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Saiba o que esperar sobre clima, mercado e a produção de soja

No Brasil, a perspectiva é de uma nova expansão na produção, impulsionada tanto pelo aumento da área plantada quanto pela elevação da produtividade.

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Foto: Shutterstock

A safra 2023/24 no Brasil teve seu desenvolvimento prejudicado devido a condições climáticas adversas em várias regiões. Após o início do plantio em meados de setembro, a forte influência do El Niño sobre o clima trouxe ondas intensas de calor, afetando especialmente o Centro-Oeste, Sudeste e Norte do país no final de 2023. Essas ondas de calor, aliadas a períodos de chuva abaixo da média, resultaram em prejuízos expressivos na produtividade. “O clima irregular provocou a maior quebra histórica de produtividade em Mato Grosso, o maior produtor de grãos do país, com uma redução de cerca de 15% em relação à safra 2022/23”, afirma Francisco Queiroz, responsável pela cobertura das commodities de soja, milho e algodão da Consultoria Agro do Itaú BBA.

Foto: José Fernando Ogura

No entanto, o retorno das chuvas entre o final de dezembro de 2023 e janeiro de 2024, beneficiaram especialmente as lavouras mais tardias. Esse fator, junto com a expansão de área cultivada, que cresceu 2,7%, ou seja, 1,2 milhão de hectares, ajudou a amenizar a queda na produção.

A Consultoria Agro do Itaú BBA projeta que a produção brasileira de soja na safra 2023/24 chegue a 153 milhões de toneladas, um volume inferior ao potencial de 163 milhões de toneladas estimado no início da temporada. “Essa redução na safra brasileira, entretanto, foi mais que compensada pela recuperação da produção na Argentina. O país vizinho, que havia sofrido grandes perdas devido à seca na safra 2022/23, conseguiu dobrar sua produção em 2023/24, graças às chuvas favoráveis trazidas pelo El Niño”, aponta Queiroz.

Segundo as projeções mais recentes do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a Argentina deve encerrar a safra com uma oferta de 50 milhões de toneladas. “Com isso, o balanço global de oferta e demanda de soja apresentou um crescimento importante dos estoques, da ordem de milhões de toneladas, o que resultou também em um incremento da relação estoque/consumo da oleaginosa, que saiu de 27% para 29% em 2023/24”, afirma Queiroz.

Diante do panorama de maior conforto para o balanço mundial de soja, as cotações do grão em Chicago apresentaram redução de 19,2% no primeiro semestre de 2024 sobre o mesmo período do ano anterior. Em Sorriso (MT), Rio Verde (GO) e Paranaguá (PR), a desvalorização apresentada no semestre foi de 16,7%, 18,1% e 17,6%, respectivamente. “A queda dos preços, somada a uma produtividade mais baixa e custos ainda em patamares elevados, resultou em menor rentabilidade para o produtor brasileiro”, avaliou o profissional.

2024/25

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

O cenário para a temporada 2024/25 começou a tomar forma a partir do início do plantio da safra nos Estados Unidos, trazendo perspectivas otimistas para a produção global de soja. Segundo as primeiras estimativas do USDA, a produção mundial da oleaginosa deve atingir 422 milhões de toneladas, um aumento de 7% em relação à safra anterior, estabelecendo um novo recorde de oferta. O órgão projeta crescimento na produção dos três maiores produtores globais: Brasil, EUA e Argentina, com expectativas de expansão de 10% para o Brasil, 6% para os EUA e 3% para a Argentina. “O plantio da safra americana iniciou em meados de abril e veio em ritmo acelerado até o início de maio, quando desacelerou devido ao excesso de chuva.

O ritmo de plantio em 2024 ficou abaixo do observado no ano passado, porém na maior parte do tempo, à frente da média dos últimos cinco anos”, analisa Queiroz. Nos Estados Unidos, onde a safra 2024/25 está em desenvolvimento, a área plantada de soja deve crescer, impulsionada por preços mais atrativos em comparação ao milho, observados no momento de definição do plantio por parte do produtor americano. O USDA prevê que a área plantada deverá alcançar 34,9 milhões de hectares, enquanto a área colhida é estimada em 34,5 milhões de hectares, com uma produtividade média projetada de 3,5 toneladas por hectare, resultando em uma produção total de 120,7 milhões de toneladas.

Do ponto de vista climático, Queiroz diz que o panorama até o momento é bastante positivo para a safra americana e segue sustentando a expectativa de aumento da produção. “Não faltou chuva na maior parte das áreas e, apesar das temperaturas acima da média, o calor não chegou a afetar as lavouras até agora”, ressaltou, acrescentando: “Ainda estamos (início de agosto) no meio do período de desenvolvimento e a consolidação dos números está sujeita a revisões, ainda dependendo da evolução do clima nas próximas semanas. Entretanto, os modelos seguem projetando um clima favorável nos próximos meses para os EUA, ou seja, a expectativa é de safra americana cheia e preços que devem seguir pressionados em Chicago”.

América do Sul

Responsável pela cobertura das commodities de soja, milho e algodão da Consultoria Agro do Itaú BBA, Francisco Queiroz: “A volatilidade contínua, influenciada por fatores climáticos e políticos, pode complicar a gestão de risco para as tradings, tornando essencial uma estratégia cuidadosa” Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

Para a Argentina, após o bom desempenho na safra 2023/24, a expectativa é de mais um aumento na área de cultivo de soja. O USDA projeta um crescimento de 2,4% na área plantada para a safra 2024/25, o que, aliado a uma produtividade média semelhante à da última safra, deve resultar em uma produção de 51 milhões de toneladas.

No Brasil, a perspectiva é de uma nova expansão na produção, impulsionada tanto pelo aumento da área plantada quanto pela elevação da produtividade. O USDA prevê uma área de 47,3 milhões de hectares, com uma produtividade média estimada em 3,6 toneladas por hectare, o que resultaria em uma produção de 169 milhões de toneladas de soja.

No entanto, a Consultoria Agro do Itaú BBA projeta uma expansão mais modesta, de apenas 2% na área plantada, alcançando 46,7 milhões de hectares. “Considerando a influência de um possível fenômeno La Niña, que está se formando, adotamos uma postura mais conservadora em relação à produtividade, estimando uma média de 3,5 toneladas por hectare. Dessa forma, a safra brasileira de soja para 2024/25 seria de aproximadamente 163 milhões de toneladas”, expõe Queiroz, enfatizando que o El Niño, fenômeno que influenciou a safra 2023/24, chegou ao fim na virada do semestre, dando lugar ao processo de resfriamento do Oceano Pacífico, típico de uma La Niña.

Influência do La Niña

Os modelos climáticos indicam a atuação de um La Niña entre julho e setembro. Esse fenômeno, oposto ao El Niño, é caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico e exerce uma influência significativa no clima global. No Brasil, conforme Queiroz, seus efeitos resultam em menos chuvas na região Sul e em um aumento nos volumes de precipitação na região do Matopiba. “Os efeitos do La Niña são potencializados de acordo com a intensidade. Fenômenos de forte intensidade tendem a registrar as consequências clássicas, enquanto os mais fracos podem ter os reflexos no clima atenuados”, explica o analista de mercado.

Atualmente, os modelos de projeção climática apresentam divergências quanto à intensidade do La Niña. O modelo americano (CFSv2) prevê um fenômeno de intensidade moderada, com resfriamento próximo a -1,5°C, enquanto o modelo europeu (ECMWF) sugere um La Niña mais fraco, com resfriamento em torno de -0,5°C. Entretanto, independentemente dessas diferenças, climatologistas alertam para a possibilidade de atraso nas chuvas para a safra de verão devido à formação do fenômeno. “As previsões atuais indicam boas chuvas chegando até a região central do Brasil apenas na segunda metade de outubro, um atraso de cerca de 30 dias em relação à época habitual. No entanto, as perspectivas para novembro, dezembro e janeiro são de boas precipitações em praticamente todas as regiões produtoras”, aponta Queiroz.

O profissional diz que é importante ressaltar que o La Niña tende a reduzir as chuvas não apenas no Sul do Brasil, mas também em partes da Argentina, Paraguai e Uruguai. “É fundamental monitorar a evolução da intensidade do La Niña nos próximos meses e seus impactos nas áreas agrícolas desses países, com especial atenção para a Argentina, o terceiro maior produtor mundial de soja”, salienta.

Mercado da soja

Segundo Queiroz, a análise do mercado de soja para a safra 2024/25 deve considerar vários fatores além das condições climáticas. Dois aspectos essenciais para o balanço de oferta e demanda da commodity são a demanda global e os estoques.

A demanda por soja é influenciada por diversos fatores, como o crescimento econômico global, o aumento da produção de proteína animal e políticas governamentais e comerciais. Queiroz expõe que entre as safras 2012/13 e 2022/23, a demanda global por soja cresceu, em média, 3,3% ao ano, enquanto a safra 2023/24 deve registrar um crescimento de 4,4%, e a safra 2024/25, um aumento de 5%. “Esse crescimento acima da média observado em 2023/24, e esperado para 2024/25, está diretamente ligado à expansão da produção global de biocombustíveis”, assegura.

Nos últimos anos, o mundo tem visto um aumento gradual na produção de biocombustíveis, impulsionado principalmente por incentivos financeiros governamentais em países que buscam acelerar esse processo. “A necessidade de descarbonizar as economias tem levado a uma expansão significativa dos investimentos nesse setor, aumentando a capacidade de produção de biocombustíveis”, frisa Queiroz, acrescentando: “O óleo de soja é a principal matéria-prima para dois dos três biocombustíveis mais produzidos no mundo – biodiesel e diesel renovável. Esse avanço na produção de biocombustíveis está elevando a demanda por óleo de soja, o que, por sua vez, impulsiona a demanda pelo grão”.

Estoques globais

Os níveis de estoques globais de soja desempenham um papel importante na determinação dos preços da commodity. Estoques baixos tendem a aumentar a volatilidade das cotações, enquanto estoques elevados podem trazer maior estabilidade. “Para a safra 2024/25, espera-se um novo crescimento dos estoques finais mundiais de soja, mesmo diante do forte aumento projetado para o consumo”, afirma Queiroz.

Foto: Claudio Neves

Com base nas estimativas do USDA para a produção global e na previsão de 163 milhões de toneladas para o Brasil, os estoques mundiais devem variar entre 122 e 128 milhões de toneladas, representando um aumento de 9% a 15% em relação à safra 2023/24. A relação estoque/uso da oleaginosa subiria de 29% para um intervalo entre 30% e 32%.

Além dos estoques, políticas governamentais relacionadas ao comércio internacional, subsídios, biocombustíveis, acordos comerciais e questões ambientais também podem impactar o mercado de soja. Neste contexto, é importante observar o cenário político, especialmente a eleição presidencial nos Estados Unidos, prevista para novembro, onde Donald Trump é o candidato do Partido Republicano. “Em seu primeiro mandato, entre janeiro de 2017 e janeiro de 2021, Trump assumiu uma postura combativa com a China, o que culminou com uma guerra comercial entre as duas nações, cenário que beneficiou os produtores de soja do Brasil”, admite Queiroz.

Com o início da guerra comercial, em março de 2018, diante da imposição de tarifas comerciais sobre produtos chineses por parte dos EUA e desgaste das relações entre os dois países, a demanda de soja do gigante asiático saiu dos americanos e veio para o Brasil. “O reflexo disso foi uma queda dos preços em Chicago, diante da redução da demanda pela soja americana, mas uma explosão dos prêmios no Brasil, com as cotações alcançando US$ 2,75/bushel em outubro de 2018, o que mais do que compensou a queda na CBOT”, menciona o especialista, ampliando: “As chances de Trump assumir a presidência subiram após o atentado de 13 de junho e, com isso, o mercado já começa a especular sobre a possível retomada da guerra comercial com a China, o que seria bastante negativo para a demanda de exportação dos EUA, mas potencialmente positivo para os prêmios no Brasil”.

O panorama de produção global recorde, aumento dos estoques finais e elevação da relação estoque/consumo desenha um cenário de preços pressionados para a soja na Bolsa de Chicago (CBOT), que ainda pode ser potencializado por uma hipotética vitória de Trump e retomada da guerra comercial com a China. No Brasil, a queda em Chicago poderá ser contrabalanceada por uma valorização dos prêmios e por um real mais depreciado.

Fertilizantes favorecem as margens dos produtores

Os custos de produção para a safra 2024/25 devem apresentar uma redução em comparação à safra anterior, impulsionados pela queda nos preços dos fertilizantes e pela diminuição nas cotações de alguns defensivos agrícolas. A expectativa é de que os custos com fertilizantes caiam cerca de 25%, sendo este o principal fator na redução do custo operacional, que deve registrar uma queda de aproximadamente 12% em relação à safra 2023/24.

A desvalorização do Real pode proporcionar um alívio financeiro maior do que o previsto para os produtores, que enfrentaram margens reduzidas nas últimas duas safras. Essa situação permitiria a manutenção do pacote tecnológico, incluindo sementes e insumos, o que, aliado a condições climáticas favoráveis, pode resultar em um aumento da produtividade.

No que diz respeito aos preços, a previsão de um balanço global de oferta e demanda mais equilibrado, junto com a expectativa de mais um recorde de safra no Brasil, tende a pressionar negativamente as cotações da soja na CBOT. No entanto, a valorização dos prêmios e uma taxa de câmbio mais alta devem favorecer a precificação da soja em reais. Com isso, se espera um aumento na rentabilidade para a safra 2024/25, decorrente da redução dos custos e do potencial de melhora na produtividade.

Os preços na CBOT, o câmbio e os prêmios influenciam diretamente a formação do preço da soja para os produtores brasileiros. “Diante da perspectiva de queda nos preços em Chicago e de um câmbio volátil e imprevisível, é essencial que os produtores estejam atentos às oportunidades de hedge, considerando as expectativas de um mercado global mais bem abastecido”, sugere Queiroz.

Foto: Claudio Neves

Volátil, mas positivo

O aumento da oferta interna de soja deve beneficiar as tradings, promovendo um retorno mais robusto. Nos últimos 10 anos, as exportações brasileiras de soja cresceram 138% segundo a Secex, passando de 42,8 milhões de toneladas na safra 2013/14 para 101,8 milhões de toneladas em 2023/24.

A China, principal importadora global, recebeu 73% das exportações brasileiras de soja no ano passado. O USDA prevê um aumento de 4,2% no consumo global e de 1% nas importações chinesas, atingindo 109 milhões de toneladas, o que deve manter o impulso nas exportações brasileiras. “Apesar dos prêmios para exportação atuais serem positivos devido à alta demanda projetada, a grande quantidade de soja ainda a ser comercializada pode pressionar esses prêmios”, analisa Queiroz, mencionando que a comercialização antecipada da nova safra está em torno de 15%, com 138 milhões de toneladas ainda por negociar.

Embora as vendas antecipadas estejam acima do ano passado, há um atraso de seis pontos percentuais em relação à média histórica. “A volatilidade contínua, influenciada por fatores climáticos e políticos, pode complicar a gestão de risco para as tradings, tornando essencial uma estratégia cuidadosa”, aponta.

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Fonte: O Presente Rural

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Brasil apresenta na COP30 ações que unem produtividade e redução de metano na pecuária

Iniciativas do Mapa destacam inovação, assistência técnica e parcerias internacionais para ampliar tecnologias sustentáveis e fortalecer a pecuária de baixa emissão.

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Foto: Shutterstock

Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) apresentou, nesta segunda-feira (17), na Blue Zone da COP30, as principais ações brasileiras que associam ganho de produtividade à redução das emissões de metano na pecuária. A agenda reuniu representantes de financiadores como Global Methane Hub e Environmental Defense Fund (EDF), além de organizações multilaterais como a FAO, a Climate and Clean Air Coalition (CCAC) e a Clean Air Task Force (CATF).

O Mapa foi representado por Bruno Brasil, diretor do Departamento de Produção Sustentável, que destacou a integração entre inovação, assistência técnica e práticas sustentáveis para acelerar a transição climática no campo.

Foto: Mapa

Segundo ele, a adoção de tecnologias alinhadas ao Plano ABC+ e a estratégias de intensificação sustentável reforça o papel do Brasil como referência global em pecuária de baixa emissão. “A experiência brasileira demonstra que o ganho de produtividade na pecuária é uma medida efetiva na redução da intensidade de emissões de metano, conciliando sustentabilidade e renda para o produtor rural”, destacou Bruno Brasil.

Durante o encontro foram discutidas possibilidades de financiamento para serviços de ATER digital com foco em ampliar o acesso de produtores a soluções tecnológicas e sustentáveis. As instituições presentes reforçaram a importância de parcerias internacionais para fortalecer iniciativas que apoiam a redução do metano e a adaptação climática na agropecuária.

Fonte: Assessoria Mapa
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Bovinos / Grãos / Máquinas Irregularidades sanitárias

Cargueiro barrado na Turquia inicia retorno após dois meses sem desembarque

Retorno deve durar cerca de um mês, com chegada prevista para 14 de dezembro. As condições a bordo têm sido descritas por testemunhas como degradantes, com forte odor, infestação de moscas e carcaças acumuladas no convés, em processo avançado de decomposição.

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Cerca de três mil vacas estão há dois meses confinadas em um navio que não obteve autorização para desembarcar sua carga na Turquia, após autoridades identificarem graves irregularidades na documentação sanitária e na identificação dos animais. A inspeção turca constatou que 146 bovinos estavam sem brincos de identificação ou com numeração ilegível, enquanto 469 apresentavam marcas que não correspondiam às listas oficiais de importação, falhas que acenderam o alerta para riscos sanitários, incluindo a possível transmissão de doenças. Também foi reportada a morte de 48 animais durante a viagem.

O cargueiro Spiridon II deixou Montevidéu, Capital do Uruguai, em 20 de setembro, e chegou à região do porto de Bandırma em 22 de outubro. Desde então, não recebeu permissão para desembarcar as vacas, destinadas à produção de leite. Após semanas ancorado, o navio deixou Bandırma na última sexta-feira (14), cruzou o Estreito de Çanakkale e agora navega de volta rumo ao Uruguai. Segundo dados da plataforma MarineTraffic, o retorno deve durar cerca de um mês, com chegada prevista para 14 de dezembro.

Fotos: Reprodução

Odor forte e infestação de moscas

As condições a bordo têm sido descritas por testemunhas como degradantes, com forte odor, infestação de moscas e carcaças acumuladas no convés, em processo avançado de decomposição. Além das mortes registradas, a organização Animal Welfare Foundation (AWF) relatou, com base em informações obtidas localmente, o nascimento de cerca de 140 bezerros durante a travessia.

Retorno a Uruguai

A especialista em bem-estar animal Maria Boada, da AWF, alertou que muitos dos bovinos não devem resistir a uma segunda viagem de um mês até Montevidéu e que o navio aparenta ter estoque insuficiente de alimento. Ela também afirmou ser provável que os animais mortos tenham sido descartados no mar.

Foto: Reprodução

A veterinária australiana Lynn Simpson, referência internacional em transporte marítimo de animais, lançou novos alertas ao relatar vazamento de fluidos provenientes de carcaças em decomposição no convés, destacando riscos ao bem-estar animal, à saúde pública e à segurança ambiental.

Esta não é uma situação isolada envolvendo a exportação de animais vivos. Ao redor do mundo, casos como esse se repetem, cada vez com maior frequência, devido à péssima condição dos chamados navios boiadeiros. A exportação de animais vivos é uma das atividades de maior impacto negativo da pecuária, as más condições de higiene e bem-estar nos navios causam intenso sofrimento animal e oferecem riscos à saúde pública e ao meio ambiente.

Outros casos

Em 2024, o navio transportador de animais vivos Al Kuwait atracou no porto da Cidade do Cabo para carregar ração. A chegada do curral flutuante poluiu o ar da capital legislativa da África do Sul e seu cartão-postal mais característico com o cheiro fétido de esterco de 19.000 touros embarcados no Brasil para serem enviados ao Iraque. O episódio foi exposto pela National Council of Societies for the Prevention of Cruelty to Animals (NSPCA).

A equipe da NSPCA que embarcou no navio descreveu o que testemunhou como abominável. Além de animais mortos, outros animais feridos e doentes foram encontrados a bordo, alguns dos quais tiveram que ser sacrificados. Havia escassez de medicamentos necessários para lidar com os problemas de saúde animal encontrados, entre eles um surto de conjuntivite bovina. Tampouco havia assistência médica suficiente: apenas dois veterinários, auxiliados por quatro tratadores, acompanhavam os 19.000 touros.

Em 2019, o Queen Hind naufragou no Porto de Midia na Romênia, pouco após zarpar carregado com milhares de ovinos vivos. Em 2022, o Al Badri 1, também carregado, adernou e afundou em um berço de atracação do porto de Suakin, no Sudão. O navio que afundou no porto romeno, o Queen Hind, esteve no Brasil apenas alguns meses antes do acidente. Investigações subsequentes indicaram diversas irregularidades, inclusive a existência de compartimentos de carga ocultos. Tanto o Haidar quanto o Queen Hind e o Al Badri 1 eram navios convertidos.

Em 2018, uma operação de exportação de bovinos vivos causou intensa poluição do ar na cidade de Santos-SP, em decorrência do acúmulo de fezes e urina dos animais na embarcação, o navio de bandeira panamenha MV Nada. Os 27 mil bois pertenciam à Minerva e tinham por destino a Turquia. A empresa foi multada pela prefeitura municipal por infração ambiental e maus tratos animais.

Em 2015, na cidade de Barcarena (PA), o navio Haidar, com quase 5 mil bois vivos, 28 tripulantes a bordo e 700 toneladas de óleo, naufragou no Porto de Vila do Conde. A decomposição dos corpos dos animais mortos e o vazamento de óleo do navio provocaram um dos piores desastres ambientais da história do estado. As carcaças e o óleo que vazou do Haidar deixaram um rastro de contaminação que alcançou a cidade de Belém, cerca de 60 km rio abaixo.

Em 2012, 2.750 bois morreram asfixiados a bordo do navio de bandeira panamenha MV Gracia Del Mar, em decorrência de uma pane no sistema de ventilação durante a viagem. Os animais, fornecidos pela Minerva, foram embarcados no porto de Vila do Conde, em Barcarena-PA, e tinham por destino o Egito.

No Porto de São Sebastião, o terceiro do país que mais exporta animais vivos, a população relata como fica a cidade nos dias de operação: o trânsito fica congestionado pelo grande fluxo de caminhões; o mau cheiro das fezes e da urina dos animais empesteia o ar e prejudica o turismo na região. Este cenário foi retratado no documentário “Elias: O Boi que Aprendeu a Nadar”, da Mercy For Animals.

Fonte: O Presente Rural com Animal Welfare Foundation
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Casos de raiva no Paraná exigem cuidados redobrados nas propriedades

Crescimento dos focos da doença mobiliza autoridades, Sistema Faep e produtores na vacinação obrigatória, reforço da vigilância e ações de educação sanitária em diversas regiões.

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Fotos: Arnaldo Alves

O Paraná tem registrado casos de raiva herbívora em rebanhos de animais de produção, o que acende o alerta para a necessidade de ações de controle da zoonose (doença infecciosa transmitida entre animais e seres humanos).

Por isso, as autoridades sanitárias, com apoio do Sistema Faep e produtores rurais, têm promovido uma série de medidas de controle, como vacinação obrigatória, reforço na vigilância e campanhas de educação. “Nas últimas décadas, o Sistema Faep investiu, de forma sistemática, na sanidade animal e na segurança das atividades agropecuárias. Agora, nas ações contra a raiva, não é diferente. Temos colaborado ativamente nas campanhas de disseminação de informações e de conscientização. É preciso ampliar a importância do controle dessa doença e garantir a proteção dos nossos rebanhos comerciais”, enfatiza o presidente interino do Sistema Faep, Ágide Eduardo Meneguette.

Foto: Licia Rubinstein

A presença da raiva no Paraná é recorrente, o que exige atenção constante dos produtores. Porém, há uma região que concentra boa parte dos casos. Em 2024, o Estado confirmou 227 focos de raiva, sendo mais da metade em propriedades localizadas na área de abrangência das regionais de Cascavel e Laranjeiras do Sul. A situação se repete em 2025. Até setembro, já foram contabilizados 166 focos em 41 municípios, sendo 81 na região Oeste.

De acordo com chefe do Departamento de Saúde Animal da Agência Estadual de Defesa Agropecuária (Adapar), Rafael Gonçalves Dias, esse número elevado motivou a publicação da Portaria 368/2025, que torna obrigatória a vacinação contra raiva em 30 municípios da região Oeste do Paraná (veja a lista mais abaixo) para bovinos, búfalos, cavalos, asnos, mulas, ovinos e caprinos a partir de três meses de idade. “Simultaneamente, intensificamos a mobilização com o projeto ‘Adapar Educa a Campo’, que tem percorrido municípios da região para fortalecer a conscientização e engajamento local. Essas ações visam a contenção de focos ativos e a prevenção em áreas vizinhas para evitar a expansão da doença”, detalha Dias.

Em outubro, o órgão e o Sistema Faep realizaram reuniões e encontros em propriedades rurais, assentamentos e prefeituras, com um público estimado em 1,1 mil pessoas. Além disso, a campanha teve divulgação nos veículos de comunicação do Oeste. “O Sistema Faep apoiou diretamente essa ação. Esse projeto-piloto, cuja proposta é expandir para outras áreas da defesa agropecuária, promoveu a integração entre a agência e a sociedade por meio da educação sanitária”, explica Nicolle Wilsek, técnica do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP.

Confira os municípios onde a vacinação é obrigatória

  • Boa Vista da Aparecida
  • Braganey
  • Campo Bonito
  • Capanema
  • Capitão Leônidas Marques
  • Cascavel
  • Catanduvas
  • Céu Azul
  • Diamante d’Oeste
  • Foz do Iguaçu
  • Guaraniaçu
  • Ibema
  • Itaipulândia
  • Lindoeste
  • Matelândia
  • Medianeira
  • Missal
  • Planalto
  • Pérola d’Oeste
  • Quedas do Iguaçu
  • Ramilândia
  • Realeza
  • Rio Bonito do Iguaçu
  • Santa Lúcia
  • Santa Tereza do Oeste
  • Santa Terezinha de Itaipu
  • São Miguel do Iguaçu
  • Serranópolis do Iguaçu
  • Três Barras do Paraná
  • Vera Cruz do Oeste

Saiba como identificar casos de raiva

Foto: Fabiano Bastos

A raiva em herbívoros é transmitida, entre outras formas, por morcegos hematófagos (que se alimentam de sangue de animais). Entre os sintomas da doença estão o isolamento do animal, apatia ou agitação, perda de apetite, salivação intensa e dificuldade para engolir, fezes secas e escuras, e progressiva paralisia dos membros. “Diante desses sinais clínicos, a doença é praticamente irreversível e fatal para os animais acometidos”, alerta Rafael Gonçalves Dias, chefe do Departamento de Saúde Animal da Adapar.

Se um produtor suspeitar de raiva em algum animal do rebanho, a orientação é: isolar o animal suspeito, notificar imediatamente à Adapar e não mexer ou manipular o animal sem proteção. “É importante que quando o animal morrer, o produtor solicite a visita da Adapar para coletar uma amostra. Além disso, ações importantes são reforçar a vacinação no entorno da propriedade, identificar possíveis abrigos de morcegos e monitorar os demais animais da propriedade”, orienta Dias.

Outros cuidados

O chefe do Departamento de Saúde Animal da Adapar enfatiza que, mesmo em municípios onde a vacinação não é obrigatória, o ato de imunizar o rebanho previne que animais suscetíveis sejam infectados caso o vírus chegue até aquela área. “Mesmo sem obrigatoriedade legal, vacinar ajuda a formar uma ‘cobertura imunológica’, que reduz o risco de propagação desde as áreas de foco. Vacinar antecipadamente constitui uma medida preventiva responsável e vantajosa, independentemente de obrigatoriedade legal”, reforça.

Segundo Nicolle Wilsek, técnica do Sistema FAEP, há medidas complementares que ajudam na prevenção da raiva e de outras doenças que podem afetar os rebanhos. “É preciso seguir boas práticas sanitárias, como manter o registro detalhado de vacinações, investir em capacitação contínua, incluir cláusulas de sanidade em transações de animais e promover a conscientização de cuidados pessoais no manejo”, destaca.

Fonte: Assessoria Sistema Faep
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