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Robô gera economia de 37 toneladas de ração por ano na suinocultura brasileira
Economia está relacionada, principalmente, à redução do desperdício e à melhoria na conversão alimentar dos suínos. Robô distribuidor de ração mostra que a interação entre homem e máquina aumenta a eficácia da produção animal.

Um robô que distribui ração é um dos benefícios da automação na suinocultura brasileira, cujos impactos positivos já podem ser fortemente sentidos na realidade atual das propriedades rurais. Além de possibilitar uma economia superior a 37 toneladas de ração por ano, a novidade digital poupa tempo e esforço físico dos criadores, possibilitando que se dediquem à gestão das granjas. O robô é um dos resultados da parceria entre a Embrapa Suínos e Aves e a empresa Roboagro e comprova que a digitalização no campo não tira o lugar de pessoas, mas, pelo contrário, agrega conhecimento intelectual às suas rotinas, permitindo que dediquem mais tempo ao desenvolvimento da produção animal.
O robô é responsável pela distribuição de ração em instalações de suínos em terminação, tarefa que se repete de três a cinco vezes ao dia. Ele não substitui as pessoas que trabalham na criação, uma vez que o olhar humano é fundamental no acompanhamento do funcionamento da máquina. “A diferença é que agora temos tempo para observar, analisar e agir, quando é necessário. Sem o trabalho de colocar a ração nos comedouros, sobra tempo para ver o que está acontecendo em cada baia”, conta Bruna Brandão, que trabalha em uma granja de suínos em Missal, região oeste do Paraná.

Fotos: Osmar Dalla Costa/Embrapa
Ela e o esposo, Carlos, começaram a operar o robô em 2023. O casal é responsável por manejar mais de 3 mil suínos em terminação, distribuídos por três diferentes galpões, em uma granja integrada da Frivatti (frigorífico de suínos). A novidade provocou mudanças na rotina de Bruna e Carlos e exigiu uma série de adaptações. “Tivemos que aprender a programar o robô, o que não foi difícil. O que mais mudou, eu acredito, é a atenção que temos que ter na observação dos suínos e no funcionamento da máquina. Tudo tem que estar bem ajustado para que o robô faça aquilo que está planejado e nós possamos alcançar os resultados esperados”, afirma Bruna Brandão.
Integração entre homem e máquina aumenta a precisão
Essa observação pode ser sintetizada na palavra “precisão”. O robô distribuidor de ração aumenta a eficácia de um dos pontos mais críticos da criação de suínos, permitindo que possa ser controlada e medida diariamente. “Nós sabemos que perder ou ganhar dinheiro com suínos está muito vinculado à forma como o produtor maneja a ração. O robô garante que essa tarefa seja feita da forma mais eficiente possível dia após dia, sem oscilações de manejo, desde que o produtor perceba que precisa trabalhar de forma complementar à máquina”, enfatiza o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves Osmar Dalla Costa.
Trabalhar complementarmente à máquina significa, justamente, observar o que está acontecendo nas instalações, analisar se algo não está dentro do esperado e agir para corrigir o que está fora do padrão aplicado. É assim que produtor e máquina podem alcançar a precisão. “Nós temos em torno de mil robôs já atuando no campo. A partir dessa experiência, posso afirmar que estamos ajudando o produtor a alcançar um nível de precisão na gestão da granja que antes não era possível”, conta Giovani Molin, da Roboagro. Segundo ele, o robô faz com que o produtor deixe de ser um “tratador de animais” e se transforme em um real gestor de granjas de suínos.
Estudos de inovação recentes da Embrapa Suínos e Aves sobre a introdução de robôs na produção de suínos apontam uma janela interessante para vislumbrar como a automação ajuda a construir um novo mundo rural. “A lógica que sustenta essa mudança é o que já estamos vendo os robôs fazerem. Eles reduzem a carga de esforço físico dos produtores e permitem que as pessoas envolvidas com a produção animal observem e pensem mais sobre o que está acontecendo nas instalações”, acrescenta Dalla Costa.
Economia de ração pode chegar a 37 toneladas
Os estudos mostram também que os robôs ajustados para servirem a ração em comedouros lineares com trato na parte inferior das baias podem economizar até 37,6 toneladas de
ração por ano em três lotes de mil suínos em terminação. “Apuramos que cada animal consome 12,5 kg a menos de ração para atingir o mesmo peso de abate quando o robô é configurado para servir a ração de forma controlada em comedouros lineares com trato na parte inferior, quando comparado com o sistema de alimentação à vontade nos comedouros tulha”, revela o pesquisador.
A economia, de acordo com Dalla Costa, está relacionada, principalmente, à redução do desperdício e à melhoria na conversão alimentar dos suínos. “Comparamos o sistema de fornecimento de ração com robô e comedouros lineares com trato na parte inferior e ração controlada com outros quatro sistemas de distribuição”, explica. Os outros quatros tipos de fornecimento de ração foram: sistema linear automatizado com comedouro tipo drop e ração controlada; tratamento com sistema linear tipo manual e ração controlada; comedouros lineares com trato na parte superior alimentados com robô e ração controlada; e sistema automatizado com comedouro tipo tulha e ração à vontade. “O robô distribui a ração por peso, diferentemente de outros sistemas automatizados, que fazem a distribuição por quantidade. Além disso, em comparação com a manual, o robô alcança maior homogeneidade na distribuição. Com isso, os suínos recebem somente a ração necessária em cada baia, o que reduz o desperdício e melhora a conversão alimentar”, pontua o pesquisador.
Os robôs também otimizam o uso da ração por mais dois motivos. Primeiro, eles facilitam a distribuição controlada da ração durante o dia. Tratar os animais na hora certa e nos intervalos recomendados aumenta a conversão alimentar (calculada a partir da quantidade de ração consumida para cada quilo de carne adquirido pelo animal), fator decisivo para alcançar bons resultados na suinocultura. “Em média, a distribuição controlada pelo robô reduz em 5% o consumo de ração na comparação com a distribuição à vontade”, observa Molin. Além disso, a distribuição controlada pelo robô permite diferenciar, sem dificuldades, o peso de ração levada para cada baia. Ou ainda oferecer porções distintas para os animais dependendo do horário (em períodos mais quentes, os animais, geralmente, comem menos).
Segundo, os robôs registram e disponibilizam todas as informações necessárias para gerir a ração servida aos animais. A emissão de relatórios diários do consumo de ração ajuda ainda a adotar uma postura preventiva no gerenciamento dos lotes de suínos. “O consumo de ração revela se o lote está evoluindo como o esperado. Qualquer anomalia apontada nos relatórios diários pode ser resolvida antecipadamente”, complementa Dalla Costa. Para Bruna Brandão, os relatórios diários fornecidos pelo robô também servem para confirmar que o trabalho está sendo bem feito dentro da granja. “Depois que entendemos como interagir com o robô, ficou melhor pra todo mundo”, comemora.
Um robô sobre trilhos
O robô distribuidor de ração, continuamente aprimorado pela Embrapa e a Roboagro, funciona, na prática, como um “vagão com baterias sobre trilhos”. Os trilhos são colocados nos corredores dos galpões onde estão os suínos e permitem que o robô entre e saia das instalações sem dificuldades. Um único equipamento pode tratar até quatro galpões, com um ou mais pontos de abastecimento de ração. “Mesmo instalações já existentes podem receber o robô. Claro que serão necessárias adaptações, de acordo com a realidade de cada uma, mas o equipamento não serve somente para galpões novos”, complementa Molin.
“No caso da Embrapa, onde temos um robô em nossas granjas experimentais, foram feitas obras de adaptação. Mas o importante é que o uso de um equipamento inteligente para distribuição de ração está ao alcance de praticamente todo mundo do ponto de vista estrutural”, defende Dalla Costa. Para quem vai construir um novo galpão, há um manual de construção indicado pela Roboagro, que permite que o robô trabalhe melhor e alcance maior durabilidade. Em média, um único equipamento pode alimentar até 3 mil animais diariamente. Mesmo que haja certa flexibilidade de adaptação do robô às necessidades de cada granja, a indicação é que plantéis maiores recebam mais de um equipamento.
Apesar da flexibilidade de instalação que o robô apresenta, há um aspecto ainda mais importante para determinar se vale a pena adotar essa solução. A própria Roboagro recomenda que somente propriedades com, no mínimo, 400 animais recebam o robô distribuidor de ração. “Segundo nossos estudos, essa é a quantidade ideal de animais para que o produtor alcance, em médio prazo, retorno financeiro satisfatório em relação ao investimento”, destaca o representante da empresa.
A Roboagro oferece duas opções para quem quer adquirir os robôs. Uma das possibilidades é a compra, na qual o preço inicial parte de aproximadamente R$ 70 mil por robô e aumenta de acordo com a quantidade de animais e acessórios. A outra é a locação, na qual o produtor não precisa fazer investimentos e paga um valor por animal alojado na granja mensalmente. Do ponto vista do seu uso no dia a dia, a experiência da Embrapa Suínos e Aves com o robô distribuidor de ração é positiva. Como o robô possui baterias, ele não é suscetível à falta de energia elétrica no momento em que os animais precisam receber a ração. Além disso, há um modelo já implantado de treinamento para uso do robô e para assistência técnica no caso de falhas de operação.
Nova rotina de trabalho
O uso de robôs institui uma nova rotina de trabalho dentro das granjas especializadas na criação de suínos. Por um lado, tarefas que antes duravam várias horas deixam de ocupar tão significativamente o dia do produtor. Por outro, novos afazeres passam a compor a lista de ações do dia a dia. Um exemplo de rotina trazida pelos robôs é o cumprimento do planejamento detalhado da distribuição de ração. Para que o robô traga os resultados esperados, é preciso reprogramá-lo constantemente, adequando a distribuição de ração à curva de crescimento dos animais. Essa nova rotina requer que os produtores associem conhecimentos de informática (para calibrar o robô) com padrões de manejo (para entender as necessidades dos animais de acordo com pesos e idades).
Na prática, as horas de trabalho economizadas pelo robô precisam ser direcionadas para outros esforços, como o da aprendizagem constante. Em média, os robôs distribuidores de ração poupam duas horas de trabalho braçal por dia dos produtores. Tempo que passa a ser dedicado ao seu aprimoramento. “Temos acompanhado, nos campos experimentais da Embrapa, as novas rotinas que o robô traz para a suinocultura. A maior parte das mudanças é positiva. Além disso, o uso de robôs na produção de suínos abre uma perspectiva de atração de um novo tipo de mão de obra para atividade, o que é fundamental pensando no futuro”, completa Dalla Costa.
Robô em números
- Cada robô distribuidor de ração pode alimentar até 3 mil suínos em terminação.
- Cada robô pode servir até três galpões com suínos numa mesma propriedade.
- Na comparação com a distribuição manual de ração, o robô pode alcançar até 5% de ganhos.

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Estratégia simples e de baixo custo otimiza a adubação em solos de alta fertilidade
Pesquisa em MG mostra que a adubação de restituição mantém a produtividade, reduz custos e evita excessos de nutrientes em áreas consolidadas do Cerrado.

Uma pesquisa realizada durante três safras (seis cultivos), em Unaí (MG), aferiu e validou a adubação de restituição associada ao balanço de nutrientes, para maior eficiência e economia no uso de fertilizantes na produção de culturas anuais em solo de Cerrado com fertilidade construída. Adubação de restituição é a prática de repor no solo nutrientes que são exportados nos produtos colhidos das lavouras.
As estratégias propostas pela pesquisa mostram que é possível o ajuste do aporte de nutrientes das adubações, de forma alinhada à utilização consciente dos insumos agrícolas e à conservação dos recursos naturais, contribuindo, ainda, para reduzir a pegada de carbono e aumentar a eficiência energética nos processos de produção.
Antecedentes para o estudo
A pesquisa considerou a premissa de que as culturas anuais apresentam elevada demanda de Nitrogênio (N), Fósforo (P) e Potássio (K), levando ao consumo de grandes quantidades de fertilizantes, para suprir os sistemas de produção brasileiros que envolvem os cultivos de soja, milho, algodão, feijão, trigo e sorgo. A demanda por esses nutrientes, para manter a produtividade, representa parte expressiva dos custos das lavouras, um dos principais fatores de risco econômico da agricultura do País.
Outro aspecto é que, muitas vezes, mesmo sabendo que o solo já tem alta fertilidade, com disponibilidade de nutrientes acima dos níveis críticos, o agricultor se sente mais seguro quando realiza as adubações que já vinha utilizando por vários anos. Porém, tem sido reportado, em várias publicações, que os solos em áreas de cultivo consolidado do Cerrado acumularam considerável estoque de nutrientes com o passar do tempo, superando a condição de baixa fertilidade original.
Experimentação em fazenda
Os principais tratamentos, comparados em parcelas de grandes dimensões, num talhão de produção comercial com histórico de longo prazo em plantio direto e solo com fertilidade construída, envolveram: 1) a adubação de restituição de N, P e K exportados nas colheitas; 2) o manejo padrão da fazenda; e 3) um controle sem adubação NPK. “As avaliações foram realizadas durante três ciclos safra/segunda safra, com soja/milho (ou sorgo), em sistemas com ou sem braquiária em consórcio”, detalha o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo Álvaro Vilela de Resende, que coordenou o estudo.
Resultados práticos
Os resultados, segundo Resende, permitiram constatar que a adubação (ou a ausência dela) não influencia a produtividade da soja, sendo o nitrogênio o fator que mais limita o rendimento do milho, nas condições do talhão estudado. O consórcio com braquiária na segunda safra pode prejudicar o sorgo e não afeta o milho, mas aumenta a produtividade da soja subsequente. “Verificou-se que a adubação de restituição vinculada ao balanço de nutrientes mantém os níveis de produtividade e de rentabilidade, com uso mais eficiente de fertilizantes, enquanto preserva a fertilidade do solo. Assim, é uma estratégia de manejo nutricional inteligente para solos de fertilidade construída, ao prevenir déficits ou excedentes de nutrientes, contribuindo na busca por desempenho produtivo com sustentabilidade ambiental”.
Para o pesquisador essas conclusões, de certa forma, já eram esperadas, tendo em vista os resultados de pesquisas anteriores, envolvendo experimentação em outras regiões e propriedades agrícolas no Cerrado, onde frequentemente tem-se observado pouca ou nenhuma resposta à adubação com nutrientes como P e K, sobretudo em solos argilosos. “Mas faltavam elementos mais concretos para convencer definitivamente os produtores e técnicos, de que é necessário e possível melhorar o dimensionamento das adubações de manutenção”, explica Resende.
“Ainda persiste a tendência de se utilizarem fertilizantes sempre nas mesmas formulações ou quantidades fixas de N, P e K, recorrentemente, apesar do notável avanço tecnológico e do incremento no potencial produtivo dos ambientes agrícolas no Cerrado. Além disso, em geral, os produtores não se atentam em calcular o balanço de nutrientes, por desconhecerem o valor dessa informação”, complementa o pesquisador Miguel Marques Gontijo Neto.
De acordo com Resende, o manejo apropriado para solos de alta fertilidade busca dimensionar as quantidades de nutrientes para fornecer apenas o necessário à reposição do que é exportado na colheita, mais eventuais perdas do sistema. “A estratégia de se adotar a adubação de restituição conjugada com o cálculo do balanço de nutrientes, ao longo do tempo, compatibiliza o suprimento às quantidades realmente demandadas pelo sistema de culturas. O monitoramento se completa com a análise de solo, para acompanhar como a fertilidade oscila em função desse manejo. Assim, com a junção de técnicas simples e de baixo custo, evitam-se situações de falta ou excesso de nutrientes, com ganhos de eficiência no uso de fertilizantes”.

Áreas agrícolas consolidadas em plantio direto e solos de fertilidade construída permitem ajuste fino das adubações
Embora não seja propriamente uma novidade, a solução validada no estudo viabiliza o dimensionamento das adubações de forma precisa e específica por talhão, podendo inclusive ser automatizada conforme o aparato de informática e equipamentos já disponíveis em muitas fazendas. O objetivo é ajustar o aporte de nutrientes sempre que necessário, ao longo de uma sequência de cultivos, e está alinhado à crescente necessidade de utilização consciente dos insumos agrícolas e à conservação dos recursos naturais.
“São comuns situações de desequilíbrio entre as quantidades de nutrientes adicionadas via adubação e as removidas nos produtos colhidos das lavouras. O balanço desfavorável ao longo do tempo prejudica a produtividade quando há déficit, ou leva ao desperdício de fertilizantes quando há excedente de nutrientes. Além de resultarem em perda de rentabilidade, ambas as situações também podem implicar maior pegada de carbono do produto colhido. Portanto, a estratégia proposta na publicação também pode contribuir para maior eficiência energética e neutralidade ambiental nos processos de produção em áreas de agricultura consolidada no Brasil”, conclui Álvaro Resende.
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Seguro rural para soja no Paraná adota modelo inédito baseado em manejo
Projeto-piloto do ZarcNM oferece subvenções maiores conforme o nível de manejo, incentivando práticas que reduzem riscos de perdas por seca e aumentam a resiliência da cultura.

O Zoneamento Agrícola de Risco Climático em Níveis de Manejo (ZarcNM) começou a ser operado pela primeira vez no Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) do Ministério da Agricultura e Pecuária. A nova modalidade está em fase piloto, tendo como foco inicial a cultura da soja no Paraná. Vinte e nove áreas de produção, totalizando cerca de 2.400 hectares, aderiram à iniciativa e efetivaram a contratação de seguro rural, acessando percentuais diferenciados de subvenção nas apólices de acordo com o nível de manejo adotado na propriedade.
O piloto usa a metodologia desenvolvida pela Embrapa, que permite classificar talhões em quatro níveis de manejo (NM), baseada em indicadores objetivos, verificáveis e auditáveis. Juntamente com as avaliações de risco climático do ZarcNM, o produtor e demais interessados podem verificar o quanto a adoção de boas práticas pode reduzir os riscos potenciais de perdas da produção por seca. Quanto melhor o nível de manejo, maior a subvenção do seguro.

Fotos: Shutterstock
Da área total participante do projeto-piloto, cerca de 5% foi classificada com o nível quatro, o melhor da escala do ZarcNM e que resulta numa subvenção de 35% no valor do seguro rural. Do restante, 27% da área foi classificada no nível de manejo 3, com subvenção de 30%; 57% no nível 2, com 25% de subvenção da apólice; e 11% da área ficou com o nível 1, mantendo os 20% de subvenção padrão do PSR.
De acordo com Diego Almeida, diretor do Departamento de Gestão de Riscos, do Ministério da Agricultura, este novo formato de subvenção deve se tornar perene. “Após a avaliação dos resultados desta primeira fase, planejamos expandir o programa para outros estados, iniciando com a soja e, posteriormente, incluindo a cultura do milho”, afirma.
Aumento de produtividade e resiliência
A metodologia ZarcNM contribui para reduzir um problema recorrente do seguro rural que é a necessidade da quantificação mais individualizada do risco, por gleba ou talhão, conforme o manejo de cada área. Ao aplicar incentivos financeiros, a gestão do PSR coloca em prática um mecanismo de indução de boas práticas e adaptação da agricultura brasileira, tornando-a mais resiliente à variabilidade climática e aos crescentes riscos de seca.
O pesquisador José Renato Bouças Farias, da Embrapa Soja (PR), afirma que essa atualização do ZarcNM é muito relevante porque quanto melhor o nível de manejo adotado, menor será o risco de perdas por déficit hídrico. De acordo com o pesquisador, a adoção de práticas conservacionistas é determinante para aumentar a infiltração de água e reduzir o escorrimento superficial, comuns durante chuvas intensas e em grandes volumes. Junto a outras práticas de manejo do solo, elas promovem maior disponibilidade de água às plantas. “O aprimoramento do manejo do solo leva a um aumento significativo na produtividade das culturas, à redução do risco de perdas causadas por condições de seca e ao aumento da fixação de carbono no solo. Além disso, promove a conservação tanto do solo quanto dos recursos hídricos”, destaca Farias.
Segundo o pesquisador, culturas não irrigadas, como a grande maioria da área com soja no Brasil, têm como fontes de água para atendimento de suas necessidades a água da chuva e aquela disponibilizada pelo solo. “As práticas de manejo que incrementam a capacidade do solo de disponibilizar mais água às plantas são essenciais para reduzir os riscos de perdas por seca, principalmente, quando se projetam cenários climáticos cada vez mais adversos à exploração agrícola”, ressalta Farias.
Modelo de operação
Neste modelo testado pela primeira vez são considerados seis indicadores: tempo sem revolvimento do solo, porcentagem de cobertura do solo em pré-semeadura (palhada), diversificação de cultura nos três últimos anos agrícolas, percentual de saturação por bases, teor de cálcio e percentual de saturação por alumínio. “Além dos indicadores quantitativos, alguns pré-requisitos precisam ser observados como, por exemplo, semeadura em contorno ou em nível”, explica Farias.
No piloto, os agricultores submetem seus projetos às seguradoras e agentes financeiros, indicando o talhão a ser analisado, repassando as informações solicitadas e as análises de solo feitas em laboratórios credenciados. Por meio de uma plataforma digital desenvolvida pela Embrapa Agricultura Digital (SP), o Sistema de Informações de Níveis de Manejo (SINM), os dados são cruzados com informações de sensoriamento remoto para cálculo e classificação dos níveis de manejo.
O pesquisador da Embrapa Agricultura Digital e coordenador da Rede Zarc de Pesquisa, Eduardo Monteiro, destaca a importância do sensoriamento remoto nesse processo. Ele exemplifica com uma das áreas aprovadas no Nível de Manejo 3 e que está ao lado de outra com sinais de erosão.
“Apesar de vizinhas, as classificações podem ser bem diferentes. A área erodida não obteria classificação maior que NM1. Isso mostra a importância de um sistema de verificação independente e bem estruturado para ser capaz de observar esses detalhes de forma automatizada à medida que ganha escala e o número de operações chega aos milhares”, afirma.
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Brasil e África discutem novas revoluções verdes para agricultura sustentável
Painel promovido pelo ATLAS na AgriZone destaca cooperação técnica, políticas públicas e transferência de tecnologia como caminhos para acelerar transformações agrícolas no clima atual.

Com a crescente demanda global por práticas agrícolas sustentáveis, os debates sobre novas revoluções verdes tornam-se cada vez mais essenciais. Nesse contexto, o Laboratório de Transições Agrícolas para Soluções Africanas (ATLAS) promoveu, nesta terça-feira (18), na AgriZone, o painel “Lições das Revoluções Verdes: Perspectivas do Brasil e da África para Transformações Agrícolas Sustentáveis”.
O assessor especial da Secretaria-Executiva do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), José Polidoro, representou a Pasta no painel e destacou que o sistema agrícola brasileiro é baseado em três pilares: ciência e tecnologia, defesa agropecuária e o sistema de financiamento/crédito rural. “Não temos dúvida em afirmar que nossa agricultura é baseada em ciência sustentada por tecnologia. E temos um amplo sistema para financiar grandes e pequenos produtores. Todos os produtores no Brasil são atendidos por esse sistema, que financia produção, custeio e investimentos”, disse.
A plataforma ATLAS busca promover o diálogo político, a cooperação institucional e a ampliação de financiamentos para o desenvolvimento agrícola sustentável do continente africano. O painel discutiu as políticas públicas que tornaram o Brasil uma potência agrícola global, incluindo a recuperação de solos degradados e tecnologias adaptadas aos diferentes biomas brasileiros.
O continente africano possui 70% da sua força de trabalho envolvida na agricultura, e o evento buscou explorar caminhos de cooperação entre Brasil e África capazes de acelerar uma transformação agrícola compatível com o clima.
Polidoro citou como exemplo o Programa Caminho Verde Brasil, que irá impulsionar o crescimento da agropecuária brasileira por meio da restauração de áreas degradadas. “Temos uma política que demonstra aos nossos parceiros do Sul Global, como os países africanos, que é possível realizar uma revolução verde, uma revolução verde verdadeira. Mas, para isso, é necessário ter leis, regulamentação e políticas de Estado”, ressaltou.
Brasil e África firmaram, em 2025, acordos para a transferência de tecnologia por meio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), além da assinatura de Memorandos de Entendimento (MoUs) entre o Brasil e países africanos para cooperação técnica, melhoria dos sistemas agrícolas e apoio à segurança alimentar e ao desenvolvimento rural.
Participaram do painel o pesquisador PhD em Agronomia, Genética e Cooperação Internacional da Embrapa, Paulo Melo; o chefe de Resiliência, Clima e Fertilidade do Solo da Aliança para uma Revolução Verde na África (AGRA), Tilahun Amede; e a diretora de Relações Públicas da OCP Nutricrops, Mouna Chbani.





