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Tecnologia ajuda consumidor preocupado com meio ambiente a identificar procedência da carne
Aplicativo e QR Code estão entre as novas ferramentas de rastreamento e identificação de toda a cadeia produtiva, do campo à cesta de compra.

O Brasil ocupa hoje a terceira posição no ranking dos países que mais consomem carne bovina da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O consumo médio é de 24,8 kg por pessoa no período de um ano. Ou seja, a proteína é uma fonte de alimentação importante no cardápio da população. Mas se antes bastava ter a carne à mesa, agora é preciso mais. Os consumidores querem saber a procedência daquilo que chega ao seu prato. E é bom que esteja chegando da forma mais sustentável e ecologicamente correta possível.
Conscientes da pressão popular, da mídia e do mercado internacional, empresas do setor passaram a se atentar mais para todos os fornecedores, diretos e indiretos. Mas é a tecnologia que permite que esse cuidado chegue ao público final. É através dela que empresas comprometidas com uma maior transparência da cadeia entregam informações sobre origem e o trajeto de um produto, do campo até o mercado, para ajudar o consumidor a conhecer melhor aquilo que tem em mãos, identificar as diferenças e valorizar as marcas que dividem a mesma preocupação que ele com o meio ambiente.
Rastreabilidade da carne
De uma maneira simples, rastreabilidade é a capacidade de conhecer todo o caminho feito por uma determinada matéria-prima. Vários mecanismos, unidos, permitem identificar a origem de um produto agropecuário desde o campo até o consumidor, o que possibilita o controle e monitoramento de toda a movimentação daquele lote até seu destino.
Na pecuária, a rastreabilidade facilita informações como ocorrências sanitárias e acompanhamento de cada animal. O processo também oferece mais segurança alimentar, pois mostra que a carne não vem de abates ilegais, que é fiscalizada e respeita todos os processos estabelecidos pela legislação.
Para facilitar o acesso a esses dados, algumas companhias passaram a adotar o uso de QR Code nas embalagens. “A principal vantagem do QR Code para o consumidor é a certeza de estar adquirindo um produto de origem comprovada e livre de problemas socioambientais, ou seja, seguro de que seu consumo não prejudica o planeta”, afirma o diretor administrativo e sustentabilidade da Frigol, Carlos Corrêa.
QR Code: informação na palma da mão
A empresa adotou a prática em seus produtos e, desde 2020, fornece um QR Code nas embalagens dos cortes bovinos. Hoje, a Frigol leva a rastreabilidade de seus fornecedores diretos a 100% dos produtos in-natura bovinos comercializados. “A ideia do QR Code surgiu para aumentar a transparência em todo o processo produtivo para o pecuarista e, vinculando todos os dados gerados, levar essa mesma transparência para o consumidor. Uma iniciativa positiva para um assunto que tem ganhado cada vez mais espaço e deve continuar a crescer”, explica Corrêa.
Ao escanear o QR Code da embalagem, o consumidor tem acesso imediato à data de produção daquela peça, validade, corte e linha do produto, unidade onde foi produzida para consumo e origem do lote, com informações sobre a fazenda, município e análise ambiental: desmatamento, trabalho escravo, invasão de terras indígenas, embargo do Ibama e invasão de unidades de conservação.
Na tela inicial, está o tipo de corte da peça, a parte do animal em que ela estava e sugestões de métodos de cozimento. Os desenhos que aparecem ao lado identificam o nome da indústria onde aquela carne foi preparada para comercialização, a data de produção e validade.
Ao acessar a aba “Histórico do Produto”, é possível verificar as informações de origem do lote ao qual aquela carne pertence, com nome da fazenda, localização, ID de monitoramento e empresa responsável por esse monitoramento. Também é onde consta a localização da fazenda no mapa e a análise ambiental dela, com dados sobre desmatamento, trabalho escravo, embargos do Ibama e outros.
Depois, estão as informações completas da unidade produtora da carne – com CNPJ, SIF (Serviço de Inspeção Federal), lote de produção, dados de contato e localização, e também se é uma planta apta para produzir carnes para exportação – se sim, para quais países. No final, está disponível o chat para que o consumidor possa tirar dúvidas sobre o produto.
Todas as informações do animal, do processo produtivo e as informações socioambientais necessárias para criar o QR Code são gravadas via Blockchain, protocolo de transparência que garante total segurança nos dados e inviolabilidade. “Com a implantação do sistema, conseguimos melhorar a comunicação da empresa com fornecedores, clientes e consumidores. A concepção visa melhorar a oferta de uma matéria-prima de melhor qualidade e, consequentemente, um produto final melhor para o consumidor”, enfatiza o diretor da Frigol.
Do Pasto ao Prato: mais transparência sobre a carne
Outra iniciativa que aposta na tecnologia para ajudar o consumidor no processo de compra mais consciente é o aplicativo Do Pasto ao Prato. Disponibilizado ao público desde setembro de 2021, ele é, hoje, um dos únicos no país que oferecem informações completas sobre a carne de consumo, sem vínculo com um frigorífico ou marca específica. Cumprimento das normas sanitárias e de bem-estar animal, relação com trabalho escravo, desmatamento e queimadas nas áreas de produção bovina são os pilares principais das informações fornecidas pela ferramenta.
“Criamos o Do Pasto ao Prato para mapear e dar mais transparência à cadeia de carne no Brasil. Cerca de 76% dos bovinos produzidos são consumidos pelo mercado interno. Por meio da plataforma, conectamos o local de produção à loja onde o consumidor está fazendo a compra. Mostramos o caminho que a carne percorreu e a exposição do produto a impactos socioambientais. Oferecemos essa análise para, juntos, construirmos uma cadeia mais sustentável”, afirma Tiago Reis, líder de engajamento para América do Sul e Brasil da Trase.
Ainda operando na versão Beta, o aplicativo está disponível apenas para Android. Após baixar, o consumidor insere o número do SIF do rótulo de uma peça e as informações daquele produto são disponibilizadas imediatamente. No fim de novembro, uma nova versão estará disponível tanto para Android como para a Apple (iOS).
Na atual versão, são analisadas por cruzamento de dados informações como inspeções sanitárias e multas pagas pelo frigorífico, envolvimento de fornecedores diretos ou indiretos com trabalho escravo e dados sobre desmatamento e queimadas da região onde está localizado o frigorífico responsável por aquele produto.
Tudo para levar mais transparência e agregar qualidade na experiência de compra para a população. O consumo consciente é uma ação coletiva e de impacto para melhorar toda a cadeia pecuária. Quanto mais os consumidores usam essas ferramentas, mais informações são acrescentadas ao banco de dados da plataforma, melhorando o monitoramento dos frigoríficos e mercados varejistas.

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Brasil lança plataforma sobre saúde dos solos e reforça liderança em agricultura sustentável
Ferramenta da Embrapa reúne mais de 56 mil análises e mostra que dois terços das áreas avaliadas no País apresentam solos saudáveis ou em recuperação.

Foi lançada na última segunda-feira (17), na Agrizone, a Casa da Agricultura Sustentável da Embrapa durante a COP 30, em Belém (PA), a Plataforma Saúde do Solo BR – Solos resilientes para sistemas agrícolas sustentáveis. A cerimônia ocorreu no Auditório 1 e marcou a apresentação oficial da tecnologia criada pela Embrapa, que reúne pela primeira vez informações sobre a saúde dos solos brasileiros em um ambiente digital e de acesso público.
Na abertura, a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, destacou o simbolismo de apresentar a novidade dentro da Agrizone, espaço que abriga soluções de baixo carbono. “A Agrizone é o começo de uma nova jornada. Estamos mostrando para o mundo inteiro, de forma concreta, que temos tecnologia para desenvolver uma agricultura cada vez mais resiliente às mudanças climáticas”, afirmou.
Para ela, o lançamento reforça o protagonismo do Brasil como líder global em inovação sustentável para a agricultura e os sistemas alimentares.
A Plataforma disponibiliza dados de saúde do solo por estado e município e já reúne cerca de 56 mil amostras, provenientes de 1.502 municípios de todas as regiões do País. O sistema foi construído a partir da geoespacialização dos dados gerados pela BioAS – Bioanálise de Solos, explicou a pesquisadora da Embrapa Cerrados, Ieda Mendes. A ferramenta permite filtros por estado, município, ano, culturas e texturas de solo, além de comparações entre diferentes cultivos. Também gera mapas e gráficos baseados nas funções da bioanálise, como ciclagem, armazenamento e suprimento de nutrientes.
Solos mais saudáveis e produtivos
Os primeiros mapas revelam que predominam no Brasil solos saudáveis ou em processo de recuperação. “Somando solos saudáveis e solos em recuperação, vemos que 66% das áreas analisadas apresentam condições muito boas de saúde. Apenas 4% das amostras representam solos doentes”, afirmou Ieda.
Mato Grosso lidera o número de amostras (10.905), seguido por Minas Gerais (9.680), Paraná (7.607) e Goiás (6.519). O município com maior participação é Alto Taquari (MT), com 1.837 amostras.
A pesquisadora também destacou a forte relação entre saúde do solo e produtividade. No Mato Grosso, a integração dos dados da BioAS com índices do IBGE mostrou que o aumento na proporção de solos doentes está diretamente associado à queda na produção de soja. “Cada 1% de aumento em solos doentes representa uma perda média de 3,1 kg de soja por hectare”.
Em contraste, análises exclusivamente químicas não apresentaram correlação com a produtividade atual, o que indica que o limite produtivo da agricultura brasileira está cada vez mais ligado à qualidade biológica dos solos.
Ieda ressaltou ainda a participação dos produtores na construção da ferramenta. “Temos contribuições que vão do Acre ao extremo sul do Rio Grande do Sul. Ter um trabalho publicado em revistas técnicas é muito bom, mas ver uma tecnologia sendo adotada em todo o Brasil é maravilhoso”, afirmou.
A expectativa é transformar a plataforma, no futuro, em um observatório nacional da saúde dos solos, capaz de gerar relatórios detalhados por município e conectar pesquisadores, laboratórios e agricultores.
A Plataforma Saúde do Solo BR foi desenvolvida com base nos dados da BioAS, tecnologia lançada em 2020 e criada pela Embrapa Cerrados em parceria com a Embrapa Agrobiologia. O método integra indicadores biológicos (atividade enzimática), físicos (textura) e químicos (fertilidade e matéria orgânica).
O banco de dados atual resulta de uma colaboração com 33 laboratórios comerciais de análise de solo, integrantes da Rede Embrapa e usuários da tecnologia.
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Pressões ambientais externas reacendem disputa sobre limites da autorregulação no agronegócio
Advogada alerta que auditorias privadas e acordos setoriais, como a Moratória da Soja, podem impor obrigações além da lei, gerar assimetria concorrencial e tensionar princípios constitucionais.

A intensificação de exigências internacionais para que produtores brasileiros comprovem de forma contínua a inexistência de dano ambiental como condição para exportar commodities, especialmente a soja, reacendeu um debate jurídico sensível no país. Para a advogada especialista em Direito Agrário e do Agronegócio, Márcia de Alcântara, parte dessas exigências ultrapassa a pauta da sustentabilidade e pode entrar em choque com princípios constitucionais e da ordem econômica, sobretudo quando assumem caráter padronizado e coordenado por grandes agentes privados.
Segundo ela, quando tradings internacionais reunidas em associações que concentram parcela expressiva do mercado firmam pactos com auditorias e monitoramentos próprios, acabam impondo obrigações ambientais adicionais às previstas em lei. “Esses acordos privados transferem ao produtor o ônus de provar continuamente que não causa dano ambiental, invertendo a presunção de legalidade e de boa-fé de quem cumpre o Código Florestal e demais normas”, explica.
Márcia observa que esse tipo de exigência, quando se torna condição para o acesso ao mercado, tensiona princípios como a segurança jurídica e o devido processo. “Quando a obrigação é padronizada e coordenada por agentes dominantes, deixa de ser mera cláusula contratual e passa a se aproximar de uma restrição coletiva, com efeito de boicote”, afirma.
Moratória da Soja e coordenação setorial

Advogada Márcia de Alcântara: “Esses arranjos acabam por substituir o papel do Estado, criando regras opacas e sem devido processo ao produtor”
Entre os casos emblemáticos está a chamada Moratória da Soja, que proíbe a compra do grão oriundo de áreas desmatadas após 2008 na Amazônia. Para a advogada, o modelo de funcionamento da moratória se assemelha a uma forma de regulação privada, com possíveis implicações concorrenciais. “Há três pontos críticos nesse arranjo: a coordenação por associações que concentram parcela relevante do mercado; a troca de informações sensíveis e listas de exclusão que não são públicas; e a imposição de padrões mais severos do que a legislação brasileira. Esse conjunto pode configurar conduta anticoncorrencial, conforme o artigo 36 da Lei 12.529/2011”, avalia.
Ela acrescenta que cobranças financeiras ou bloqueios comerciais aplicados a produtores que não apresentem documentação adicional de regularidade ambiental podem representar penalidades privadas sem respaldo legal. O tema, segundo Márcia, já vem sendo acompanhado tanto pela autoridade antitruste quanto pelo Judiciário.
Marco jurídico recente
Nos últimos meses, a controvérsia ganhou contornos institucionais. Uma decisão liminar do ministro Flávio Dino, no Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão de processos judiciais e administrativos ligados à Moratória da Soja até o julgamento de mérito, para evitar decisões contraditórias e permitir uma análise concentrada do conflito. Paralelamente, o Cade decidiu aguardar o posicionamento do STF antes de seguir com as investigações, embora mantenha atenção sobre a troca de informações sensíveis entre empresas durante o período.
Entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Aprosoja-MT defendem que a atuação concorrencial do Estado não seja paralisada. Elas argumentam que há indícios de coordenação de compra e que a suspensão integral das apurações pode esvaziar a tutela concorrencial.
Entre os principais questionamentos estão a extrapolação normativa de acordos privados, a falta de transparência nos critérios de exclusão e a substituição da regulação pública por padrões privados de alcance global. “Esses arranjos acabam por substituir o papel do Estado, criando regras opacas e sem devido processo ao produtor”, pontua Márcia.
Possíveis desfechos

Foto: Gilson Abreu
A especialista mapeia dois possíveis desfechos para o impasse. Caso o STF decida a favor dos produtores, será reforçada a soberania regulatória do Estado brasileiro, com o reconhecimento de que critérios ambientais devem ser definidos por normas públicas claras e transparentes. A decisão poderia irradiar efeitos para outras cadeias produtivas, como carne, milho e café, estabelecendo parâmetros de ESG proporcionais e auditáveis. Em sentido contrário, validar a autorregulação privada abriria espaço para padrões globais com camadas adicionais de exigência, elevando custos de conformidade e reduzindo a concorrência.
Para Márcia, o Brasil já conta com um dos arcabouços ambientais mais robustos do mundo. O Código Florestal impõe a manutenção de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente, exige o Cadastro Ambiental Rural georreferenciado e conta com sistemas de monitoramento por satélite e mecanismos de compensação ambiental.
Além disso, o país dispõe de políticas estruturantes como a Política Nacional do Meio Ambiente, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e a Política Nacional sobre Mudança do Clima. “Esse conjunto garante previsibilidade ao produtor regular e comprova que o país possui um marco ambiental sólido. Por isso, exigências externas precisam respeitar a proporcionalidade, a transparência e o devido processo. Caso contrário, correm o risco de ferir a legislação brasileira e distorcer a concorrência”, ressalta.
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Brasil e Reino Unido avançam em diálogo sobre agro de baixo carbono na COP30
Fávaro apresenta o Caminho Verde Brasil e discute novas parcerias para financiar recuperação ambiental e ampliar práticas sustentáveis no campo.

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, se reuniu nesta quarta-feira (19) com a ministra da Natureza do Reino Unido, Mary Creagh, durante a COP30, em Belém. O encontro teve como foco a apresentação das práticas sustentáveis adotadas pelo setor agropecuário brasileiro, reconhecidas internacionalmente por aliarem produtividade e conservação ambiental.
Fávaro destacou as iniciativas do Caminho Verde Brasil, programa que visa impulsionar a recuperação ambiental e o aumento da produtividade por meio da restauração de áreas degradadas e da promoção de tecnologias sustentáveis no campo.
Segundo o ministro, a estratégia tem ampliado a competitividade do agro brasileiro, com acesso a mercados mais exigentes, ao mesmo tempo em que contribui para metas climáticas.
A agenda também incluiu discussões sobre mecanismos de financiamento voltados a ampliar projetos de sustentabilidade no setor. As autoridades avaliaram oportunidades de cooperação entre Brasil e Reino Unido para apoiar ações de recuperação ambiental, inovação e produção de baixo carbono na agricultura.



