Notícias Semana do Meio Ambiente
Sistema sustentável de produção de soja e milho da Epagri reduz uso de agrotóxicos
O objetivo da proposta foi comparar dois sistemas de produção para milho e soja: o sustentável, propagado pela Epagri, e o convencional, adotado pela maioria dos produtores do Oeste e Meio Oeste de Santa Catarina.

Produzir milho e soja pode ser um bom negócio em Santa Catarina. O Estado é o maior produtor nacional de suínos, o segundo de frangos, e tem se mantido por volta da quarta colocação quando se fala em produção leiteira. Para alimentar esses animais, é necessário produzir grãos. Por isso, a demanda por milho e soja no estado catarinense é constante e crescente.
Nesta reportagem, a segunda de três publicações relacionadas à Semana do Meio Ambiente, a Epagri apresenta a pesquisa “Estratégias sustentáveis e boas práticas agrícolas para a produção de milho e soja em Santa Catarina”, desenvolvida entre 2018 e 2022. “Ao final dos quatro anos, podemos concluir que o projeto teve um avanço significativo na redução do uso de agrotóxicos”, descreve Cirio Parizotto, pesquisador da Estação Experimental da Epagri em Campos Novos, e coordenador do estudo.
“Consideramos o resultado do projeto muito positivo, porque em três de quatro safras nós conseguimos manter ou melhorar a produção de milho e de soja. As técnicas utilizadas também mantiveram custos de produção semelhantes nos dois sistemas”, revela o pesquisador. “Os resultados foram positivos, tanto em termos técnicos como econômicos”, revela Parizotto.
O objetivo da proposta foi comparar dois sistemas de produção para milho e soja: o sustentável, propagado pela Epagri, e o convencional, adotado pela maioria dos produtores do Oeste e Meio Oeste de Santa Catarina.
O estudo utilizou uma área de 17 hectares da Estação Experimental para cultivar, lado a lado, soja e milho nos dois sistemas. Parizotto explica que não é normal que cultivos experimentais ocupem uma área tão extensa, mas sua intenção foi reproduzir minimamente as condições de uma propriedade de agricultura familiar catarinense.
Ao final dos quatro anos de pesquisa, foi constatada uma redução de 86% na aplicação de inseticidas no cultivo sustentável de soja. A produção sustentável do grão conseguiu reduzir ainda em 57% a aplicação de fungicidas e em 50% o uso de herbicidas.
No caso do milho sustentável, os quatro anos do estudo comprovaram uma redução de 50% no uso de herbicidas. Já a medição no uso de inseticidas foi prejudicada pelo aparecimento da praga cigarrinha-do-milho a partir da safra 2020/21, que até então não era prevalente no Estado e vem demandando medidas específicas de controle. As lavouras de milho em Santa Catarina na sua maioria não usam fungicidas, por isso esse aditivo não foi testado para esta cultura.
“Foi um trabalho bastante minucioso”, descreve o pesquisador. Foram avaliados diversos parâmetros, entre eles a incidência de plantas invasoras. Na produção sustentável foram empregadas várias coberturas de adubos verdes de inverno, enquanto que no sistema convencional a área foi mantida em pousio nos meses mais frios do ano. Manter a área em pousio significa não cultivar nada, deixando que a vegetação espontânea ocupe o espaço. Também foram monitoradas as condições climáticas vigentes, empregando dados coletados pela rede de estações meteorológicas automáticas da Epagri. A incidência de doenças foi outro parâmetro medido durante a pesquisa.
Prática da batida de pano
O sistema sustentável de soja também preconiza o monitoramento semanal de ataque de pragas, através da prática de batida de pano. Desenvolvida pela Embrapa na década de 1970, essa técnica consiste em esticar um pano de 1m por 1,5m nas entrelinhas da lavoura de soja e “bater” as plantas, para que os insetos caiam no tecido. Assim é possível identificar os insetos que são pragas e os que são benéficos ao cultivo. De acordo com Parizotto, alguns produtores catarinenses já vêm utilizando a batida de pano. “Estamos percebendo um avanço gradual, com perspectivas de crescimento”.
Uma prática comum na produção de soja convencional é a aplicação de inseticidas de forma preventiva, sem comprovação da presença de pragas. Além disso, os produtos fitossanitários são utilizados baseados em critérios subjetivos de percepção do agricultor, que utiliza aplicações em sistema de calendário e, muitas vezes, aproveitando a aplicação de outros agrotóxicos.
“Esse procedimento elimina insetos e microrganismos úteis, gerando um desequilíbrio ecológico e favorecendo o surgimento de novas pragas e doenças” alerta o pesquisador. Ele classifica como fundamental o monitoramento constante das lavouras, para verificar a real necessidade ou o momento exato da realização do trato cultural.
Outro ponto apontado pelo pesquisador no sistema convencional é a aplicação de corretivos e fertilizantes, que, segundo ele, “na maioria das vezes ocorre de forma desordenada, sem uma correta amostragem do solo, o que normalmente resulta em super adubações, elevando os custos e gerando problemas ambientais”.
Foi preocupado com todo este cenário que ele propôs a pesquisa. Na opinião de Parizotto, esse tipo de estudo é “imprescindível para o estabelecimento de estratégias sustentáveis, manejos culturais integrados e boas práticas agrícolas, sem que essas onerem ou descaracterizem a produção das propriedades rurais, valorizando aspectos regionais e culturais, a geração de emprego e renda e contribuindo para assegurar a dignidade necessária, principalmente aos agricultores familiares e pequenos empresários rurais”.
A série de técnicas avaliadas nos quatro anos da pesquisa já começaram a ser publicadas e difundidas por meio de dias de campo e palestras para agricultores, técnicos da Epagri e de outras instituições. Parizotto afirma que “elas são perfeitamente possíveis de serem utilizadas pelos agricultores, demonstrando que há uma margem de intervenção, de forma a compor as práticas agrícolas e interferir nos custos de produção, às vezes conseguindo a redução do custo, sem afetar o rendimento destas duas culturas que têm importância primordial para Santa Catarina”.

Notícias
Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025
Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves
A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.
Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.
Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.
Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves
Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.
Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.
Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.
Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.
Notícias
Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
Notícias
Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.



