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Rumo a outro patamar de vacinação em suínos

Com base nos benefícios imunológicos da vacinação ID via tecnologia, essa via de aplicação deve ser considerada para o futuro modelo de produção de suínos

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Lucas Scherer/Embrapa

Artigo escrito por Diogo Fontana, médico veterinário e coordenador técnico da MSD Saúde Animal – Canadá e Amanda Camargo, médica veterinária e coordenadora técnica da MSD Saúde Animal – Brasil

Uma prática comum e rotineira na indústria de suínos é o manejo de aplicação de vacinas nos animais, sendo que atualmente a maioria das vacinas são administradas por via intramuscular (IM) com o auxílio de equipamentos, como seringas e agulhas, para realizar o processo. No entanto, a busca constante por inovação e diferenciação estimularam a pesquisas em novas vias de administração de vacinas por empresas de saúde animal. A boa notícia: dispositivos para realizar vacinação intradérmica (ID) sem agulha, e vacinas específicas para essa via de aplicação estão disponíveis no mercado, combinando os benefícios da vacinação sem agulha e da aplicação intradérmica de vacinas.

O exemplo mais conhecido de um dispositivo de vacinação sem agulhas na indústria de suínos, desenvolvido inicialmente na Holanda por especialistas em tecnologia de fabricação de produtos médicos em colaboração com uma empresa farmacêutica, e que apareceu oficialmente pela primeira vez no mercado em 2001. Embora os dispositivos de injeção sem agulha existam na medicina humana desde a década de 1930 e foram introduzidos pela primeira vez na medicina veterinária nos anos 90 na Europa, o desenvolvimento técnico foi adotado e aperfeiçoado por uma empresa alemã e um pouco mais tarde, trouxe ao mercado em 2013 e 2014 os modelos melhorados desta vacinadora, respectivamente, o que traz uma grande vantagem para essa tecnologia, já que o seu desenvolvimento ocorreu juntamente com uma linha de vacinas exclusivas para o uso da via ID.

O doutor Ruud Segers, gerente global de pesquisa e desenvolvimento (P&D) da linha de produtos biológicos em suínos da empresa, admite que é “um desafio considerável que exige um alto nível de especialização para obter todo o antígeno e adjuvante necessários em um volume tão pequeno e em uma emulsão estável”. A primeira vacina inativada para administração intradérmica contra Mycoplasma hyopneumoniae, introduzida em 2013, superou uma vacina intramuscular em situação de campo. Em 2016, uma vacina com a mesma tecnologia, mas contra a infecção por Circovírus Suíno tipo 2 foi introduzida, o que facilita o manejo na granja, já que as mesmas podem ser usadas concomitantemente. Essas vacinas foram aprovadas e registradas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e já estão disponíveis comercialmente no Brasil.

Vantagens

A vacinação intradérmica sem agulha reduz o risco de disseminação de doenças entre os suínos, que pode ocorrer devido a reutilização da mesma agulha em vários animais durante o processo de vacinação (transmissão iatrogênica de patógenos). Além disso, elimina o risco de quebra de agulhas, abcessos e condenações de carcaças associadas a esses fatos, além de melhorar a segurança do operador, evitando ferimentos acidentais com as agulhas. Como o dispositivo/vacinadora não utiliza agulhas e regula a dose da vacina e a pressão de aplicação eletronicamente, os erros de volume da dose aplicada e lesão teciduais nos animais são minimizados ou inexistentes.

Enquanto as vacinas convencionais são aplicadas com o uso de seringas e agulhas e podem formar um bolus de vacina no fundo do músculo, isto é, uma grande quantidade de líquido, um aplicador intradérmico e sem agulha, como o dispositivo/vacinadora, permite uma dispersão da vacina mais ampla na pele. No geral, a resposta imune após a vacinação intradérmica pode ser mais rápida e tão boa quanto a vacinação intramuscular tradicional, isso com o uso de um volume de vacina muito inferior do que o usado na vacinação tradicional: 0,2 mL aplicado intradérmicamente ao invés de 2 mL via intramuscular. Além de eliminar a necessidade de troca e descarte de seringas e agulhas usadas, e por ser uma vacina que utiliza uma dose menor de aplicação, apresenta menores exigências de volume de frascarias para ser manejado e controlado nas geladeiras de armazenamento de vacinas, se tornando assim mais conveniente.

Bem-estar animal

Nos dias atuais, o mercado de produção de suínos está buscando cada vez mais o bem-estar animal em todo o processo, inclusive no momento da vacinação. E essa é outra grande vantagem que o dispositivo/vacinadora pode proporcionar, pois a aplicação de vacinas sem agulhas causa menos dor e estresse. Um estudo recente mostra que a vacinação intradérmica sem agulhas reduz a reação de medo e dor de fêmeas gestantes. “Isto é de particular interesse em animais alojados em grupo, onde um grito de um animal após ser vacinado intramuscularmente, ou seja, após a introdução da agulha, irá imediatamente desencadear excitação e apreensão em toda a instalação ou grupo de animais”, explica Segers. “A vacinação sem agulha não contribuirá apenas para o bem-estar animal, mas também para um ambiente de trabalho mais calmo e tranquilo para os vacinadores”, completa. Outro estudo em uma granja comercial de suínos avaliou os aspectos de bem-estar em leitões após a vacinação com o dispositivo/vacinadora. Os resultados mostraram que os leitões no grupo vacinado pela via intradérmica foram mais ativos e tinham mais atividade de mamadas após a vacinação do que os leitões vacinados pela via intramuscular.

Como a vacinação intradérmica funciona?

A pele é muito exposta ao meio ambiente e, dessa maneira, representa uma importante proteção física e imunológica contra lesões e infecções. Portanto, semelhante ao sistema imune da mucosa, a pele tem um sistema coordenado no qual células epiteliais, células imunes, linfa e vasos sanguíneos operam de forma muito mais eficiente se a barreira epidérmica for interrompida. Esta é a base para usar a pele como um local de aplicação de vacinas.

Composta por três camadas principais: epiderme, derme e subcutâneo, a pele tem características especificas que são essências para a eficiência da vacinação intradérmica. A epiderme avascular é composta por várias camadas de queratinócitos escamosos cornificados de espessura. Nos suínos tem 30-140µm de espessura e representa a principal barreira da pele. A epiderme dorsal na região do pescoço é geralmente mais espessa do que na região ventral. Além dos queratinócitos, a epiderme contém um tipo de células apresentadoras de antígenos semelhante às células dendríticas (CD), chamadas células de Langerhans. A derme em suínos é 10-13 vezes mais espessa do que a epiderme e é composta de fibras de colágeno e elastina com muitos vasos linfáticos e sanguíneos, além das células dendríticas dérmicas residentes, mastócitos e fibrócitos. O subcutâneo é a terceira camada e representa a camada gordurosa, que tem aproximadamente 12mm de espessura nos suínos.

“As células dendríticas representam um tipo de célula especializada do sistema imunológico que desempenha um papel importante na indução e orquestração das respostas imunológicas. Portanto, é essencial ter essas células como alvo para uma vacinação eficiente”. As células dendríticas possuem muitos receptores que são capazes de detectar agentes patogênicos invasores, tais como receptores Toll-like que reconhecem padrões moleculares associados a patógenos, como ácidos nucleicos virais ou componentes da parede celular bacteriana. O desencadeamento da ativação das CD por sinais de alarme, como a vacinação, é essencial para a indução de respostas imunes adaptativas. Portanto, as vacinas podem ser suplementadas com componentes imunoestimuladores desencadeando esse processo. Depois de detectar patógenos invasores ou antígenos vacinais, as CD ativadas migram através dos vasos linfáticos para os linfonodos de drenagem, onde as respostas imunes são induzidas.

“A derme representa um excelente local para aplicação de vacinas sendo rica em células dendríticas (CD) residentes, vasos linfáticos e capilares sanguíneos”. Dentro da pele, a camada dérmica é a parte mais preparada para montar respostas imunes, pois contém muitas CD residentes, bem como muitos vasos linfáticos e sanguíneos. Após a deposição da vacina intradérmica, CD residentes reagirão e cumprirão suas funções como sentinelas e células apresentadoras de antígeno como descrito acima. Em contraste com as CD dermal, as células de Langerhans presentes na epiderme são menos eficientes para estimular respostas imunes. Sinais inflamatórios induzidos por componentes das vacinas imunestimuladoras também desencadearão extravasamento de monócitos dos capilares sanguíneos presentes na derme. Esses monócitos serão diferenciados em CD inflamatória e macrófagos, criando assim um grande reservatório de células imunes inatas e participando na indução de respostas imunes. É importante ressaltar que a derme é rica em vasos linfáticos através dos quais CD carregadas de antígenos e antígenos livres serão transportados aos gânglios linfáticos, onde as respostas imunes adaptativas serão induzidas.

As CD dérmicas são particularmente eficientes na ativação de linfócitos T, que são ativados apenas pelo processamento de peptídeos antigênicos apresentados em moléculas complexas de histocompatibilidade expressas em altos níveis em CD. Em contraste, os linfócitos B são ativados pelos antígenos livres não processados. Os linfócitos T e B se ativam reciprocamente, processo necessário para a indução da memória imunológica. Estas condições anatômicas e imunológicas representam a base para direcionar a derme como um local de entrega da vacina. Uma revisão da literatura publicada sobre a comparação experimental de injeção de vacina intradérmica (ID) a intramuscular/subcutânea (IM/SC) em vários animais e humanos demonstrou que, embora as vias de vacinação parenteral são altamente imunogênicas com boas vacinas, doses de antígeno necessárias para ativação imunológica são muito mais baixas para a vacinação ID.

Um futuro promissor

Conforme citado anteriormente, a vacinação intradérmica já é estudada há vários anos, essa tecnologia foi introduzida pela primeira vez na medicina veterinária nos anos 90 na Europa, em particular para ajudar na vacinação em massa contra a Doença de Aujeszky, “essa tecnologia realmente decolou na última década”, comenta Victor Geurts, da Holanda. “Existem agora mais de 400 dispositivos/vacinadora no campo, o que significa que quase um em cada cinco granjas de suínos holandesas está usando a tecnologia. Uma recente pesquisa holandesa indicou uma satisfação do cliente de 94,9%. Os fatores higiene/sanidade, bem-estar animal e redução dos efeitos colaterais foram os mais comumente citados como benefícios”, completa Geurts. Atualmente, há cerca de 6.000 dispositivos/vacinadora sendo utilizados em granjas de diversos países. Isidoro Pérez Guzman, gerente técnico da Agropecuária Obanos, uma empresa espanhola de produção de suínos com mais de 13 mil matrizes, resume da melhor maneira possível. “A vacinação intradérmica nos permite ter uma administração de vacinas fácil, segura e eficaz, enquanto diminui o estresse em leitões e matrizes”.

De acordo com a Ana Paula Souza, médica veterinária da Copacol, que está usando as vacinas disponíveis juntamente com o dispositivo/vacinadora, “a aplicação de vacina com o dispositivo/vacinadora, além de facilitar o manejo, proporciona segurança na dosagem e garante a aplicação correta em todos os animais”. Sobre o bem-estar, afirma: “Nos importamos muito com a segurança do colaborador e também com o bem-estar dos animais, por isso se fez necessário buscar uma tecnologia que faz vacinação sem uso de agulha”. Rodrigo Bosa, que há dois anos faz parte de uma equipe responsável pela vacinação com o dispositivo/vacinadora de 8 mil leitões por semana contra Mycoplasma e Circovirose, comenta que “esse sistema de vacinação possibilita o aprendizado e conhecimento de trabalhar com uma tecnologia nova, diferente e inovadora, menor risco de vacinação acidental, proporciona maior segurança e precisão na aplicação da vacina”.

E mais novidades surgirão em breve, o dispositivo/vacinadora continua sendo aperfeiçoado e outras gerações estarão disponíveis no futuro com um design mais ergonômico, maior autonomia de aplicação e a possibilidade de realizar um controle das vacinações através do registro eletrônico das doses aplicadas, que podem ser visualizadas no display do dispositivo/vacinadora ou transmitido para aplicativo de celular. Com base nos benefícios imunológicos da vacinação ID via tecnologia, essa via de aplicação deve ser considerada para o futuro modelo de produção de suínos.

Outras notícias você encontra na edição de Suínos e Peixes de outubro/novembro de 2019 ou online.

Fonte: O Presente Rural

Suínos

Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura

Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

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Foto: Divulgação/Swine Day

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.

O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.

As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.

Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.

Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.

Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.

Fonte: O Presente Rural
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Suínos

Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças

Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

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Foto: Shutterstock

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.

Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.

No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.

Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.

Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.

Fonte: Assessoria Cepea
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Suínos

Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde

Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

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Foto: Jonathan Campos

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.

Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock

Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.

Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.

O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.

Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.

Fonte: O Presente Rural com informações Itaú BBA Agro
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