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Rio Grande do Sul celebra 4 anos de certificação internacional de zona livre de aftosa sem vacinação
Já na década de 1940, o relatório do Departamento de Defesa Animal da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) registrava que “infelizmente ainda não contamos com um produto capaz de conferir uma imunidade durável contra esta virose”.

A história de combate à febre aftosa se mistura com a história da pecuária no Rio Grande do Sul. Já na década de 1940, o relatório do Departamento de Defesa Animal da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) registrava que “infelizmente ainda não contamos com um produto capaz de conferir uma imunidade durável contra esta virose”. Em 1965, a vacinação tornou-se obrigatória, com a realização de uma Campanha Contra a Febre Aftosa em todo o território gaúcho, que completa 60 anos neste ano de 2025. Em 1970, foram vacinados 11,8 milhões de bovinos contra a febre aftosa.
“A partir da década de 1980 desenvolvemos um programa, que depois se espalhou pelo Brasil, em conjunto com os países da Bacia do Prata, de identificação das áreas de risco, principalmente nas áreas de fronteira. E com o controle de trânsito, melhoria dos diagnósticos de laboratório e maior atuação da vigilância sanitária, nós fomos caminhando para uma coisa maior, para uma certificação de área livre de aftosa com vacinação”, lembra Marilisa Costa Petri, médica veterinária aposentada da Seapi.
A vacina foi o grande diferencial nestes primeiros tempos. A primeira versão desenvolvida era aquosa, produzida em coelhos, e utilizava como adjuvante o hidróxido de alumínio, que não conferia proteção duradoura e exigia revacinação a cada 4 meses. “Minha vida sempre esteve ligada ao controle de vacina. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) tinha uma fazenda em Sarandi, depois em Não-Me-Toque, onde se fazia os testes nos animais de 15 em 15 dias, para ver se a vacina era aprovada”, afirma o fiscal federal agropecuário, José Alberto Ravison. Estes testes deram ao Brasil condições de ter uma vacina de excelência.
Mas foi em 1989 que surgiu a vacina oleosa, desenvolvida de forma pioneira no Rio Grande do Sul, pelo Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor, da Seapi. “Eu participei do registro da vacina oleosa junto ao Mapa, o Instituto foi o primeiro laboratório do Brasil a produzir a vacina contra a febre aftosa. O diferencial é que ela é aplicada uma vez ao ano”, declara Sylvio Alfredo Petzhold, médico veterinário aposentado do IPVDF. Ele lembra que foram produzidas 13,7 milhões de doses da vacina oleosa. “Foi um tiro mortal na doença, porque dava uma imunidade mais duradoura, o que permitiu conter e depois erradicar a febre aftosa”. E Petzhold, emocionado, afirma. “Tenho orgulho de ter contribuído um pouquinho para a pujança do nosso estado, como gaúcho que sou”.

Para Luiz Alberto Pitta Pinheiro, assessor técnico da Farsul, esta mudança da vacina aquosa para a oleosa, foi um marco na luta contra a febre aftosa. “Podemos dizer que a luta contra a aftosa pode ser dividida entre o antes e depois da vacina oleosa. Nós adotamos esta vacina de maneira pioneira e os resultados foram fundamentais para a quebra da difusão da enfermidade e da presença do vírus”.
Em 1998, o governo gaúcho retirou a vacinação e encaminhou o pedido de status sanitário de zona livre de aftosa com vacinação, junto com Santa Catarina. Mas em agosto de 2000, o município de Jóia registrou focos da doença sorotipo “O”, entre 23/08 e 22/09/2000. A decisão, de acordo com os protocolos vigentes, foi de sacrifício dos animais em um raio de 3 km. 11 mil animais foram sacrificados, entre bovinos, ovinos, caprinos e suínos.
“Uma das questões mais complicadas foi comunicar o fato aos produtores, do sacrifício dos animais, isso nos deixou com lágrimas nos olhos”, rememora Hélio Pinto, auditor fiscal federal aposentado do Mapa. Segundo ele, as forças federais e estaduais de defesa animal se juntaram e foram para o front, porque se tinha uma confiança no trabalho que estava sendo feito. “Nós seguimos todas as regras e normas preconizadas pela OIE e logramos êxito”, declara. E lembra que o sucesso depende de alguns fatores, como o número de profissionais, o treinamento constante da equipe, uma frota de veículos compatível e recursos adequados.
Em 2001, novo foco, do sorotipo “A”, nos municípios de Santana do Livramento, Dom Pedrito, Rio Grande, Alegrete, Quaraí e Jari. Walter Leo Verbist, 38 anos de atuação como médico veterinário no Departamento de Produção Animal da Seapi, lembra desta ocasião. “A metodologia que utilizamos em 2001, de isolamento das propriedades, abate apenas dos animais com sintomas a partir dos resultados dos testes sorológicos se mostrou muito eficaz, a técnica foi muito bem empregada”, afirma.
Em 2020, o Rio Grande do Sul registrou a última etapa de vacinação contra febre aftosa e teve o reconhecimento de zona livre de aftosa sem vacinação. E em 27/05/2021, a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) concedeu a certificação internacional de zona livre sem vacinação.
José Fernando Pereira Dora, médico veterinário da Seapi, que começou trabalhando como vacinador de febre aftosa, depois como veterinário em São Francisco de Assis, coordenador do Programa de Febre Aftosa, depois do Centro Pan Americano de Febre Aftosa, afirma ter um orgulho muito grande da participação do Rio Grande do Sul na eliminação da febre aftosa no Brasil. “Nós começamos esta atividade lá atrás, no IPVDF, com pesquisa, diagnóstico e desenvolvimento de vacinas”, lembra. E hoje, o que se deseja, “é que se mantenha o alerta contra a febre aftosa, com a participação de toda a cadeia produtiva: dos produtores, transportadores de animais, frigoríficos, casas de produtos veterinários, vigilância sanitária, todos. Nós precisamos estar sempre de prontidão”, afirma.
A médica veterinária e coordenadora do Programa Nacional de Vigilância para Febre Aftosa (PNEFA-RS) da Seapi, Gazziane Rigon, afirma que o maior desafio seja manter o produtor engajado quanto à necessidade da prevenção e da rápida notificação, em caso de animais com sintomas compatíveis. “Como estamos há muito tempo longe da doença, as pessoas tendem a relaxar com os cuidados, pois não se sentem em perigo. Porém o risco nunca foi e nem será zero, enquanto a doença existir no mundo. Com a questão da globalização, o trânsito de pessoas entre os países é rotineiro, bem como as trocas comerciais, o que pode facilitar a disseminação de agentes, por isso devemos estar sempre vigilantes”, alerta Grazziane.
Veja aqui uma linha do tempo da História da Aftosa no RS (em anexo).
E confira nas próximas reportagens:
- 26/05 – o papel e as ações do Serviço Veterinário Oficial, com Darlene Silveira;
- 27/05 – o que pensam as entidades do setor sobre a conquista desta certificação internacional de zona livre de aftosa sem vacinação, com Fabrízio Fernández.

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Seguro rural para soja no Paraná adota modelo inédito baseado em manejo
Projeto-piloto do ZarcNM oferece subvenções maiores conforme o nível de manejo, incentivando práticas que reduzem riscos de perdas por seca e aumentam a resiliência da cultura.

O Zoneamento Agrícola de Risco Climático em Níveis de Manejo (ZarcNM) começou a ser operado pela primeira vez no Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) do Ministério da Agricultura e Pecuária. A nova modalidade está em fase piloto, tendo como foco inicial a cultura da soja no Paraná. Vinte e nove áreas de produção, totalizando cerca de 2.400 hectares, aderiram à iniciativa e efetivaram a contratação de seguro rural, acessando percentuais diferenciados de subvenção nas apólices de acordo com o nível de manejo adotado na propriedade.
O piloto usa a metodologia desenvolvida pela Embrapa, que permite classificar talhões em quatro níveis de manejo (NM), baseada em indicadores objetivos, verificáveis e auditáveis. Juntamente com as avaliações de risco climático do ZarcNM, o produtor e demais interessados podem verificar o quanto a adoção de boas práticas pode reduzir os riscos potenciais de perdas da produção por seca. Quanto melhor o nível de manejo, maior a subvenção do seguro.

Fotos: Shutterstock
Da área total participante do projeto-piloto, cerca de 5% foi classificada com o nível quatro, o melhor da escala do ZarcNM e que resulta numa subvenção de 35% no valor do seguro rural. Do restante, 27% da área foi classificada no nível de manejo 3, com subvenção de 30%; 57% no nível 2, com 25% de subvenção da apólice; e 11% da área ficou com o nível 1, mantendo os 20% de subvenção padrão do PSR.
De acordo com Diego Almeida, diretor do Departamento de Gestão de Riscos, do Ministério da Agricultura, este novo formato de subvenção deve se tornar perene. “Após a avaliação dos resultados desta primeira fase, planejamos expandir o programa para outros estados, iniciando com a soja e, posteriormente, incluindo a cultura do milho”, afirma.
Aumento de produtividade e resiliência
A metodologia ZarcNM contribui para reduzir um problema recorrente do seguro rural que é a necessidade da quantificação mais individualizada do risco, por gleba ou talhão, conforme o manejo de cada área. Ao aplicar incentivos financeiros, a gestão do PSR coloca em prática um mecanismo de indução de boas práticas e adaptação da agricultura brasileira, tornando-a mais resiliente à variabilidade climática e aos crescentes riscos de seca.
O pesquisador José Renato Bouças Farias, da Embrapa Soja (PR), afirma que essa atualização do ZarcNM é muito relevante porque quanto melhor o nível de manejo adotado, menor será o risco de perdas por déficit hídrico. De acordo com o pesquisador, a adoção de práticas conservacionistas é determinante para aumentar a infiltração de água e reduzir o escorrimento superficial, comuns durante chuvas intensas e em grandes volumes. Junto a outras práticas de manejo do solo, elas promovem maior disponibilidade de água às plantas. “O aprimoramento do manejo do solo leva a um aumento significativo na produtividade das culturas, à redução do risco de perdas causadas por condições de seca e ao aumento da fixação de carbono no solo. Além disso, promove a conservação tanto do solo quanto dos recursos hídricos”, destaca Farias.
Segundo o pesquisador, culturas não irrigadas, como a grande maioria da área com soja no Brasil, têm como fontes de água para atendimento de suas necessidades a água da chuva e aquela disponibilizada pelo solo. “As práticas de manejo que incrementam a capacidade do solo de disponibilizar mais água às plantas são essenciais para reduzir os riscos de perdas por seca, principalmente, quando se projetam cenários climáticos cada vez mais adversos à exploração agrícola”, ressalta Farias.
Modelo de operação
Neste modelo testado pela primeira vez são considerados seis indicadores: tempo sem revolvimento do solo, porcentagem de cobertura do solo em pré-semeadura (palhada), diversificação de cultura nos três últimos anos agrícolas, percentual de saturação por bases, teor de cálcio e percentual de saturação por alumínio. “Além dos indicadores quantitativos, alguns pré-requisitos precisam ser observados como, por exemplo, semeadura em contorno ou em nível”, explica Farias.
No piloto, os agricultores submetem seus projetos às seguradoras e agentes financeiros, indicando o talhão a ser analisado, repassando as informações solicitadas e as análises de solo feitas em laboratórios credenciados. Por meio de uma plataforma digital desenvolvida pela Embrapa Agricultura Digital (SP), o Sistema de Informações de Níveis de Manejo (SINM), os dados são cruzados com informações de sensoriamento remoto para cálculo e classificação dos níveis de manejo.
O pesquisador da Embrapa Agricultura Digital e coordenador da Rede Zarc de Pesquisa, Eduardo Monteiro, destaca a importância do sensoriamento remoto nesse processo. Ele exemplifica com uma das áreas aprovadas no Nível de Manejo 3 e que está ao lado de outra com sinais de erosão.
“Apesar de vizinhas, as classificações podem ser bem diferentes. A área erodida não obteria classificação maior que NM1. Isso mostra a importância de um sistema de verificação independente e bem estruturado para ser capaz de observar esses detalhes de forma automatizada à medida que ganha escala e o número de operações chega aos milhares”, afirma.
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Brasil e África discutem novas revoluções verdes para agricultura sustentável
Painel promovido pelo ATLAS na AgriZone destaca cooperação técnica, políticas públicas e transferência de tecnologia como caminhos para acelerar transformações agrícolas no clima atual.

Com a crescente demanda global por práticas agrícolas sustentáveis, os debates sobre novas revoluções verdes tornam-se cada vez mais essenciais. Nesse contexto, o Laboratório de Transições Agrícolas para Soluções Africanas (ATLAS) promoveu, nesta terça-feira (18), na AgriZone, o painel “Lições das Revoluções Verdes: Perspectivas do Brasil e da África para Transformações Agrícolas Sustentáveis”.
O assessor especial da Secretaria-Executiva do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), José Polidoro, representou a Pasta no painel e destacou que o sistema agrícola brasileiro é baseado em três pilares: ciência e tecnologia, defesa agropecuária e o sistema de financiamento/crédito rural. “Não temos dúvida em afirmar que nossa agricultura é baseada em ciência sustentada por tecnologia. E temos um amplo sistema para financiar grandes e pequenos produtores. Todos os produtores no Brasil são atendidos por esse sistema, que financia produção, custeio e investimentos”, disse.
A plataforma ATLAS busca promover o diálogo político, a cooperação institucional e a ampliação de financiamentos para o desenvolvimento agrícola sustentável do continente africano. O painel discutiu as políticas públicas que tornaram o Brasil uma potência agrícola global, incluindo a recuperação de solos degradados e tecnologias adaptadas aos diferentes biomas brasileiros.
O continente africano possui 70% da sua força de trabalho envolvida na agricultura, e o evento buscou explorar caminhos de cooperação entre Brasil e África capazes de acelerar uma transformação agrícola compatível com o clima.
Polidoro citou como exemplo o Programa Caminho Verde Brasil, que irá impulsionar o crescimento da agropecuária brasileira por meio da restauração de áreas degradadas. “Temos uma política que demonstra aos nossos parceiros do Sul Global, como os países africanos, que é possível realizar uma revolução verde, uma revolução verde verdadeira. Mas, para isso, é necessário ter leis, regulamentação e políticas de Estado”, ressaltou.
Brasil e África firmaram, em 2025, acordos para a transferência de tecnologia por meio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), além da assinatura de Memorandos de Entendimento (MoUs) entre o Brasil e países africanos para cooperação técnica, melhoria dos sistemas agrícolas e apoio à segurança alimentar e ao desenvolvimento rural.
Participaram do painel o pesquisador PhD em Agronomia, Genética e Cooperação Internacional da Embrapa, Paulo Melo; o chefe de Resiliência, Clima e Fertilidade do Solo da Aliança para uma Revolução Verde na África (AGRA), Tilahun Amede; e a diretora de Relações Públicas da OCP Nutricrops, Mouna Chbani.
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Mato Grosso ganha escritório da ApexBrasil para impulsionar exportações
Nova unidade, inaugurada em Cuiabá, aproxima serviços de apoio ao comércio exterior e reúne empresários e adidos agrícolas para ampliar a atuação internacional das empresas da região.

Por meio da iniciativa conjunta entre a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), a região Centro-Oeste ganha um reforço no apoio às empresas locais para fortalecimento nas exportações. Na segunda-feira (24), em Cuiabá, será inaugurado o Escritório da ApexBrasil em Mato Grosso (EA-MT) com rodada de negócios entre entidades representativas de diversos setores produtivos e os adidos agrícolas brasileiros.
A cerimônia de inauguração contará com a presença do ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, e o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana. O evento será realizado no Cenarium Rural a partir das 8h30.
Atualmente, o Mapa conta com 40 adidos agrícolas brasileiros em 38 postos ao redor do mundo, responsáveis pelo trabalho de abertura, manutenção e ampliação de mercados para o agronegócio brasileiro. Durante a programação, empresários e produtores interessados em exportar seus produtos podem participar das rodadas de negociação com eles. Para isso, é necessário fazer a inscrição prévia clicando aqui. “Estamos reunindo toda a estrutura de apoio necessária para quem produz poder comercializar seus produtos ao redor do mundo e, com isso, fortalecer a agroindústria e a geração de renda nas diferentes regiões e setores do estado”, comentou o ministro Carlos Fávaro.
Entre 2023 e 2025, o esforço integrado entre ApexBrasil, Mapa e Ministério das Relações Exteriores (MRE) resultou em mais de 170 ações internacionais realizadas em 42 países, gerando US$ 18 bilhões em negócios projetados e atendendo mais de 3 mil empresas brasileiras.
EA-MT
O novo escritório da ApexBrasil está localizado na sede da Famato, no Centro Político Administrativo em Cuiabá. A abertura do EA Mato Grosso faz parte da estratégia de descentralização da ApexBrasil, que busca aproximar os serviços da Agência das empresas locais, ampliando o apoio à exportação, internacionalização e atração de investimentos estrangeiros diretos (IED). “Mato Grosso tem papel estratégico no comércio exterior brasileiro, especialmente nos setores do agronegócio, alimentos e sustentabilidade. Com esse novo escritório, queremos estar mais próximos das empresas da região e ajudá-las a conquistar novos mercados”, destacou o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana.
No exterior, a agência conta com escritórios nos principais centros comerciais do planeta, como Miami, Dubai, Pequim, Xangai, Moscou, Bruxelas, Bogotá, entre outros. Ao todo, a agência conta com seis escritórios no Brasil e outros 11 atendendo América do Norte, América do Sul, Europa, Ásia e Pacífico e Oriente Médio, África e Índia.




