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Suínos / Peixes Entrevista

Sindicarne avalia logística do começo ao fim, aponta deficiências e cobra mudanças

Diretor executivo da entidade, Jorge Luiz de Lima, admite avanços, mas adverte para um longo caminho a ser percorrido para melhorar esse sistema.

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O jornal O Presente Rural conversou com o diretor executivo do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado de Santa Catarina (Sindicarne), Jorge Luiz de Lima, para saber as deficiências logísticas que a indústria tem em todo seu sistema produtivo, das fazendas na hora de comprar o grão para a formulação das rações até a destinação final para os consumidores nos mercado interno e externo. Ele admite avanços, mas adverte para um longo caminho a ser percorrido para melhorar esse sistema.

O Presente Rural – Como é feita a logística para entrega de matéria prima nas fazendas produtoras de aves e suínos?

Jorge Luiz de Lima – Nós temos uma dupla logística dessa sistemática. A primeira delas é aquisição do milho, do farelo de soja ou de qualquer outra espécie de grão que nós utilizamos na formulação das rações, então isso vem de propriedade produtoras de milho de farelo de soja ou de outro grão até as fábricas de rações das empresas. E as empresas, por sua vez, com outros aditivos ao milho e farelo de soja, como os premix, as vitaminas, formulam rações que são validados pelo Ministério da Agricultura, sempre classificadas por faixa etária dos animais e por espécie de animal. Por exemplo, aves tem uma determinada formulação e dentro do critério aves nós temos os animais que têm os primeiros dias e os animais que já estão indo para o abate, para fase final da vida dele. Então temos diferentes formulações, com diferentes grãos, para as diversas fases de crescimento de aves. Em suínos é a mesma lógica. Temos as fases iniciais, intermediárias e finais do suíno, que também se utiliza de grãos com formações diferentes das rações, sendo que todas elas chegam aos produtores, ao campo, àqueles que a alojam aves e suínos, seja no sistema de integração, seja um sistema de cooperação, através da fábricas de ração.

A logística é utilizada no primeiro momento do campo às fábricas de ração normalmente através de empresas contratadas, de transportadores contratados, seja no sistema de quem compra paga e se responsabiliza pelo frete, seja no sistema que você compra o pacote fechado, você compra o grão e quem está vendendo a você coloca na porta da sua fábrica já com custo de transporte embutido E a segunda fase, da fábrica de ração para os integrados ou cooperados, normalmente através de transportadores de ração, que acabam sendo transportadores cativos, trabalhando com aquele caminhão para uma empresa para que não haja nenhuma espécie de contaminação cruzada e haja sempre o rastreamento de toda a cadeia de distribuição da ração, desde a fábrica de ração até a propriedade que está criando os animais.

O Presente Rural – Como e feita a logística das granjas até as indústrias?

Jorge Luiz de Lima – A logística reversa, do campo para a indústria, nós também temos transportadores que são cativos, ou seja um caminhão x acaba transportando para empresa a ou b, mas nunca para a e b, exatamente para manutenção do critério sanitário, o que não impede que aquela transportadora tenha outros caminhões trabalhando para diferentes integradores ou cooperativas. Isso se dá sempre com base no critério sanitário. O carregamento em si de aves e suínos normalmente é feito por empresas terceiras e nunca efetivamente pelas empresas integradoras ou cooperativas.

O Presente Rural – De maneira geral, em sua avaliação, como está o estado de conservação das estradas rurais e das rodovias que levam às agroindústrias em SC e no Brasil?

Jorge Luiz de Lima – A questão da infraestrutura de rodovias é muito deficitária. Enquanto nós temos investimentos, em regra, pelos criadores do campo de acesso a suas propriedades muitas vezes encontramos rodovias em mau estado de conservação. Se nós falarmos em rodovias federais nós temos visto que vem progredindo questão de termos uma pavimentação, duplicação de rodovias, e aqui em Santa Catarina também temos uma melhoria nos últimos anos do processo de recapeamento de rodovias, mas ainda é muito deficitário. Não se investiu nesse processo logístico de maneira pesada pelo menos há 40 anos e é algo que temos hoje como grande gargalos por parte de quem produz.

Temos um grande problema porque aumenta o custo do frete como um todo, uma vez que temos que computar no preço do frete não apenas aquele custo fixo, mas o custo variável, custo manutenção dos veículos, custo de desgaste de pneus e tudo isso vem numa planilha que é apresentada no momento pelos transportadores para definir o valor final do quilômetro rodado por cada espécie de transporte que se faz.

O Presente Rural – Como é feita a distribuição de carnes para o Brasil e para o exterior? Quais os principais gargalos?

Jorge Luiz de Lima – Quando olhamos distribuição do produto final, ou seja, da proteína animal embalada de aves e suínos, preponderantemente daquilo que estamos falando, para o Brasil e para o mundo, se repete um pouco daquilo que se tem como cenário no que tange a vinda do animal para a indústria. Nós não temos estradas em estado de conservação satisfatório, mas temos progredido nesse sentido, embora tenhamos muitos gargalos a destravar. E temos a questão da dinâmica portuária também bastante complicada. Quando falamos em distribuição para o mundo, dependemos muito dos armadores, das rotas de armadores, e dependemos muito da infraestrutura portuária que temos, muito ainda estatizada e que precisa estar, por uma questão dinâmica, operando pela iniciativa privada para termos uma dinâmica mais efetiva.

O Estado, no viés dele, fiscalizatório, que é o ideal: o Estado criar os marcos regulatórios, a legislação, e fiscalizar a operação, que não deve ser estatal, a operação deve ser do privado, mas o marco regulatório e a fiscalização por parte do Estado. Essa sim a função estatal. Mas inerentemente à atividade do privado está a operação, então temos ainda muito gargalos a progredir no Brasil como um todo, ainda que tenhamos superado vários obstáculos nos últimos anos. Isso é fundamental para que tenhamos um resultado eficiente e possamos produzir algo com qualidade e colocarmos com a mesma qualidade no destino, em qualquer lugar do mundo. Especificamente quando olhamos para o Estado de Santa Catarina, estamos falando para mais de 140 países, então temos um grande mercado mundial consumidor da proteína animal que é produzida com excelência aqui no estado.

O Presente Rural – Cerca de 40% das cargas brasileiras de frangos e suínos estão paradas em portos, de acordo com a ABPA. Isso é normal? Porque está acontecendo?

Jorge Luiz de Lima – As cargas que ficam retidas têm algumas características. É preciso entender primeiro se as cargas retidas estão retidas por uma questão documental, se estão retidas por questões de rotas, se estão retidas por problemas com o destinatário daquela carga ou se estão efetivamente aguardando algum processo burocrático que se tenha, de acordo com os regulamentos nacionais. Nos preocupa sempre o volume de carga retida, que significa custo maior de logística, de armazenagem, custo maior de frete, custo de plugagem, ou seja, o custo para você colocar um contêiner refrigerado na tomada para que ele se mantenha assim até que haja a liberação da carga, mas é sempre um fator de preocupação. Na medida em que damos um fluxo mais célere ao produto que sai da fábrica e chega ao seu destino, menor é o custo que temos de produção e mais rapidamente podemos atender outros mercados, inclusive liberando contêineres refrigerados, que hoje tem sido um gargalo mundial, no mundo tem faltado contêiner. Não é diferente nos que denominamos como reefers, que são os contêineres refrigerados, independente do tamanho, independentemente de ser de 20 pés ou de 40 pés.

E se nós considerarmos, por exemplo, tomando por base o nosso maior comprador de carne suína no mundo, que é a China, que um produto entre a porta da fábrica e o porto de destino leva em torno de 40 dias, termos produtos parados há 40 dias no local para ser despachado significa exatamente dobrar o prazo e provavelmente alavancar de maneira muito efetiva questão dos custos da produção daquele produto, que já deveria estar no seu destino. Então temos que criar regramentos, criar formas de celeridade para termos o produto colocado da maneira mais rápida da origem ao destino.

O Presente Rural – Qual seria a logística ideal para o sistema produtivo de aves e suínos?

Jorge Luiz de Lima – O cenário ideal para questão logística é basicamente que você tenha, entre a fábrica e o embarque no porto de acordo com a rota do navio, o tempo mais enxuto possível. Depois temos que considerar o tempo de tramitação marítimo da origem até o destino, este sempre é o tempo ideal. Nós não podemos ficar parados em quaisquer dos locais, seja na fábrica, seja na área retroportuária até ser embarcado em navios em decorrência de burocracias, que por vezes acabam sendo desnecessárias, então uma padronização documental, uma padronização de procedimentos evita que nós tenhamos a possibilidade do arbítrio de um determinado fiscal de exigir um documento a mais ou um a menos.

Hoje no Brasil nós temos excelentes profissionais, é importante fazer essa ressalva, mas nós não temos uma padronização, o que as vezes acaba criando uma confusão para quem produz, porque se eu lidando em um determinado porto a exigência documental é X, e as vezes no porto diverso é 2X. Então você tem que estar preparado para saber qual é a documentação básica e não fugir dessa documentação básica.

Por um outro lado é necessário também o preparo de quem está organizando os documentos. Sem dúvida alguma algo que seria fundamental para dar celeridade aos processos de liberação de cargas seria um sistema do Governo Federal confiável e eletrônico para a emissão e assinatura dos documentos de embarque, para que não se precisasse mais se utilizar de meio físico, papel, para que esses documentos fossem validados, como se faz hoje com assinatura eletrônica ou com validações eletrônicas, usando como exemplo o poder judiciário; hoje o profissional advogado, citando um exemplo, fazendo um comparativo, ele não precisa mais ir até o Fórum para protocolar um documento ou assinar o documento, ele faz tudo eletronicamente. Não deveria ser diferente nos documentos de embarque. Os documento de embarque deveriam seguir uma um sistema e uma lógica padronizada de documentos no mesmo padrão que temos hoje em alguns outros locais. Isso facilitaria muito e daria celeridade na emissão de certificados sanitários internacionais ou certificados sanitários nacionais. Isso daria segurança maior tanto para as empresas quanto para o órgão de fiscalização.

O Presente Rural – Como a logística influencia na competitividade do agronegócio brasileiro?

Jorge Luiz de Lima – Sem dúvida alguma a logística bem feita ou a falta de logística influencia na competitividade, é o tal do custo Brasil. Um dos critérios para o calcular o custo do Brasil é o critério logística, dentre outros, como tributário, fiscais, regulatórios, mas sem dúvida alguma a logística nos imputa um preço muito alto ao nosso produto, que já é um produto diferenciado e é mais barato do que em regra proteína animal feita no mundo todo.

Ainda que a nossa percepção, de acordo com aquilo que a gente ganha, às vezes possa parecer que estamos pagando um valor muito alto pela proteína animal, se nós compararmos o custo disso com o custo de produção em outros lugares do mundo e o preço final que nos chega, mesmo comparando faixas de renda, nós vamos perceber que no Brasil a proteína animal é ainda barata, é uma proteína ainda acessível. O brasileiro, em regra, consome proteína animal, ele não deixa de consumir proteína animal, acaba substituindo quando há a elevação de preço, substitui uma proteína por outra. Mas teríamos, sim, melhor produtividade e melhor competitividade se tivéssemos um processo logístico mais adequado, sem perdas do campo à  indústria e sem entraves da indústria ao cliente final, ao mercado interno e mercado externo, que nos colocaria hoje, sem dúvida alguma, num patamar ainda mais elevado do que já somos.

O Brasil maior produtor e maior exportador de carne de frango e o quarto maior produtor e quarto maior exportador de carne suína. Somos o primeiro exportador em carne bovina e temos outras commodities que sem dúvida alguma nos colocam no topo da lista, como suco de laranja, café e cebola. Então nós temos que estar atentos ao custo logístico, exatamente para não perdermos competividade e não perdemos a posição que ocupamos, uma vez que o setor como um todo gera muito emprego, gera renda, fixa o homem no campo, dá qualidade de vida no campo e nos aponta como um país de excelência na produção agrícola para alimentar hoje esses 7 bilhões de pessoas no mundo, que deverão chegar em 2050 na casa dos 10 milhões de pessoas, segundo as perspectivas da ONU. A FAO aponta o Brasil como um país que poderá alimentar o mundo, com um pequeno acréscimo da área produtiva, uma vez que nós ocupamos apenas 9% do território nacional com todo agronegócio, comparando-se a Estados Unidos que ocupa 40%, a França que ocupa 40% e a Bélgica que ocupa 50% do seu território com o agronegócio. Nós somos muito mais competitivos com o preço de excelência e um produto que não há comparado no mundo. Temos que tirar os estraves, temos que tirar essas barreiras de ineficiência logística que hoje temos no Brasil.

Suínos / Peixes

Levantamento da Acsurs estima quantidade de matrizes suínas no Rio Grande do Sul 

Resultado indica um aumento de 5% em comparação com o ano de 2023.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Com o objetivo de mapear melhor a produção suinícola, a Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs) realizou novamente o levantamento da quantidade de matrizes suínas no estado gaúcho.

As informações de suinocultores independentes, suinocultores independentes com parceria agropecuária entre produtores, cooperativas e agroindústrias foram coletadas pela equipe da entidade, que neste ano aperfeiçoou a metodologia de pesquisa.

Através do levantamento, estima-se que no Rio Grande do Sul existam 388.923 matrizes suínas em todos os sistemas de produção. Em comparação com o ano de 2023, o rebanho teve um aumento de 5%.

O presidente da entidade, Valdecir Luis Folador, analisa cenário de forma positiva, mesmo com a instabilidade no mercado registrada ainda no ano passado. “Em 2023, tivemos suinocultores independentes e cooperativas que encerraram suas produções. Apesar disso, a produção foi absorvida por outros sistemas e ampliada em outras regiões produtoras, principalmente nos municípios de Seberi, Três Passos, Frederico Westphalen e Santa Rosa”, explica.

O levantamento, assim como outros dados do setor coletados pela entidade, está disponível aqui.

Fonte: Assessoria Acsurs
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Suínos / Peixes

Preços maiores na primeira quinzena reduzem competitividade da carne suína

Impulso veio do típico aquecimento da demanda interna no período de recebimento de salários.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Os preços médios da carne suína no atacado da Grande São Paulo subiram comparando-se a primeira quinzena de abril com o mês anterior

Segundo pesquisadores do Cepea, o impulso veio do típico aquecimento da demanda interna no período de recebimento de salários.

Já para as proteínas concorrentes (bovina e de frango), o movimento foi de queda em igual comparativo. Como resultado, levantamento do Cepea apontou redução na competitividade da carne suína frente às substitutas.

Ressalta-se, contudo, que, neste começo de segunda quinzena, as vendas da proteína suína vêm diminuindo, enfraquecendo os valores.

 

Fonte: Assessoria Cepea
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Suínos / Peixes

Pesquisadores adaptam técnica que acelera o crescimento do tambaqui

Por meio de um equipamento de pressão, é possível gerar um par a mais de cromossomos no peixe, gerando animais triploides e favorecendo o seu crescimento. Técnica foi adaptada de versões empregadas em criações de truta e salmão no exterior. Método gera animais inférteis, o que possibilita criações em regiões em que o tambaqui é exótico, uma vez que eventuais escapes não impactarão a fauna aquática local no longo prazo.

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Além do crescimento mais rápido e do peso maior do tambaqui, a esterilidade provocada pela técnica de produção de peixes triploides é uma vantagem para a disseminação da piscicultura nativa - Foto: Siglia Souza

A Embrapa Pesca e Aquicultura (TO) estuda uma técnica capaz de deixar o tambaqui (Colossoma macropomum) aproximadamente 20% maior e mais pesado. A técnica consiste em gerar, por meio de aplicação de pressão nos ovos fertilizados, peixes com três conjuntos de cromossomos (triploides) – em condições naturais são dois conjuntos – para deixar o peixe infértil. Com isso, ele cresce e engorda mais rápido do que em condições normais. A pesquisa faz parte da tese de doutorado de Aldessandro Costa do Amaral, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), sob a orientação da pesquisadora Fernanda Loureiro de Almeida O´Sullivan.

Além do crescimento mais rápido, a esterilidade provocada pela técnica de produção de peixes triploides é uma vantagem para a disseminação da piscicultura nativa. “Quando você tem um peixe estéril, abre a possibilidade de regularização de seu cultivo em uma região onde ele seja exótico”, ressalta a pesquisadora. Isso porque, em caso de escape para a natureza, os animais estéreis não ofereceriam risco de se reproduzir em regiões das quais eles não fazem parte como, por exemplo, a Bacia do Prata, no Pantanal. “Assim, você expande os locais em que a espécie pode ser cultivada, mediante a regularização da atividade”, destaca a cientista.

A tecnologia já é empregada no exterior em peixes como salmão e truta, e o maior desafio era adaptá-la para o tambaqui, a segunda espécie mais produzida no Brasil. “Nas pisciculturas de truta na Escócia, o peixe cultivado tem que ser obrigatoriamente triploide, para não desovar. Como essas espécies são criadas em gaiolas no mar, precisam ser estéreis para não se reproduzir, o que causaria uma contaminação genética na população natural. Por isso é uma obrigação que todos os peixes sejam triploides”, explica a pesquisadora, acrescentando que a técnica em si não é nova; a novidade está na aplicação em peixes nativos brasileiros. “É uma tecnologia antiga, relativamente simples e de grande efeito na aquicultura, que estamos adaptando para o tambaqui.”

Equipamento de pressão para a indução de poliploidia de cromossômica em peixes – Foto: Jefferson Christofoletti/Embrapa

Equipamento importado
A pesquisa faz parte do projeto Aquavitae, o maior consórcio científico já realizado para estudar a aquicultura no Atlântico e no interior dos continentes banhados por esse oceano. Por meio do Aquavitae, a Embrapa utilizou de 2019 até 2023, para os primeiros testes dessa técnica, um equipamento de pressão próprio para a indução de poliploidia de cromossômica em peixes. A empresa norueguesa Nofima cedeu o equipamento para os experimentos na Embrapa Pesca e Aquicultura. Trata-se de aparelho de grande porte que opera de forma automática, bastando regular a pressão e o tempo desejados. A máquina é inédita no Brasil. “O aparelho que mais se assemelha pertence à Universidade de Santa Catarina, porém, a aplicação da pressão é manual”, conta a pesquisadora.

Como é a técnica utilizada?
O´Sullivan explica que a pesquisa buscou definir três parâmetros cruciais para induzir à triploidia. Primeiro, o tempo após a fecundação do ovo em que se deve iniciar o choque de pressão. Depois, foi preciso definir a intensidade da pressão a ser aplicada para o tambaqui, e, por fim, a equipe teve que descobrir a duração ideal da pressão. “Tivemos que identificar esses três parâmetros para o tambaqui ao longo do projeto”, explica a cientista.

Para realizar a técnica, são utilizados um milhão de ovos recém fertilizados, que vão para a máquina de pressão. Em seguida ao choque de pressão, os ovos vão para as incubadoras comumente usadas e o manejo é igual à larvicultura tradicional e à alevinagem. A quantidade de ração também é a mesma por biomassa; apenas os peixes começam a crescer mais. A pesquisadora conta que o protocolo para obtenção de 100% de triploides levou cinco anos para ser alcançado, após vários testes-piloto.

À esquerda, animais convencionais e, à direita, peixes submetidos ao processo de indução de poliploidia. Ambos originários da mesma desova e de idades idênticas.

Em seis meses, 20% maior
Durante a pesquisa, que avaliou o ciclo de crescimento e engorda do tambaqui triploide durante seis meses, observou-se que o peixe ficou 20% maior e mais pesado que os irmãos que não tinham passado pelo choque de pressão (usados como controle). O próximo passo da pesquisa é fazer uma avaliação durante o ciclo completo de crescimento da espécie, que dura 12 meses. “Produzimos um novo lote de triploides que deixaremos crescer até chegarem a um quilo. Se o resultado for o mesmo que tivemos com o peixe de seis meses, eles vão chegar a um quilo em menos de 12 meses”, calcula a pesquisadora, acrescentando que também estão sendo avaliadas a sobrevivência larval e a ocorrência de deformidades nesses peixes.

Outra característica que preocupa os pesquisadores são as consequências da triploidia no sistema imunológico destes peixes. Resultados preliminares indicam que o tambaqui triploide pode ter uma resistência reduzida a condições desafiadoras, como alteração da temperatura da água. Por isso, segundo a pesquisadora, antes que a tecnologia seja repassada para o setor produtivo, serão realizados estudos para a validação completa da técnica de produção de tambaquis triploides. “O primeiro passo era conseguir obter um protocolo que nos desse 100% de triploidia em tambaqui. Ficamos muito felizes e esperançosos de termos alcançado esse objetivo. Agora, outros estudos vão avaliar as vantagens e possíveis desvantagens dessa técnica na produção da espécie”, conclui Fernanda O’Sullivan.

Produção de tilápia usa outra técnica
Embora a infertilidade dos peixes seja uma vantagem para o crescimento do animal e para a expansão a novas regiões de produção, a triploidia não é indicada para a tilápia (Oreochromis niloticus), a espécie mais produzida no Brasil. Segundo a pesquisadora, há para a tilápia uma técnica mais econômica, que promove a criação do monosexo do macho pelo tratamento com hormônio para esse fim.

“A tilápia também tem protocolo de triploidia desde 1980, mas não estão mais usando, pois fica mais barato fazer a masculinização pela ração”, ressalta O´Sullivan. Ao contrário do tambaqui, em que as fêmeas são maiores do que os machos, na tilápia, os machos é que são maiores. Assim, foram desenvolvidas técnicas para masculinizar as larvas da tilápia. Ainda, para se fazer a triploidia, os ovos devem ser fertilizados in vitro, ou seja, artificialmente. E a produção de larvas de tilápias hoje se baseia na reprodução natural dos casais e coletas dos ovos já em desenvolvimento.

No caso da criação de monosexo da tilápia, quando os alevinos começam a comer, é oferecida ração com metiltestosterona. Isso faz com que todos os peixes se tornem machos. Com a produção exclusiva de machos, além de acelerar o crescimento, evita-se problemas de reprodução desenfreada da espécie, que é exótica no Brasil.

A pesquisadora ressalta que a técnica do monosexo nada tem a ver com a triploidia. “A técnica empregada no peixe triploide está ligada ao crescimento e à esterilidade. A esterilidade é muito importante, porque é uma característica que o monosexo não tem. Os peixes são do mesmo sexo, porém são férteis”. Ela conta que a Embrapa já está pesquisando produzir monosexo de tambaqui feminino, também pelo uso da ração – no caso, acrescida de estradiol.

Fonte: Assessoria Embrapa Pesca e Aquicultura
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