Suínos Tratamento da água
Sistemas de Recirculação Aquícola ganham espaço
Um dos fatores principais no dia a dia de um RAS é o gerenciamento da qualidade da água. A filtragem realizada da maneira correta é fundamental para manter um ambiente adequado para a produção de organismos aquáticos. Água saudável é igual a peixe saudável.
Os Sistemas de Recirculação Aquícola — também conhecidos como RAS, sigla surgida a partir do nome original em inglês, Recirculating Aquaculture Systems — vêm, aos poucos, revolucionando o manejo da qualidade da água na piscicultura ao redor do mundo. Embora não seja exatamente uma novidade, já que a tecnologia existe há mais de quatro décadas, sua popularidade vem se intensificando nos últimos anos.
É verdade que os custos de implantação do RAS ainda assustam alguns piscicultores. Porém, a produtividade é alavancada com essa tecnologia, além dos inegáveis benefícios ambientais. Com o tempo, o investimento pode acabar compensando, desde que o trabalho seja bem executado, não apenas no dimensionamento e instalação dos filtros e demais equipamentos que compõem o sistema, mas também nas operações do dia a dia.
A produção de organismos aquáticos gera uma série de resíduos metabólicos que são lançados diretamente na água dos tanques e viveiros e, se não forem tratados adequadamente, poderão atuar como poluentes se lançados diretamente nos corpos d’água e mananciais.
Dentre esses, os sólidos, compostos pelas fezes dos animais e alimentos não consumidos, detritos e outros resíduos presentes em suspensão no efluente dos tanques e viveiros de produção que, se descartados diretamente no meio ambiente, podem trazer problemas para o equilíbrio da natureza. Por outro lado, essa água também não pode simplesmente ser ignorada ou continuar sendo usada indefinidamente, pois certamente irá trazer prejuízos para o seu negócio.
A solução proposta pelos Sistemas de Recirculação Aquícola é, justamente, promover o tratamento da água, de forma que ela volte a ter plenas condições de ser utilizada novamente, ou seja, deve priorizar a manutenção de sua qualidade.
Esse tratamento, no entanto, exige a instalação de uma série de equipamentos que, juntos, irão purificar a água para que ela volte aos tanques e viveiros de produção com a mesma qualidade que tinha quando foi captada na natureza. Entre esses equipamentos podemos citar:
- Filtro mecânico: decantadores ou sedimentadores;
- Tanques ou viveiros de produção de organismos aquáticos;
- Filtros mecânicos;
- Filtros biológicos, biofiltros ou ainda contatores biológicos;
- Fracionadores de proteínas ou skimmers;
- Sistema de esterilização com radiação ultravioleta;
- Sistema de aeração;
- Sistema de oxigenação;
- Sistema de bombeamento de água;
- Dispositivos de escoamento e drenagem do efluente de tanques e viveiros de produção de organismos aquáticos;
- Sistema de esterilização com ozônio;
- Unidades de quarentena, entre outros.
As maiores partículas em suspensão no efluente são, geralmente, removidas da água, por decantação ou retenção em telas. Na sequência, a água efluente é tratada nos filtros ou contatores biológicos, onde microrganismos vivos metabolizam e oxidam diversos compostos reduzindo o seu potencial tóxico.
O dióxido de carbono — CO2, liberado passivamente pelos organismos aquáticos por meio das brânquias e gerado na respiração e no metabolismo do alimento ingerido, é um fator limitante nesse sistema de produção, assim como o teor de oxigênio dissolvido na água e disponível para a respiração e metabolismo de todos os seres aquáticos vivos presentes neste sistema.
A amônia, que é tóxica para os peixes, em baixas concentrações, é transformada em nitratos (composto que pode ser considerado entre 10 e 100 vezes menos tóxica) por bactérias aeróbicas específicas — as Nitrossomonas. Estas se fixam em vários tipos de estruturas sólidas presentes nos filtros biológicos (feitas de material inerte para não afetar a qualidade da água).
Um dos fatores principais no dia a dia de um Sistema de Recirculação Aquícola é o gerenciamento da qualidade da água. A filtragem realizada da maneira correta é fundamental para manter um ambiente adequado para a produção de organismos aquáticos. Água saudável é igual a peixe saudável.
Se a qualidade da água não for mantida adequadamente, o crescimento dos organismos aquáticos alojados no sistema de recirculação poderá passar por uma redução, além de estressar os animais, o que acaba por predispor ao ataque de microrganismos patogênicos. Isso não é bom, especialmente porque aumenta o tempo necessário para que os animais atinjam o peso de abate, podendo causar perdas devido a doenças e mortalidade por estresse e, ainda, diminuir a eficiência alimentar, aumentando o consumo de ração.
Como nos Sistemas de Recirculação Aquícola o manejo alimentar é intensivo, é necessário gerenciar a quantidade de alimento ofertada diariamente e a produção de resíduos metabólicos gerados para manter a qualidade ideal da água. Para a aquicultura comercial, os Sistemas de Recirculação Aquícola têm certas desvantagens em relação a outros sistemas de produção, como os desenvolvidos em lagoas ou tanques e viveiros naturais escavados diretamente no solo. O principal custo é o investimento inicial, porém a economia obtida ao longo do tempo faz com que o investimento valha a pena. Principais vantagens dos RAS:
- Requerem significativamente menos água quando comparados aos tanques e viveiros naturais;
- Podem ser instalados em áreas menores;
- Podem ser instalados em qualquer lugar, permitindo a redução nos gastos com frete, se localizados próximos aos grandes centros de consumo;
- Podem ser mais intensivos (produzir mais em um mesmo volume de água);
- Permitem a produção durante o ano todo uma vez que possibilitam o controle da temperatura da água;
- São menos prejudiciais ao meio ambiente;
- São expansíveis.
Como as unidades RAS reciclam a maior parte da água efluente dos tanques de produção, elas consomem quantidades muito menores. Isso torna o sistema particularmente adequado para áreas com reservas limitadas desse recurso natural.
Um Sistema de Recirculação Aquícola corretamente projetado e operado de forma adequada requer uma recarga diária mínima de água, suficiente para limpar os resíduos dos filtros e repor a água perdida por evaporação. Isso permite que os viveiros sejam construídos em áreas onde a quantidade água disponível é limitada e, até mesmo, em áreas urbanas, onde pode ser utilizada a água disponível na rede de abastecimento.
Outra vantagem dos sistemas RAS é que eles exigem muito menos área para serem implantados, devido às elevadas densidades de estocagem ou alojamento — entre 40 e 400 kg/m³, dependendo da espécie. Portanto, um Sistema de Recirculação Aquícola pode ser instalado em áreas onde grandes quantidades de terreno plano (necessárias para construir tanques e viveiros naturais) não estão disponíveis.
Essas instalações também podem estar localizadas em lugares com pouca disponibilidade de água, em áreas urbanas ou instalações vazias (armazéns), que podem ser convertidas em espaços para a prática da produção de organismos aquáticos.
A capacidade de controlar a temperatura da água é mais uma vantagem significativa dos Sistemas de Recirculação Aquícola. A menor quantidade de água necessária facilita o controle da temperatura para a manutenção das taxas de crescimento dos organismos aquáticos alojados durante o inverno, bem como possibilita a produção de certas espécies que, em condições diferentes, não poderiam ser criadas em uma determinada região geográfica.
Além disso, o RAS permite que a temperatura da água seja mantida no nível ideal para maximizar a conversão alimentar e garantir o crescimento ideal dos peixes no menor espaço de tempo possível. A partir daí, o desenvolvimento dos animais pode ocorrer durante todo o ano, o que ajuda a aumentar a produção.
É importante destacar que a taxa de crescimento dos peixes está diretamente relacionada à temperatura da água, genética dos animais, manejo, qualidade da água, do ambiente e da ração.
Em um Sistema de Recirculação Aquícola, o calor tende a se acumular lentamente na água, porque a energia na forma de calor é liberada pelo metabolismo dos organismos aquáticos e pela atividade bacteriana no biofiltro. O calor produzido pelo atrito da água com as paredes dos tubos hidráulicos, no rotor das motobombas, e o gerado com o uso de outros equipamentos nas instalações também se acumularão.
A principal fonte de calor é a energia solar, que atinge a cobertura das instalações e pode ser amenizada durante a primavera e o verão, inclusive sendo atenuada com a instalação de telas de sombreamento. Em casos extremos, o controle da temperatura nos períodos mais quentes do ano pode também ser feito por equipamentos que promovem troca de calor como “chillers” e bombas de calor onde um painel eletrônico abastecido por informações advindas de uma rede de sensores toma decisões com o auxílio de softwares dedicados.
Uma Bomba de Calor nada mais é do que um dispositivo que transfere energia térmica em forma de calor de um meio mais quente para outro mais frio. Mais especificamente, o sistema extrai do ar o calor necessário para aquecer a água. Isso é feito por meio de um fluido refrigerante. Essa substância, que é totalmente ecológica, é bombeada por um condensador diretamente para uma serpentina onde, em seguida, é evaporada em baixa pressão, absorvendo o calor do ambiente.
Logo depois, o fluido refrigerante é comprimido para um condensador, onde realiza uma bomba de calor com a água. Em seguida, ocorre uma segunda troca de calor. Dessa vez, em um evaporador, onde o ar ambiente entra em contato com o fluido refrigerante. Por fim, um ventilador, que também compõe o sistema, auxilia no processo de puxar o ar que entrou em contato com o fluido refrigerante e o envia ao ambiente externo. A partir daí, o ciclo se inicia novamente.
Outro ponto que vem chamando a atenção dos produtores é a economia que o sistema proporciona. A instalação de uma Bomba de Calor pode proporcionar uma redução de até 70% do custo de manutenção da temperatura de água, comparado aos outros sistemas disponíveis. Isso sem contar a possibilidade de ser adaptada às centrais existentes ou ainda de ser incluída em novos projetos.
As temperaturas demasiadamente elevadas, bom como a baixa temperatura no sistema de produção, são deletérias ao funcionamento do sistema e ao bem-estar animal, portanto, merecem especial atenção no RAS.
Ao manter o oxigênio dissolvido em níveis ideais, essa tecnologia garante que os peixes tenham melhor conversão alimentar e menos estresse, resultando em maior resistência a doenças, menos desperdício de alimentos e mais crescimento.
As vantagens ambientais, como a ausência de vazamentos, infiltrações e a descarga controlada de resíduos, são benefícios que também devem ser considerados. Afinal, quase toda água introduzida no sistema é reutilizada e menos resíduos são produzidos e lançados diretamente aos corpos d’água em comparação com os sistemas tradicionais.
No Brasil, atualmente, o Sistema de Recirculação Aquícola é mais comumente utilizado em situações específicas, tais como:
- quarentena de animais;
- reprodução no inverno;
- produção de peixes de alto valor agregado, em áreas próximas de centros urbanos e grandes centros de consumo.
Apesar das queixas em torno do custo de implementação do RAS, muitos produtores não percebem como os gastos com insumos para melhorar a qualidade da água, além do excessivo uso desse recurso natural, é prejudicial para sua lucratividade e sua capacidade produtiva.
A tendência é que, nos próximos anos, o RAS se torne um sistema mais difundido e utilizado em todo o país. Afinal, a tecnologia vem evoluindo de forma rápida, tornando a piscicultura um processo cada vez mais industrializado, eficiente e com alta produtividade, o que não permite erros, sob risco de os produtores perderem espaço no mercado.
Suínos
Importância do diagnóstico para controle de diarreia em leitões de maternidade
Ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais.
Artigo escrito por Lucas Avelino Rezende, consultor de Serviços Técnicos de suínos na Agroceres Multimix
Uma das causas mais frequentes de morte de leitões na maternidade, sem dúvidas, é a diarreia neonatal, que pode ser causada por diversos fatores, incluindo infecções bacterianas, virais ou parasitárias, bem como problemas nutricionais ou ambientais.
Por ser multifatorial, a simples presença de patógenos entéricos nem sempre é suficiente para produzir doença clínica. Diante disso, é importante saber que é necessário haver uma interação hospedeiro-ambiente-patógeno. Diferenças em práticas específicas de manejo e ambiente, bem como características do animal e do rebanho, podem influenciar muito o risco de ocorrência da doença.
Alguns fatores podem contribuir para o aumento na ocorrência da diarreia pré-desmame, como: leitões de baixo peso ao nascer, baixa temperatura ambiental levando ao estresse pelo frio, higiene ruim da gaiola de parição, ingestão de leite e colostro insuficientes e o número insuficiente de tetos para a prole.
As principais causas infecciosas de diarreia em leitões na maternidade no Brasil são as Clostridioses, Colibacilose, Rotaviroses e Coccidiose. Em alguns casos, a coinfecção de dois ou mais agentes podem estar presentes e agravar o caso de diarreia.
A sobrevivência de leitões é influenciada por vários fatores, incluindo ordem de nascimento, peso ao nascer, ingestão de colostro e níveis séricos de imunoglobulina G (IgG). Esses fatores interagem de maneiras complexas para determinar a suscetibilidade do leitão a doenças e a saúde geral.
Um importante ponto para entender a dinâmica do surgimento de diarreias na maternidade é a avaliação da ingestão de colostro pelos leitões, uma vez que é essencial para a imunidade passiva dos leitões recém-nascidos, já que não há transferência de imunoglobulinas e outros componentes da imunidade materna para os leitões via transplacentária.
De modo geral, granjas com baixo peso ao nascimento ou uma grande variabilidade do tamanho dos leitões nascidos são aquelas mais desafiadas com diarreias na maternidade, porque leitões com menor peso ao nascer podem ter dificuldade em consumir colostro suficiente, resultando em níveis mais baixos de IgG e maior suscetibilidade a infecções.
O diagnóstico clínico da causa da diarreia em leitões pode ser subjetivo e propenso a erros. Fatores como estresse, condições ambientais e outros problemas de saúde subjacentes podem ser muito semelhantes aos sintomas da diarreia. Para isso, devemos desenvolver critérios de diagnóstico mais objetivos para diarreia em leitões, como: monitorar os leitões desde o nascimento, permitindo a detecção precoce da doença, incorporar testes laboratoriais (por exemplo, consistência fecal, pH e níveis de eletrólitos), realizar necropsias e exames complementares a detecção viral ou bacteriana, como histopatologia e imuno-histoquímica.
Diagnóstico
Um diagnóstico preciso ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais. Um dos pilares para isso é a coleta adequada de amostras. Ela permite a identificação dos agentes etiológicos, avaliação da resposta imune e a monitorização da eficácia das terapias.
A escolha do tipo de amostra dependerá do agente etiológico suspeito e dos objetivos do exame. As amostras mais comuns incluem:
- Fezes: A coleta de fezes é o método mais simples e acessível. É importante coletar amostras frescas e representativas de diferentes animais do lote. Para suspeitas virais é importante coletar sempre de animais na fase aguda da doença, quando a eliminação viral é maior. Para casos de suspeita parasitária é importante associar o diagnostico com histopatologia, uma vez que a eliminação do Cystoisospora é intermitente.
- Sangue: A análise do sangue permite avaliar a resposta imune, a presença de anticorpos e detectar alterações bioquímicas.
- Conteúdo intestinal: A coleta do conteúdo intestinal é indicada para a identificação de patógenos que colonizam o intestino delgado ou grosso.
- Tecidos: A coleta de tecidos para histopatologia é parte fundamental e complementar as análises de cultivo bacteriano e detecção viral nas fazes ou conteúdo intestinal.
A coleta de amostras deve ser realizada de forma cuidadosa para evitar a contaminação e garantir a qualidade do material. Os recipientes utilizados para a coleta das amostras devem estar limpos e esterilizados para evitar a contaminação por outros microrganismos. De modo geral, é importante que as amostras sejam bem refrigeradas e nunca congeladas, uma vez que o processo de congelamento pode inviabilizar o cultivo bacteriano.
Após a coleta das amostras, diversos métodos podem ser utilizados para o diagnóstico, dentre eles cultura que possibilita a identificação e o isolamento de bactérias, PCR que detecta a presença de DNA ou RNA de vírus, bactérias com alta especificidade, sorologia para pesquisa de anticorpos contra os agentes infecciosos, indicando uma infecção prévia ou atual e a histopatologia que permite a avaliação de lesões histológicas e a identificação de agentes infecciosos em tecidos.
A histopatologia desempenha um papel crucial no diagnóstico preciso de doenças intestinais em leitões. Através da análise microscópica de tecidos, é possível identificar lesões características de diversas doenças, auxiliando na diferenciação entre condições infecciosas, inflamatórias, neoplásicas e degenerativas.
A escolha do método de coleta de amostra e do exame laboratorial dependerá do agente etiológico suspeito, da fase da doença e dos recursos disponíveis. A correta coleta e o transporte das amostras são essenciais para garantir a qualidade dos resultados.
A interpretação correta dos resultados dos exames laboratoriais é crucial para o diagnóstico preciso e o tratamento adequado da diarreia em leitões. Ela envolve a análise dos dados obtidos, a correlação com os sinais clínicos e a consideração de outros fatores, como a idade dos animais, as condições de manejo e a história epidemiológica do plantel.
Em resumo, o diagnóstico é uma ferramenta essencial no combate à diarreia em leitões de maternidade, uma vez que permite ações direcionadas e eficazes para controlar e prevenir a doença, garantindo a saúde e o bem-estar dos animais.
As referências bibliográficas estão com o autor. Contato: marketing.nutricao@agroceres.com.
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Suínos
Especialista evidencia importância de os profissionais da cadeia suinícola entenderem o que é sustentabilidade
Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção.
Na suinocultura, a sustentabilidade se tornou um dos principais desafios enfrentados pelos profissionais do setor. O médico-veterinário José Francisco Miranda, especialista em Qualidade de Alimentos, destaca que a compreensão desse conceito é fundamental para que zootecnistas e veterinários contribuam efetivamente para a produção sustentável de suínos. “É preciso entender que a sustentabilidade não é custo, mas investimento”, afirma.
Ele ressalta que, ao longo dos últimos 15 anos, a discussão sobre práticas sustentáveis esteve frequentemente atrelada a um aumento nos custos, envolvendo ações como o plantio de árvores e a adequação da dieta dos animais. “Essas práticas eram vistas como um custo, o profissional precisa desmistificar essa visão. Na verdade, boas práticas de produção estão intimamente ligadas a resultados positivos”, explica.
Para Miranda, a eficiência na conversão alimentar é um exemplo claro de como sustentabilidade e produtividade caminham juntas. “Não existe produção com alta conversão alimentar que não seja sustentável. Os números de emissões são baixos quando a eficiência é alta”, ressalta.
Um ponto destacado pelo especialista é o papel dos zootecnistas e nutricionistas na cadeia produtiva. “Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção. E cada vez mais eles terão um papel significativo na implantação da sustentabilidade dentro das empresas”, afirma.
O entendimento das análises de sustentabilidade e das tecnologias disponíveis é essencial. Miranda menciona, como exemplo, o uso de aditivos nutricionais, como a protease, que permite reduzir a quantidade de soja na ração. “Com isso, é possível diminuir a pegada de carbono em até 12%. No entanto, menos de 40% dos produtores no mundo utilizam essa tecnologia, o que revela uma falta de informação e confiança na eficácia desses produtos”, expõe.
Comunicação e conscientização
Para que as informações sobre sustentabilidade sejam disseminadas na suinocultura é fundamental que os profissionais comuniquem os benefícios dessas práticas não apenas entre si, mas também para a alta direção das empresas. “Os profissionais precisam trazer essa informação para a gestão, conscientes de que a sustentabilidade deve ser uma estratégia de crescimento, não apenas uma preocupação financeira”, destaca Miranda.
O especialista também ressalta a importância de uma colaboração entre academia, indústria e governo para facilitar a adoção de novas tecnologias. “Cada parte da cadeia produtiva deve contribuir para acelerar esse processo. É um esforço coletivo que envolve desde a produção até a comercialização”, enfatiza.
Compromisso do setor
Miranda acredita que o setor está comprometido com a adoção de práticas sustentáveis, embora reconheça a necessidade de discussão sobre o que é realmente necessário para essa transição. “As empresas entendem que a sustentabilidade traz benefícios não apenas para o planeta, mas também para sua própria lucratividade, mas é preciso acelerar a implementação destas práticas sustentáveis”, frisa,
Para se destacar neste cenário, Miranda enfatiza que os profissionais devem se aprofundar nas análises de sustentabilidade e na análise do ciclo de vida dos produtos. “Um bom profissional deve entender desde a produção do grão até o produto final que chega ao consumidor. Se ele se restringir a uma única área, pode perder de vista os benefícios que sua atuação pode trazer para toda a cadeia”, salienta.
A visão do especialista reforça que a sustentabilidade na suinocultura não é uma tendência passageira, mas uma necessidade imediata. “A adoção de práticas sustentáveis, aliada ao conhecimento técnico e científico, é fundamental para garantir um futuro mais responsável e eficiente para a indústria suinícola”, afirma.
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Suínos
Suinocultura teve ano de recuperação, mas cenário é de cautela
Conjuntura foi apresentada ao longo de reunião da Comissão Técnica de Suinocultura da Faep. Encontro também abordou segurança do trabalho em granjas de suínos.
Depois de dois anos difíceis, a suinocultura paranaense iniciou um período de recuperação em 2024. As perspectivas para o fim deste ano são positivas, mas os primeiros meses de 2025 vão exigir cautela dos produtores rurais, que devem ficar de olho em alguns pontos críticos. O cenário foi apresentado em reunião da Comissão Técnica (CT) de Suinocultura do Sistema Faep, realizada na última terça-feira (19). Os apontamentos foram feitos em palestra proferida por Rafael Ribeiro de Lima Filho, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A mesma conjuntura consta do levantamento de custos de produção do Sistema Faep, que será publicado nos próximos dias.
O setor começou a se recuperar já em janeiro deste ano, com a retomada dos preços. Até novembro, o preço do suíno vivo no Paraná acumulou aumento de 54,4%, com a valorização se acentuando a partir de março. No atacado, o preço da carcaça especial também seguiu esse movimento. A recomposição ajudou o produtor a se refazer de um período em que a atividade trabalhou no vermelho.
Por outro lado, a valorização da carne suína também serve de alerta. Com o aumento de preços, os produtos da suinocultura perdem competitividade, principalmente em relação à carne de frango, que teve alta bem menor ao longo ano: o preço subiu 7,7%, entre janeiro e novembro. Com isso, a tendência é que o frango possa ganhar a preferência do consumidor, em razão dos preços mais vantajosos.
“Temos que nos atentar com a competitividade da carne suína em relação a outras proteínas. Com seus preços subindo bem menos, o frango se tornou mais competitividade. Isso é um ponto de atenção para a suinocultura, neste cenário”, assinalou Lima Filho.
Exportações
Com 381,6 mil matrizes, o Paraná mantém 18% do rebanho brasileiro de suínos. A produção nacional está em estabilidade nos últimos três anos, mas houve uma mudança no portifólio de exportações paranaenses. Com a recomposição de seus rebanhos, a China reduziu as importações de suínos. O país asiático – que chegou a ser o destino de 40% das vendas externas paranaenses em 2019 – vai fechar 2024 com a aquisição de 17% das exportações de suínos do Paraná.
Em contrapartida, os embarques para as Filipinas aumentaram e já respondem por 18% das vendas externas de carne suína do Estado. Entre os destinos crescentes, também aparece o Chile, como destino de 9% das exportações de produtos da suinocultura paranaense. Nesse cenário, o Paraná deve fechar o ano com um aumento de 9% no volume exportado em relação a 2023, atingindo 978 mil toneladas. Os preços, em compensação, estão 2,3% menores. “Apesar disso, as margens de preço começaram a melhorar no segundo semestre”, observou Lima Filho.
Perspectivas
Diante deste cenário, as perspectivas são positivas para este final de ano. O assessor técnico da CNA destaca fatores positivos, como o recebimento do 13º salário pelos trabalhadores, o período de férias e as festas de final de ano. Segundo Lima Filho, tudo isso provoca o aquecimento da economia e tende a aumentar o consumo de carne suína. “A demanda interna aquecida e as exportações em bons volumes devem manter os preços do suíno vivo e da carne sustentados no final deste ano, mantendo um momento positivo para o produtor”, observou o palestrante.
Para 2025, se espera um tímido crescimento de 1,2% no rebanho de suínos, com produção aumentando em 1,6%. As exportações devem crescer 3%, segundo as projeções. Apesar disso, por questões sazonais, os produtores podem esperar uma redução de consumo nos dois primeiros meses de 2025. “É um período em que as pessoas tendem a ter mais contas para pagar, como alguns impostos. Além disso, a maior concorrência da carne de frango pode impactar a demanda doméstica”, disse Lima Filho.
Além disso, o aumento nos preços registrados neste ano pode estimular o alojamento de suínos em 2025. Com isso, pode haver uma futura pressão nos preços nas granjas e nas indústrias. Ou seja, o produtor deve ficar de olho no possível aumento dos custos de produção, puxado principalmente pelo preço do milho, da mão de obra e da energia elétrica. “O cenário continua positivo para a exportação, mas o cenário para o ano que vem é de cautela. O produtor deve se planejar e traçar suas estratégias para essa conjuntura”, apontou o assessor da CNA.
Segurança do trabalho
Além disso, a reunião da CT de Suinocultura da FAEP também contou com uma palestra sobre segurança do trabalho em granjas de suínos. O engenheiro e segurança do trabalho e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sandro Andrioli Bittencourt, abordou as Normas Regulamentadoras (NRs) que visam prevenir acidentes de trabalho e garantir a segurança e o bem-estar dos trabalhadores.
Entre as normativas detalhadas na apresentação estão a NR-31 (que estabelece as regras de segurança do trabalho no setor agropecuário), a NR-33 (que diz respeito aos espaços confinados, como silos, túneis e moegas) e a NR-35 (que versa sobre trabalho em altura). Em seu catálogo de cursos, o Sistema Faep dispõe de capacitações para cada uma dessas regulamentações.