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Segurança na fronteira e responsabilidade compartilhada são temas de fórum sobre febre aftosa
Estes aspectos foram tratados no II Fórum Estadual de Vigilância para a Febre Aftosa, realizado de forma virtual

O reconhecimento do Rio Grande do Sul como zona livre de febre aftosa sem vacinação em maio pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) consolidou uma nova forma de vigilância e fiscalização agropecuária no Estado, com ênfase nas ações coordenadas de segurança em regiões transfronteiriças e na responsabilidade compartilhada entre setores público e privado para a manutenção do novo status sanitário. Estes aspectos foram tratados no II Fórum Estadual de Vigilância para a Febre Aftosa, realizado de forma virtual nesta quinta-feira (10). O evento foi promovido pelo Programa Estadual de Febre Aftosa da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR), em conjunto com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e o Grupo Gestor Estadual do Plano Estratégico do PNEFA 2017-2026.
“A manutenção desse novo status passa pelo compartilhamento de responsabilidades do serviço veterinário oficial e o setor privado”, destacou o secretário adjunto, Luiz Fernando Rodriguez, na abertura do evento. O presidente da Farsul, Gedeão Pereira, ressaltou a importância do envolvimento dos produtores. “Nós somos os guardiões da pecuária. Dentro da nossa propriedade, somos os primeiros que vislumbramos qualquer alteração que possa existir no nosso rebanho”, frisou. “Nós avançamos, chegamos a uma certificação internacional, e agora temos que trabalhar para mantê-la. E temos todos que trabalhar: o produtor rural sendo vigilante, ficar atento a qualquer situação suspeita, comunicar ao serviço veterinário oficial”, complementou a superintendente do Mapa no Rio Grande do Sul, Helena Rugeri.
O diretor do Departamento de Saúde Animal do Mapa, Geraldo de Moraes, apresentou um panorama histórico sobre o processo de reconhecimento do Rio Grande do Sul como zona livre de febre aftosa sem vacinação. “O Rio Grande do Sul e as demais áreas que foram reconhecidas em maio pela OIE representam 20% do rebanho bovino do país e 17% do território nacional que hoje está livre de febre aftosa sem vacinação”, enumerou, destacando que o planejamento estratégico do Ministério tem como meta que todo o Brasil seja considerado zona livre sem vacinação até 2026.
Segurança de fronteira
A major Vanessa Peripolli, do 4º Batalhão de Polícia de Área de Fronteira, apresentou dados sobre a atuação junto ao Programa Sentinela, da SEAPDR. O batalhão, criado em 2005, tem sede em Santa Rosa, compreende 20 municípios e abrange uma área de quase cinco mil quilômetros quadrados – são 140 quilômetros de fronteira internacional. “A permeabilidade da fronteira para delitos demanda ações coordenadas das forças de segurança. Essa atuação integrada com a Secretaria da Agricultura tem sido exemplar e tem gerado bons frutos”, avaliou.
O delegado Alessandro Maciel Lopes, da Polícia Federal, pontuou que os três crimes com maior incidência nas regiões de fronteira, dentro do tema agropecuário, são o descaminho, o contrabando e o abigeato. “Descaminho e contrabando são relacionados a uma importação irregular. Descaminho é importação de um bem sem o recolhimento do tributo, sem declaração. Contrabando é trazer mercadoria cuja importação é proibida no país. Ambas são de competência federal. Já o abigeato é de competência estadual, investigado pela Polícia Civil”, elucidou.
O coordenador do Programa Sentinela, Francisco Nunes Lopes, apresentou resultados totais de quase um ano de atuação do programa: 25.947 bovinos fiscalizados, R$ 1,71 milhões em multas aplicadas, 343 autuações emitidas e 393 bovinos sem origem abatidos. Mesmo com menos ações realizadas em 2021, por causa do agravamento da pandemia, houve um aumento significativo nas denúncias e apreensões no primeiro semestre de 2021, em comparação com o semestre anterior. “A análise de rede e as ações de inteligência são um diferencial para esses resultados”, avaliou Francisco.
Responsabilidade compartilhada
A coordenadora de produção animal da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Lílian Figueiredo, apresentou quais ações o setor produtivo deve tomar para manter o novo status sanitário: participar das discussões locais; manter um fundo privado que dê suporte em casos emergenciais; manter medidas de vigilância passiva; manter atualizado seus dados cadastrais no departamento de defesa agropecuária local; respeitar as novas regras de trânsito animal; capacitar colaboradores na identificação de enfermidades; e notificar qualquer suspeita aos órgãos de defesa sanitária animal. “O principal ponto é que estamos trocando a vacina pela vigilância. O produtor está no dia-a-dia, então é essencial saber reconhecer os sinais clínicos e notificar imediatamente o serviço veterinário oficial. Acreditamos que vigilância, notificação e controle de trânsito são os pilares para a manutenção do status”, destacou.
O presidente do Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal (Fundesa), Rogério Kerber, detalhou que, desde a criação do fundo, em 2006, R$ 23,4 milhões foram investidos no serviço de defesa sanitária animal, com informatização de inspetorias e escritórios de defesa agropecuária, reestruturação dos postos fixos de divisa, produção de materiais informativos e direcionamento de recursos para que os laboratórios do Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF) garantissem a acreditação pelo Inmetro e o credenciamento junto ao Mapa. “O Fundesa tem, desde sua fundação, o conceito de responsabilidade compartilhada. O produtor é o principal elo do sistema de defesa, porque está diuturnamente junto ao seu rebanho. Com o novo status sanitário, nossa perspectiva é o fortalecimento do fundo, com ampliação da arrecadação”, finalizou.
O Fórum pode ser assistido a qualquer momento na página da SEAPDR no Facebook ou em seu canal no Youtube.

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Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
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Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.
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Brasil lança plataforma sobre saúde dos solos e reforça liderança em agricultura sustentável
Ferramenta da Embrapa reúne mais de 56 mil análises e mostra que dois terços das áreas avaliadas no País apresentam solos saudáveis ou em recuperação.

Foi lançada na última segunda-feira (17), na Agrizone, a Casa da Agricultura Sustentável da Embrapa durante a COP 30, em Belém (PA), a Plataforma Saúde do Solo BR – Solos resilientes para sistemas agrícolas sustentáveis. A cerimônia ocorreu no Auditório 1 e marcou a apresentação oficial da tecnologia criada pela Embrapa, que reúne pela primeira vez informações sobre a saúde dos solos brasileiros em um ambiente digital e de acesso público.
Na abertura, a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, destacou o simbolismo de apresentar a novidade dentro da Agrizone, espaço que abriga soluções de baixo carbono. “A Agrizone é o começo de uma nova jornada. Estamos mostrando para o mundo inteiro, de forma concreta, que temos tecnologia para desenvolver uma agricultura cada vez mais resiliente às mudanças climáticas”, afirmou.
Para ela, o lançamento reforça o protagonismo do Brasil como líder global em inovação sustentável para a agricultura e os sistemas alimentares.
A Plataforma disponibiliza dados de saúde do solo por estado e município e já reúne cerca de 56 mil amostras, provenientes de 1.502 municípios de todas as regiões do País. O sistema foi construído a partir da geoespacialização dos dados gerados pela BioAS – Bioanálise de Solos, explicou a pesquisadora da Embrapa Cerrados, Ieda Mendes. A ferramenta permite filtros por estado, município, ano, culturas e texturas de solo, além de comparações entre diferentes cultivos. Também gera mapas e gráficos baseados nas funções da bioanálise, como ciclagem, armazenamento e suprimento de nutrientes.
Solos mais saudáveis e produtivos
Os primeiros mapas revelam que predominam no Brasil solos saudáveis ou em processo de recuperação. “Somando solos saudáveis e solos em recuperação, vemos que 66% das áreas analisadas apresentam condições muito boas de saúde. Apenas 4% das amostras representam solos doentes”, afirmou Ieda.
Mato Grosso lidera o número de amostras (10.905), seguido por Minas Gerais (9.680), Paraná (7.607) e Goiás (6.519). O município com maior participação é Alto Taquari (MT), com 1.837 amostras.
A pesquisadora também destacou a forte relação entre saúde do solo e produtividade. No Mato Grosso, a integração dos dados da BioAS com índices do IBGE mostrou que o aumento na proporção de solos doentes está diretamente associado à queda na produção de soja. “Cada 1% de aumento em solos doentes representa uma perda média de 3,1 kg de soja por hectare”.
Em contraste, análises exclusivamente químicas não apresentaram correlação com a produtividade atual, o que indica que o limite produtivo da agricultura brasileira está cada vez mais ligado à qualidade biológica dos solos.
Ieda ressaltou ainda a participação dos produtores na construção da ferramenta. “Temos contribuições que vão do Acre ao extremo sul do Rio Grande do Sul. Ter um trabalho publicado em revistas técnicas é muito bom, mas ver uma tecnologia sendo adotada em todo o Brasil é maravilhoso”, afirmou.
A expectativa é transformar a plataforma, no futuro, em um observatório nacional da saúde dos solos, capaz de gerar relatórios detalhados por município e conectar pesquisadores, laboratórios e agricultores.
A Plataforma Saúde do Solo BR foi desenvolvida com base nos dados da BioAS, tecnologia lançada em 2020 e criada pela Embrapa Cerrados em parceria com a Embrapa Agrobiologia. O método integra indicadores biológicos (atividade enzimática), físicos (textura) e químicos (fertilidade e matéria orgânica).
O banco de dados atual resulta de uma colaboração com 33 laboratórios comerciais de análise de solo, integrantes da Rede Embrapa e usuários da tecnologia.



