Suínos
Suinocultura top manda boas notícias de Brasília
Granja Miunça, no Distrito Federal, completa 30 anos como uma das mais modernas e exemplares fazendas suinícolas do Brasil
Era 6 de setembro de 1987. A Assembleia Constituinte liderada por Ulysses Guimarães estava criando a nova Constituição brasileira, enquanto o jovem presidente José Sarney se preparava para o desfile cívico programado para o dia seguinte. O Brasil vivia uma crise econômica e a inflação deteriorava o salário do trabalhador. Em meio a esse cenário turbulento, em 6 de setembro de 1987 uma porca paria seus primeiros filhotes, e o Distrito Federal via nascer o que, 30 anos mais tarde, se tornaria uma das mais modernas e exemplares granjas suinícolas do Brasil. Só mesmo o agronegócio para trazer boas notícias de Brasília.
Uma palavra define essas três décadas de história: tecnologia. O produtor Rubens Valentini usou todo seu conhecimento de engenheiro agrônomo PhD e professor da Universidade de São Paulo (USP) para conceber a Granja Miunça, uma das mais eficientes do Brasil. Foi precursor no país ao usar sistemas eletrônicos de alimentação em baias de gestação coletiva, em 2010.
“Completei trinta anos de suinocultura. O primeiro parto foi em 6 de setembro de 1987. São muitos anos, muitas fases diferentes. Acompanhei a tecnologia da suinocultura até onde foi possível, com variações de manejo, coisas que viraram moda, depois caíram de moda, depois vieram outra vez. É uma vida muito rica nessa atividade”, conta o produtor. “Eu sempre gostei muito de tecnologia porque eu acredito que acompanhar o desenvolvimento da tecnologia é uma forma de garantir a sustentabilidade econômica do negócio. Se você entra em um negócio e se amarra em uma tecnologia que fica pra trás, você acaba tendo menos produtividade do que aqueles que entraram depois ou se atualizaram. A atualização foi algo que sempre me atraiu muito e faço isso até hoje”, conta Valentini.
Pioneirismo
Em 2010, parte das quatro mil fêmeas suínas deixou as gaiolas para passar o período de gestação em baias coletivas. O modelo na época inédito no Brasil garante bem-estar às porcas, que podem expressar seus comportamentos naturais e mantém ou até melhoram os índices de produtividade. “Sempre acreditei que a gestação coletiva fosse a melhor alternativa. Havia muito medo de abortos, mas de fato o sistema se mostrou eficiente, mantendo ou até melhorando os índices de produtividade das porcas.
Hoje, de acordo com Valentini, a média é de 32 leitões/porca/ano, mas ele garante que os leitões deixam a creche com mais qualidade de carcaça e peso. “Não adianta você só observar o número de desmamados por fêmea, tem que analisar o peso desmamado. E nisso a nossa granja é muito eficiente”, pontua. “Eu introduzi a gestação coletiva com controle eletrônico de alimentação no Brasil. Sempre achei que seria melhor em diversas frentes. Não seria pior em índices de produtividade, o que de fato se comprovou com uma pesquisa feita na granja, e traz uma série de outras possibilidades que você não consegue com a alimentação convencional, como o controle individual da nutrição do animal e o acompanhamento das necessidades dele ao longo do período de gestação, importantes para uma boa leitegada, seja em número, peso ou qualidade dos leitões”, amplia.
Por isso, “seguimos a nutrição para cada porca, com os requerimentos nutricionais diferentes nas fases inicial, intermediária e final da gestação. “Nós podemos fazer alterações gradualmente, adicionando itens que são necessários em períodos diferentes da gestação. Quando no final da gestação aumenta o requerimento de lisina, sem necessariamente ter que aumentar o requerimento calórico ou proteico, a gente adiciona lisina e os componentes que a acompanham na forma específica para cada animal”, exemplifica. “Isso altera para melhor a qualidade dos leitões”, amplia.
Leitões na saída da creche vão superar 30 quilos, diz produtor
Valentini tem uma meta ousada com a nova tecnologia que está implementando na granja. A nova atualização é um sistema de alimentação que permite individualizar a ração por cocho dos animais, baseada nas necessidades de cada grupo. Com uma balança de precisão pesando quantidades próximas a 10 gramas, explica, ele pode formular dietas precisas, incluindo aditivos específicos para cada fase da criação. O sistema Spotmix, de alimentação multiface sem resíduos, é o primeiro a ser instalado no Brasil, e promete auxiliar na conversão alimentar e ganho de peso diário. “Hoje os leitões da creche saem com 22-23 quilos. Vamos produzir leitões com 30 quilos ou mais, no mesmo período de tempo”, sustenta.
“Estou instalando um equipamento de alimentação de leitões que me permite formular a ração ideal por cocho. São 96 cochos que podem receber diferentes rações, tudo administração por um computador. Essa ração vai do misturador ao cocho por meio pneumático, em fase seca, mantendo as linhas secas e limpas, e na descida para o cocho você pode adicionar a quantidade de água que quiser. Posso dar ração seca, úmida ou líquida. Isso nos dá uma flexibilidade fantástica, porque você pode oferecer a dieta diversas vezes por dia, estimulando os animais a comer, além de oferecer uma ração sempre fresca, que é muito importante”, destaca.
O sistema, de acordo com o produtor do Distrito Federal, vai melhorar em cerca de 30% o desempenho de ganho de peso na fase de creche. “A alimentação líquida muda dramaticamente o peso de saída de creche. Melhora o ganho de peso e a conversão alimentar. Esperamos produzir leitões com 30 quilos ou mais na saída de creche, no mesmo de alojamento”.
“Mini box é retrocesso”, alerta Valentini
Uma das alternativas para o bem-estar animal que surge no mercado é a criação de matrizes em gestação coletiva, mas sem os modelos eletrônicos de alimentação, conhecidos como mini box, que não individualizam a alimentação. Com o fim da gestação em gaiolas proposto pelas grandes empresas do setor, essa alternativa tem sido ventilada por algumas integradoras, que pretendem migrar para o mini box para melhorar o bem-estar das matrizes. O produtor e professor da USP, Rubens Valentini, garante que esse método é ineficaz, gera muita mão de obra e competição e brigas entre as fêmeas.
Algumas integradoras estão tentando usar o mini box em substituição aos sistemas eletrônicos, mas isso é um retrocesso. As empresas integradoras que optarem por isso estarão fazendo uma tremenda sacanagem com o produtor, porque vão limitar os resultados produtivos e vão impor um volume de mão de obra brutal para o resto da vida útil dessa granja. Há um tremendo custo operacional com o mini box”, dispara.
Ele garante que o bem-estar pretendido não é alcançado nesse sistema. “Além do mais, na medida em que você não alimenta adequadamente sua matriz, na medida que tem competição entre animais, que tem muita mordida de vulva, machucados, você está reduzindo o nível de bem-estar, você está perdendo o real sentido do bem-estar”, amplia. De acordo com o produtor e pesquisador, como a alimentação é coletiva, há muitos problemas sociais, algumas porcas podem comer em excesso, enquanto outras têm dificuldades em acessar o alimento, por exemplo.
2017 e 2018
O ano poderia ser melhor, não fosse, na opinião de Valentini, “a desastrosa Operação Carne Fraca”. “Perdemos 30% do preço em dez dias e demoramos 90 para voltar ao normal. O lado bom de 2017 é que o milho, que estava muito caro, melhorou (o preço). Isso facilitou para o suinocultor”, diz.
Para o próximo ano, Valentini demonstra preocupação com a produção de milho, principal insumo da alimentação dos suínos. “Estou muito confiante em 2018, embora eu acho que vai ter alguma dificuldade de oferta de milho. O cenário está pintando que vai se produzir menos milho no ano que vem”, pontua. “Mesmo assim, estou esperançoso porque estaremos com a produção em cima de uma nova tecnologia. Nos anos de 2016 e 2017 fizemos mudanças e adaptações. Vamos entrar prontos em 2018”, cita Valentini.
Tecnologia não adianta sem mão de obra qualificada
Porque depois de séculos as porcas foram colocadas em gaiolas? Questiona Valentini. Segundo ele, à época esse sistema foi criado para dar mais segurança a animais e trabalhadores e otimizar o espaço das fazendas. “Antes de 1970 a suinocultura era a pasto e dentro dos galpões. Depois, começou a ser produzido com as gaiolas. Em meados dessa década, o uso se generalizou. As razões da época para adoção de gaiolas de gestação tinham como base maior controle de alimentação das porcas gestantes e melhor utilização do espaço dos barracões. Com a redução da mobilidade haveria menor consumo de ração, além de reduzir o estresse social. As gaiolas também protegiam os operadores e permitem uma coleta mais fácil dos excrementos na parte de trás”, explica. Era quase tudo manual.
As novas tecnologias, destaca, dependem de pessoal qualificado para serem implementadas com sucesso. De acordo com ele, falhas na implantação de sistemas eletrônicos de alimentação causaram dúvidas ao produtor brasileiro sobre a eficiência desse modelo. “A mudança para a adoção de eletrônica para garantir eficiência em nutrição individual teve uma tradicional resistência. O sucesso na granja Muinça gerou curiosidade. Como a pressão mercadológica pela gestação coletiva induziu as grandes empresas a assumir compromissos públicos, como BRF, JBS e Aurora, isso obviamente gerou um movimento comercial importante. Porém, houve um descuido muito grande, com projetos ruins, falta de observação de parâmetros, sem o devido treinamento dos promotores desse sistema e dos usuários do sistema. Por isso, projetos foram abandonados, falharam, e isso gerou dúvidas sobre as estações de tratamento. O sistema exige pessoal qualificado, as máquinas exigem conhecimento técnico operacional”, pontua.
De acordo com ele, sistemas modernos atraem profissionais mais qualificados. “Desde quando implantei a gestação coletiva com alimentação eletrônica não tive mais problemas com mão de obra. Temos um plano de carreira eles são treinados para operar toda a granja”, acrescenta o produtor rural. Enfim, uma boa notícia de Brasília.
Mais informações você encontra na edição de Nutrição e Saúde Animal de novembro/dezembro de 2017 ou online.
Fonte: O Presente Rural
Suínos
Importância do diagnóstico para controle de diarreia em leitões de maternidade
Ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais.
Artigo escrito por Lucas Avelino Rezende, consultor de Serviços Técnicos de suínos na Agroceres Multimix
Uma das causas mais frequentes de morte de leitões na maternidade, sem dúvidas, é a diarreia neonatal, que pode ser causada por diversos fatores, incluindo infecções bacterianas, virais ou parasitárias, bem como problemas nutricionais ou ambientais.
Por ser multifatorial, a simples presença de patógenos entéricos nem sempre é suficiente para produzir doença clínica. Diante disso, é importante saber que é necessário haver uma interação hospedeiro-ambiente-patógeno. Diferenças em práticas específicas de manejo e ambiente, bem como características do animal e do rebanho, podem influenciar muito o risco de ocorrência da doença.
Alguns fatores podem contribuir para o aumento na ocorrência da diarreia pré-desmame, como: leitões de baixo peso ao nascer, baixa temperatura ambiental levando ao estresse pelo frio, higiene ruim da gaiola de parição, ingestão de leite e colostro insuficientes e o número insuficiente de tetos para a prole.
As principais causas infecciosas de diarreia em leitões na maternidade no Brasil são as Clostridioses, Colibacilose, Rotaviroses e Coccidiose. Em alguns casos, a coinfecção de dois ou mais agentes podem estar presentes e agravar o caso de diarreia.
A sobrevivência de leitões é influenciada por vários fatores, incluindo ordem de nascimento, peso ao nascer, ingestão de colostro e níveis séricos de imunoglobulina G (IgG). Esses fatores interagem de maneiras complexas para determinar a suscetibilidade do leitão a doenças e a saúde geral.
Um importante ponto para entender a dinâmica do surgimento de diarreias na maternidade é a avaliação da ingestão de colostro pelos leitões, uma vez que é essencial para a imunidade passiva dos leitões recém-nascidos, já que não há transferência de imunoglobulinas e outros componentes da imunidade materna para os leitões via transplacentária.
De modo geral, granjas com baixo peso ao nascimento ou uma grande variabilidade do tamanho dos leitões nascidos são aquelas mais desafiadas com diarreias na maternidade, porque leitões com menor peso ao nascer podem ter dificuldade em consumir colostro suficiente, resultando em níveis mais baixos de IgG e maior suscetibilidade a infecções.
O diagnóstico clínico da causa da diarreia em leitões pode ser subjetivo e propenso a erros. Fatores como estresse, condições ambientais e outros problemas de saúde subjacentes podem ser muito semelhantes aos sintomas da diarreia. Para isso, devemos desenvolver critérios de diagnóstico mais objetivos para diarreia em leitões, como: monitorar os leitões desde o nascimento, permitindo a detecção precoce da doença, incorporar testes laboratoriais (por exemplo, consistência fecal, pH e níveis de eletrólitos), realizar necropsias e exames complementares a detecção viral ou bacteriana, como histopatologia e imuno-histoquímica.
Diagnóstico
Um diagnóstico preciso ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais. Um dos pilares para isso é a coleta adequada de amostras. Ela permite a identificação dos agentes etiológicos, avaliação da resposta imune e a monitorização da eficácia das terapias.
A escolha do tipo de amostra dependerá do agente etiológico suspeito e dos objetivos do exame. As amostras mais comuns incluem:
- Fezes: A coleta de fezes é o método mais simples e acessível. É importante coletar amostras frescas e representativas de diferentes animais do lote. Para suspeitas virais é importante coletar sempre de animais na fase aguda da doença, quando a eliminação viral é maior. Para casos de suspeita parasitária é importante associar o diagnostico com histopatologia, uma vez que a eliminação do Cystoisospora é intermitente.
- Sangue: A análise do sangue permite avaliar a resposta imune, a presença de anticorpos e detectar alterações bioquímicas.
- Conteúdo intestinal: A coleta do conteúdo intestinal é indicada para a identificação de patógenos que colonizam o intestino delgado ou grosso.
- Tecidos: A coleta de tecidos para histopatologia é parte fundamental e complementar as análises de cultivo bacteriano e detecção viral nas fazes ou conteúdo intestinal.
A coleta de amostras deve ser realizada de forma cuidadosa para evitar a contaminação e garantir a qualidade do material. Os recipientes utilizados para a coleta das amostras devem estar limpos e esterilizados para evitar a contaminação por outros microrganismos. De modo geral, é importante que as amostras sejam bem refrigeradas e nunca congeladas, uma vez que o processo de congelamento pode inviabilizar o cultivo bacteriano.
Após a coleta das amostras, diversos métodos podem ser utilizados para o diagnóstico, dentre eles cultura que possibilita a identificação e o isolamento de bactérias, PCR que detecta a presença de DNA ou RNA de vírus, bactérias com alta especificidade, sorologia para pesquisa de anticorpos contra os agentes infecciosos, indicando uma infecção prévia ou atual e a histopatologia que permite a avaliação de lesões histológicas e a identificação de agentes infecciosos em tecidos.
A histopatologia desempenha um papel crucial no diagnóstico preciso de doenças intestinais em leitões. Através da análise microscópica de tecidos, é possível identificar lesões características de diversas doenças, auxiliando na diferenciação entre condições infecciosas, inflamatórias, neoplásicas e degenerativas.
A escolha do método de coleta de amostra e do exame laboratorial dependerá do agente etiológico suspeito, da fase da doença e dos recursos disponíveis. A correta coleta e o transporte das amostras são essenciais para garantir a qualidade dos resultados.
A interpretação correta dos resultados dos exames laboratoriais é crucial para o diagnóstico preciso e o tratamento adequado da diarreia em leitões. Ela envolve a análise dos dados obtidos, a correlação com os sinais clínicos e a consideração de outros fatores, como a idade dos animais, as condições de manejo e a história epidemiológica do plantel.
Em resumo, o diagnóstico é uma ferramenta essencial no combate à diarreia em leitões de maternidade, uma vez que permite ações direcionadas e eficazes para controlar e prevenir a doença, garantindo a saúde e o bem-estar dos animais.
As referências bibliográficas estão com o autor. Contato: marketing.nutricao@agroceres.com.
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Suínos
Especialista evidencia importância de os profissionais da cadeia suinícola entenderem o que é sustentabilidade
Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção.
Na suinocultura, a sustentabilidade se tornou um dos principais desafios enfrentados pelos profissionais do setor. O médico-veterinário José Francisco Miranda, especialista em Qualidade de Alimentos, destaca que a compreensão desse conceito é fundamental para que zootecnistas e veterinários contribuam efetivamente para a produção sustentável de suínos. “É preciso entender que a sustentabilidade não é custo, mas investimento”, afirma.
Ele ressalta que, ao longo dos últimos 15 anos, a discussão sobre práticas sustentáveis esteve frequentemente atrelada a um aumento nos custos, envolvendo ações como o plantio de árvores e a adequação da dieta dos animais. “Essas práticas eram vistas como um custo, o profissional precisa desmistificar essa visão. Na verdade, boas práticas de produção estão intimamente ligadas a resultados positivos”, explica.
Para Miranda, a eficiência na conversão alimentar é um exemplo claro de como sustentabilidade e produtividade caminham juntas. “Não existe produção com alta conversão alimentar que não seja sustentável. Os números de emissões são baixos quando a eficiência é alta”, ressalta.
Um ponto destacado pelo especialista é o papel dos zootecnistas e nutricionistas na cadeia produtiva. “Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção. E cada vez mais eles terão um papel significativo na implantação da sustentabilidade dentro das empresas”, afirma.
O entendimento das análises de sustentabilidade e das tecnologias disponíveis é essencial. Miranda menciona, como exemplo, o uso de aditivos nutricionais, como a protease, que permite reduzir a quantidade de soja na ração. “Com isso, é possível diminuir a pegada de carbono em até 12%. No entanto, menos de 40% dos produtores no mundo utilizam essa tecnologia, o que revela uma falta de informação e confiança na eficácia desses produtos”, expõe.
Comunicação e conscientização
Para que as informações sobre sustentabilidade sejam disseminadas na suinocultura é fundamental que os profissionais comuniquem os benefícios dessas práticas não apenas entre si, mas também para a alta direção das empresas. “Os profissionais precisam trazer essa informação para a gestão, conscientes de que a sustentabilidade deve ser uma estratégia de crescimento, não apenas uma preocupação financeira”, destaca Miranda.
O especialista também ressalta a importância de uma colaboração entre academia, indústria e governo para facilitar a adoção de novas tecnologias. “Cada parte da cadeia produtiva deve contribuir para acelerar esse processo. É um esforço coletivo que envolve desde a produção até a comercialização”, enfatiza.
Compromisso do setor
Miranda acredita que o setor está comprometido com a adoção de práticas sustentáveis, embora reconheça a necessidade de discussão sobre o que é realmente necessário para essa transição. “As empresas entendem que a sustentabilidade traz benefícios não apenas para o planeta, mas também para sua própria lucratividade, mas é preciso acelerar a implementação destas práticas sustentáveis”, frisa,
Para se destacar neste cenário, Miranda enfatiza que os profissionais devem se aprofundar nas análises de sustentabilidade e na análise do ciclo de vida dos produtos. “Um bom profissional deve entender desde a produção do grão até o produto final que chega ao consumidor. Se ele se restringir a uma única área, pode perder de vista os benefícios que sua atuação pode trazer para toda a cadeia”, salienta.
A visão do especialista reforça que a sustentabilidade na suinocultura não é uma tendência passageira, mas uma necessidade imediata. “A adoção de práticas sustentáveis, aliada ao conhecimento técnico e científico, é fundamental para garantir um futuro mais responsável e eficiente para a indústria suinícola”, afirma.
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Suínos
Suinocultura teve ano de recuperação, mas cenário é de cautela
Conjuntura foi apresentada ao longo de reunião da Comissão Técnica de Suinocultura da Faep. Encontro também abordou segurança do trabalho em granjas de suínos.
Depois de dois anos difíceis, a suinocultura paranaense iniciou um período de recuperação em 2024. As perspectivas para o fim deste ano são positivas, mas os primeiros meses de 2025 vão exigir cautela dos produtores rurais, que devem ficar de olho em alguns pontos críticos. O cenário foi apresentado em reunião da Comissão Técnica (CT) de Suinocultura do Sistema Faep, realizada na última terça-feira (19). Os apontamentos foram feitos em palestra proferida por Rafael Ribeiro de Lima Filho, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A mesma conjuntura consta do levantamento de custos de produção do Sistema Faep, que será publicado nos próximos dias.
O setor começou a se recuperar já em janeiro deste ano, com a retomada dos preços. Até novembro, o preço do suíno vivo no Paraná acumulou aumento de 54,4%, com a valorização se acentuando a partir de março. No atacado, o preço da carcaça especial também seguiu esse movimento. A recomposição ajudou o produtor a se refazer de um período em que a atividade trabalhou no vermelho.
Por outro lado, a valorização da carne suína também serve de alerta. Com o aumento de preços, os produtos da suinocultura perdem competitividade, principalmente em relação à carne de frango, que teve alta bem menor ao longo ano: o preço subiu 7,7%, entre janeiro e novembro. Com isso, a tendência é que o frango possa ganhar a preferência do consumidor, em razão dos preços mais vantajosos.
“Temos que nos atentar com a competitividade da carne suína em relação a outras proteínas. Com seus preços subindo bem menos, o frango se tornou mais competitividade. Isso é um ponto de atenção para a suinocultura, neste cenário”, assinalou Lima Filho.
Exportações
Com 381,6 mil matrizes, o Paraná mantém 18% do rebanho brasileiro de suínos. A produção nacional está em estabilidade nos últimos três anos, mas houve uma mudança no portifólio de exportações paranaenses. Com a recomposição de seus rebanhos, a China reduziu as importações de suínos. O país asiático – que chegou a ser o destino de 40% das vendas externas paranaenses em 2019 – vai fechar 2024 com a aquisição de 17% das exportações de suínos do Paraná.
Em contrapartida, os embarques para as Filipinas aumentaram e já respondem por 18% das vendas externas de carne suína do Estado. Entre os destinos crescentes, também aparece o Chile, como destino de 9% das exportações de produtos da suinocultura paranaense. Nesse cenário, o Paraná deve fechar o ano com um aumento de 9% no volume exportado em relação a 2023, atingindo 978 mil toneladas. Os preços, em compensação, estão 2,3% menores. “Apesar disso, as margens de preço começaram a melhorar no segundo semestre”, observou Lima Filho.
Perspectivas
Diante deste cenário, as perspectivas são positivas para este final de ano. O assessor técnico da CNA destaca fatores positivos, como o recebimento do 13º salário pelos trabalhadores, o período de férias e as festas de final de ano. Segundo Lima Filho, tudo isso provoca o aquecimento da economia e tende a aumentar o consumo de carne suína. “A demanda interna aquecida e as exportações em bons volumes devem manter os preços do suíno vivo e da carne sustentados no final deste ano, mantendo um momento positivo para o produtor”, observou o palestrante.
Para 2025, se espera um tímido crescimento de 1,2% no rebanho de suínos, com produção aumentando em 1,6%. As exportações devem crescer 3%, segundo as projeções. Apesar disso, por questões sazonais, os produtores podem esperar uma redução de consumo nos dois primeiros meses de 2025. “É um período em que as pessoas tendem a ter mais contas para pagar, como alguns impostos. Além disso, a maior concorrência da carne de frango pode impactar a demanda doméstica”, disse Lima Filho.
Além disso, o aumento nos preços registrados neste ano pode estimular o alojamento de suínos em 2025. Com isso, pode haver uma futura pressão nos preços nas granjas e nas indústrias. Ou seja, o produtor deve ficar de olho no possível aumento dos custos de produção, puxado principalmente pelo preço do milho, da mão de obra e da energia elétrica. “O cenário continua positivo para a exportação, mas o cenário para o ano que vem é de cautela. O produtor deve se planejar e traçar suas estratégias para essa conjuntura”, apontou o assessor da CNA.
Segurança do trabalho
Além disso, a reunião da CT de Suinocultura da FAEP também contou com uma palestra sobre segurança do trabalho em granjas de suínos. O engenheiro e segurança do trabalho e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sandro Andrioli Bittencourt, abordou as Normas Regulamentadoras (NRs) que visam prevenir acidentes de trabalho e garantir a segurança e o bem-estar dos trabalhadores.
Entre as normativas detalhadas na apresentação estão a NR-31 (que estabelece as regras de segurança do trabalho no setor agropecuário), a NR-33 (que diz respeito aos espaços confinados, como silos, túneis e moegas) e a NR-35 (que versa sobre trabalho em altura). Em seu catálogo de cursos, o Sistema Faep dispõe de capacitações para cada uma dessas regulamentações.