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Sustentabilidade invisível: suinocultura brasileira luta por métricas próprias

Ausência de métricas locais e indicadores reais que mensurem a sustentabilidade dessa atividade no Brasil criam uma grande lacuna na comunicação de seus avanços.

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Fotos: Shutterstock

A suinocultura brasileira, reconhecida mundialmente por sua eficiência produtiva, já adota diversas práticas sustentáveis que a colocam a frente de muitos concorrentes globais. No entanto, a ausência de métricas locais e indicadores reais que mensurem a sustentabilidade dessa atividade no Brasil criam uma grande lacuna na comunicação de seus avanços. Ao utilizar dados globais da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que não refletem adequadamente a realidade da criação de suínos brasileira, cria um cenário em que, embora a atividade no Brasil seja mais sustentável que em muitos países, essa sustentabilidade não é mensurada de forma concreta, resultando em uma distorção da imagem do setor, prejudicando a competitividade dos produtos brasileiros, que acabam sendo comparados de maneira desigual com os de outros países. Por isso, a Embrapa encabeça um projeto inédito parar criar uma base de indicadores nacionais de sustentabilidade, adaptados às realidades do campo e às especificidades da produção brasileira e de cada agroindústria.

Práticas como a redução no uso de antibióticos, menor desperdício de recursos naturais e o tratamento de efluentes para evitar a contaminação de solos e mananciais fazem parte da rotina dos produtores há muitos anos. Além disso, a incorporação de biodigestores para converter dejetos suínos em biogás, gerando energia limpa e redução das emissões de gases de efeito estufa, junto com o manejo eficiente da água e da ração, mostram que o país avança em direção a um modelo de produção cada vez mais sustentável.

Porém, os produtores de suínos no Brasil enfrentam o desafio de tornar tangíveis seus esforços em sustentabilidade. Embora seja evidente que a atividade está alinhada com práticas ambientais, a falta de uma metodologia nacional para medir esses resultados de forma concreta e padronizada faz com que muito do trabalho realizado seja invisível aos olhos do consumidor, tanto no mercado interno quanto no exterior.

A consequência disso é a chamada ‘sustentabilidade de gogó’, um conceito que sugere que, apesar da suinocultura brasileira estar comprometida com práticas sustentáveis, sem dados comprobatórios para embasar essas afirmações tudo fica no plano discursivo. “Isso prejudica o reconhecimento do setor, que poderia usar a sustentabilidade como uma ferramenta de diferenciação competitiva, atraindo mercados mais exigentes em termos de responsabilidade socioambiental”, afirma o doutor em Zootecnia, pesquisador e chefe-geral da Embrapa Suínos e Aves, Everton Luis Krabbe em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural.

Projeto Suinocultura Sustentável do Brasil

Doutor em Zootecnia, pesquisador e chefe-geral da Embrapa Suínos e Aves, Everton Luis Krabbe: “Queremos que o projeto tenha legitimidade internacional e a participação de instituições de renome como a Universidade de Wageningen vai endossar a credibilidade da metodologia que estamos utilizando” – Foto: Divulgação/Embrapa

Por isso, criar uma base de indicadores nacionais, adaptados às realidades do campo e às especificidades da produção brasileira, se torna essencial para demonstrar de maneira objetiva os progressos já alcançados. Neste contexto, o chefe-geral da Embrapa Suínos e Aves apresenta o Projeto Suinocultura Sustentável do Brasil, uma iniciativa que visa estabelecer um protocolo nacional para ser seguido por todos os elos da cadeia produtiva de suínos. “Ao criar uma base de indicadores adaptados à realidade do país, o projeto busca demonstrar os avanços já alcançados no setor, além de oferecer respaldo técnico para aumentar a segurança do produtor e ampliar a visibilidade do Brasil no mercado global”, enaltece o pesquisador.

Liderado por Krabbe e pelo jornalista, mestre em Comunicação e Informação, doutor em Conhecimento, Tecnologia e Inovação e analista da Embrapa Suínos e Aves, Jean Carlos Porto Vilas Boas Souza, o projeto tem como propósito criar um selo e consolidar a imagem do Brasil como referência em sustentabilidade na suinocultura, reforçando o compromisso do país com a produção sustentável, tornando-o um player ainda mais competitivo no cenário internacional.

Krabbe destaca que a criação de um protocolo específico para a suinocultura brasileira é fundamental, especialmente diante do compromisso das empresas com a agenda de neutralidade de carbono (Net Zero), com metas estabelecidas para 2030, 2040, 2050 e além. Embora o mercado doméstico seja o principal consumidor, as exportações estão em crescimento, o que traz uma pressão crescente em relação à sustentabilidade da produção nacional. Ele aponta que, atualmente, a suinocultura brasileira enfrenta desafios devido à ausência de indicadores específicos para o setor. “Por um atraso da cadeia produtiva em fazer um levantamento da realidade do setor temos hoje métricas desfavoráveis da realidade da suinocultura brasileira, o que nos obriga a adotar informações que são tabuladas pela FAO, que são genéricas e não levam em consideração uma série de aspectos importantes que os produtores e as agroindústrias de carne suína do Brasil estão fazendo. Precisamos urgentemente desse protocolo para mostrar ao mundo o que realmente estamos fazendo e corrigir essa percepção desfavorável”, argumenta Krabbe.

Emissões de carbono na produção de grãos

O chefe-geral da Embrapa Suínos e Aves explica que, ao falar em sustentabilidade, não se devem limitar a visão apenas à pegada de carbono ou às emissões de gases de efeito estufa, destacando que a sustentabilidade inclui o uso racional de água, a destinação adequada de dejetos e animais mortos, a mão de obra empregada na atividade e o impacto ambiental causada pela produção animal.

De acordo com as análises globais fornecidas pela FAO, o milho brasileiro é responsável por 1,5 kg de CO2e por quilo produzido, enquanto o milho americano, que tem sua própria métrica já estabelecida, emite 0,45 kg de CO2e por quilo (Gráfico 1). “O Brasil tem mais que o dobro da pegada de carbono do milho dos Estados Unidos, embora o produtor brasileiro adote práticas como o planejamento direto e o uso de bioinsumos, o que deveria resultar em uma pegada menor. No entanto, como não temos nossas próprias estatísticas definidas precisamos adotar uma tabela internacional, que é muito genérica e depõe contra o agronegócio brasileiro”, aponta Krabbe.

Essa discrepância também é observada na produção de outros insumos utilizados na ração animal. O farelo de soja americano, por exemplo, emite 2,64 kg de CO2e por quilo, enquanto o brasileiro é responsável por 4,29 kg de CO2e por quilo. O trigo americano tem uma pegada de carbono de 0,48 kg de CO2e por quilo, frente aos 1,24 kg de CO2e do trigo brasileiro. A maior diferença, no entanto, é no óleo de soja: enquanto o produto dos Estados Unidos emite 1,44 kg de CO2e por quilo, o óleo de soja brasileiro é apontado com 11,88 kg de CO2e por quilo (Gráfico 1).

Gráfico 1 – Diferenças entre emissões de carbono na produção de grãos

O doutor em Zootecnia ressalta a urgência de o Brasil assumir a responsabilidade de gerar suas próprias métricas e indicadores de emissões. “É absolutamente necessário que o país inicie a coleta de dados que refletem a nossa realidade no campo. Entre 60% e 70% da pegada de carbono que repercute no quilo da carne suína vem através da ração, ou seja, se os componentes da ração brasileira têm o dobro ou mais da pegada de carbono dos americanos, a conclusão é que nossa pegada de carbono para produzir um quilo de carne suína é muito superior à dos Estados Unidos, o que é desvantajoso ao Brasil. Por isso a coleta e a geração de dados precisos sobre a produção de grãos no Brasil são essenciais para corrigir essas distorções e apresentar ao mundo uma visão mais justa da sustentabilidade do agronegócio brasileiro”, salienta.

Emissões de carbono na produção de suínos e aves

Uma análise comparativa entre dados tabulados pela FAO e experimentos realizados pela Embrapa revela diferenças importantes nas emissões de carbono na produção de suínos e de aves no Brasil. Na fase de creche, o Brasil apresenta emissões mínimas superiores à tabela internacional, mas ainda dentro de um limite aceitável. De acordo com a FAO, as emissões nessa fase são de 310,93 g CO2e/animal/dia, com peso final de 24,76 kg. Já a medição da Embrapa aponta 391,87 g CO2e/animal/dia, com o mesmo peso final (Gráfico 2). Nesse caso, adotar os dados internacionais não causaria grandes distorções.

No entanto, as maiores diferenças surgem na fase de crescimento e terminação. Enquanto a métrica internacional do IPPC indica emissões de 1.930,66 g CO2e/animal/dia para um peso final de 115,9 kg, os dados da Embrapa são muito inferiores, registrando 1.535,37 g CO2e/animal/dia para o mesmo peso (Gráfico 2). “Esse resultado demonstra que as tabelas internacionais não refletem com precisão a realidade da produção brasileira”, afirma Krabbe.

Gráfico 2 – Diferenças entre emissões de carbono na produção de suínos e aves

O pesquisador alerta que, se o Brasil continuar a depender dessas tabelas internacionais vai enfrentar problemas tanto na suinocultura quanto na avicultura. “Por exemplo, para frangos de corte, a tabela internacional aponta uma emissão de 135,22 g CO2e/animal/dia, com peso final de 2,79 kg. Já a medição da Embrapa registra 100,32 g CO2e/animal/dia para o mesmo peso (Gráfico 2). Isso mostra a urgência de desenvolvermos nossas próprias métricas e indicadores, porque se formos depender da tabela internacional vamos ser sempre insustentáveis perante a outros grandes produtores de carne”, expõe.

Gestão do projeto

O Projeto Suinocultura Sustentável do Brasil está estruturado em quatro fases principais, sendo a primeira a criação de um protocolo que guiará toda a iniciativa. Esse protocolo tem como objetivo definir as áreas, indicadores e métricas que serão usados para avaliar e promover a sustentabilidade na cadeia produtiva de suínos. “É um conjunto de medidas que serão usadas para nortear os critérios de sustentabilidade da suinocultura em empresas e nos produtores, ou seja, será feito um trabalho da porteira para dentro e da porteira para fora. A ideia é cobrir de ponta a ponta a sustentabilidade na suinocultura”, enfatiza Krabbe.

O protocolo será dividido em grandes áreas – como ambiental, econômica, social, entre outras -, nas quais serão incluídos diversos indicadores. “Por exemplo, na parte ambiental, podemos ter de dois a 10 indicadores, cada um com suas respectivas métricas. A ideia é criar um sistema de avaliação semelhante ao que vemos em eletrodomésticos, como a eficiência energética de uma geladeira, onde os conceitos poderiam ir de A a F, por exemplo”, detalha. Quanto mais perto do A, mais sutentável naquele indicador.

Assim, um produtor que inicialmente estiver classificado, por exemplo, no conceito ‘D’ em algum aspecto, terá um ponto de partida claro para trabalhar em melhorias. “Essa será a base da constituição do protocolo, oferecendo uma visão objetiva e clara de onde estamos e o que precisa ser aprimorado”, reforça.

Atualmente, existem mais de 40 métricas de sustentabilidade utilizadas no mundo, mas o Brasil deve começar com cerca de 20, com a possibilidade de atualização futura para incorporar novas métricas. “O projeto ainda está na fase inicial e temos muito trabalho pela frente para ajustar essas medidas para aplicá-las de forma eficaz”, frisa Krabbe.

O escopo do projeto abrange toda a cadeia produtiva da suinocultura, desde a produção de grãos e ingredientes para ração até a comercialização e transporte, incluindo a fase de criação animal, o processamento industrial e os serviços dos fornecedores (Gráfico 3). Conforme Krabbe explica, o objetivo é integrar cada etapa do processo para permitir uma análise abrangente do impacto ambiental da suinocultura, proporcionando maior transparência e eficiência na redução das emissões de carbono. “Por exemplo, ao usar uma vacina, esse produto possui uma pegada de carbono. O mesmo se aplica a uma vitamina, um medicamento, ao milho, à soja – todos os insumos da cadeia têm uma. A ideia é incorporar essas informações em todas as etapas do processo produtivo”, enfatiza.

Gráfico 3 – Escopo do Projeto Suinocultura Sustentável do Brasil

Criação de softwares

A segunda fase do projeto será marcada pelo desenvolvimento de um software para incorporar todo o protocolo de sustentabilidade (Gráfico 4), explica Krabbe. “Esse protocolo vai nos permitir fazer um diagnóstico detalhado, identificando em que estágio de sustentabilidade a empresa ou a granja se encontra. Imagine a classificação de A a F: pode ser que determinado parâmetro esteja em C. Com esse software, as empresas terão uma ferramenta que ajudará na identificação dos pontos a serem aprimorados para avançar na classificação”, menciona Krabbe, adiantando que esse sistema será disponibilizado para empresas que, futuramente, vão operar o processo de certificação.

Na terceira fase, um novo software será criado para trabalhar cenários e estratégias de melhoria. “Vamos imaginar que o produtor ou empresa está classificado no conceito D, mas sabe que, ao atingir o conceito C, poderá acessar um mercado europeu mais exigente em termos de sustentabilidade. O software de cenários vai permitir que o produtor/empresa analise as oportunidades e entenda o que é necessário para avançar de conceito. A partir disso, poderá ajustar suas operações para melhorar as métricas de sustentabilidade e, assim, atingir novos mercados internacionais”, aponta Krabbe.

Gráfico 4 – Criação de dois softwares: um para incorporar todo o protocolo do Projeto Suinocultura Sustentável do Brasil e outro para trabalhar cenários e estratégias de melhoria

Certificação

A quarta e última etapa do projeto envolve a capacitação das empresas certificadoras (Gráfico 5). Krabbe explica que a Embrapa não será responsável pela certificação nacional das empresas ou das granjas. “Nosso papel será capacitar várias empresas certificadoras, que ficarão encarregadas de realizar o processo de certificação. Os produtores e as empresas interessados em obter o selo de sustentabilidade, que deverá ter os conceitos de A a F, por exemplo, deverão contratar esses serviços para garantir a certificação”, detalha.

Desta forma, o projeto objetiva entregar quatro resultados principais: o desenvolvimento do protocolo de sustentabilidade; o lançamento de um software capaz de identificar o estágio de sustentabilidade de cada empresa ou produtor; a criação de um software para simulação de cenários, auxiliando na melhoria das práticas sustentáveis; e, por fim, a capacitação de certificadoras para assegurar que o processo seja conduzido de forma profissional e imparcial. “Com esses resultados, o projeto busca não apenas monitorar e melhorar a sustentabilidade na suinocultura, mas também criar um sistema robusto e reconhecido que permita às empresas brasileiras atender aos padrões globais, aumentando sua competitividade e acesso a mercados exigentes”, enfatiza Krabbe.

Gráfico 5 – Certificação nacional das empresas e das granjas produtoras de suínos

Plano de ação em 7 etapas

A estruturação do projeto será dividida em um plano de ação com sete etapas, que vão nortear todo o processo até a implementação da certificação de sustentabilidade para o setor suinícola brasileiro. Devido à complexidade envolvida no desenvolvimento deste projeto, os coordenadores estimam que sua conclusão levará entre quatro e cinco anos. “Esse prazo é necessário para garantir que todas as etapas, desde a criação do protocolo até a implementação das ferramentas e certificações, sejam executadas de forma criteriosa e eficaz”, menciona Souza.

 A primeira etapa envolve a gestão do projeto, com a formação de um Comitê Gestor, composto por especialistas que irão delinear e orientar o andamento das atividades. Esse comitê será responsável por planejar e supervisionar o desenvolvimento das fases subsequentes, garantindo que as metas sejam alcançadas de forma eficaz.

  Na segunda etapa, será definido o escopo do protocolo, que incluirá a delimitação dos limites do projeto, além da identificação dos principais indicadores e métricas que servirão de base para a avaliação de sustentabilidade. Esses parâmetros devem ser claros e mensuráveis, permitindo uma análise consistente do impacto ambiental em toda a cadeia produtiva.

  A terceira etapa envolve o desenvolvimento de metodologias específicas para o contexto brasileiro. As métricas e indicadores precisarão ser compatibilizados com as particularidades da produção nacional, adaptando-se às condições e realidades locais, de modo que a certificação seja viável e aplicável no país.

  A quarta etapa é dedicada à coleta de dados. A obtenção de informações detalhadas sobre os indicadores e métricas definidos será essencial para criar uma base sólida de monitoramento, que permita avaliar o desempenho das empresas e dos produtores de maneira precisa e transparente.

  Na quinta etapa serão desenvolvidas as ferramentas digitais que servirão tanto para a avaliação dos processos quanto para auxiliar na melhoria contínua das práticas sustentáveis. Essas ferramentas serão fundamentais para que as empresas e produtores possam monitorar seus avanços e identificar áreas que necessitam de melhorias.

 A sexta etapa será a criação de um esquema de certificação, garantindo que o processo seja formalizado e possa ser replicado por certificadoras capacitadas. Esse esquema será a base para que as empresas possam alcançar as certificações de sustentabilidade de forma reconhecida e padronizada.

  Na sétima etapa será feita a disseminação do conhecimento, quando os resultados, ferramentas e metodologias desenvolvidas ao longo do projeto serão amplamente compartilhados com os produtores, empresas e certificadoras, promovendo a adoção das melhores práticas sustentáveis em larga escala.

Custos para desenvolvimento do projeto

O custo total para o desenvolvimento do projeto que vai revolucionar a forma como o setor mede e gerencia indicadores ambientais, econômicos e sociais está estimado em R$ 10 milhões. Segundo Krabbe, os custos de cada indicador devem variar entre R$ 400 mil e R$ 500 mil, dependendo da complexidade das informações necessárias. “Alguns indicadores podem custar mais devido à falta de dados, enquanto outros são mais simples de compilar, mas em média o custo gira em torno de meio milhão de reais por indicador. É um projeto caro, porém longo, que interessa a toda a suinocultura brasileira e que poderá fazer uma grande diferença no futuro”, expõe.

O projeto prevê o trabalho com 20 indicadores, cujo objetivo é melhorar o controle e a precisão da gestão de informações nas granjas e na agroindústria. “As empresas que têm compromissos estabelecidos na área da sustentabilidade poderão honrá-los, pois vão passar a contar com métricas claras e confiáveis, passando a ter um maior controle e uma maior precisão na gestão das informações. Com isso terão condições de serem mais assertivos e de fato cumprir com aquilo que estabeleceram como compromisso”, afirma Krabbe.

Com a implementação dessas ferramentas, o setor espera otimizar processos, desde a logística até o bem-estar animal, reduzindo emissões de CO2 por quilômetro rodado e melhorando a biosseguridade nas propriedades. “Esses indicadores vão comprovar os diferenciais na forma de produzir, como o uso de medicamentos e os índices de condenações em frigoríficos. Isso vai nos ajudar na negociação no mercado, comprovando o trabalho de sustentabilidade com dados reconhecidos internacionalmente”, acrescentou.

Krabbe reforça que a importância do projeto vai além dos ganhos individuais das empresas. Segundo o pesquisador, de forma coletiva vai estabelecer uma linguagem comum para discutir sustentabilidade, superando as dificuldades atuais de comparar conceitos abstratos. “Hoje falamos de sustentabilidade em termos que não são mensuráveis, o que dificulta fazer comparações. Com métricas concretas, o Brasil terá mais poder de barganha e será visto como um país sustentável na produção de carne suína, ou seja, vai ter um avanço real, porque como vamos estar medindo teremos informações que refletem a realidade do setor”, destaca.

O projeto também prevê cooperação internacional para garantir que os protocolos adotados sejam reconhecidos globalmente. A Universidade de Wageningen, da Holanda, é uma das instituições que serão parceiras da iniciativa brasileira. “Queremos que o projeto tenha legitimidade internacional e a participação de instituições de renome como a Universidade de Wageningen para endossar a credibilidade da metodologia que estamos utilizando”, afirmou Krabbe, enfatizando que a expectativa é que essa cooperação abra portas para novas parcerias no campo técnico-científico internacional, além de contribuir para melhorar a imagem do Brasil como produtor e fornecedor de proteína de origem suína sustentável.

Governança institucional e técnica

Para garantir a eficiência e o sucesso do projeto, a implementação não se dará de forma isolada. Krabbe explica que será necessária a criação de uma governança institucional sólida, composta por um comitê gestor formado pela Embrapa, associações setoriais, empresas e outras organizações representativas do setor. “O comitê gestor terá a responsabilidade de definir a participação de cada ator envolvido no projeto, além de garantir o financiamento necessário, coordenar o progresso do plano de ação e monitorar os resultados esperados, assegurando que as metas sejam alcançadas dentro do prazo estipulado”, detalhou.

A governança técnica será formada por um Comitê Técnico com profissionais altamente especializados, incluindo representantes da Embrapa, agroindústrias, produtores, fornecedores, pesquisadores e especialistas convidados. “Vamos trazer para o projeto pessoas que possam contribuir diretamente para a execução de cada indicador, mantendo o trabalho conectado com a indústria, cadeia produtiva e com as instituições de ciência e tecnologia”, ressaltou o pesquisador.

Entre as atribuições do Comitê Técnico estão a definição do escopo dos indicadores, a criação de grupos de trabalho, definição, adaptação e pesquisa de métricas, além de garantir a execução do plano de ação e a entrega dos resultados dentro do prazo esperado.

Comitê Consultivo: diálogo e transparência

Além das governanças institucionais e técnicas, o projeto também prevê a criação de um Comitê Consultivo, que terá como objetivo ampliar o diálogo com a sociedade e dar mais transparência ao andamento das ações. Krabbe frisa a importância de envolver entidades como ONGs nesse processo. “Estamos considerando a criação de um Comitê Consultivo que poderá se reunir periodicamente para rodadas de diálogo com os participantes, permitindo que estes acompanhem de perto o progresso do projeto”, afirmou.

Esse comitê será um espaço importante para a troca de ideias e a colaboração com diferentes segmentos da sociedade, contribuindo para a construção de um projeto que atende não apenas às demandas da suinocultura, mas também às expectativas de sustentabilidade e responsabilidade social amplamente demonstradas.

Linha do tempo

Para dar início ao projeto foram propostos prazos para a execução de ações imediatas que visam a estruturação das governanças e o lançamento do plano de ação, estabelecendo uma linha do tempo clara para garantir que as etapas iniciais sejam cumpridas de forma organizada e eficiente.

De acordo com o chefe-geral da Embrapa Suínos e Aves, o primeiro passo foi concluído no dia 30 de setembro com a formalização do Comitê Gestor. Na sequência, o lançamento do instrumento de governança deverá ocorrer até 31 de dezembro de 2024. Este documento vai formalizar a estrutura de governança e detalhar as atribuições das entidades participantes, estabelecendo as bases para a execução do projeto. “Com o instrumento de governança formalizado daremos um passo decisivo para consolidar a gestão e o controle de todas as ações”, comenta o pesquisador.

Ainda até o final de 2024 será realizada a formalização do Comitê Técnico, que terá a tarefa de definir as métricas e indicadores a serem utilizados no monitoramento e na otimização dos processos na suinocultura. Este comitê, que reunirá especialistas de diferentes áreas, será o responsável por delinear o escopo técnico e científico do projeto.

Por fim, até 30 de junho de 2025, o lançamento do Plano de Ação será concretizado, que vai definir as atividades, equipes envolvidas, cronograma de execução e fontes de financiamento. “Com o Plano de Ação em mãos, teremos uma visão clara de cada etapa do projeto, facilitando o acompanhamento e o cumprimento das metas estabelecidas”, ressalta Krabbe, acrescentando: “Esses primeiros passos são fundamentais para garantir que o projeto avance conforme o esperado, e que os impactos positivos para a suinocultura brasileira e para a imagem do país como produtor sustentável de proteína animal sejam concretizados”.

Sustentabilidade deve atuar como sentinela

Souza destacou que ao tratar sobre sustentabilidade na suinocultura é preciso entender que a sustentabilidade atua como uma sentinela da qualidade da produção. Ele faz uma analogia com a conversão alimentar, explicando que, na suinocultura, a conversão alimentar é um indicativo claro de sucesso produtivo, pois só se alcança bons resultados quando há sanidade, alimentação adequada e genética de qualidade. “A conversão é uma síntese, significa que se produz bem”, sublinha, acrescentando que da mesma forma, quando um produtor adota práticas sustentáveis, isso indica que há eficiência econômica, responsabilidade ambiental e social, e que a produção está em bons níveis.

Ele reforça que, na questão da sustentabilidade, não há meio-termo, ou você prova que tem ou você não tem. Souza frisa a prática comum de afirmar que o Brasil é sustentável sem apresentar dados concretos. Embora reconheça que a produção animal brasileira seja, de fato, mais sustentável que de outros concorrentes, o especialista pontua que o país precisa demonstrar isso de maneira mensurável. “Sem indicadores e análises aceitas globalmente, não conseguimos comprovar nossa sustentabilidade”, diz, enfático.

O cenário atual coloca o Brasil em desvantagem, pois as análises utilizadas globalmente não levam em consideração as particularidades da produção brasileira, o que acaba criando uma leitura desfavorável. Souza argumenta que, embora a metodologia global seja baseada em uma média mundial, ela não reflete as realidades e os avanços do setor no Brasil. “Não é que exista erro na leitura, mas o princípio dessa leitura não se adapta ao nosso contexto”, justifica.

Por isso, o doutor em Conhecimento, Tecnologia e Inovação defende a necessidade urgente de desenvolver um protocolo sustentável para a suinocultura brasileira. “Precisamos melhorar nossa sentinela, ajustar a forma como mensuramos nossa sustentabilidade e parar de fazer sustentabilidade de gogó”, enfatiza, ressaltando que a criação de um protocolo científico robusto, aceito internacionalmente, permitirá que o Brasil prove de maneira inequívoca sua sustentabilidade. “Mesmo que a análise inicial revele que não somos tão sustentáveis ​​quanto pensamos, isso nos dará o entendimento necessário para melhorar”, frisa.

Souza ainda alerta que esse é um processo que exige tempo e precisa ser iniciado imediatamente. Se o desenvolvimento do protocolo começar em 2030, os resultados concretos só estarão prontos em 2035. “Então, temos que começar agora, para no mais tardar em 2030 termos essas estatísticas e indicadores que nos permitirão falar abertamente sobre a sustentabilidade da suinocultura brasileira. Hoje não conseguimos fazer essa discussão, mas com as especificações detalhadas, embasadas cientificamente vamos poder rebater qualquer objeção que venham a apresentar”, estima.

Porque demorou tanto para realizar esse projeto?

Ao serem questionados sobre por que este projeto ainda não foi realizado no Brasil, os especialistas foram enfáticos ao afirmar que certas iniciativas precisam de tempo para amadurecer. Eles destacaram que o tema da sustentabilidade está atingindo um ponto de maturação significativo no país. “Há alguns anos todos falavam sobre sustentabilidade, mas ninguém estava disposto a arcar com os custos envolvidos”, explicaram. “Hoje, existe uma compreensão maior de que investir em sustentabilidade resulta em economia a longo prazo. Esse amadurecimento do mercado e da mentalidade dos produtores e da agroindústria torna este o momento ideal para começar a implementar ações concretas e avançar com esse projeto”, frisa Krabbe.

O doutor em Zootecnia destacou que, além dos compromissos assumidos pelas empresas, é fundamental compreender que a suinocultura faz parte de uma cadeia de transformação. “Não podemos trabalhar de forma eficaz se não tivermos acesso às informações dos insumos que antecedem a produção de suínos, como o milho e a soja. Sem esses dados, nossa base de atuação fica comprometida”, afirmou, ressaltando que instituições como a Embrapa Soja, Embrapa Milho e Sorgo e Embrapa Trigo já estão bastante avançadas na coleta e desenvolvimento de indicadores dessas culturas. “Com esses dados específicos do Brasil em mãos agora é o momento ideal da suinocultura entrar em campo e fazer parte do jogo”, disse, animado.

Sustentabilidade não é artigo de luxo

De acordo com a Flint Global, uma das principais consultorias de ativos econômicos no mundo, os produtores de carne que não conseguirem comprovar sua sustentabilidade enfrentarão sérios problemas de mercado em, no máximo, uma década. “Isso não é mais uma questão de luxo ou de querer se destacar; é uma necessidade. Trabalhar com sustentabilidade significa promover avanços reais, não é fazer de conta, é realmente melhorar a produção”, ressaltou Souza. “Sustentabilidade deve ser vista como investimento para fazer com que a sua atividade sobreviva a todos os percalços e tenha acesso a mercados que a cada dia serão mais exigentes nesse quesito”, sustenta Krabbe.

Garantia de sobrevivência

Souza reforça que a sustentabilidade não deve ser vista como um custo adicional, mas sim como uma garantia de sobrevivência e um investimento no futuro. “É sobre a melhoria de processos: otimizar o uso da água, maximizar o aproveitamento da ração, aprimorar a genética, modernizar os equipamentos e melhorar o manejo. Por isso, digo que a sustentabilidade é uma sentinela, porque sinaliza o quanto estamos aprimorando a gestão da produção. E, claro, também representa a possibilidade de ganhar mais dinheiro”, avalia.

Krabbe se diz otimista, acreditando que, uma vez concluído, o projeto vai revelar ao mundo o quanto a suinocultura brasileira já é sustentável. “Estou muito confiante de que teremos boas surpresas. E, nas áreas onde ainda não estivermos tão bem, teremos um diagnóstico claro e preciso sobre o que precisa ser melhorado”, afirma.

O pesquisador também afirma que as métricas do protocolo precisarão ser revisadas periodicamente, pois a eficiência da produção e os padrões de sustentabilidade evoluem com o passar do tempo. “Ao longo dos cinco anos de implementação, a conversão alimentar, por exemplo, pode mudar. Então, esses indicadores e métricas terão que ser ajustados e atualizados conforme o avanço do projeto. A ambiência e os padrões construtivos também vão evoluir, o que demandará uma constante revisão”, expõe.

Reação das empresas ao projeto

Jornalista, mestre em Comunicação e Informação, doutor em Conhecimento, Tecnologia e Inovação e analista da Embrapa Suínos e Aves, Jean Carlos Porto Vilas Boas Souza: “Sem indicadores e análises aceitas globalmente, não conseguimos comprovar nossa sustentabilidade” – Foto: Divulgação/Embrapa

Quanto à reação das empresas, o doutor em Zootecnia afirma que o setor está ansioso pela implementação do protocolo, especialmente as companhias que operam no mercado internacional. “Muitas já sinalizaram que esse projeto deveria estar pronto há algum tempo. Estão extremamente atentas e todas comprometidas em contribuir para que o protocolo seja concluído dentro do prazo estipulado. A sustentabilidade já faz parte do dia a dia das grandes empresas e esse projeto vai se integrar naturalmente à agenda delas”, enfatiza.

O analista da Embrapa Suínos e Aves ressalta que o sonho do setor é tornar a sustentabilidade visível e compreensível para qualquer consumidor. “Queremos que, assim como os produtos eletrônicos possuem etiquetas de eficiência energética, os produtos da suinocultura possam exibir um selo de rastreabilidade e sustentabilidade. Isso permitirá que os consumidores, no Brasil e no exterior, saibam que estão comprando um produto de qualidade, com base em um processo produtivo sustentável. O protocolo é o caminho que nos permitirá transformar esse sonho em realidade”, evidencia.

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Fonte: O Presente Rural

Suínos

Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde

Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

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Foto: Jonathan Campos

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.

Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock

Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.

Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.

O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.

Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.

Fonte: O Presente Rural com informações Itaú BBA Agro
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Colunistas

Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

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Foto: Claudio Pazetto

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.

O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock

Reposicionar para crescer

Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.

Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.

O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.

Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.

Digital: o novo campo do agro

As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

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compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.

Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.

Promoções e estratégias de varejo

Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.

Marketing como elo da cadeia produtiva

A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.

Fonte: O Presente Rural com Felipe Ceolin
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Suínos Imunização inteligente

Gel comestível surge como alternativa para reduzir estresse e melhorar vacinação de suínos

Tecnologia permite imunização coletiva com menos manejo, mantém eficácia contra Salmonella e ganha espaço como estratégia para elevar bem-estar animal e eficiência produtiva.

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Fotos: Divulgação/American Nutrtients

Artigo escrito por Luiza Marchiori Severo, analista de P&D na American Nutrients do Brasil e acadêmica do curso de Farmácia; e por Daiane Carvalho, médica-veterinária e coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento e Responsável Técnica da American Nutrients do Brasil.

A suinocultura enfrenta desafios complexos na busca por eficiência produtiva, controle sanitário, escassez de mão de obra e bem-estar animal. Doenças infecciosas, como a salmonelose, ainda figuram entre as principais preocupações sanitárias em granjas comerciais, exigindo estratégias de imunização compatíveis com práticas alinhadas a maior eficiência na aplicação e menos estresse aos animais. Nesse contexto, o debate sobre métodos alternativos de vacinação ganha cada vez mais força.

Vacinas orais compostas por microrganismos vivos podem ser administradas aos suínos tanto individualmente, utilizando o método de drench, quanto coletivamente por meio da água de bebida. A aplicação coletiva via bebedouros apresenta a vantagem de reduzir significativamente o estresse dos animais e dos operadores, pois é um procedimento rápido e que demanda pouca mão de obra. Por outro lado, a administração oral individual, como o drench frequentemente empregado em leitões na maternidade, exige contenção um a um para garantir a ingestão adequada, tornando o processo mais trabalhoso e potencialmente mais estressante para os suínos.

Neste contexto, a aplicação oral de vacinas exige soluções tecnológicas que assegurem maior praticidade, estabilidade do imunógeno, homogeneidade da distribuição e, principalmente, aceitação espontânea pelos animais. É neste ponto que o conhecimento dos aspectos relacionados à fisiologia sensorial dos suínos é fundamental no desenvolvimento de produtos que possam atuar como veículos de alta atratividade para vacinas via oral, garantindo maior eficiência nos processos vacinais, bem-estar animal e praticidade.

Gel Comestível

O gel comestível é uma matriz semissólida, palatável e nutritiva, que contém componentes seguros e atrativos ao consumo dos suínos. Esse veículo possibilita a administração coletiva da vacina diretamente em comedouros auxiliares – sem a necessidade de manejo individualizado. Ao ser disponibilizado em áreas acessíveis das baias, o gel é consumido de forma espontânea pelos leitões, respeitando seu comportamento natural e reduzindo drasticamente o estresse associado ao processo de vacinação.

Em estudo conduzido em 2024 avaliou-se a eficácia da vacinação oral contra Salmonella Typhimurium por meio da aplicação através do gel, comparando-se os resultados com a administração tradicional por drench oral. Os leitões vacinados com o gel apresentaram desempenho zootécnico semelhante ao grupo que recebeu a vacina por drench. Além disso, os animais vacinados com o gel apresentaram menor incidência de lesões intestinais após o desafio com cepa virulenta do agente patogênico. Estes resultados comprovam a eficiência do processo de vacinação com a utilização do gel palatável. Da mesma forma, outros pesquisadores, ao avaliar a eficiência de acesso a um gel comercial comestível, evidenciaram que de 10 leitegadas avaliadas, 92% dos animais acessaram o gel, sendo 89% em até 6 horas. Como conclusão os autores afirmaram que o alto percentual de leitões consumidores observados neste estudo demostrou ser uma via de aplicação promissora na vacinação na suinocultura.

Além de favorecer o bem-estar animal, o gel comestível oferece benefícios operacionais significativos: economia de tempo, redução de mão de obra e maior biosseguridade, visto que que se reduz consideravelmente a necessidade de uma equipe externa de vacinadores.

Qualidade, Eficiência e Sustentabilidade

Para que a vacinação via gel comestível seja efetiva, é essencial garantir a homogeneidade da distribuição da vacina no veículo, assegurando que todos os animais recebam uma dose adequada. Ensaios realizados em laboratórios e granjas já demonstram que essa tecnologia é capaz de manter a viabilidade do imunógeno por períodos compatíveis com a recomendação de consumo de vacinas via oral após diluídas, mantendo sua eficácia mesmo em condições ambientais variáveis.

Além disso, o uso de veículos comestíveis está alinhado às boas práticas de fabricação e aos princípios de biosseguridade preconizados por legislações nacionais e internacionais. Com isso, a alternativa se mostra viável tanto técnica quanto economicamente, oferecendo à suinocultura uma ferramenta inovadora para o controle sanitário.

Considerações Finais

A adoção de métodos alternativos à vacinação tradicional representa um avanço estratégico para a suinocultura brasileira, ao aliar eficiência imunológica a práticas mais humanizadas e sustentáveis. Soluções como a vacinação oral, os dispositivos sem agulha e o uso de veículos comestíveis – como o gel – permitem reduzir significativamente o estresse animal, simplificar rotinas de manejo e minimizar riscos operacionais. Investir nessas tecnologias é essencial para fortalecer um modelo de produção alinhado aos princípios do bem-estar animal, da biosseguridade e da competitividade no mercado global.

As referências bibliográficas estão com as autoras. Contato: cq@americannutrients.com.br

Com distribuição nacional nas principais regiões produtoras do agro brasileiro, O Presente Rural – Suinocultura também está disponível em formato digital. O conteúdo completo pode ser acessado gratuitamente em PDF, na aba Edições Impressas do site.

Fonte: O Presente Rural
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