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Saiba o que esperar sobre clima, mercado e a produção de soja

No Brasil, a perspectiva é de uma nova expansão na produção, impulsionada tanto pelo aumento da área plantada quanto pela elevação da produtividade.

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A safra 2023/24 no Brasil teve seu desenvolvimento prejudicado devido a condições climáticas adversas em várias regiões. Após o início do plantio em meados de setembro, a forte influência do El Niño sobre o clima trouxe ondas intensas de calor, afetando especialmente o Centro-Oeste, Sudeste e Norte do país no final de 2023. Essas ondas de calor, aliadas a períodos de chuva abaixo da média, resultaram em prejuízos expressivos na produtividade. “O clima irregular provocou a maior quebra histórica de produtividade em Mato Grosso, o maior produtor de grãos do país, com uma redução de cerca de 15% em relação à safra 2022/23”, afirma Francisco Queiroz, responsável pela cobertura das commodities de soja, milho e algodão da Consultoria Agro do Itaú BBA.

No entanto, o retorno das chuvas entre o final de dezembro de 2023 e janeiro de 2024, beneficiaram especialmente as lavouras mais tardias. Esse fator, junto com a expansão de área cultivada, que cresceu 2,7%, ou seja, 1,2 milhão de hectares, ajudou a amenizar a queda na produção.

A Consultoria Agro do Itaú BBA projeta que a produção brasileira de soja na safra 2023/24 chegue a 153 milhões de toneladas, um volume inferior ao potencial de 163 milhões de toneladas estimado no início da temporada. “Essa redução na safra brasileira, entretanto, foi mais que compensada pela recuperação da produção na Argentina. O país vizinho, que havia sofrido grandes perdas devido à seca na safra 2022/23, conseguiu dobrar sua produção em 2023/24, graças às chuvas favoráveis trazidas pelo El Niño”, aponta Queiroz.

Segundo as projeções mais recentes do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a Argentina deve encerrar a safra com uma oferta de 50 milhões de toneladas. “Com isso, o balanço global de oferta e demanda de soja apresentou um crescimento importante dos estoques, da ordem de milhões de toneladas, o que resultou também em um incremento da relação estoque/consumo da oleaginosa, que saiu de 27% para 29% em 2023/24”, afirma Queiroz.

Diante do panorama de maior conforto para o balanço mundial de soja, as cotações do grão em Chicago apresentaram redução de 19,2% no primeiro semestre de 2024 sobre o mesmo período do ano anterior. Em Sorriso (MT), Rio Verde (GO) e Paranaguá (PR), a desvalorização apresentada no semestre foi de 16,7%, 18,1% e 17,6%, respectivamente. “A queda dos preços, somada a uma produtividade mais baixa e custos ainda em patamares elevados, resultou em menor rentabilidade para o produtor brasileiro”, avaliou o profissional.

2024/25

O cenário para a temporada 2024/25 começou a tomar forma a partir do início do plantio da safra nos Estados Unidos, trazendo perspectivas otimistas para a produção global de soja. Segundo as primeiras estimativas do USDA, a produção mundial da oleaginosa deve atingir 422 milhões de toneladas, um aumento de 7% em relação à safra anterior, estabelecendo um novo recorde de oferta. O órgão projeta crescimento na produção dos três maiores produtores globais: Brasil, EUA e Argentina, com expectativas de expansão de 10% para o Brasil, 6% para os EUA e 3% para a Argentina. “O plantio da safra americana iniciou em meados de abril e veio em ritmo acelerado até o início de maio, quando desacelerou devido ao excesso de chuva. O ritmo de plantio em 2024 ficou abaixo do observado no ano passado, porém na maior parte do tempo, à frente da média dos últimos cinco anos”, analisa Queiroz. Nos Estados Unidos, onde a safra 2024/25 está em desenvolvimento, a área plantada de soja deve crescer, impulsionada por preços mais atrativos em comparação ao milho, observados no momento de definição do plantio por parte do produtor americano. O USDA prevê que a área plantada deverá alcançar 34,9 milhões de hectares, enquanto a área colhida é estimada em 34,5 milhões de hectares, com uma produtividade média projetada de 3,5 toneladas por hectare, resultando em uma produção total de 120,7 milhões de toneladas.

Do ponto de vista climático, Queiroz diz que o panorama até o momento é bastante positivo para a safra americana e segue sustentando a expectativa de aumento da produção. “Não faltou chuva na maior parte das áreas e, apesar das temperaturas acima da média, o calor não chegou a afetar as lavouras até agora”, ressaltou, acrescentando: “Ainda estamos (início de agosto) no meio do período de desenvolvimento e a consolidação dos números está sujeita a revisões, ainda dependendo da evolução do clima nas próximas semanas. Entretanto, os modelos seguem projetando um clima favorável nos próximos meses para os EUA, ou seja, a expectativa é de safra americana cheia e preços que devem seguir pressionados em Chicago”.

América do Sul

Responsável pela cobertura das commodities de soja, milho e algodão da Consultoria Agro do Itaú BBA, Francisco Queiroz: “A volatilidade contínua, influenciada por fatores climáticos e políticos, pode complicar a gestão de risco para as tradings, tornando essencial uma estratégia cuidadosa” Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

Para a Argentina, após o bom desempenho na safra 2023/24, a expectativa é de mais um aumento na área de cultivo de soja. O USDA projeta um crescimento de 2,4% na área plantada para a safra 2024/25, o que, aliado a uma produtividade média semelhante à da última safra, deve resultar em uma produção de 51 milhões de toneladas.

No Brasil, a perspectiva é de uma nova expansão na produção, impulsionada tanto pelo aumento da área plantada quanto pela elevação da produtividade. O USDA prevê uma área de 47,3 milhões de hectares, com uma produtividade média estimada em 3,6 toneladas por hectare, o que resultaria em uma produção de 169 milhões de toneladas de soja.

No entanto, a Consultoria Agro do Itaú BBA projeta uma expansão mais modesta, de apenas 2% na área plantada, alcançando 46,7 milhões de hectares. “Considerando a influência de um possível fenômeno La Niña, que está se formando, adotamos uma postura mais conservadora em relação à produtividade, estimando uma média de 3,5 toneladas por hectare. Dessa forma, a safra brasileira de soja para 2024/25 seria de aproximadamente 163 milhões de toneladas”, expõe Queiroz, enfatizando que o El Niño, fenômeno que influenciou a safra 2023/24, chegou ao fim na virada do semestre, dando lugar ao processo de resfriamento do Oceano Pacífico, típico de uma La Niña.

Influência do La Niña

Os modelos climáticos indicam a atuação de um La Niña entre julho e setembro. Esse fenômeno, oposto ao El Niño, é caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico e exerce uma influência significativa no clima global. No Brasil, conforme Queiroz, seus efeitos resultam em menos chuvas na região Sul e em um aumento nos volumes de precipitação na região do Matopiba. “Os efeitos do La Niña são potencializados de acordo com a intensidade. Fenômenos de forte intensidade tendem a registrar as consequências clássicas, enquanto os mais fracos podem ter os reflexos no clima atenuados”, explica o analista de mercado.

Atualmente, os modelos de projeção climática apresentam divergências quanto à intensidade do La Niña. O modelo americano (CFSv2) prevê um fenômeno de intensidade moderada, com resfriamento próximo a -1,5°C, enquanto o modelo europeu (ECMWF) sugere um La Niña mais fraco, com resfriamento em torno de -0,5°C. Entretanto, independentemente dessas diferenças, climatologistas alertam para a possibilidade de atraso nas chuvas para a safra de verão devido à formação do fenômeno. “As previsões atuais indicam boas chuvas chegando até a região central do Brasil apenas na segunda metade de outubro, um atraso de cerca de 30 dias em relação à época habitual. No entanto, as perspectivas para novembro, dezembro e janeiro são de boas precipitações em praticamente todas as regiões produtoras”, aponta Queiroz.

O profissional diz que é importante ressaltar que o La Niña tende a reduzir as chuvas não apenas no Sul do Brasil, mas também em partes da Argentina, Paraguai e Uruguai. “É fundamental monitorar a evolução da intensidade do La Niña nos próximos meses e seus impactos nas áreas agrícolas desses países, com especial atenção para a Argentina, o terceiro maior produtor mundial de soja”, salienta.

Mercado da soja

Segundo Queiroz, a análise do mercado de soja para a safra 2024/25 deve considerar vários fatores além das condições climáticas. Dois aspectos essenciais para o balanço de oferta e demanda da commodity são a demanda global e os estoques.

A demanda por soja é influenciada por diversos fatores, como o crescimento econômico global, o aumento da produção de proteína animal e políticas governamentais e comerciais. Queiroz expõe que entre as safras 2012/13 e 2022/23, a demanda global por soja cresceu, em média, 3,3% ao ano, enquanto a safra 2023/24 deve registrar um crescimento de 4,4%, e a safra 2024/25, um aumento de 5%. “Esse crescimento acima da média observado em 2023/24, e esperado para 2024/25, está diretamente ligado à expansão da produção global de biocombustíveis”, assegura.

Nos últimos anos, o mundo tem visto um aumento gradual na produção de biocombustíveis, impulsionado principalmente por incentivos financeiros governamentais em países que buscam acelerar esse processo. “A necessidade de descarbonizar as economias tem levado a uma expansão significativa dos investimentos nesse setor, aumentando a capacidade de produção de biocombustíveis”, frisa Queiroz, acrescentando: “O óleo de soja é a principal matéria-prima para dois dos três biocombustíveis mais produzidos no mundo – biodiesel e diesel renovável. Esse avanço na produção de biocombustíveis está elevando a demanda por óleo de soja, o que, por sua vez, impulsiona a demanda pelo grão”.

Estoques globais

Os níveis de estoques globais de soja desempenham um papel importante na determinação dos preços da commodity. Estoques baixos tendem a aumentar a volatilidade das cotações, enquanto estoques elevados podem trazer maior estabilidade. “Para a safra 2024/25, espera-se um novo crescimento dos estoques finais mundiais de soja, mesmo diante do forte aumento projetado para o consumo”, afirma Queiroz.

Com base nas estimativas do USDA para a produção global e na previsão de 163 milhões de toneladas para o Brasil, os estoques mundiais devem variar entre 122 e 128 milhões de toneladas, representando um aumento de 9% a 15% em relação à safra 2023/24. A relação estoque/uso da oleaginosa subiria de 29% para um intervalo entre 30% e 32%.

Além dos estoques, políticas governamentais relacionadas ao comércio internacional, subsídios, biocombustíveis, acordos comerciais e questões ambientais também podem impactar o mercado de soja. Neste contexto, é importante observar o cenário político, especialmente a eleição presidencial nos Estados Unidos, prevista para novembro, onde Donald Trump é o candidato do Partido Republicano. “Em seu primeiro mandato, entre janeiro de 2017 e janeiro de 2021, Trump assumiu uma postura combativa com a China, o que culminou com uma guerra comercial entre as duas nações, cenário que beneficiou os produtores de soja do Brasil”, admite Queiroz.

Com o início da guerra comercial, em março de 2018, diante da imposição de tarifas comerciais sobre produtos chineses por parte dos EUA e desgaste das relações entre os dois países, a demanda de soja do gigante asiático saiu dos americanos e veio para o Brasil. “O reflexo disso foi uma queda dos preços em Chicago, diante da redução da demanda pela soja americana, mas uma explosão dos prêmios no Brasil, com as cotações alcançando US$ 2,75/bushel em outubro de 2018, o que mais do que compensou a queda na CBOT”, menciona o especialista, ampliando: “As chances de Trump assumir a presidência subiram após o atentado de 13 de junho e, com isso, o mercado já começa a especular sobre a possível retomada da guerra comercial com a China, o que seria bastante negativo para a demanda de exportação dos EUA, mas potencialmente positivo para os prêmios no Brasil”.

O panorama de produção global recorde, aumento dos estoques finais e elevação da relação estoque/consumo desenha um cenário de preços pressionados para a soja na Bolsa de Chicago (CBOT), que ainda pode ser potencializado por uma hipotética vitória de Trump e retomada da guerra comercial com a China. No Brasil, a queda em Chicago poderá ser contrabalanceada por uma valorização dos prêmios e por um real mais depreciado.

Fertilizantes favorecem as margens dos produtores

Os custos de produção para a safra 2024/25 devem apresentar uma redução em comparação à safra anterior, impulsionados pela queda nos preços dos fertilizantes e pela diminuição nas cotações de alguns defensivos agrícolas. A expectativa é de que os custos com fertilizantes caiam cerca de 25%, sendo este o principal fator na redução do custo operacional, que deve registrar uma queda de aproximadamente 12% em relação à safra 2023/24.

A desvalorização do Real pode proporcionar um alívio financeiro maior do que o previsto para os produtores, que enfrentaram margens reduzidas nas últimas duas safras. Essa situação permitiria a manutenção do pacote tecnológico, incluindo sementes e insumos, o que, aliado a condições climáticas favoráveis, pode resultar em um aumento da produtividade.

No que diz respeito aos preços, a previsão de um balanço global de oferta e demanda mais equilibrado, junto com a expectativa de mais um recorde de safra no Brasil, tende a pressionar negativamente as cotações da soja na CBOT. No entanto, a valorização dos prêmios e uma taxa de câmbio mais alta devem favorecer a precificação da soja em reais. Com isso, se espera um aumento na rentabilidade para a safra 2024/25, decorrente da redução dos custos e do potencial de melhora na produtividade.

Os preços na CBOT, o câmbio e os prêmios influenciam diretamente a formação do preço da soja para os produtores brasileiros. “Diante da perspectiva de queda nos preços em Chicago e de um câmbio volátil e imprevisível, é essencial que os produtores estejam atentos às oportunidades de hedge, considerando as expectativas de um mercado global mais bem abastecido”, sugere Queiroz.

Volátil, mas positivo

O aumento da oferta interna de soja deve beneficiar as tradings, promovendo um retorno mais robusto. Nos últimos 10 anos, as exportações brasileiras de soja cresceram 138% segundo a Secex, passando de 42,8 milhões de toneladas na safra 2013/14 para 101,8 milhões de toneladas em 2023/24.

A China, principal importadora global, recebeu 73% das exportações brasileiras de soja no ano passado. O USDA prevê um aumento de 4,2% no consumo global e de 1% nas importações chinesas, atingindo 109 milhões de toneladas, o que deve manter o impulso nas exportações brasileiras. “Apesar dos prêmios para exportação atuais serem positivos devido à alta demanda projetada, a grande quantidade de soja ainda a ser comercializada pode pressionar esses prêmios”, analisa Queiroz, mencionando que a comercialização antecipada da nova safra está em torno de 15%, com 138 milhões de toneladas ainda por negociar.

Embora as vendas antecipadas estejam acima do ano passado, há um atraso de seis pontos percentuais em relação à média histórica. “A volatilidade contínua, influenciada por fatores climáticos e políticos, pode complicar a gestão de risco para as tradings, tornando essencial uma estratégia cuidadosa”, aponta.

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Fonte: O Presente Rural

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Oferta não cresce como esperado e preços do leite voltam a subir

Apesar de o preço do leite pago ao produtor acumular avanço real de 32% desde o início de 2024, a média de janeiro a agosto deste ano – de R$ 2,53/litro – é 8,4% inferior à do mesmo período de 2023.

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Foto: Ari Dias

O preço do leite ao produtor voltou a subir devido à oferta, que não cresceu como era esperado. A pesquisa do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, mostra que, em agosto, a “Média Brasil” fechou a R$ 2,7607/litro, 1,4% acima da do mês anterior e 17,7% maior que a registrada em agosto de 2023, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IPCA de agosto). Apesar de o preço do leite pago ao produtor acumular avanço real de 32% desde o início de 2024, a média de janeiro a agosto deste ano (de R$ 2,53/litro) é 8,4% inferior à do mesmo período de 2023.

Até o início de agosto, os fundamentos de mercado apontavam reduções no preço do leite ao produtor neste terceiro trimestre. Por um lado, a produção de leite parecia estimulada pelo aumento da margem do produtor neste ano e, por outro, a demanda seguia condicionada aos preços baixos nas gôndolas. Fora isso, as importações, ainda em volumes elevados, pressionavam as cotações ao longo de toda a cadeia produtiva. Porém, a produção não cresceu como era esperado pelos agentes do setor.

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Os dados mais recentes da Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE, divulgados em meados de agosto, mostram que a captação de leite cru pelas indústrias de laticínios no âmbito nacional caiu 6,2% no segundo trimestre em relação ao primeiro. Comparando com o mesmo período do ano passado, o incremento foi de apenas 0,8%.

De julho para agosto, o Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea avançou 5% na “Média Brasil”, mas o crescimento em Minas Gerais foi de 2,8% e, em Goiás, de apenas 1,5%. Apesar do aumento da margem do produtor nos últimos meses e de certa estabilidade nos custos de produção, o estímulo à atividade foi menor do que o esperado pelos agentes do setor. E o clima extremo não ajudou a atividade.

O excesso de chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul em maio fizeram com que a oferta crescesse pouco entre julho e agosto. A entressafra no Sudeste e no Centro-Oeste se intensificou com o calor a partir de agosto. E as queimadas em setembro fizeram esse cenário se agravar em termos nacionais. Além de comprometer o bem-estar animal, os incêndios têm prejudicado a produção de forragens para alimentação animal – o que eleva o custo de produção e limita a oferta.

Outro fator que reforçou a menor disponibilidade de lácteos entre agosto e setembro foi a diminuição das importações. Dados da Secex compilados pelo Cepea mostram que, em agosto, houve queda de 25,2% nas importações de lácteos, totalizando 187,8 milhões de litros em equivalente leite.

Como a oferta não se recuperou conforme o previsto, os estoques de lácteos nas indústrias não foram repostos como esperado. O consumo, por sua vez, tem se mantido firme; e os estoques nos laticínios caíram gradativamente em agosto, até atingirem níveis abaixo do normal em setembro. Esse contexto deve sustentar e intensificar o movimento de alta nas cotações entre setembro e outubro.

Gráfico 1 – Série de preços médios recebidos pelo produtor (líquido), em valores reais (deflacionados pelo IPCA de agosto/2024).

Fonte: Assessoria Cepea
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Ciclo curto, manejo atento

É crucial que os pecuaristas adotem práticas de manejo cuidadosas, como nutrição adequada, monitoramento constante e assistência profissional durante o parto.

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A evolução da pecuária de corte no Brasil tem sido marcada pela busca incessante por eficiência produtiva. Uma das práticas que ganha destaque é a prenhez precoce em fêmeas jovens, uma estratégia que promete otimizar a produção e aumentar a rentabilidade das fazendas. Com a introdução de técnicas avançadas de manejo reprodutivo e melhoramento genético, é possível inseminar novilhas em idades cada vez mais jovens, encurtando o ciclo produtivo e aumentando o número de bezerros desmamados.

 

Os benefícios dessa prática são evidentes: as fêmeas começam a contribuir para a produção mais cedo, permitindo um maior retorno sobre o investimento ao longo de sua vida. Além disso, a prenhez precoce está alinhada com as exigências do mercado por animais mais jovens e bem acabados, especialmente para mercados como o chinês, que valoriza animais abatidos mais cedo.

No entanto, essa estratégia não está isenta de desafios. Fêmeas jovens, ainda em fase de crescimento, enfrentam maiores riscos durante o parto. O canal de parto menor e a inexperiência reprodutiva aumentam as chances de complicações, como distocia, que pode comprometer tanto a saúde da mãe quanto do bezerro. Para mitigar esses riscos, é crucial que os pecuaristas adotem práticas de manejo cuidadosas, como nutrição adequada, monitoramento constante e assistência profissional durante o parto.

A prenhez precoce é uma ferramenta poderosa para impulsionar a produtividade, mas requer um manejo responsável. O equilíbrio entre eficiência e bem-estar animal deve ser prioridade. Com as técnicas corretas e atenção aos detalhes, é possível colher os frutos dessa inovação, sem comprometer a saúde e longevidade das fêmeas, garantindo assim o sucesso sustentável da pecuária de corte.

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Fonte: Por Giuliano De Luca, jornalista e editor-chefe do O Presente Rural
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Potencial das pastagens brasileiras e o avanço na produção sustentável de carne bovina

Um sistema bem planejado, aliado à adequada adubação, permite potencializar a taxa de lotação e propicia uma forragem de melhor qualidade, com boa disponibilidade, por maior tempo.

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Para a eficiência na produção de carne bovina, particularmente no contexto de animais mantidos a pasto, é crucial minimizar custos e maximizar índices produtivos, garantindo o sucesso financeiro da operação. No cerne da produção de carne desses bovinos está o manejo meticuloso das culturas forrageiras e outras práticas essenciais para o sucesso da atividade. O sistema inicia na escolha de gramíneas e outras culturas forrageiras, que devem respeitar as características locais de solo, clima e sazonalidade anual.

Neste contexto, um sistema bem planejado, aliado à adequada adubação, permite potencializar a taxa de lotação e propicia uma forragem de melhor qualidade, com boa disponibilidade, por maior tempo. Além disso, é possível considerar que o animal alocado em um sistema bem planejado fará menor deslocamento em busca de nutrientes, favorecendo o consumo, reduzindo gastos energéticos e, consequentemente, aumentando a produção.

O primeiro ponto a se considerar é a condição do solo e a necessidade de correção. A coleta de amostras e análises regulares da terra e também da forragem são essenciais para determinar a disponibilidade de nutrientes, incluindo níveis de proteínas, energia, fibras e minerais. A compreensão da composição nutricional da forragem permite um melhor aproveitamento da área disponível, além de direcionar a formulação de uma dieta de suplementação mais precisa.

Outro ponto importante é prevenir o subpastejo e o superpastejo, ajustando taxas de lotação e adotando sistemas de manejo que promovam a regeneração da pastagem. Isso significa entender a realidade de cada propriedade para poder adotar a prática que melhor se enquadre.

Existem alguns modelos mais comumente utilizados, sendo o pastejo contínuo um dos principais sistemas adotados por conta da praticidade. É uma possibilidade que precisa de atenção no ajuste da quantidade de animais de acordo com a disponibilidade de forragem, visto que os animais permanecem o tempo todo na mesma área.

Outra estratégia mais interessante é o pastejo rotacionado, que consiste na utilização de dois ou mais piquetes, que são alternados para que um esteja em uso, e os demais, em descanso e rebrota da forragem. Nesse caso, o produtor precisa ajustar a lotação e também se atentar para o momento correto de entrada e saída dos animais de acordo com a altura de cada cultura forrageira. Este sistema, se trabalhado corretamente, permite melhor aproveitamento na colheita da forragem, maximizando a produção de gado a pasto.

Essas práticas de manejo planejados não só sustentam o ecossistema, mas também aumentam a capacidade de suporte do solo e o sequestro de carbono. Além disso, pastagens bem geridas atenuam os processos de erosão do solo e melhoram a biodisponibilidade dos nutrientes, tornando o sistema capaz de se manter ao longo dos anos, o que implica em um processo produtivo sustentável. Ao aproveitar o potencial regenerativo dos próprios animais que pastam, os produtores contribuem para a restauração de pastagens degradadas e para a preservação dos ecossistemas naturais.

Na sequência, o próximo passo se dá pela escolha da forrageira mais adequada, que deve respeitar a meta produtiva, a região de inserção, a sazonalidade e o aporte nutricional. No Brasil, a predominância do cultivo de forragens direcionadas aos bovinos são gramíneas, principalmente as Brachiarias (Urochloa spp.) e os Panicuns (Megathyrsus spp). Apesar disso, por ser um país de grandes dimensões, com variedade de solo, temperatura e pluviosidade, os produtores têm diversas outras possibilidades a serem direcionadas para cada região, inclusive de algumas leguminosas como a aveia e a leucena. Ao escolher uma cultura adequada, o produtor consegue planejar as demais estratégias nutricionais em busca de atingir os objetivos de produção.

Entre as possibilidades de complementação do aporte nutricional para os animais, a suplementação se dá como excelente alternativa, já que é de fácil acesso ao produtor. O mercado oferece hoje uma série de produtos prontos para uso ou para formulações de dietas à pasto, contemplando os diferentes períodos do ano e as diferentes defasagens na pastagem que precisam ser supridas. Ou seja, projetar uma estratégia nutricional ideal para a produção de carne bovina alimentada a pasto envolve equilibrar as necessidades nutricionais do gado com os recursos forrageiros disponíveis.

Nesse ponto, é importante desenvolver uma dieta balanceada que atenda às exigências nutricionais do gado nas diferentes fases de produção (ex.: crescimento, terminação, lactação). Além disso, é necessário considerar fatores como idade, peso, estado fisiológico e metas de produção, ao formular dietas. Assim, é possível determinar a necessidade de suplementação somente mineral, proteica ou ainda proteica energética.

Outro ponto de extrema importância e muitas vezes esquecido é o acesso a água limpa e fresca para todos os animais, essencial para a digestão adequada, absorção de nutrientes e saúde geral. Por fim, o investimento em uma infraestrutura adequada, com sistemas de água, cercas e instalações para facilitar o manejo eficiente do rebanho é o complemento de uma atividade bem gerida.

O pasto sempre foi uma ferramenta de fácil acesso para o produtor e, se bem utilizada, pode trazer resultados satisfatórios. Ao implementar estas estratégias, é possível aumentar a eficiência nos sistemas de produção, melhorando o desempenho, a rentabilidade e a sustentabilidade, mantendo o sistema viável.

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Fonte: Por Wellington Luiz de Paula Araújo Zootecnista, doutor em Nutrição e Produção Animal
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