteja em conformidade com a legislação.
Outro desafio é a crescente utilização de sistemas de irrigação por inteligência artificial, que monitoram e controlam o fluxo de água nas lavouras com base em dados climáticos e de solo. Esses sistemas são capazes de coletar informações sobre as propriedades rurais, os cultivos e até mesmo sobre os trabalhadores envolvidos nas operações. É fundamental que os produtores rurais tenham um cuidado especial com essas informações, garantindo que sejam utilizadas apenas para os fins pretendidos, respeitando a privacidade dos envolvidos.
Além disso, o agronegócio está cada vez mais conectado, com a utilização de softwares de gestão, aplicativos móveis e sistemas de análise de dados. Essas soluções permitem o armazenamento e o processamento de uma quantidade massiva de informações, desde dados climáticos até informações financeiras. No entanto, é crucial que as empresas agrícolas estejam atentas às exigências da LGPD, garantindo a segurança desses dados, obtendo o consentimento adequado quando necessário e respeitando os direitos dos titulares das informações.
Outro aspecto relevante para o agronegócio no contexto da LGPD é a transferência internacional de dados pessoais. No setor agrícola, é comum que as empresas realizem transações comerciais com parceiros estrangeiros, como fornecedores de tecnologia, empresas de logística ou clientes internacionais. Essas transações podem envolver o compartilhamento de dados pessoais, o que requer cuidados específicos de conformidade com a LGPD, especialmente quando ocorre a transferência desses dados para fora do território nacional.
A LGPD estabelece que a transferência internacional de dados pessoais só pode ocorrer para países ou organizações que proporcionem um nível adequado de proteção de dados ou mediante a adoção de salvaguardas adequadas, como cláusulas contratuais específicas, normas corporativas globais, códigos de conduta ou mecanismos de certificação. Essas salvaguardas têm o objetivo de garantir que os dados transferidos continuem a receber o mesmo grau de proteção que teriam no Brasil.
Além disso, é importante mencionar que a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) tem um papel fundamental nesse contexto. A ANPD é responsável por supervisionar e regular a transferência internacional de dados pessoais, fornecendo orientações e diretrizes para as empresas do agronegócio sobre como proceder corretamente nesses casos.
É fundamental que as empresas agrícolas que realizam transferências internacionais de dados pessoais estejam atentas às obrigações da LGPD nesse sentido. A busca de assessoria jurídica especializada e a implementação de medidas de segurança e proteção adequadas são essenciais para garantir a conformidade com a legislação e a preservação da privacidade dos dados, mesmo em contextos internacionais.
Apesar dos desafios, a adoção de medidas de conformidade com a LGPD pode trazer benefícios significativos para o agronegócio. Ao garantir a privacidade e a proteção dos dados pessoais, as empresas do setor fortalecem a confiança dos seus clientes, fornecedores e parceiros comerciais. Isso pode resultar em relacionamentos mais sólidos, parcerias duradouras e até mesmo a conquista de novos mercados.
Além disso, a conformidade com a LGPD demonstra o compromisso das empresas agrícolas com a ética e a responsabilidade no tratamento de dados. Essa postura pode ser um diferencial competitivo, principalmente em um mercado cada vez mais atento à privacidade e à segurança das informações.
No entanto, é importante ressaltar que a adequação à LGPD exige um esforço contínuo. As empresas do agronegócio devem estar preparadas para revisar e atualizar constantemente suas políticas de privacidade, realizar treinamentos regulares para os colaboradores envolvidos no tratamento de dados e estar atentas a eventuais atualizações na legislação e nas diretrizes da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD).
Em resumo, o agronegócio tem se beneficiado imensamente com o avanço tecnológico, mas esse progresso também traz desafios em relação à proteção de dados e à conformidade com a LGPD. Ao adotar medidas adequadas de segurança e privacidade, as empresas podem se destacar no mercado, fortalecer suas relações comerciais e garantir a confiança dos envolvidos. A LGPD, embora demande esforços, oferece a oportunidade de aprimorar as práticas de governança de dados, contribuindo para um agronegócio mais responsável, sustentável e orientado por dados.

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Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.
O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock
Reposicionar para crescer
Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.
Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.
O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.
Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.
Digital: o novo campo do agro
As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels
compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.
Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.
Promoções e estratégias de varejo
Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.
Marketing como elo da cadeia produtiva
A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.
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Expandir sem desmatar: a lógica econômica que vai muito além do discurso
Recuperar áreas degradadas e investir em produtividade sustentável é hoje o caminho mais rentável e estratégico para o agro brasileiro crescer sem comprometer o meio ambiente.

Dias atrás reli um artigo do pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, Décio Luiz Gazzoni, sobre a expansão agrícola sem desmatamento. O texto, publicado em 2023, ainda é muito atual e me fez refletir novamente sobre algo que sempre defendo: a sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental, é uma decisão econômica inteligente.
Como economista e alguém que acompanha o agro de perto, inclusive viajando para conhecer iniciativas em diferentes países, vejo com muita clareza o que Gazzoni já apontava: a grande fronteira do crescimento brasileiro está dentro das áreas já abertas, principalmente nas pastagens degradadas.

Artigo escrito por Fábio Torquato, economista, formado em Relações Internacionais e fundador da AgroTravel – Foto: Divulgação/AgroTravel
E os números mais recentes reforçam essa visão. Estudos da Embrapa, publicados na revista internacional Land, indicam que o Brasil possui cerca de 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas. Isso significa que temos uma área gigantesca pronta para ser recuperada e incorporada à produção, sem a necessidade de avançar sobre novos biomas.
Além disso, durante a COP29, que aconteceu ano passado em Baku, no Azerbaijão, o Brasil lançou o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que prevê US$ 120 bilhões em investimentos nos próximos dez anos para recuperar 40 milhões de hectares. O número do programa é maior do que o estimado pela Embrapa porque considera áreas em diferentes graus de degradação, aptas para conversão produtiva ao longo dos anos.
Do ponto de vista econômico, é um movimento que faz todo o sentido. Segundo o Broto Notícias, o custo de recuperação de uma pastagem varia de R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare, dependendo do nível de degradação, tipo de solo e métodos adotados. Parece caro? Talvez à primeira vista. Mas quando olhamos para o retorno — aumento de produtividade por hectare, redução de custos operacionais e acesso a mercados premium que pagam mais por produtos rastreáveis e sustentáveis — a conta fecha rapidamente.
Vi isso acontecer em fazendas que visitei em viagens técnicas com a AgroTravel ao redor do mundo.
Como bem lembra Gazzoni, o produtor brasileiro já tem tecnologia e conhecimento para fazer essa virada. O que falta, muitas vezes, é entender que sustentabilidade é investimento, e não custo. E agora, com bilhões de dólares disponíveis em crédito via BNDES, Banco do Brasil e fundos internacionais, esse argumento fica ainda mais forte.
Estamos acompanhando os trabalhos da COP30, que este ano acontece no Brasil, e o mundo inteiro está olhando para nosso país. A oportunidade está escancarada: quem se antecipar, quem enxergar a recuperação de pastagens como um ativo estratégico, vai liderar o agro brasileiro do futuro.
Sempre digo nos grupos que acompanham as viagens da AgroTravel: o futuro do agro não está em abrir novas áreas, mas em transformar cada hectare já aberto em um ativo de alta performance. O artigo de Gazzoni só reforçou o que vejo na prática. E, como economista, reafirmo: essa é a equação mais inteligente que já tivemos nas mãos.
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Meio ambiente e cooperativismo
Movimento econômico e social baseado em valores éticos e solidários, o cooperativismo reafirma, em tempos de COP 30, seu papel essencial na construção de um futuro sustentável, unindo produção, preservação e desenvolvimento coletivo.

As cooperativas representam o mais elevado estágio da organização humana em torno de valores éticos, solidários e sustentáveis. Elas não existem apenas para gerar resultados econômicos, mas para promover o desenvolvimento coletivo em harmonia com o meio ambiente e com as comunidades em que atuam. Por essência e por princípios universais, o cooperativismo defende a preservação da natureza, a gestão responsável dos recursos e o equilíbrio entre produção e sustentabilidade. Esse compromisso ambiental não é um apêndice, mas uma convicção enraizada na própria identidade cooperativista.

Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).
Em tempos de COP 30 é essencial lembrar que, nas cooperativas, cada decisão administrativa, cada projeto de ampliação e cada investimento em unidades industriais, agrícolas, logísticas ou administrativas é precedido por uma análise criteriosa dos impactos ambientais. O crescimento não se mede apenas em números, mas também na capacidade de reduzir emissões, otimizar o uso da água, reciclar resíduos e proteger a biodiversidade. É essa consciência prática e constante que diferencia o cooperativismo das demais formas de organização econômica. Ele entende que não há prosperidade possível em um planeta degradado, nem futuro para a economia sem o equilíbrio ambiental.
As cooperativas são parceiras leais do Poder Público na implementação de políticas voltadas ao meio ambiente. Estão sempre presentes em programas de reflorestamento, saneamento básico, manejo de resíduos, recuperação de nascentes e educação ambiental. Mas sua contribuição vai além da sustentabilidade ecológica — elas também participam ativamente de ações que promovem segurança, educação, cultura e mobilidade urbana, compreendendo que a proteção ambiental é inseparável da qualidade de vida e do bem-estar social. Onde há uma cooperativa, há compromisso com o futuro coletivo.
Essas instituições agem com coerência e exemplo, estimulando a cidadania e o senso de responsabilidade em seus empregados, cooperados, clientes e comunidades. Elas ensinam, pelo exemplo, que o progresso verdadeiro não nasce da exploração desenfreada, mas da gestão equilibrada e consciente dos recursos. O cooperativismo forma cidadãos engajados, capazes de compreender que o planeta é uma herança comum e que sua preservação é um dever de todos.
A defesa do meio ambiente é, portanto, um desdobramento natural dos princípios cooperativistas — entre eles, o interesse pela comunidade, a responsabilidade social e a intercooperação. Cada árvore preservada, cada solo recuperado e cada nascente protegida são expressões concretas de uma filosofia que valoriza a vida. As cooperativas não esperam por imposições legais ou incentivos externos para agir: elas o fazem porque acreditam que sua missão é cuidar das pessoas e do mundo em que elas vivem.
O cooperativismo é, por natureza, o caminho da sustentabilidade. Ele demonstra, todos os dias, que é possível crescer produzindo, prosperar preservando e inovar sem destruir. Em tempos de mudanças climáticas e desafios globais, as cooperativas reafirmam sua vocação de construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Elas provam, com ações e resultados, que a economia pode — e deve — caminhar de mãos dadas com o meio ambiente. Essa é a essência do cooperativismo: servir, preservar e transformar.



