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Soja dispara no mercado internacional e clima pressiona safra brasileira
Alta nos preços globais é impulsionada pelo acordo EUA-China enquanto atrasos no plantio e chuvas irregulares desafiam produtores, produção nacional da safra 2025/26 deve chegar a 178 milhões de toneladas.

Os preços da soja registraram forte valorização no mercado internacional em outubro e início de novembro, impulsionados pelo acordo comercial entre Estados Unidos e China. De acordo com dados do Itaú BBA Agro, a commodity abriu outubro cotada a US$ 10,13 por bushel e fechou o mês em US$ 10,99, acumulando alta de 9%. Na primeira quinzena de novembro, a média chegou a US$ 11,09 por bushel, um aumento de 7,5% sobre outubro, com a expectativa de que a China adquira 12 milhões de toneladas ainda este ano e 25 milhões nos próximos três anos.
No Brasil, no entanto, a alta internacional não se refletiu integralmente nos preços ao produtor. Os prêmios da safra 2025/26 recuaram, mantendo a paridade de exportação no Mato Grosso em torno de R$ 105 por saca. No mercado spot, as cotações caíram levemente, com a saca em Sorriso negociada a R$ 119 (-1%).
O plantio da soja avança abaixo do esperado devido à irregularidade das chuvas, com maiores atrasos em Goiás, São Paulo, Minas Gerais e Tocantins. Casos pontuais de replantio foram registrados em Mato Grosso, Tocantins, Maranhão e Paraná. Apesar dos desafios climáticos, as projeções indicam produção nacional próxima de 178 milhões de toneladas para a safra 2025/26, mantendo perspectivas favoráveis para o país.

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Agroflorestas ganham força como solução sustentável para agricultura e clima
Produção de alimentos e preservação ambiental se unem em florestas produtivas que captam carbono, protegem solos e geram renda para comunidades no Brasil e no mundo.

Imagine lavouras sendo cultivadas no mesmo espaço que florestas. Para ficar ainda mais evidente, poderia ser uma plantação de milho localizada à sombra de uma castanheira-do-pará, por exemplo.

Esta combinação de produção agrícola com preservação ambiental tem sido apontada por especialistas do clima e ativistas ambientais como ideal para ajudar o planeta Terra a se recuperar dos danos causados pela ação humana e que refletem no clima em forma de eventos extremos, como chuvas torrenciais e estiagens. A este “casamento” que é, na verdade, um modelo de uso da terra justo e sustentável, dá-se o nome de “agrofloresta”. Este sistema, que busca otimizar terrenos descampados e transformar técnicas de monocultivo em florestas biodiversas, é considerado hoje uma das principais apostas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas na Terra.

Foto: Gabriel Faria
A proposta é de uma agricultura não baseada em agrotóxicos e produtos químicos, mas baseada na própria ecologia, levando em consideração a existência de pragas, mas também o equilíbrio e a lógica da natureza. Daí, a junção de plantas menores – como as alimentares – com árvores maiores e com raízes profundas, para propiciar sombra e água, sempre que preciso for.
Em resposta a esta combinação, vem a diminuição da emissão de Dióxido de Carbono (CO₂) na atmosfera – a camada que protege o planeta da radiação solar e ajuda a equilibrar a temperatura. O CO₂ compõe os gases que agravam o efeito estufa, um dos causadores do aquecimento global. A matemática é simples – quanto mais árvores vivas, mais absorção de carbono pelas plantas e menos gás nocivo enviado à atmosfera.
Agrofloresta
Moisés Savian, engenheiro agrônomo e secretário do Ministério do Desenvolvimento Agrário, contou que a ideia da agrofloresta é atuar em duas frentes: na mitigação e adaptação dos efeitos das mudanças do clima. “Quando eu estou diminuindo a emissão de carbono, eu estou mitigando. Se eu, por exemplo, tenho um pasto ralinho e eu monto uma agrofloresta, eu vou trazer para a superfície o carbono que está excessivo na atmosfera (o carbono é absorvido pelas plantas). Se eu tenho uma lavoura de milho que não resiste muito tempo sem chuva – diante da crise hídrica – e junto esta lavoura à floresta, que tem sombra e raízes profundas, o milho se beneficiará da captação de água de uma castanheira, por exemplo”, explica.
Savian lembra ainda que a lógica da agrofloresta vai além ao agregar as questões do planeta à geração de renda e produção de alimentos, potente ferramenta contra a fome no mundo.
A ideia de florestas produtivas ganhou popularidade nas últimas semanas, durante as plenárias e reuniões da COP 30, realizada em Belém (PA). Mas este é o caminho ancestral que vem sendo apontado nos últimos anos por especialistas do clima, como já adiantou o climatologista Carlos Nobre. “Os indígenas chegaram na Amazônia 12, 14 mil anos atrás, e eles sempre utilizaram o conhecimento muito bem para tudo, para a saúde deles, para alimentação, no transporte, os produtos da biodiversidade. Os indígenas utilizaram e utilizam ainda mais de 2,3 mil produtos da biodiversidade, por exemplo, 250 frutas alimentares, 1.450 plantas medicinais. Eles aprenderam a conviver muito bem com a floresta”, disse.
Embora seja uma técnica milenar, a Floresta em Pé, mesmo a passos curtos, tem ganhado espaço entre o voluntariado no Brasil e no mundo.
Troca de Saberes
Em Botuporã, cidade baiana com cerca de 11 mil habitantes e localizada a cerca de 700 quilômetros de Salvador, um projeto de cooperação internacional tem incentivado moradores e jovens lideranças a entender a importância de unir o agro à ecologia. O município faz parte de um consórcio, iniciado em 2021, com comunidades da França localizadas na região da Alsácia do Norte.
Segundo o idealizador do projeto, prefeito da cidade francesa de Eschbach – que tem menos de mil habitantes -, Hervé Tritschberger, a ideia surgiu após tratativas com a prefeitura botuporense para valorização de agricultores, produtores rurais e capacitação de jovens voluntários para troca de saberes sobre sustentabilidade.
Foi esta cooperação internacional que, há dois anos, levou o jovem estudante de Direito Yago Fagundes a uma imersão em agroecologia em terras francesas e, depois, à aplicação no Brasil. “A experiência no Brasil tem sido de empoderamento rural. Nós recebemos, por exemplo, especialistas franceses que capacitaram nossos agricultores na produção do queijo Tomme de Vache (queijo de leite de vaca, em livre tradução), utilizando uma receita milenar de forma sustentável. Na França, eu vivenciei essa prática de perto, morei com agricultores com o selo ‘BIO’ e participei ativamente da construção de cercas vivas e projetos de plantio em escolas, elementos cruciais para a biodiversidade”, lembra Yago.
O estudante de 20 anos diz que apesar do desafio da língua, a vivência internacional o fez refletir sobre resiliência, inclusive, nos cuidados com o planeta. “A agroecologia é fundamental para combater as mudanças climáticas. Ela usa a teia do voluntariado para criar uma solidariedade internacional que fortalece o planeta. Ela atua tornando o solo um sumidouro de carbono, aumentando sua matéria orgânica e sua capacidade de reter água, o que protege as comunidades de secas e eventos extremos”, explica.
Em contrapartida, duas voluntárias francesas passaram oito meses em Botuporã para aprender técnicas de agricultura orgânica. “Brasil e França não têm os mesmos desafios, mas temos os mesmos objetivos, que é trabalhar para o desenvolvimento sustentável. O paradoxo dos países europeus é que eles não querem produzir alimentos com agrotóxicos, mas os consomem em importações. A partir dessa troca, é preciso repensar esta validação e capacitar agricultores para este modo mais saudável e sustentável”, diz o prefeito francês.
Como resultado da experiência, foi publicado um livro com a consolidação das principais trocas, disponibilizado gratuitamente e apresentado durante o Festival Nosso Futuro, realizado no início deste mês, em Salvador.
Consciência ambiental e planetária

Wyliam Torres é adepto da plantação de verduras e leguminosas no próprio quintal de casa – Foto: Wylliam Torres/Divulgação
A troca de saberes pode ir muito além das fronteiras geográficas, Brasil-França. Pode ser passada de pai para filho, entre amigos, de avó para neto, como foi o caso do jornalista socioambiental e divulgador científico Wylliam Torres.
Morador do Rio de Janeiro, ele conta que é adepto da plantação de verduras e leguminosas no próprio quintal de casa, como prática sustentável e saudável. “A minha primeira referência em agroecologia foi o quintal da minha avó e bisavó paternas, quando eu ainda era bem novinho e, àquela época, não fazia ideia da preciosidade que estava ao meu alcance e muito menos conhecia o termo. Hoje, é claro, entendo que a agroecológica vai muito além de alimentos livres de agrotóxicos, mas ela também engloba os aspectos subjetivos da nossa vida e que o adubo das nossas raízes: o território, a tradição e a sabedoria ancestral”, relata.
Torres diz ainda que a postura ambiental reflete valores como consciência ambiental responsável e coletiva, além da justiça socioambiental. “É nesse caminho que resgato parte da minha história, minha relação profunda com a natureza, meu senso de comunidade, minha necessidade de lutar pela vida na Terra e preservá-la”, conclui.
E mesmo de forma isolada, ele entende que não há fórmula mágica para enfrentar individualmente a crise climática. “Quando se trata de combater os efeitos da crise climática que atravessamos, não existe uma balança que diga qual é a ação mais importante nesse processo, afinal, cada atitude que visa contrapor a lógica exploratória do agronegócio, é um ato revolucionário. Portanto, toda e qualquer ação individual que busque fugir da lógica do lucro, é sempre válida”, finaliza.
Exemplos do Brasil
Ainda acompanhando de perto o desfecho da COP 30, o Secretário de Governança Fundiária e Desenvolvimento Territorial e Socioambiental do Ministério de Desenvolvimento Agrário, Moisés Savian, adianta que o encontro tem sido uma grande oportunidade de mostrar para o mundo o que o Brasil tem feito. “A COP foi muito positiva para o Brasil, apresentamos nossa agenda de florestas produtivas para o mundo. Além de manter, vamos ampliar a área de cobertura florestal com geração de renda e alimentos”, diz.
Para ele, é essencial pensar em um sistema de produção de alimentos resiliente às intempéries, como secas e chuvas extremas. “Eu acho que o futuro do Brasil é avançar na agricultura resiliente, de baixo carbono, biodiversa, agricultura agroecológica nas áreas degradadas. Nós temos muita área degradada no Brasil. Nós temos muita pastagem subutilizada. São áreas em que não estão produzindo alimentos e não estão servindo para a questão ecológica também. A propósito, o governo tem trazido a ideia de florestas produtivas de agroflorestas – avançar com a produção biodiversa, de agroflorestas nessas áreas que já foram desmatadas, numa ótica de restauração, mas uma restauração produtiva.”, diz.
Savian defende ainda o incentivo financeiro de países mais desenvolvidos e, internamente, o crédito agrícola para capacitar pequenos agricultores e produtores rurais a aprenderem e utilizarem a técnica de produção de alimentos sustentável. Mas, ele chama a atenção, para um ponto ainda desafiador: ganhar o bolso e coração dos consumidores. “Porque nós temos hoje, muita gente vive contando o dinheiro para passar o mês. Algumas outras pessoas podem pagar um pouco mais por um produto que é diferenciado. Nós nos reunimos com uma rede de supermercados internacional. E eles estão criando uma prateleira chamada de ‘produtos da floresta’. E aí, qual era o desafio que eles tinham? Muitas vezes, no mercado do varejo, ele vai precisar de 30 dias, 60 dias para pagar. O agricultor, não pode esperar tanto. E essa rede está fazendo pagamento antecipado”, diz Savian.
Segundo ele, são iniciativas como essa que podem dar um efeito mais importante – além da mobilização de governo e produtor, que é incluir o mercado consumidor como uma mola propulsora da economia sustentável, da produção decorrente do agroflorestamento.
Para Savian, a Floresta em Pé pode fazer parte da solução para a situação de emergência climática que o planeta vive. “Acredito que é esse ‘remedinho’ que pode junto com a restauração florestal, com o combate ao desmatamento, com uma pecuária mais intensa, no sentido de ocupar melhor o espaço que já existe, sem derrubar mais árvores. Não é um remédio que você vai tomar na veia e vai resolver num dia pro outro, mas é uma dose meio homeopática – tomada em pequenas quantidades, mas de forma contínua”, conclui.
Colunistas
Antimicrobianos na agropecuária: por que o futuro da produção animal depende de bem-estar e sustentabilidade
Debate ganha força com a pressão global por modelos pecuários de baixa emissão, transparência no uso de medicamentos e integração entre sanidade, clima e bem-estar nos sistemas de produção.

O debate sobre antimicrobianos na agropecuária se conecta de forma cada vez mais nítida à agenda ambiental e climática. Sistemas produtivos que dependem fortemente de insumos químicos e medicamentos tendem a ser mais vulneráveis, menos eficientes e mais poluentes. As discussões da COP30, encerrada em 22 de novembro, ofereceram uma oportunidade renovada de trazer o tema para o centro da agenda climática e trouxeram ênfase na defesa por transições justas e inclusivas, que levem a uma só saúde, considerando novas promessas de financiamento e propostas de mecanismos globais para restaurar terras degradadas.
Segundo alerta da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) os sistemas agroalimentares continuam recebendo apenas uma fração do financiamento climático necessário. No Brasil, o setor pecuário enfrenta pressão crescente para adotar modelos de baixa emissão, como pecuária regenerativa, maior eficiência alimentar e melhor monitoramento ambiental, além de avançar em sistemas agroflorestais e práticas que integrem saúde animal e adaptação climática.

Elisa Tjarnstrom, diretora-executiva da COBEA – Foto: Divulgação/COBEA
Falar sobre sustentabilidade na pecuária é também falar sobre sanidade, bem-estar e uso responsável de antimicrobianos. A transição para sistemas mais saudáveis, baseados em prevenção e não em correção, está diretamente ligada à capacidade de adaptação da agropecuária às mudanças climáticas. A Semana Mundial de Conscientização sobre a Resistência Antimicrobiana também se encerrou recentemente, em 24 de novembro, e agora temos uma oportunidade de juntar as duas agendas para facilitar os avanços necessários na agropecuária brasileira.
O uso de antimicrobianos na produção animal tem se tornado um dos temas mais sensíveis e estratégicos da agropecuária moderna. O que antes era visto como ferramenta essencial para garantir produtividade e prevenir doenças, hoje é questionado por seus impactos na saúde pública, no meio ambiente, na imagem e até mesmo na resiliência do setor quando se pensa em resistência aos antimicrobianos. No Brasil, embora o tema tenha ganhado força nas políticas públicas e nas discussões setoriais, ainda há desafios importantes a serem superados para reduzir o uso excessivo e avançar na transparência dos dados.
A produção intensiva de suínos, aves e bovinos geralmente envolve alta densidade de animais e forte pressão sanitária, o que historicamente levou ao uso preventivo de antimicrobianos e, em alguns casos, ao emprego desses produtos como promotores de crescimento. Apesar dos avanços, muitas empresas ainda mantêm práticas profiláticas e poucas adotam planos de redução gradual. Paralelamente, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) vem ampliando o monitoramento e incentivando o uso racional, por meio de diretrizes e de sistemas como o AgroMonitora, que consolida dados nacionais sobre a comercialização de antimicrobianos veterinários.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) recomendam que antimicrobianos de importância crítica para a medicina humana não sejam usados em animais saudáveis. Países da União Europeia proibiram o uso como promotor de crescimento desde 2006, e o mercado internacional vem impondo restrições cada vez maiores. No Brasil, programas de exportação e grandes redes varejistas começam a exigir comprovação de práticas mais responsáveis. É um movimento que alia ciência, segurança e reputação.
Uma resposta promissora para essas questões vem de uma fonte muitas vezes subestimada – o bem-estar animal. A relação entre antimicrobianos e bem-estar é direta como animais criados em ambientes confortáveis, ventilados, com espaço adequado, enriquecimento ambiental, nutrição balanceada e manejo cuidadoso e que adoecem menos. Modelos produtivos com melhor bem-estar conseguem reduzir a dependência de insumos químicos e antimicrobianos, preservam os recursos naturais e se tornam mais resilientes, éticos e competitivos.
Por isso, promover o bem-estar animal não é apenas uma questão ética, mas também uma estratégia sanitária e econômica. A combinação de práticas de BEA, monitoramento comportamental e de saúde, biosseguridade adequada e protocolos eficazes de limpeza e desinfecção é complementar e essencial para reduzir o uso de antimicrobianos. Isso é especialmente relevante porque resíduos de antimicrobianos podem contaminar solos e corpos d’água, favorecendo o surgimento de bactérias multirresistentes – um dos maiores riscos à saúde global.
Para o Brasil, esse é um momento estratégico. Somos um dos maiores produtores e exportadores de proteína animal do mundo e, portanto, temos peso e responsabilidade na definição de padrões sustentáveis globais. Investir em bem-estar animal, biosseguridade e inovação para reduzir o uso de antimicrobianos não é apenas uma questão de conformidade regulatória, é uma aposta em reputação, acesso a mercados estratégicos e segurança alimentar de longo prazo.
O futuro da produção animal será medido não apenas pela quantidade que produzimos, mas pela forma como produzimos. Sistemas que colocam o bem-estar no centro e reduzem a dependência de antimicrobianos são mais alinhados às demandas do século 21: transparência, saúde, clima e ética. A COP30 pode e deve ser um ponto de virada nessa narrativa, consolidando o Brasil como líder na construção de uma agropecuária verdadeiramente sustentável – capaz de alimentar o mundo sem comprometer o futuro. Além disso, chegou a hora de o setor de proteína animal se unir para trabalhar de forma mais focada e estratégica a fim de acelerar os avanços em BEA, um propósito que levou à criação da Colaboração Brasileira de Bem-Estar Animal (COBEA) em 2024.
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Paraná lidera produção agro com energia limpa e sustentável
Programa RenovaPR e aproveitamento de resíduos da agropecuária transformam dejetos em biogás e energia solar, reduzindo custos para produtores rurais, fortalecendo a competitividade do campo e promovendo sustentabilidade na agroindústria estadual.

Enquanto o mundo debate soluções concretas contra as mudanças climáticas, o Paraná acumula resultados expressivos na transição para uma economia de baixo carbono, principalmente pelo empurrão da transformação energética. Com políticas públicas voltadas à geração de energia limpa no campo, nas cidades e na indústria, o Estado se consolida como uma das principais referências do País no uso de fontes renováveis.
A ampliação da matriz solar e de biogás, a expansão das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e a instalação do maior parque eólico da Região Sul reforçam o protagonismo paranaense em sustentabilidade e segurança energética. Mais do que discurso, a agenda tem se traduzido em investimentos e inovação tecnológica.
A geração de energia a partir de fontes limpas foi um dos temas centrais da COP30, que reuniu representantes de quase 200 países para discutir formas de acelerar a transição global e reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), as fontes renováveis responderam por apenas 30% da eletricidade gerada no mundo em 2023 e a expectativa é de que ultrapassem 40% somente no final desta década.

Nesse contexto, o Paraná surge como exemplo de ação local com impacto global. O Estado (que já possui 98% da sua energia produzida a partir de fontes renováveis) constrói uma política energética que alia desenvolvimento econômico, inovação e preservação ambiental, adotando uma visão de longo prazo capaz de unir competitividade e sustentabilidade. “Temos uma grande oportunidade de mostrar ao mundo que no Paraná existem boas políticas públicas de preservação, geração de energia renovável e, acima de tudo, de exemplo para os países de primeiro mundo”, disse o governador. “No Paraná, buscamos ser cada vez mais um Estado equilibrado, que concilia sustentabilidade, desenvolvimento econômico, social e cuidado com o meio ambiente”.
Energia no campo
Lançado em 2021, o programa RenovaPR é um dos principais marcos da política estadual de incentivo à energia limpa. Voltado à geração de energia solar e biogás no campo, o programa já mobilizou cerca de R$ 5,8 bilhões em investimentos e resultou na instalação de 38 mil novas usinas de geração distribuída em propriedades rurais. O volume equivale a mais de 1 gigawatt de potência instalada – energia suficiente para abastecer uma cidade de 2 milhões de habitantes.
O programa combina apoio técnico do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) e condições financeiras facilitadas por meio do Banco do Agricultor Paranaense, cujos juros são subsidiados pela Fomento Paraná. Com isso, milhares de produtores rurais passaram a gerar a própria energia e reduziram custos com eletricidade em até 95%.
Segundo o governador, enquanto o mundo está iniciando a sua transição energética, o RenovaPR é um exemplo de que o Paraná está um passo à frente neste assunto. “Já somos o maior produtor de energia do Brasil, sendo que 98% são de fontes renováveis. Nosso projeto, agora, é aproveitar esse enorme potencial do campo e usar os dejetos da produção suína, avícola e da pecuária leiteira para gerar energia sustentável”, afirma Ratinho Junior.
Os impactos positivos vão além da economia direta. O RenovaPR estimula o aproveitamento de resíduos da produção agropecuária, especialmente na cadeia de suínos e aves, para a geração de biogás e biometano. O uso dos dejetos evita a contaminação de cursos d’água e do solo e ainda garante uma nova fonte de renda, já que os produtores podem vender o excedente de energia ou o biogás purificado para outras finalidades, como o abastecimento de veículos.
O programa também contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa e melhora a eficiência energética no meio rural. A disseminação de painéis solares e biodigestores representa um salto tecnológico importante no campo, com reflexos diretos na competitividade da agroindústria paranaense. “Os novos números do RenovaPR comprovam que o programa tem causado uma verdadeira transformação no campo, baixando o custo de produção para os agricultores, além de reforçar a vocação do Estado como produtor de energia limpa e renovável”, diz o secretário de Estado da Agricultura e do Abastecimento, Marcio Nunes.
Reconhecido como um dos maiores programas estaduais do País no setor, o RenovaPR segue em expansão com a abertura de novas linhas de crédito e capacitações técnicas voltadas a cooperativas e pequenos produtores. O objetivo é ampliar ainda mais a autossuficiência energética rural e consolidar o Estado como referência nacional na transição energética.
Além disso, o Governo do Estado, por meio da Secretaria do Planejamento e a Superintendência-Geral de Gestão Energética, criou um Plano de Biogás e Biometano do Paraná com propostas de ações para diversificar a matriz energética, integrar recursos renováveis e otimizar a gestão de resíduos. Entre os principais benefícios, destacam-se a redução das emissões de gases de efeito estufa, a valorização de resíduos e o fortalecimento da economia local.
Sistema hidrelétrico descentralizado
O Paraná também avança na geração de energia a partir das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), reforçando o protagonismo estadual em fontes limpas e de longo prazo. Atualmente, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Estado possui 114 PCHs e Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs) em operação, outras cinco em construção, sete com obras prestes a iniciar e mais de 150 projetos em fase de registro ou estudos de viabilidade.
Nos próximos anos, o Paraná deve receber R$ 1,1 bilhão em investimentos privados para a construção de 11 novas PCHs que abrangem 15 municípios, contratadas no 39º Leilão de Energia Nova A-5 promovido pelo Ministério de Minas e Energia. Os empreendimentos somam 110 megawatts (MW) em potência instalada e têm início de fornecimento previsto para 2030, com foco no atendimento ao mercado regulado.
Essas pequenas usinas representam benefícios socioambientais significativos porque preservam e ampliam matas ciliares, protegem nascentes, contribuem para a melhoria da qualidade da água e reduzem emissões de carbono. Além de ofertarem energia limpa e contínua, geram empregos e aumentam a renda local, impulsionando o desenvolvimento em cidades de pequeno e médio porte.
Na avaliação do presidente do Instituto Água e Terra (IAT), Everton Souza, as PCHs também cumprem um papel de proteção das áreas verdes. “É um exemplo que o Paraná dá. Neste novo leilão, serão mil hectares do empreendimento em si e outros quatro mil hectares que deverão ser protegidos. Ou seja, ofertamos energia limpa e crescemos de maneira sustentável”, detalha.
O governo estadual também estuda, em parceria com o setor privado, a criação de um fundo específico para projetos de energia renovável, com o objetivo de ampliar linhas de crédito e atrair novos investidores. A proposta deve seguir o modelo de fundos voltados ao agronegócio, com condições facilitadas e juros reduzidos para fomentar o crescimento sustentável do setor.
Polo de energia eólica
Na região Sul do Estado, outro marco reforça o protagonismo paranaense na matriz limpa. O IAT autorizou neste ano a instalação do Complexo Eólico Palmas II, um dos maiores empreendimentos do País em geração de energia a partir dos ventos. O investimento de R$ 3,5 bilhões prevê a construção de 72 aerogeradores (turbinas) com potência total de 504 megawatts (MW), o que representa energia suficiente para atender o consumo médio de 300 mil residências.
A nova estrutura é mais potente que o pioneiro Parque Eólico Palmas I, implantado pela Copel há 25 anos, que possuía 2,5 MW de capacidade instalada. Enquanto as turbinas antigas geravam 500 quilowatts por unidade, as atuais podem ultrapassar 7 megawatts cada, produzindo mais energia com menos equipamentos e ocupando uma área proporcionalmente menor. Isso significa menos necessidade de infraestrutura, menor impacto visual e ambiental e mais eficiência na produção.
O empreendimento também é um exemplo de compatibilidade entre desenvolvimento econômico e conservação ambiental. O licenciamento foi concedido após estudos detalhados e prevê a utilização de áreas já abertas, sem supressão de vegetação nativa.
“Conseguimos eliminar totalmente o corte florestal, e cada torre foi posicionada respeitando os corredores de vento e a rota das aves. Foi um projeto construído junto com a população e com os produtores rurais que participam do arrendamento das áreas”, explica Pedro Dias, diretor-executivo do instituto ambiental – responsável pelo licenciamento, estudos técnicos e gestão ambiental do empreendimento, idealizado pela Vento Sul Energia.
O potencial eólico das regiões Sudoeste e Centro-Sul do Paraná, até pouco tempo pouco explorado, ganha com o novo parque um impulso decisivo. Estudos do setor indicam que o Estado reúne condições naturais favoráveis, com ventos estáveis e boa infraestrutura de transmissão, por isso o Governo do Estado aposta que a entrada em operação do complexo de Palmas pode atrair novos investidores e consolidar o Paraná como polo eólico do Sul do Brasil.
Economia com energia solar

A transição energética paranaense também alcança as cidades. Com apoio do Governo do Estado, diversas prefeituras têm adotado sistemas fotovoltaicos em prédios públicos, escolas, unidades de saúde e estações de tratamento de água. As iniciativas contam com suporte técnico da Copel e da Celepar, responsáveis por orientar a instalação e o monitoramento remoto dos equipamentos, o que permite maior eficiência e controle do consumo.
O impacto econômico é direto. Em São Miguel do Iguaçu, no Oeste do Estado, por exemplo, a implantação de painéis solares garantiu uma economia mensal de aproximadamente R$ 24 mil, reduzindo em até 95% a conta de energia elétrica. A iniciativa permitiu que o valor economizado fosse direcionado a outras áreas prioritárias da administração municipal, como educação e saúde.
O modelo vem se expandindo para municípios de diferentes portes, especialmente nas regiões Oeste e Norte do Estado. Em muitos casos, os projetos são desenvolvidos em parceria com cooperativas e consórcios intermunicipais, o que reduz custos e viabiliza investimentos coletivos em energia solar. Além de aliviar os cofres públicos, essas ações fortalecem o compromisso dos municípios com a sustentabilidade e contribuem para a meta estadual de ampliar a participação das fontes renováveis na matriz energética.
Outra ideia anunciada recentemente foi a instalação de usinas fotovoltaicas para o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR) e para a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED). O projeto contempla a implantação de oito usinas de geração solar fotovoltaica, cada uma com potência instalada de 2,5 megawatts (MW), totalizando 20 MW de capacidade. Juntas, essas unidades serão capazes de gerar aproximadamente 32 GWh por ano, energia suficiente para abastecer mais de 15 mil residências de médio porte, contribuindo de forma significativa para a redução da demanda por energia proveniente de fontes fósseis.



