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Substitutos de antibióticos, ciência mira resistência microbiana a óleos essenciais e ácidos orgânicos

O Presente Rural entrevistou com exclusividade o PhD Michel Magnin, que veio ao Brasil para fazer duas palestras dirigidas a médicos veterinários e outros profissionais

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O Presente Rural entrevistou com exclusividade o PhD Michel Magnin, que veio ao Brasil para fazer duas palestras dirigidas a médicos veterinários e outros profissionais ligados ao setor de avicultura. O pesquisador falou sobre a substituição de antibióticos por extratos de plantas, óleos essenciais e ácidos orgânicos na produção avícola, sem perdas de desempenho.

Em 29 de março, a palestra aconteceu em Viçosa, MG. O outro encontro integrou a programação do Simpósio Brasil Sul de Avicultura, que aconteceu de 04 a 06 de abril, em Chapecó, SC.

Para ele, a questão a ser abordada nem é mais a preocupação com a resistência aos antibióticos, mas como antecipar e prevenir o desenvolvimento de micróbios resistentes a óleos essenciais ou ácidos orgânicos. De acordo com ele, essas substâncias podem ser usadas como promotores de crescimento e como prevenção, mas, salvo raros casos, as aplicações terapêuticas de antibióticos não podem ser substituídas pelo uso extratos de plantas ou ácidos orgânicos.

O Presente Rural (OP Rural) – Porque reduzir o uso de antimicrobianos na avicultura?

Michel Magnin (MM) – Os antimicrobianos são utilizados em animais de produção para tratar doenças clínicas, prevenir eventos de doença e melhorar o desempenho animal. Inclui a prevenção da coccidiose, uma doença parasitária que causa perdas econômicas significativas, que é principalmente controlada por moléculas ionóforas.

As moléculas de antibióticos utilizadas para estas aplicações em animais podem ser iguais ou podem pertencer à mesma família de produtos utilizados para tratar doenças humanas. É bem conhecido que algumas bactérias patogênicas, como algumas cepas de Salmonella ou Staphylococcus, são multirresistentes a antibióticos e é essencial, como poucas moléculas ativas novas são realmente descobertas, preservar a possibilidade de tratar estas patologias. A resistência aos antibióticos pode ser transmitida facilmente de uma bactéria para outra, especialmente entre as populações de microrganismos do trato digestivo. Essa resistência pode ser motivo de preocupação para uma molécula, mas geralmente é observada resistência cruzada com outras moléculas da mesma família. O risco identificado desde há muito tempo é que o uso intensivo de um antibiótico em animais de produção pode selecionar mecanismos de resistência em bactérias e que o material genético responsável pela resistência pode ser transmitido a bactérias causadoras de doenças em humanos.

O uso de antibióticos como promotores de crescimento (PCAs) foi identificado na União Europeia (UE) como um risco importante e, após a eliminação de várias moléculas, a proibição final e global ocorreu em 2006. Mais recentemente, o uso de antibióticos de forma profilática também foi declarado como um fator de risco. Instituições governamentais, e também professores em Medicina e grupos de consumidores, pediram a redução do uso global de antibióticos em animais (não apenas animais de produção, mas também, animais de estimação) e diferentes planos oficiais foram propostos. Depois da UE, muitos países do mundo, devido, principalmente, à pressão dos consumidores e das empresas agroalimentares, fizeram o mesmo.

OP Rural – Quais as mudanças que isso acarreta na produção de frango?

MM – É necessário distinguir o uso para promoção do crescimento (PCAs) e aquele para prevenção/ controle de doenças. A perda de desempenho devida diretamente à eliminação de PCAs dos alimentos para aves é estimada em cerca de -2 a 3% do ganho de peso e o mesmo para a eficiência alimentar. Os impactos indiretos devem ser considerados: por exemplo, a mortalidade pode aumentar e algumas patologias digestivas, como enterite necrótica, mais ou menos controladas por PCAs, podem prejudicar o desempenho dos lotes. Uma solução para o controle da enterite necrótica é usar algumas moléculas anticoccidianas ionóforas, desde que elas não sejam proibidas.

No que diz respeito às aplicações terapêuticas e profiláticas, a redução dos antibióticos deve ser compensada por uma gestão melhorada da produção, incluindo a proteção das instalações contra animais silvestres, aves, roedores e insetos; regras de higiene, e de visitação controlada, qualidade dos pintos; preparo para o recebimento do lote; qualidade da cama, ar e água; composição da ração.

OP Rural – O que são extratos de plantas, óleos essenciais e ácidos orgânicos?

MM – "Extratos de plantas" são um mundo genérico de muitos produtos muito diferentes. É bem conhecido na medicina humana que muitas plantas são úteis devido às suas propriedades palatabilizantes, anti-inflamatórias, antimicrobianas e antiparasitárias. Os ingredientes ativos podem estar presentes em folhas, raízes, cascas, flores. O uso dos extratos pode começar com a utilização destas partes de plantas, quer após secagem e moagem, quer após extração em água ou álcool.

Os óleos essenciais são extratos específicos de plantas em que os compostos ativos são extraídos da planta, geralmente, pelo vapor, às vezes pela pressão. Em todos os casos, é importante identificar e caracterizar as moléculas ativas ou combinações de moléculas que são responsáveis ??pelos efeitos. Como a composição química das plantas pode variar muito dependendo das condições de cultura, pode ser mais fácil sintetizar as moléculas ativas, para garantir a atividade e as doses.

Os ácidos orgânicos são uma família muito grande de compostos naturalmente produzidos por plantas (ácido cítrico), insetos (ácido fórmico), bactérias (ácido láctico), processos de fermentação (ácido acético, ácido butírico), digestão ruminal (ácido propiônico)… Todos têm propriedades antimicrobianas mais ou menos contra fungos ou bactérias, ou ambos. Para aplicações em alimentação humana e animal, eles são, geralmente, obtidos por síntese.

OP Rural – Como agem os extratos de plantas?

MM – Os extratos vegetais são utilizados por suas principais propriedades: palatabilizante, anti-inflamatório, antimicrobiano. Dependendo do país, o uso de material vegetal e extratos de plantas em alimentos para animais é frequentemente limitada e as listas positivas, ou GRAS (Generally Recognized As Safe), devem ser verificadas.

Palatabilizante significa que podem estimular a ingestão das aves, mas também as secreções endógenas digestivas, enzimáticas (por exemplo, do pâncreas); maior ingestão de alimentos e melhor digestão proporcionam maior ganho de peso.

As propriedades anti-inflamatórias dos extratos vegetais permitem limitar os efeitos negativos observados no epitélio intestinal e devido a alguns compostos contidos nas matérias primas para alimentação animal ou produzidos durante a digestão dos alimentos, ou à interação direta entre a microbiota e o intestino.

Estes dois efeitos não são obtidos diretamente com PCAs; mas, provavelmente, como consequência da pressão sobre as bactérias intestinais, a melhor utilização dos nutrientes é observada de forma semelhante com os antibióticos.

Os efeitos antimicrobianos são obviamente muito importantes para a identificação e escolha de candidatos para a substituição de PCAs. Dessa forma, muitos extratos vegetais foram identificados como possíveis soluções. As dificuldades têm a ver com a presença, a quantificação, a estabilidade dos compostos ativos. Para reproduzir os efeitos, é melhor usar extratos purificados ou moléculas idênticas às naturais.

Reconhece-se que os PCAs funcionam em cerca de 70% dos ensaios experimentais; em outros casos, a pressão ambiental/sanitária é muito elevada ou muito baixa para permitir que os efeitos sejam observados.  Parece que a situação é quase a mesma com extratos de plantas.

A má qualidade dos alimentos, a má gestão das produções, a elevada pressão sanitária não podem ser corrigidas pelo simples uso de extratos de plantas, não mais do que com os PCA.

Os extratos de plantas podem ajudar em uma ação profilática se forem introduzidos na alimentação de aves logo no início. Eles não podem por si só evitar que as aves tenham todas as doenças digestivas, doenças respiratórias ou outras. A gestão da produção e a higiene das instalações são essenciais nesses casos.

Por último, é possível, por vezes, tratar doenças bacterianas em animais com extratos de plantas, mas geralmente antibióticos permanecem a solução mais tecnicamente e economicamente eficiente.

OP Rural – Como os óleos essenciais podem ser usados na substituição dos antimicrobianos na avicultura?

MM – Óleos essenciais são extratos específicos de plantas; tudo o que está escrito acima sobre extratos de plantas é verdade para óleos essenciais.

As diferenças estão no modo de extração e também na possibilidade de identificar, concentrar ou de sintetizar as moléculas dos ingredientes ativos. Os extratos de plantas podem ser obtidos sob a forma de pó, resina ou líquido; óleos essenciais são produtos líquidos, altamente voláteis. Eles precisam ser colocados em transportadores adequados ou encapsulados para um fácil manuseio e uma boa estabilidade ao longo dos processos de produção de rações.

Claramente alguns compostos de óleos essenciais são agentes antimicrobianos fortes e também antioxidantes. Eles podem interagir com a membrana das bactérias, entrar na célula e modificar o metabolismo celular; finalmente, as bactérias morrem. Eles também podem facilitar a penetração de outras moléculas, como ácidos orgânicos, e melhorar, dessa forma, o efeito antimicrobiano desses produtos. Um dos interesses nos óleos essenciais é que eles são ativos tanto em bactérias gram-negativas (i.e. E. coli, Salmonella, Campylobacter …) como gram-positivas (isto é, Clostridium).

OP Rural – Como os ácidos orgânicos agem?

MM – Ácidos orgânicos agem através de dois principais mecanismos. Em primeiro lugar, a acidificação tem efeitos positivos sobre o desempenho e a saúde das aves. É útil estimular a colonização do papo por bactérias de ácido láctico nos pintinhos e limitar a entrada de E. coli no trato digestivo. No proventrículo e na moela, a ativação de enzimas proteolíticas é estimulada por condições ácidas; proteínas são digeridas melhor e menos nutrientes ficam disponíveis para bactérias como Clostridium se desenvolver.

Em segundo lugar, os ácidos orgânicos são compostos antimicrobianos e alguns deles (ácido fórmico, ácido benzóico) são muito eficazes contra E. coli ou Salmonella. Dependendo das condições do intestino do pH, os ácidos orgânicos podem ser dissociados (o próton é separado da molécula) ou não. Quando o pH é superior a 5/6 (o valor depende do tipo de ácido) a molécula é essencialmente dissociada e o efeito antimicrobiano é limitado a um efeito bacteriostático; isso significa que o crescimento de bactérias é reduzido porque a membrana celular perde sua integridade. Quando o pH é inferior a molécula não dissociada é capaz de entrar na célula de bactérias e de prejudicar a síntese celular; finalmente a bactéria morre – é o efeito bactericida.

OP Rural – Como é feita a administração?

MM – Para ácidos orgânicos, geralmente são necessárias doses relativamente elevadas (0,5 – 1%) para obter os efeitos antimicrobianos; é o primeiro limitante para o uso de ácidos orgânicos, pois estes produtos são muitas vezes corrosivos e também podem prejudicar a palatabilidade para os animais. Sais de sódio ou de cálcio podem ser solução para um manuseio mais fácil, mas seu efeito antibacteriano é dividido por 10 a 20 vezes. Uma solução eficaz é encapsular o ácido numa matriz de revestimento que impede qualquer efeito sobre as pessoas responsáveis ??pela manipulação dos ácidos. É também uma maneira de veicular a forma não dissociada ativa diretamente até a parte do intestino onde estamos esperando o efeito; o que é chamado de "targeting". A encapsulação impede a dissociação dos ácidos orgânicos, o que permite a utilização de doses mais baixas.

Os ácidos orgânicos podem ser utilizados na alimentação, mas também através da administração na água, dado que a maior parte deles é dispersível em água. Tratamentos sequenciais em água são interessantes para controlar a qualidade da cama; porém, não substitui o uso de ácidos orgânicos na ração para a melhoria do desempenho.

Os óleos essenciais são voláteis e muitas vezes sensíveis à oxidação. Como eles são líquidos, a primeira operação é absorver os óleos em um veículo e estabilizá-los com antioxidantes, se necessário. Para uma melhor proteção e um melhor efeito, como para ácidos orgânicos, óleos essenciais ou moléculas idênticas às naturais são encapsulados, geralmente com uma gordura vegetal. Devido à baixa taxa de incorporação final (menos de 100 g/T), os óleos essenciais encapsulados são pré misturados com um ou vários veículos antes da incorporação na ração.

OP Rural – Como fazer essa substituição sem perda de desempenho?

MM – A possível substituição de PCAs por combinações de óleos essenciais / ácidos orgânicos é hoje bem demonstrada e aplicada em muitos países, não apenas na UE. Geralmente – mas também devido à evolução da genética e do nível de desempenho dos frangos – esta alteração foi acompanhada com uma melhoria da gestão da produção global da cadeia (dos criadores ao abate).

OP Rural – A resistência aos antimicrobianos preocupa a cadeia avícola?

MM – Todas as cadeias de produção animal estão preocupadas com a resistência antimicrobiana, não só através do consumo de alimentos contaminados, mas também nas fazendas com a contaminação dos produtores com bactérias resistentes provenientes dos animais, ou através da propagação de lixo ou estrume.

Em um passado recente, foi considerado que nenhuma bactéria poderia ser resistente à colistina. Hoje está claramente estabelecido que existem estirpes de E. coli resistentes a colistina. A questão não é "a resistência aos antibióticos é uma preocupação", mas "como antecipar e prevenir o desenvolvimento de micróbios resistentes a óleos essenciais ou ácidos orgânicos".

OP Rural – Até que ponto a indústria química tem dirigido esforços para fazer a substituição aos antimicrobianos?

MM – Eu não posso falar sobre o desenvolvimento/descoberta de novo antibiótico ou composto antimicrobiano novo como eu não tenho conhecimento sobre isso. A indústria de aditivos alimentares começou a trabalhar na reposição de antibióticos (PCAs) há mais de 20 anos e ainda mais se considerarmos o uso de probióticos (microrganismos vivos usados para melhorar a saúde intestinal). Soluções eficazes são identificadas há mais de 10 anos, mas a síntese, as formulações físico-químicas são muitas vezes desenvolvimentos mais recentes. Hoje, o foco é realmente como aumentar o efeito das chamadas alternativas antibióticas, reduzindo as doses e melhorar o direcionamento para o trato digestivo.

Um monte de pesquisa também é feito sobre os efeitos imunomoduladores de extratos de plantas e outros compostos como células de levedura, quitosanas… O futuro terá muitas alternativas e o desempenho dos animais será estimulado.

OP Rural – A substituição por óleos, essências e ácidos pode tornar a cadeia avícola mais segura?

MM – Quando são aplicadas boas práticas no uso de antibióticos, os resíduos não são motivo de preocupação. O problema é a seleção de cepas multirresistentes de bactérias patogênicas para humanos. Dessa forma, a substituição por óleos, essências e ácidos torna a cadeia avícola mais segura. O interessante também é que esses produtos, especialmente quando combinados, são melhores ferramentas para combater Salmonella e Campylobacter, dois agentes principais responsáveis por toxinfecções nos consumidores; como o PCAs foram mais efetivos agindo em bactérias gram-positivas, eles não controlam bem estes patógenos.

OP Rural – Há situações em que não há como fazer a substituição dos antimicrobianos? Se sim, quais?

MM – Claramente, as aplicações terapêuticas de antibióticos não podem ser substituídas pelo uso extratos de plantas ou ácidos orgânicos, ou apenas em poucos casos. Porém, o uso profilático pode ser substituído, se o manejo e a higiene aplicados nas produções forem melhorados.

Mais informações você encontra na edição de Aves de abril/maio de 2017 ou online.

Fonte: O Presente Rural

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Avicultura

No Dia Mundial do Frango, foco setorial se concentra na garantia de abastecimento

Além da segurança alimentar, setor detém importante papel socioeconômico no Brasil.

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Foto: Shutterstock

Hoje, 10 de maio, é o Dia Mundial do Frango, data criada pelo Conselho Internacional da Avicultura (IPC, sigla em inglês) para celebrar a cadeia produtiva e estimular o consumo de uma das mais importantes e versáteis proteínas animais do mundo.

Neste ano, a avicultura do Brasil abordará uma perspectiva diferente dos anos anteriores. A celebração deste ano exaltará a importância desta proteína para a garantia de segurança alimentar e para o desenvolvimento econômico e social do Brasil.

Em toda a cadeia produtiva, são 3,5 milhões de empregos diretos e indiretos. Apenas nas fábricas são mais de 300 mil postos de trabalho de um setor com Valor Bruto de Produção superior a R$ 90 bilhões.

É uma enorme força de trabalho que produziu no ano passado 14,8 milhões de toneladas em território brasileiro – desde 2013, o Brasil adicionou cerca de 2,5 milhões de toneladas em sua produção.

Quase 35% disto é direcionado a mais de 150 países nos cinco continentes – capilaridade que proporcionou ao Brasil a liderança mundial nas exportações da proteína, sendo responsável por 38% do total do comércio internacional. Para fins de comparação, as agroindústrias brasileiras exportaram no último ano mais que as vendas internacionais de Estados Unidos e União Europeia – segundo e terceiro maiores, respectivamente – somadas, e é maior do que toda a produção da Rússia (quinto maior produtor global da proteína). São embarques que geram receitas próximas a US$ 10 bilhões (dados de 2023).

O impacto econômico e social da carne de frango para o Brasil não está apenas nos dados macroeconômicos. O peso social individualizado da proteína se vê em seu consumo per capita. Cada brasileiro consome, em média, 45 quilos da proteína – índice alcançado em 2020 e que se mantém desde então. É, de longe, a proteína animal mais consumida pelo brasileiro.

São números que mostram a relevância e a missão deste setor com o Brasil – para onde é destinada 65,3% de toda a produção nacional. “Nossa cadeia produtiva é continental, e tem papel determinante nos hábitos, na economia e na cultura gastronômica de Norte a Sul. Do campo às fábricas, são bilhões em investimentos em tecnologia de ponta para garantir a qualidade e a sanidade dos produtos, com maior produtividade. É um dos alicerces alimentares do País, e pilar econômico de diversas regiões. Neste dia, celebramos um setor resiliente, que cumpre seu papel e que seguirá atuando para que não falte o acesso a este alimento de alta qualidade para as famílias de todo o país”, avalia o presidente da ABPA, Ricardo Santin.

Fonte: Assessoria ABPA
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Avicultura

Especialista aponta umidade e profundidade da cama como fatores críticos ao desenvolvimento das aves

Ao garantir um ambiente saudável e confortável para as aves, bem como a qualidade do produto final, os produtores não apenas protegem sua própria operação, mas também contribuem para a segurança alimentar e a sustentabilidade do setor como um todo.

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Fotos: Shutterstock

O manejo adequado da cama de frangos de corte é uma peça fundamental no quebra-cabeça da produção avícola. Ao garantir um ambiente saudável e confortável para as aves, bem como a qualidade do produto final, os produtores não apenas protegem sua própria operação, mas também contribuem para a segurança alimentar e a sustentabilidade do setor como um todo.

Bacharel em Ciência Animal, mestre em Nutrição de Aves e doutora em Gestão Ambiental de Aves, Connie Mou: “Não há um sistema de gestão único que funcione para todos, pois ele varia de acordo com as necessidades de produção, recursos disponíveis, mão de obra e equipamentos” – Foto: Arquivo pessoal

A bacharel em Ciência Animal, mestre em Nutrição de Aves e doutora em Gestão Ambiental de Aves, Connie Mou, elenca que o manejo correto da cama visa garantir um ambiente propício para o desenvolvimento saudável das aves. “Para alcançar esse objetivo é essencial gerenciar e manter as propriedades benéficas da cama, como absorção, evaporação, isolamento e amortecimento, com foco especial em conservar a umidade entre 20 e 25%”, ressalta Connie. Ela vai tratar deste assunto no 24º Simpósio Brasil Sul de Avicultura (SBSA), que acontece entre os dias 09 e 11 de abril, no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes, em Chapecó, SC.

Controlar a umidade da cama é fundamental para prevenir o crescimento de microrganismos patogênicos e garantir a saúde das aves. Uma cama bem manejada também proporciona um ambiente confortável para as aves se movimentarem, descansarem e se alimentarem, contribuindo assim para o bem-estar animal e o desempenho produtivo. Além disso, o manejo correto da cama pode ter benefícios ambientais, como a compostagem do material usado, que pode ser reaproveitado como fertilizante orgânico, contribuindo para a sustentabilidade da operação avícola.

Qualidade da cama

A qualidade da cama é de extrema importância no desempenho das aves e na saúde intestinal. A especialista em avicultura, ressalta que se a cama for mal gerida, pode se tornar um ambiente ideal para o desenvolvimento de agentes patogênicos nocivos, que podem acabar afetando as aves e provocando doenças. “Níveis excessivos de umidade na cama podem contribuir para o desenvolvimento de lesões nas patas das aves. Além disso, a cama desempenha um papel importante na produção de amônia, se não for cuidadosamente gerenciada, pode levar a níveis elevados de amônia no ambiente, o que foi demonstrado em pesquisas como prejudicial ao sistema respiratório das aves, impactando a função do sistema imunológico, podendo também aumentar o risco de proliferação de bactérias oportunistas.

Vários fatores podem influenciar a umidade da cama, incluindo o uso de água pelas aves, a densidade e as taxas de ventilação. De acordo com a doutora em Gestão Ambiental de Aves, a melhor maneira de abordar o manejo da cama é monitorar a umidade relativa do aviário constantemente e manter um registro histórico de qual é a umidade relativa do ar no aviário ao longo da vida do lote, entre lotes, para entender quão bem está sendo feito o trabalho dentro do aviário, a fim de garantir um equilíbrio adequado de umidade.

Connie diz que nos Estados Unidos aprendeu-se ao longo dos últimos 20 anos que o sucesso da gestão da cama é fortemente influenciado pela educação do produtor. “Existem diversos sistemas de gestão disponíveis para manejo das camas, porém, o sucesso deles depende da capacitação adequada dos produtores. Não há um sistema único que funcione para todos, pois ele varia de acordo com as necessidades de produção, recursos disponíveis, mão de obra e equipamentos”, salienta.

Quanto aos sinais de que a cama precisa ser renovada, a especialista conta que nos Estados Unidos a troca acontece quando começa a aparecer areia na cama ou quando se torna muito profunda. “Um sistema não precisa de uma cama com mais de seis polegadas, cerca de 15 cm de profundidade, pois uma cama mais profunda pode dificultar o gerenciamento da amônia e da umidade”, aponta.

Quanto ao reaproveitamento da cama, quando gerenciado corretamente, pode ser mais benéfico do que prejudicial. Isso ocorre porque a cama reutilizada já possui uma população microbiana estabelecida, o que pode acelerar o desenvolvimento da imunidade das aves. “Já em camas novas é muito mais imprevisível quais microrganismos irão povoar as aves desse alojamento, o que pode impactar o desenvolvimento do sistema imunológico dos frangos”, expõe.

Ventilação

Quanto ao manejo adequado da ventilação, seu impacto na qualidade da cama e na saúde das aves é significativo. O objetivo principal da ventilação é remover a umidade gerada pelas aves, o que está diretamente ligado à qualidade da cama e à saúde das aves. “Sem um programa de ventilação adequadamente executado, nunca será possível alcançar uma boa qualidade da cama e, consequentemente, uma boa saúde das aves. Portanto, o manejo adequado da ventilação é essencial para garantir um ambiente saudável e higiênico para as aves durante todo o ciclo de produção”, frisa a mestre em Nutrição de Aves.

Preparação do alojamento

Para garantir um ambiente saudável para as aves, as melhores práticas para a preparação inicial do alojamento antes da chegada dos pintinhos incluem o gerenciamento dos níveis de umidade, mantendo-os abaixo de 20%, e garantindo uma profundidade adequada da cama para acompanhar a deposição de umidade das aves. “É importante observar a aparência da cama, pois se ela ficar muito fina, há maior chance de níveis mais elevados de amônia. Se não houver opção de tratamento de cama para reduzir a amônia no início do lote, torna-se ainda mais crítico gerenciar”, salienta a bacharel em Ciência Animal.

Controle da proliferação de patógenos na cama

Em relação ao controle da proliferação de patógenos na cama, como Salmonella e Escherichia coli, é importante entender que nunca será possível controlar totalmente esses microrganismos, mas apenas gerenciá-los. “A área do microbioma nos aviários ainda é muito mal compreendida, e há muito a ser aprendido sobre como esses organismos interagem. No entanto, uma estratégia eficaz é gerenciar a umidade da cama, pois a água é um dos principais fatores que esses microrganismos precisam para sobreviver”, expõe Connie, acrescentando: “Mantendo a cama o mais seca possível e pelo maior tempo possível, podemos reduzir as chances de crescimento desses patógenos a níveis que impactariam negativamente nossas aves”.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse a versão digital de Avicultura de Corte e Postura clicando aqui. Boa leitura

Fonte: O Presente Rural
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Avicultura ARTIGO

Será que o Brasil sabe a dimensão do desastre no Rio Grande do Sul?

Você está fazendo tudo o que pode mesmo? Quem sabe você pode ajudar só um pouquinho mais

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Fotos : divulgação Governo do Estado

O Estado do RS acabou. Da forma como a gente o conhecia, ele não existe mais. Nos resta rezar a Deus e torcer para que o Brasil e o mundo nos ajude a enterrar nossos mortos e a reconstruir um pouco do que foi devastado pelas águas – e ainda vai ser devastado, pois vem mais ciclone por aí. Quem sabe, em meio ao caos, no fundo do poço, a gente encontre uma força que nem a gente saiba que tem, algo como o Japão que se reconstrói em tempo recorde após os terremotos. ou como a Flórida, que enfrenta dezenas de furacões anuais e continua em pé!
Talvez estas palavras iniciais sejam fortes, Mas, talvez a maioria das pessoas de outras regiões do Brasil não tenha se dado conta do tamanho da tragédia. Ela é muito pior do que você vê na TV ou nos vídeos de WhatsApp! Muito, mas muito pior! É como se todo mundo desta região aqui perdesse sua casa, se enchesse tudo isso de água, por dias e mais dias, fechando estradas, escolas, lar de idosos, empresas… tudo!

Você já parou para pensar!? Então, você vai ajudar mais!?

 

Muitos não ajudam pelo medo do julgamento alheio

Por outro lado, felizmente muitas regiões do país estão ajudando, botando a mão na massa, salvando pessoas.

Cito aqui o exemplo do Pablo Marçal, que vai e volta quase todo dia a São Paulo e salvou mais gente da água do que eu e você juntos – sem contar que deu uma aula em poucos minutos ali no centro de distribuição de doações. Eu estive lá em Hamburgo Velho e agradeci a Deus por estar do lado de cá dos gradis, que separavam a fila gigantesca para buscar donativos, das pessoas que foram doar ou tomar uma dose de coragem para ajudar mais!

O Marçal poderia estar torrando o dinheiro em Dubai, mas estava em cima de uma empilhadeira, no meio da rua, discursando para arrebanhar pessoas para ajudar daqui pra frente, pois talvez o pior esteja daqui pra frente, acredite! Você não precisa gostar dele, não precisa gostar da Globo, mas toda ajuda é muito bem-vinda! E, ao citar o Marçal, cito cada um aqui da região que está empenhado em ajudar, com grana, com barco, separando doações, tirando gente da água, doando…

Temos percebido muitos golpes, muita gente reclamando, muita gente se aproveitando para aparecer… e muita gente ou empresa querendo ajudar, mas não ajuda porque tem medo de que vão dizer que está querendo fazer propaganda. Vocês não têm noção a quantidade de pessoas (ou empresas) que vem me falar isso! Ora, vamos parar de ter medo destes juízes de sofá da sala, que se escondem em casa e ficam só metendo o pau nos outros; e não fazem nada! Deixe ‘essa gente pra lá’ e daí que a Globo só veio depois da Madona, e daí que alguns dizem que o Pablo Marçal está fazendo marketing, e daí que muitos só reclamam e apontam o dedo, daí que tem gente que vai na fila duas vezes pegar 2kg de arroz e 2 litros de leite, e daí, que se danem! Ora, manda a m… diz assim: “vá cuidar da tua vida”!
E se esta tragédia tocou seu coração, vai lá você e bota o pé na lama, porque você sabe que quem reclama não fará nada, estará muito ocupado dando opinião e reclamando.

O Brasil pode fazer muito mais

Se não tua casa, graças ao bom Deus, não teve mortes, somente alguns alagamentos, pessoas perderam bens materiais e… e estamos tocando nossa vida normalmente, limpando o guarda-roupa, fazendo uma comprinha maior para doar e… e deu! Era isso, a ajuda é só isso! Mas você pode fazer mais, todo mundo pode fazer mais!

Eu sinto que muita gente ainda não acordou para o tamanho da tragédia (e está tudo certo, cada um é cada um, não reclamo destes). Mas gostaria de ajudar, então, se você quiser dormir com a consciência tranquila, faça mais. “Teoricamente” só morreram 100, mas você sabe que esse número vai aumentar muito. Quantos idosos foram levados por não conseguir se locomover, quantos bebês morreram, quantos animais ainda estão ilhados ou foram levados, bichinhos de estimação que estão abandonados, quanta gente vai morrer de doença, de leptospirose, de hipotermia (vem o frio aí), e tem muitos outros problemas que vão aparecer.
Quantas crianças não terão mais aulas, quantas crianças não terão mais pais ou avós ou amiguinhos – que viraram estrelinhas ou ainda vão virar?
Quantas crianças perderam seu bichinho de estimação ou vão perder por falta de ração? Quantos avós perderam seus netos ou ainda vão perder!
A gente não sabe nada, não sabe a dimensão desta “desgraceira” toda! Não é uma enchentezinha que sobe, alaga e no dia seguinte volta para o rio, aí você vai lá e mete o lava-jato e tudo volta ao “normal”. Serão semanas, meses, vai ter lodo, lama até nos fios da luz.
Tem cidade inteira no Vale do Taquari que acabou, estão pensando em mudar a cidade de lugar, recomeçar. Você tem noção do tamanho da tragédia? Então, graças a Deus você está bem, seu vizinho está bem, mas tem muita gente que precisa de ti, tire um tempo, reserve um dinheiro, faça sua doação, ajude mais, você pode, sim! Se você não tem grana, não tem alimento, não tem colchão, doe tempo, doe uma palavra, vá lá no campo de batalha lutar, senão, jamais ouse cantar aquele pedaço do Hino Rio-grandense que diz “Mostremos valor, constância, nesta ímpia e injusta guerra”… eu não quero que “nossa façanha sirva de modelo a toda terra”, eu só peço a Deus e a você que ajude a salvar o máximo de gente possível “nesta ímpia e injusta guerra”.

 

Por
Mauri Marcelo ToniDandel
Jornalista – Dois Irmãos

Fonte: Mauri Marcelo ToniDandel
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