Suínos Setor amarga uma de suas piores crises
Suinocultores independentes de Santa Catarina já pensam em migrar para modelo integrado
Maior produtor e exportador de carne suína do país, Santa Catarina possui 500 propriedades autônomas, que juntas contam com cerca de 75 mil matrizes de ciclo completo, aquelas sem vínculos com cooperativas e empresas integradoras. Esses produtores independentes estão acumulando seguidas perdas desde o primeiro trimestre do ano passado.

A suinocultura brasileira vive em dois extremos. Depois de encerrar o ano de 2021 batendo recorde em produção, exportação e consumo, o setor nacional suinícola independente amarga uma das piores crises financeiras da atividade.

Presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio de Lorenzi: “Ninguém mais sustenta uma atividade pagando caro para trabalhar”
Maior produtor e exportador de carne suína do país, Santa Catarina possui 500 propriedades autônomas, que juntas contam com cerca de 75 mil matrizes de ciclo completo, aquelas sem vínculos com cooperativas e empresas integradoras. Esses produtores independentes estão acumulando seguidas perdas desde o primeiro trimestre do ano passado. Sem saída, afirma o presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio de Lorenzi, muitos já falam em abandonar a criação de animais ou migrar para o sistema integrado. De acordo com ele, pelo menos 5% desses 500 produtores já decidiram optar pelo modelo integrado.
Ao longo do ano passado, o preço do suíno começou a baixar e o cenário foi se agravando mês a mês, fazendo com que o produtor catarinense perdesse por suíno entregue de 100 kg o valor de R$ 110 por animal. “Tal situação só tem piorado desde o início de 2022, porque os produtores independentes estão comercializando o suíno a R$ 4,50 o quilo com o custo de produção na casa dos R$ 8. Isso significa um prejuízo de R$ 350 por animal comercializado”, menciona o presidente da ACCS.
E para piorar ainda mais o cenário, as duas últimas safras de milho e de soja foram afetadas pela estiagem e depois pela geada, gerando grandes perdas no campo não apenas no Brasil, mas também em países vizinhos como a Argentina e o Paraguai, de onde o país importa grãos. A quebra nas safras fez com que o milho ficasse escasso no mercado e com o preço muito elevado, impactando de forma estrondosa no custo de produção. “Para se ter uma ideia do tamanho do prejuízo, em 2020 comprávamos com um quilo de suíno 5,1 quilos de milho. Em 2021, esse volume caiu para 4,07 quilos e agora a relação de troca está em 2,540 quilos”, relata Lorenzi, ampliando: “Ninguém mais sustenta uma atividade pagando caro para trabalhar. O pior de tudo é não vermos a curto e médio prazo uma solução para este grave problema porque a produção continua em expansão no campo”.
Medidas emergenciais
Junto com demais representantes da suinocultura brasileira, Lorenzi participou recentemente de uma reunião com a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, para solicitar medidas emergenciais afim de minimizar os efeitos causados pelo alto custo de produção e baixos preços pagos aos suinocultores. Entre elas a manutenção da isenção das alíquotas de contribuição incidentes na importação do milho (PIS/Cofins) até dezembro de 2022, a reativação da linha de crédito de custeio, direcionada para a retenção de matrizes suínas, concessão de limite de crédito de R$ 2,5 milhões por beneficiário e a prorrogação do prazo de pagamento dos custeios pecuários em um ano conforme Manual de Crédito Rural.
Milho balcão
“Também solicitamos para que fosse disponibilizado mais milho balcão através da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para os produtores e que não fosse exigido DAP (Declaração de Aptidão ao Pronaf), no entanto nos
disseram que isso (o governo) não tem condições de fazer, que somente vai ser atendido milho balcão para os produtores com DAP e isso é preocupante, porque praticamente todos os produtores catarinenses não se enquadram mais neste sistema pela movimentação financeira que têm dentro da propriedade rural”, salienta Lorenzi, lembrando que quanto mais alta a movimentação, maiores os prejuízos.
De acordo com o presidente da ACCS, Santa Catarina dispõe atualmente de duas mil toneladas de milho balcão e onze mil toneladas para transferir ao Estado. “Volume que não se sabe quando estará disponível no Estado pela burocracia que temos para trazer o grão pra cá”.
Crise sem precedentes
Essa é uma das piores crises da história do setor suinícola independente, em que os produtores estão gastando o dobro do que estão recebendo e já não têm recursos financeiros para arcar com os custos de produção. “Não estamos aqui para achar culpados, embora a gente saiba que houve um crescimento desordenado da produção. Nós, enquanto Associação Catarinense de Criadores de Suínos, há dois anos e meio vínhamos falando que apesar do problema que estava na China não se deveria crescer em demasia, porque o mundo inteiro estava crescendo para exportar para o mercado chinês. Agora estamos com esse problema grave que afeta todos os suinocultores brasileiros”, expõe.
Entre 5% a 7% dos suinocultores catarinenses estão migrando para a integração, segundo Lorenzi, que ainda adianta que em torno de cinco mil matrizes estão sendo abatidas em uma tentativa de reduzir a produção em Santa Catarina. “Não vejo um caminho ou uma direção que nos apresente uma solução clara neste momento, a não ser que haja uma ação bem estruturada entre a cadeia produtiva, as agroindústrias, os setores varejistas e os governos estaduais e federal para ultrapassarmos e superarmos essa crise que já apresenta prejuízos imensuráveis ao setor”, pontua.
União de esforços
Lorenzi faz um apelo para que todas as entidades estaduais e nacionais da categoria junto com as cooperativas e agroindústrias unam esforços para que juntos possam buscar uma solução para essa grave crise no setor suinícola. “Que possamos nos fortalecer cada vez mais para buscarmos uma saída para esse tempo de crise, porque não dá mais para suportar como está. Os períodos de seca estão cada vez mais longos e estão afetando severamente as lavouras de grãos, o que tem ocasionado aumento dos custos de produção, porque o milho e a soja têm subido semanalmente e muitos produtores já estão abandonando a atividade, outros estão sendo abandonados por mini integradoras, por cooperativas, por indústrias, porque os pequenos produtores não têm mais sustentabilidade no meio rural”, lamenta, acrescentando: “Pra gente parar com esse abandono da atividade vamos ter que nos unir para em conjunto encontrarmos uma saída, uma solução”.

Suínos
Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura
Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.
O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.
As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.
Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.
Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.
Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.
Suínos
Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças
Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.
Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.
No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.
Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.
Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.
Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.



