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Saúde animal no consumo de proteína animal: questão de consciência, de segurança alimentar e de mercado interno e externo
Entre as várias razões do Brasil ter posição privilegiada em relação ao agronegócio como um todo e, particularmente, às carnes, se encontra a sanidade animal

Artigo escrito por Robinson Cannaval Jr, sócio fundador e diretor do Grupo Innovatech, diretor executivo da Innovatech Consultoria, formado em Engenharia Florestal pela ESALQ/USP, com especialização em Gestão estratégica de Negócios pela Unicamp e MBAs em Finanças e Valuation pela FGV
Em um cenário em que o consumidor está se tornado cada vez mais criterioso e atento à qualidade dos produtos que consome, a preocupação com a segurança alimentar nunca foi tão grande. O consumo consciente de proteína de origem animal está em pleno crescimento. Estima-se que de 2018 a 2023, o consumo mundial de proteína animal, seja de carne suína, de frango ou bovina, aumente em 19,2 milhões de toneladas.
O Brasil possui posição de destaque no mercado mundial de proteínas animais, tendo sido, em 2018, o primeiro país em exportação de carne bovina e de frango e o quarto em carne suína.
Para manter essas posições de destaque em exportação e atender à crescente demanda por alimentos seguros e de qualidade, a saúde animal na cadeia produtiva de proteína é de extrema importância. Além disso, o crescimento da demanda por carnes provoca mudanças significativas nos modelos de produção, com a criação de lotes de forma intensificada. E quanto mais intensificado e produtivo o rebanho, maiores são os riscos associados à sanidade animal, fato neste que deve ser uma preocupação do produtor e de todo o restante da cadeia.
Mas não só o fato de o consumidor estar cada dia mais consciente deve gerar mudanças na cadeia de produção de carnes. As pressões externas e epidemias mundiais também aumentaram significativamente o número de exigências relacionadas à saúde animal.
Entre as várias razões do Brasil ter posição privilegiada em relação ao agronegócio como um todo e, particularmente, às carnes, se encontra a sanidade animal. Este é um grande ponto responsável por diferenciar a proteína animal brasileira frente ao cenário internacional desde a década de 80. E para manter essa diferenciação e o posicionamento no mercado internacional, o Brasil tem desenvolvido uma série de ações preventivas a fim de preservar a sanidade animal.
Resultado destas ações preventivas podem ser vistos frente às epidemias mundiais. Enquanto a Ásia, por exemplo, se encontra numa fase endêmica de gripe aviária, nosso país não registra casos da doença. O surto da doença em 2017 levou a um incremento considerável nas exportações de frango para as regiões afetadas, principalmente a Ásia, Europa e Oriente Médio. Outro exemplo é o da peste suína africana, erradicada do país em 1970, e que em 2018 preocupou a China e outros países asiáticos e europeus devido a um surto. Os abates devidos a contaminação pela peste superaram a marca de 4 milhões, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). O país também desenvolveu um método de análise da ração animal para prevenir a chamada doença da vaca louca (Encefalopatia espongiforme bovina) e hoje, segundo a OIE (Organização Mundial de Saúde Anima), o risco da doença no Brasil é insignificante.
O crescimento no consumo de carnes, a intensificação da produção e as epidemias mundiais são os três pilares responsáveis pelo crescimento do mercado de produtos de saúde animal no Brasil. A extensa produção brasileira motivou as principais indústrias de saúde animal a se instalarem no país. Essas empresas investem extensamente em pesquisas, adotam tecnologias de ponta e oferecem produtos cada vez mais eficazes no mercado. O faturamento das indústrias de produtos para saúde animal representou R$ 5,8 bilhões em 2018. Os ruminantes dominaram esse mercado, com faturamento de R$ 2,9 bilhões, correspondente a 55% do total.
Contudo, para atender a esse mercado cada vez mais exigente e em franca expansão da proteína de origem animal e atingir os padrões de sanidade animal desejados, há um grande desafio: o da distribuição para garantir o atendimento total do produtor em caráter preventivo e/ou curativo.
A adequada capilaridade na entrega exige que diferentes players atuem na cadeia. A escala de compra é fator determinante. Três principais modelos de canais de distribuição podem ser mapeados. O primeiro é o chamado Key Account, pelo qual os produtos advindos de pedidos em largas escalas são distribuídos diretamente pela indústria farmacêutica ao produtor final podendo, ou não, passar por cooperativas ou por distribuidores na categoria long-tail.
O segundo é modelo distribuidor, pelo qual os produtos saem da indústria, ganham capilaridade pelo território brasileiro por meio de distribuidores e são vendidos ao produtor final, via pedidos em pequenas escalas nas revendas. E há ainda o atacado/verticalizado em que os produtos que saem da indústria são vendidos para o produtor final por meio de um único operador, que atua como ambos distribuidor e revenda.
A relevância do modelo do canal de distribuição é diferente dependendo do tipo de animal de produção. Para bovinos, devido à extensa pulverização produção distribuída em todo o território nacional, prevalece o modelo distribuidor, seguido do modelo atacado. Já as aves e suínos, cuja produção concentra-se majoritariamente em cooperativas no sul do Brasil, o modelo prevalente é o key account.
Pensando nessa busca pela segurança alimentar, nos relevantes índices de exportação, faz-se necessário que o produtor brasileiro entenda e reflita sobre a necessidade da distribuição e busque os métodos que vão lhe garantir a saúde animal em toda a cadeia.

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Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025
Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves
A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.
Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.
Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.
Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves
Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.
Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.
Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.
Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.
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Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
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Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.



