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Rio Grande do Sul comemora dois anos de zona livre de aftosa sem vacinação com abertura de novos mercados
Uma conquista que é fruto do esforço do poder público, entidades e setor produtivo. Certificação internacional atrai missões de diversos países.

O Rio Grande do Sul completa dois anos de zona livre de febre aftosa sem vacinação no sábado (20). O status foi concedido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) há dois anos. Uma conquista que é fruto do esforço do poder público, entidades e setor produtivo.
De 2020, um ano antes da certificação internacional, até agora, foram diversas as ações desenvolvidas pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) para garantir este status, como a implantação de um programa de vigilância de fronteira que é referência nacional, o Sentinela, o programa Guaritas, que faz a vigilância em 97 municípios da fronteira do Rio Grande do Sul com Santa Catarina, e ações de vigilância ativas e passivas.
Os dados revelam este empenho. A vigilância ativa para febre aftosa registrou de 2020 até março de 2023 um total de 19 mil fiscalizações em propriedades, 92.352 fiscalizações em barreiras de bovinos, bubalinos, ovinos e suínos, com 180 apreensões, 1.600 barreiras e 15,92 mil veículos fiscalizados. Entre os produtos inspecionados estão carnes, couros, derivados lácteos, leite, ovos, embutidos, subprodutos e vísceras.
No caso do Sentinela, foram quase 84 mil bovinos fiscalizados, 918 barreiras e mais de 170 mil quilômetros de fronteira com Argentina e Uruguai percorridos. O Guaritas, só em 2022, percorreu 22 mil quilômetros, fiscalizando 1982 veículos, 9.300 produtos e instalando 123 barreiras.
“O certificado internacional é algo a ser comemorado, principalmente pelas possibilidades que se abrem de novos mercados internacionais para os nossos produtos. Além disso, esse é um resultado sustentado pela cadeia produtiva, mas também pela expertise do serviço de vigilância animal do Rio Grande do Sul que é referência no país em muitas áreas”, destaca o secretário da Agricultura, Giovani Feltes.
“É uma certificação que confirma que o Serviço Veterinário tem algo diferente, ele entra para o seleto grupo que é o circuito não aftósico. Cada ano que a gente consegue ter a sustentação da manutenção do status, manter os nossos rebanhos sadios, livres de enfermidades, é muito gratificante. É um reconhecimento onde todo o estado do RS deve se sentir pertencente”, afirma Rosane Collares, diretora do Departamento de Defesa Sanitária Animal da Seapi.
Para o secretário adjunto de Defesa Agropecuária do Mapa, Márcio Rezende, a erradicação da aftosa é um marco importante para o estado por demonstrar a eficácia das medidas adotadas para prevenção e controle da doença. “O status mostra o comprometimento das autoridades e dos profissionais envolvidos”, afirma. Segundo ele, este status traz diversos benefícios, como melhoria nas condições de exportação, valorização do rebanho, redução de custos, simplifica os processos de comercialização, minimiza o estresse dos animais e fortalece a confiança dos mercados internacionais na qualidade dos produtos pecuários gaúchos.
“Essas conquistas são o resultado do comprometimento dos produtores gaúchos, aguerridos em vencer os desafios do campo. O RS detém um abate anual de 9,3 milhões de cabeças de suínos – conforme o Sistema de Inspeção Federal (SIF) – sendo responsável por quase um quarto das exportações totais do Brasil. Sem dúvida, essas conquistas geram oportunidades para o Estado, além de impulsionar a posição brasileira como quarto maior exportador mundial desta proteína”, destaca o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin.
Missões internacionais
Em fevereiro deste ano, o Chile publicou decreto reconhecendo o Rio Grande do Sul como zona livre de aftosa, após visita realizada em dezembro de 2022. O reconhecimento chileno habilita o mercado gaúcho para exportação de animais e produtos de origem animal. No ano passado, o Chile foi o sexto destino das exportações totais brasileiras, sendo o terceiro destino para carne suína, quinto para carne bovina e 14º de carne de aves.
“No final do ano passado o Rio Grande do Sul recebeu missão do Chile, teve também República Dominicana, México e estão previstas outras missões no decorrer desse ano. Houve uma dificuldade inicial, porque estávamos em plena pandemia e as missões não se realizavam de forma presencial e pouco resultado ocorreu, mas agora está numa fase positiva”, avalia Rogério Kerber, presidente do Fundesa.
“Nós estamos muito confiantes na decisão tomada lá atrás, porque com este status abrimos uma janela de oportunidades que vai se ampliando aos poucos, um trabalho de médio e longo prazo”, afirma José Roberto Goulart, presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Estado do Rio Grande do Sul (SIPS). Segundo ele, mercados como o da China, que importa carne com osso e miúdos; Filipinas, um dos principais mercados; Japão, segundo maior importador mundial; México, terceiro maior importador mundial; Coreia do Sul e Estados Unidos, que disputam o quarto lugar de maior importador mundial; Chile, República Dominicana e Canadá estão entre os mercados que oferecem possibilidades de negócio. “É uma questão de oportunidades, nós devemos estar prontos quando elas aparecerem, o que não deve demorar muito. Estamos no caminho certo”, pondera.
O presidente do Sindicato Rural de Santana do Livramento, Luís Carlos D’Auria Nunes, comemora os resultados, apesar do receio inicial, já dissipado, de que a doença voltasse e que o serviço oficial não tivesse condições de atacá-lo rapidamente. “Recentemente teve uma delegação do México interessada no mercado de carne com osso e também um mercado interno se abriu, com a venda de genética e de animais rastreados para Santa Catarina. Este foi um mercado que se abriu rápido e novos mercados estão se abrindo”, afirma D´Áuria Nunes.
“Mesmo que nossos animais, frangos e aves, não sejam suscetíveis à aftosa, este status interfere na avaliação de muitos mercados importadores. Então, com este avanço também se dá mais segurança, mais estrutura e mais credibilidade para o sistema de defesa sanitária do estado Rio Grande do Sul”, destaca o presidente da Organização Avícola do RS (ASGAV/SIPARGS), José Eduardo dos Santos.
Parcerias
A Secretaria da Agricultura nestes dois anos fez diversas parcerias com instituições de ensino nacionais e internacionais. A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) disponibilizou o acesso a Plataforma de Defesa Sanitária Animal (PDSA), que disponibiliza em tempo real dados de controle de estoque dos materiais de emergência, registros de granjas avícolas e de suínos.
E com a universidade americana da Carolina do Norte (NCSU), a Secretaria desenvolve um trabalho de análise de rede da movimentação animal, e um modelo matemático, único no mundo, que simula virtualmente o espalhamento da febre aftosa e traça as melhores estratégias para controlar uma possível epidemia. “Com relação ao trabalho do sistema de defesa, ele vem se fortalecendo, e o Fundesa tem dado importante contribuição: teve a renovação do convênio com a Universidade da Carolina do Norte, além da evolução de capacitação dos profissionais. Todos os programas existentes estão trabalhando ativamente. O principal ponto que se trabalha é a manutenção da condição de área livre de febre aftosa sem vacinação”, destaca o presidente do Fundesa, Rogério Kerber.
Para Gedeão Pereira, presidente da Farsul, é uma situação que requer uma vigilância muito intensa por parte de todos, tanto dos produtores quanto da Secretaria da Agricultura. “Mas temos que comemorar a garantia deste status nestes dois anos de zona livre de aftosa sem vacinação”, declara.
De acordo com o diretor adjunto do Departamento de Defesa Sanitária Animal (DDA) da Seapi, Francisco Lopes, “ainda tivemos o concurso público e o chamamento de 60 novos fiscais que assumiram, a aquisição de drones para as ações de vigilância e a atualização da plataforma de Declaração Anual de Rebanho, com dados mais completos sobre a produção animal em 2022”.
Outros estados
Além do Rio Grande do Sul, os estados do Paraná, Acre, Rondônia e alguns municípios do Amazonas e do Mato Grosso, foram certificados como zona livre de aftosa sem vacinação em maio de 2021. Santa Catarina possui a certificação internacional há 16 anos.
No Brasil, o status do Rio Grande do Sul de zona livre de aftosa sem vacinação foi concedido pelo Mapa em 11 de agosto de 2020. Para atingir este status sanitário, o Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (PNEFA) determina critérios técnicos, estratégicos, geográficos e estruturais. O último caso da doença registrado no Rio Grande do Sul foi em 2001.

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Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025
Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves
A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.
Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.
Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.
Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves
Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.
Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.
Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.
Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.
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Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
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Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.



