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Será que vai chover? O uso de índices paramétricos no seguro rural
Em vez de depender de perdas reais, índices paramétricos utilizam dados climáticos para acionar pagamento de indenizações.
O setor agrícola desempenha um papel fundamental na economia brasileira, fornecendo alimentos, matérias-primas e sustento para milhões de pessoas. No entanto, a agricultura é suscetível a uma série de riscos, e as condições climáticas desempenham um papel crucial no sucesso ou fracasso das colheitas. Mudanças e eventos climáticos extremos estão tornando o setor agrícola ainda mais vulnerável a perdas financeiras.
Para mitigar esses riscos, o seguro rural desempenha um papel crucial ao oferecer proteção financeira aos agricultores. Tradicionalmente, os seguros agrícolas se baseiam em dados históricos e perdas reais, mas essa abordagem enfrentou desafios significativos, especialmente devido à crescente volatilidade climática.
Nos últimos anos, uma abordagem inovadora tem ganhado destaque: o uso de índices paramétricos no seguro rural. Em vez de depender de perdas reais, os índices paramétricos utilizam dados meteorológicos e climáticos para acionar o pagamento das indenizações. Essa abordagem promete maior rapidez e eficiência no pagamento de sinistros, o que é crucial em momentos de crise.
Este artigo pretende lançar luz sobre essa abordagem promissora, oferecendo uma compreensão aprofundada de seu potencial para revolucionar o seguro rural e, em última instância, fortalecer a segurança financeira dos agricultores em todo o território nacional.
Também chamado de seguro de índices climáticos, o seguro paramétrico é voltado para produtores rurais que se baseia em eventos climáticos e seus índices. Ao contrário do seguro rural tradicional, esse tipo de apólice não está vinculado diretamente à produção agrícola em si. O evento considerado como sinistro não são as perdas diretas na produtividade devido a determinadas condições climáticas, mas sim a discrepância entre os índices climáticos previstos e o que realmente ocorreu.
Para determinar esses parâmetros, geralmente são utilizados dados de fontes públicas ou informações de estações meteorológicas privadas. O aspecto crucial é que essas informações sejam verificáveis tanto pelo segurado quanto pela seguradora. Isso torna o seguro paramétrico uma ferramenta valiosa para proteger os produtores rurais contra eventos climáticos adversos, mesmo quando as perdas exatas na produção são difíceis de quantificar.
Para compreender o funcionamento do seguro paramétrico, podemos simplificá-lo da seguinte maneira: quando você adquire uma apólice desse tipo de seguro agrícola, estabelece-se em contrato alguns parâmetros, como temperatura ou níveis de chuva. Se esses índices, mais tarde, não estiverem de acordo com o que foi acordado – ou seja, se estiverem fora dos limites definidos no contrato – isso é considerado um sinistro. E, como resultado, uma indenização é paga.
Essa abordagem significa que, no contexto desse seguro, um sinistro não está relacionado às perdas reais ou aos danos que eventos climáticos podem ter causado ao produtor rural. Em vez disso, está relacionado à diferença entre os índices que eram esperados e o que de fato aconteceu em termos climáticos durante um período específico.
O seguro de índices climáticos, como o nome sugere, está diretamente relacionado a eventos meteorológicos, e os parâmetros definidos nas apólices estão ligados a esses eventos. O principal parâmetro utilizado é o nível de precipitação, que indica excesso de chuva ou períodos de seca. No entanto, os contratos também podem considerar parâmetros como temperatura, ventos e outras condições climáticas.
Geralmente, os dados usados para elaborar esses contratos são coletados por instituições reconhecidas na área, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e outras fontes confiáveis.
No contexto do seguro rural paramétrico, as culturas de interesse são variadas e podem ser aplicadas a diferentes segmentos agrícolas. Isso engloba tanto a agricultura de grãos, como soja e milho, quanto as frutas, como maçãs e uvas, e até mesmo segmentos como a pecuária. Em resumo, o seguro paramétrico é uma ferramenta versátil que pode ser adaptada para atender a uma ampla gama de culturas e setores do agronegócio.
Ainda, para além do contexto agropecuário, o seguro paramétrico pode ser aplicado em uma variedade de atividades econômicas que são sensíveis às condições climáticas. Como exemplo, o seguro paramétrico encontra aplicação em setores como a indústria e a produção de energia, onde as condições climáticas desempenham um papel crucial. Além disso, é relevante para setores como eventos, construção e hotelaria, sendo importante destacar que tanto indivíduos como empresas podem contratar esse tipo de seguro.
Entre as vantagens do seguro paramétrico, merecem destaque a capacidade de personalização da apólice, a proteção contra eventos inesperados, a dispensa de danos materiais substanciais como requisito, a minimização de perdas e a preservação da estabilidade dos negócios, além da facilidade no processo de recebimento de indenizações.
Como visto, o seguro rural paramétrico é uma proteção inovadora que se torna acessível aos pequenos agricultores que tradicionalmente não tinham acesso a coberturas de seguro devido à falta de informações e recursos. Ao eliminar a necessidade de perícia presencial, torna-se uma solução viável para pequenas propriedades. Isso garante aos agricultores familiares uma indenização justa em casos de problemas climáticos, permitindo que se recuperem e continuem a produzir alimentos, mantendo sua renda, segurança alimentar e preservando o ecossistema local.
Ainda, a contratação do seguro pode ser organizada de forma coletiva por meio de associações e cooperativas, fortalecendo essas entidades no apoio à produção agrícola. Isso significa que os agricultores podem se unir para adquirir essa proteção e compartilhar os benefícios. A simplicidade dos gatilhos para acionamento das apólices facilita o processo, desde a contratação até o término da cobertura, tornando-o uma solução viável e eficaz para essas organizações.
Como política pública, o seguro paramétrico tem potencial para contribuir para a segurança alimentar do país, uma vez que mais de 70% dos alimentos consumidos no Brasil são produzidos por agricultores familiares. Ao proteger esses agricultores das incertezas climáticas, o seguro paramétrico ajuda a garantir que eles permaneçam em suas terras, continuem a produzir alimentos e preservem o meio ambiente. Isso é crucial para a segurança alimentar e o uso sustentável da terra.
Com o intuito de alcançar esse objetivo, no ano de 2021, no âmbito do Programa de Seguro Rural (PSR) do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o Governo Federal deu seu aval para um subsídio de 20% sobre o prêmio do seguro paramétrico. Recentemente, o Ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, solicitou, por meio de uma Nota Técnica, a alocação de um crédito suplementar no Orçamento Geral da União (OGU) no valor total de R$ 500 milhões destinados à concessão de subvenção econômica para o PSR.
Atualmente, o PSR abrange 106 mil apólices, trazendo benefícios para mais de 74 mil produtores em uma área que se estende por aproximadamente 5,5 milhões de hectares. A avaliação técnica conduzida pelo Departamento de Gestão de Riscos da Secretaria de Política Agrícola do Mapa aponta que existe uma probabilidade considerável de que o fenômeno El Niño tenha um impacto significativo na safra 2023/2024, com um risco maior de estiagem nas regiões Norte e Nordeste, além de previsões de chuvas excessivas na Região Sul.
Esses recursos desempenham um papel fundamental ao assegurar que os produtores possam enfrentar crises climáticas e superar adversidades. Seja devido ao excesso de chuva em um momento ou à seca em outro, eles podem plantar e colher com a confiança de que suas lavouras estão protegidas por meio do seguro.
Em resumo, o seguro paramétrico representa uma abordagem inovadora para o seguro agrícola, afastando-se da tradicional dependência de perdas reais em favor do uso de índices climáticos como referência. Isso se traduz em uma série de vantagens, incluindo a possibilidade de personalização, proteção contra eventos imprevisíveis, dispensa de danos materiais substanciais, minimização de perdas e facilidade na obtenção de indenizações.
Essa abordagem não apenas beneficia grandes agricultores, mas também se torna acessível aos pequenos agricultores por meio de associações e cooperativas. Com a simplicidade dos gatilhos para acionamento de apólices, o seguro paramétrico se torna uma solução viável e eficaz. Além disso, como política pública, ele contribui significativamente para a segurança alimentar do país, protegendo agricultores familiares e garantindo a produção de alimentos, ao mesmo tempo em que preserva o meio ambiente.
A importância do seguro paramétrico é refletida nas iniciativas do Governo Federal, que aprovou subsídios e alocação de recursos substanciais para apoiar o Programa de Seguro Rural, demonstrando seu compromisso com a segurança financeira dos produtores agrícolas. Com previsões de mudanças climáticas e eventos extremos, o seguro paramétrico desempenha um papel crucial na garantia de que os agricultores possam enfrentar crises climáticas e adversidades com confiança, mantendo suas lavouras protegidas. Em última análise, esse seguro é uma ferramenta essencial para a sustentabilidade do agronegócio no Brasil e para a segurança alimentar de toda a nação.
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Avanços e desafios da agricultura regenerativa tropical
Evolução das práticas regenerativas permite a melhoria no ambiente de produção com uma melhoria da qualidade do solo como principal capital do agricultor.
O mundo desafia a agricultura a dar segurança alimentar para uma demografia ainda em crescimento, contribuir com emissões negativas para as mudanças climáticas e ainda contribuir com produção com densidade nutricional e qualidade. A agricultura brasileira pode contribuir com essa agenda de forma relevante. Atualmente, o Brasil está entre os 5 maiores produtores de alimentos e é o primeiro colocado na exportação de vários produtos agrícolas.
É considerado o mais importante produtor de grãos nos trópicos. Estima-se que a produção agropecuária no Brasil já alimenta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo e que as projeções da OCDE-FAO indicam uma ampliação considerável da importância do Brasil no comércio agroalimentar global até 2032. Vários são os motivos que levam a essas importantes conquistas.
Podemos citar a contribuição da agricultura industrial através da “revolução verde”, por exemplo. No entanto, muitas vezes a produção de alimentos vegetais e animais, fibras e energia também estão ancoradas em custos ocultos ao meio ambiente: a biodiversidade do sistema, a qualidade do solo agrícola, a saúde das pessoas nas cidades, a saúde dos consumidores finais, o bem-estar animal e das pessoas que trabalham diretamente no campo.
Além disso, é conhecido que esse sistema de produção convencional necessita de condições ambientais estáveis para garantir boas produtividades. Ou seja, o sistema convencional é extremamente suscetível às adversidades climáticas, as quais estão se tornando cada vez mais frequentes em diferentes regiões do Brasil. As externalidades negativas do sistema convencional de produção, somadas às suas limitações adaptativas aos extremos climáticos, requerem uma transição regenerativa e novos fundamentos de produção.
Dentro deste contexto de conscientização da sociedade por alimentos com ausência de resíduo químico, com características organolépticas superiores e com maior densidade nutricional, das necessidades de mitigar os efeitos de mudança climática, de garantir a manutenção dos recursos para as gerações futuras, de atender as demandas presentes e de preservar a biodiversidade do sistema produtivo, alguns produtores têm implementado práticas agrícolas bem conhecidas pela Ciência.
A novidade é que essas soluções estão sendo adotadas em escala. Essas práticas e técnicas de manejo regenerativo (Fig. 1) são capazes de reduzir significativamente a dependência de insumos importados, a poluição do ambiente, enquanto são capazes de aumentar a eficiência e a resiliência dos sistemas produtivos, permitindo a manutenção de boas produtividades mesmo em períodos prolongados (superior a 60 dias, no caso de grãos) sem chuvas.
A evolução das práticas regenerativas permite a melhoria no ambiente de produção com uma melhoria da qualidade do solo como principal capital do agricultor. Estes também começam a prestar serviços ambientais para toda a sociedade, principalmente para as cidades, fornecendo água e alimento de qualidade, bem como mitigando os efeitos climáticos através do abatimento do carbono utilizando insumos de baixa emissão, com os manejos que privilegiam o aumento de carbono orgânico no solo, e ainda permitem o sequestro de carbono de forma permanente através do intemperismo aprimorado de minerais silicáticos, que são utilizados como condicionadores de solo, bioativação do sistema, melhoria da qualidade do solo e fontes de nutrientes.
Ao promover e valorizar a biodiversidade através da integração das áreas produtivas com as áreas naturais remanescentes, estes produtores garantem o refúgio de inimigos naturais das pragas e obtêm importantes serviços ecossistêmicos. Além de tudo, por utilizarem insumos e serviços dos seus contextos locais e regionais, compartilham a prosperidade com a sociedade, criando riqueza e oportunidades para a comunidade ao seu redor, atendendo assim aos requisitos ESG (Sustentabilidade Ambiental, Social e de Governança Corporativa – Environmental, Social and Governance, em inglês) em plenitude.
Desta forma, entende-se como Agricultura Regenerativa Tropical (ART) um conjunto de ações e boas práticas que atuam na recuperação do ecossistema produtivo de forma a deixar um saldo de impactos positivo nas características físicas e químicas do solo, na micro e na macrodiversidade do solo, na resiliência da produção, na redução de resíduos nos produtos, no sequestro de carbono e na melhoria da sociedade local e regional. Esses produtores de alimentos, fibras e energia atuam conscientemente na adoção de manejos e suas práticas que visam promover positivamente o ambiente de produção utilizando recursos e tecnologias acessíveis da forma mais eficiente possível dentro de uma agricultura de processos, em que desafios bióticos e abióticos são equacionados através de manejos realizados em caráter preventivo. Por todas essas características, a ART tem uma forte conexão com o consumidor final, o qual prioriza a regeneração e cura dos agroecossistemas, visando impactos positivos ao ambiente, à cadeia e à sociedade. Com essa missão, os produtores visam criar novas formas de relacionamento com as cadeias de fornecedores de insumos, serviços e equipamentos, bem como de fidelidade com as cadeias de valor e com os consumidores, diferenciando sua produção, seja pela forma de produzir como pela qualidade intrínseca do produto final.
Entre as práticas utilizadas na ATR podemos destacar:
- Manejo integrado da fertilidade do solo através do uso de remineralizadores, fertilizantes minerais naturais, corretivos e circularidade da matéria orgânica com o processamento adequado de insumos orgânicos, visando a eliminação de patógenos e germinação de plantas daninhas;
- Rotação de culturas e sistema de plantio direto sobre a palha, visando aumentar a diversificação de plantas no sistema enquanto mantém, sempre que possível, o solo coberto e revolvido o mínimo possível;
- Uso de comunidades microbianas funcionais e de microrganismos específicos que atendam às necessidades da cultura;
- Redução e, quando possível, a eliminação de insumos que agridem a vida no solo, nas plantas e das pessoas;
- Recuperação de pastagens degradadas;
- Integração lavoura-pecuária-floresta;
- Gestão integrada da paisagem.
A implementação destas práticas depende de o agricultor sair da zona de conforto e experimentar novos processos visando a redução de custos, com uso de soluções locais e regionais. Cabe ao agricultor, pecuarista, e/ou consultor identificar a lista de prioridades a serem equacionadas e determinar a melhor forma de atuar nos processos para implementar a transição. Por exemplo, muitas doenças e a presença de pragas podem ser equacionadas com uma nutrição adequada e balanceada. Como não existe uma tabela de determinação do requerimento e balanço nutricional da cultura para cada tipo de solo, o mais adequado é construir a fertilidade do solo de forma estruturante e deixar que a planta determine qual nutriente está sendo necessário em determinada fase fisiológica.
Essa fertilidade do solo pode ser construída ao longo dos anos com o manejo integrado da fertilidade do solo, o qual visa aumentar a eficiência do uso de fertilizantes solúveis através do uso de remineralizadores, fertilizantes minerais naturais e compostos orgânicos. No início da implementação deste manejo, correções pontuais através da adubação foliar podem ser necessárias ao longo do ciclo da cultura. O monitoramento semanal da lavoura se faz necessário para atender as demandas nutricionais e de correção para a supressão de pragas e doenças.
Com bom senso e políticas públicas, a adoção das práticas regenerativas devem continuar crescendo rumo à sustentabilidade da nossa agricultura. Na perspectiva de país, a ampliação da regeneração agrícola tem muitas justificativas para se transformar numa iniciativa estratégica, implementada de forma permanente e legitimada na Política Nacional Agrícola. Pois, podemos reduzir de forma significativa nossa dependência internacional de insumos fundamentais; podemos aumentar a renda dos agricultores e ativar as economias locais com a circulação de recursos da aquisição de insumos e serviços; podemos promover uma redução significativa nas contaminações e no oferecimento de produtos de melhor qualidade; podemos desempenhar uma agricultura de carbono negativo e, finalmente, podemos atender às demandas e compromissos das cadeias de valor por produtos regenerativos.
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CAR e interesse público
Com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.
Uma situação está gerando ansiedade e impaciência no universo rural catarinense. O motivo é o imbróglio em que se tornou a implantação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) em Santa Catarina. A inscrição do CAR é perene e obrigatória para todas as propriedades ou posses rurais do país.
Criado pela Lei nº 12.651/2012, o Cadastro Ambiental Rural (CAR) é um registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.
Por decisão administrativa do Governo do Estado, a gestão do CAR foi entregue ao Instituto do Meio Ambiente (IMA), mas não evoluiu como seria necessário. Por essa razão, atendendo apelo das principais entidades do agronegócio de Santa Catarina, a Assembleia Legislativa aprovou e o governador sancionou lei que inclui a Secretaria da Agricultura e Pecuária no Sistema Estadual do Meio Ambiente – SISEMA.
Efetivamente, a lei nº 18.973, de 11 de julho de 2024, incluiu a Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária no Sistema Estadual do Meio Ambiente, permitindo que participe da gestão do Cadastro Ambiental Rural, do Programa de Regularização Ambiental (PRA), da Certificação das Cotas de Reserva Ambiental (CRA) e nas políticas de desenvolvimento rural sustentável.
O principal resultado prático esperado dessa medida era a homologação dos 397.731 cadastros ambientais rurais existentes. Mas isso não ocorreu.
Como se sabe, a inscrição no CAR é o primeiro passo para obtenção da regularidade ambiental do imóvel, e contempla: dados do proprietário, possuidor rural ou responsável direto pelo imóvel rural; dados sobre os documentos de comprovação de propriedade e ou posse; e informações georreferenciadas do perímetro do imóvel, das áreas de interesse social e das áreas de utilidade pública, com a informação da localização dos remanescentes de vegetação nativa, das Áreas de Preservação Permanente (APP), das Áreas de Uso Restrito, das Áreas Consolidadas e das Reservas Legais.
Os proprietários rurais fizeram o CAR em um processo autodeclaratório, mas faltava – e ainda falta – a revisão e homologação desses cadastros pelo Governo do Estado, tarefa que deveria ter iniciado em 2021.
Por que é importante estar com o CAR regularizado? A inscrição no Cadastro Ambiental Rural e a homologação pelo órgão oficial estatal permitem acessar os benefícios do Programa de Regularização Ambiental (PRA) e garantem redução de juros nas operações de crédito rural para custeio e investimentos.
Aparentemente, os órgãos estatais (IMA e SAP) não se entenderam ainda – e quem sai prejudicado é o produtor/proprietário rural. Isso porque o PRA possibilita a suspensão de sanções em função de infrações jurídicas por supressão irregular de vegetação em Áreas de Preservação Permanente, Reserva Legal (RL) e uso restrito, além da regularização das áreas sem autuação por infração administrativa ou crime ambiental.
De outro lado, com o PRA, o produtor também consegue acesso facilitado ao crédito rural, contratação do seguro agrícola em condições melhores e prazo de 20 anos para recomposição do passivo ambiental. São benefícios importantes para nossos agricultores, que são verdadeiros protetores do meio ambiente.
Precisamos correr contra o tempo. Os órgãos da Administração estadual – IMA, Secretaria da Agricultura etc. – devem urgentemente criar grupos de trabalho para homologar o CAR de cada produtor/proprietário rural, levando os benefícios que a lei prevê, como jurídicos e financeiros aos produtores.
A burocracia deve estar subordinada ao interesse público. E não o contrário.
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No agro, governança e transparência é questão de sobrevivência
Atitudes sustentáveis levam ao acesso a novas fontes de financiamento e capital, que contribuem para a prosperidade de suas atividades e podem mudar não só o futuro da empresa, mas do país.
O agronegócio desempenha um papel fundamental na economia global, fornecendo alimentos, fibras e combustíveis que sustentam a vida moderna. No entanto, para manter e expandir suas operações e ter acesso a novas tecnologias, as empresas do setor precisam de acesso a capital e, para isso, é necessário investimento em transparência e governança.
Óbvio que transparência e governança são componentes essenciais para qualquer empresa que deseja operar de forma sustentável e responsável. No entanto, no contexto do agronegócio esses princípios assumem uma importância ainda maior devido aos impactos ambientais e sociais significativos associados à agricultura e à pecuária.
Num primeiro momento, a transparência envolve a divulgação aberta e acessível de informações sobre as operações da empresa. Isso inclui dados sobre práticas contábeis, fiscais e trabalhistas, impactos ambientais, uso de recursos naturais e condições de trabalho. Quando as empresas do agronegócio são transparentes, elas demonstram também comprometimento com a responsabilidade social e a sustentabilidade.
Isso não apenas atrai investidores preocupados com essas questões, mas também ajuda a construir uma reputação positiva junto aos consumidores, o que pode impulsionar as vendas e a rentabilidade a médio e curto prazos.
A governança corporativa refere-se as estruturas e processos que regem o funcionamento interno de uma empresa. No agronegócio isso inclui a gestão de riscos ambientais e sociais, a conformidade com regulamentações governamentais e regras contábeis, a gestão de cadeia ética de suprimentos e muito mais. Ter uma governança sólida não apenas minimiza o risco de crises, mas também melhora a eficiência operacional, a tomada de decisões estratégicas e, sobretudo, facilita o acesso ao capital.
E, por que a governança e transparência são importantes para acessar capital mais barato? A resposta está na crescente conscientização dos investidores e das instituições financeiras sobre os riscos associados ao agronegócio. À medida que os problemas ambientais, como desmatamento e escassez de água, e as preocupações sociais, como condições de trabalho e direitos indígenas e quilombolas ganham destaque, investidores estão cada vez mais interessados em apoiar empresas que abordem essas questões de maneira responsável.
Empresas que investem em transparência e governança têm maior probabilidade de atrair investidores comprometidos com critérios ambientais, sociais e de governança (ESG). Esses investidores estão dispostos a fornecer capital a taxas mais favoráveis para empresas que demonstram um compromisso genuíno com a sustentabilidade e a responsabilidade social. Portanto, as empresas do agronegócio que adotam práticas transparentes e sólidas de governança estão bem-posicionadas para acessar capital mais barato.
Além disso, as instituições financeiras estão cada vez mais incorporando métricas ESG em suas decisões de empréstimos e investimentos. Isso significa que as empresas que não investem em transparência e governança correm o risco de serem consideradas de maior risco, o que pode resultar em custos de capital mais elevados.
Um exemplo notável é a emissão de títulos verdes, que são instrumentos de dívida usados para financiar projetos sustentáveis. Em novembro de 2023, o Tesouro Nacional fez a sua primeira emissão de títulos sustentáveis. Essa emissão foi de um novo título, denominado Global 2031 ESG, com vencimento em 18 de março de 2031. O título foi emitido no montante de US$ 2,0 bilhões, com uma taxa de retorno para o investidor de 6,50% a.a. – fato que certamente influenciará o setor privado a seguir o mesmo caminho. As empresas do agronegócio que adotam práticas transparentes e de governança podem se beneficiar ao emitir este tipo de títulos, pois a demanda por eles está em alta e as taxas de juros tendem a ser mais baixas em comparação com títulos tradicionais.
As empresas do agronegócio podem explorar oportunidades de financiamento de impacto, que são investimentos voltados para projetos com benefícios sociais e ambientais mensuráveis. Esses investimentos muitas vezes oferecem condições favoráveis de empréstimo ou investimento e podem ser uma fonte valiosa de capital para empresas comprometidas com a responsabilidade social e ambiental.
Fica, então, evidente a importância para as empresas do agronegócio investirem em transparência e governança. Isso não apenas as coloca em uma posição favorável para atrair investidores comprometidos com ESG, mas também as ajuda a acessar capital mais barato e a se adaptar às crescentes expectativas da sociedade em relação a responsabilidade ambiental e social.
À medida que o mundo se volta para a sustentabilidade, as empresas do agronegócio que abraçam esses princípios avançam mais rápido. É um ciclo virtuoso que garante perenidade e sucesso a longo prazo. Atitudes sustentáveis levam ao acesso a novas fontes de financiamento e capital, que contribuem para a prosperidade de suas atividades e podem mudar não só o futuro da empresa, mas do país.