Conectado com

Avicultura

Revestimento nanotecnológico aumenta tempo de prateleira do ovo

Publicado em

em

Um ovo resistente à quebra e à contaminação, com maior vida útil de prateleira. Essa é a realidade que a Embrapa Suínos e Aves (SC) busca para os ovos comerciais no Brasil, com o desenvolvimento de revestimentos protetores, por meio do suporte de estudos sobre nanotecnologia, área que trabalha com uma unidade de medida minúscula chamada nanômetro, um milhão de vezes menor que um milímetro. 
A pesquisa busca uma película contendo nanopartículas, com potencial para reduzir problemas de contaminação microbiana, além de melhorar as propriedades de permeabilidade da casca, reduzindo a degradação interna, o que permitirá maior tempo de armazenamento, e adicionalmente incrementará a resistência da casca a impactos, mantendo características e propriedades nutritivas.
No momento, a tecnologia está em fase laboratorial. Na etapa seguinte, ela deverá ser testada e validada por parceiros para averiguar sua viabilidade.
De acordo com a pesquisadora Helenice Mazzuco, no Brasil não há obrigatoriedade de lavagem, desinfecção e refrigeração dos ovos comercializados in natura, mas a indicação é a de mantê-los sob refrigeração entre 4°C e 12°C por um período máximo de 30 dias.
"Passado esse período, o alimento pode sofrer deterioração. Com o revestimento nanoestruturado, que está sendo pesquisado, busca-se igualmente maior controle da contaminação externa (via casca) propiciando, assim, aumento no tempo de prateleira [validade] dos ovos", explica a pesquisadora. 
 
O ovo é um alimento perecível. Assim como carne e produtos hortifrúti, tem vida útil limitada para o aproveitamento adequado de seus nutrientes. Uma vez perecíveis, é preciso protegê-los por meio de refrigeração para evitar a perda de água, reduzindo as trocas gasosas.
"Essas trocas gasosas acarretam, muitas vezes, mudanças físico-químicas nos ovos, comprometendo a qualidade do alimento e abrindo espaço para contaminação", esclarece a pesquisadora Helenice Mazzuco, líder do projeto Nanovo. 
 
Apesar de apresentarem muitos mecanismos de defesa, como a casca e a membrana da casca, os ovos de mesa necessitam de um armazenamento adequado, uma vez que estão sujeitos às alterações e ações do tempo. 
A causa mais provável é a de combinação de temperatura e umidade durante o armazenamento, principalmente quando muito elevadas e por longos períodos.
 
A aplicação de revestimento em alimentos já é uma prática que vem sendo utilizada pela indústria alimentícia para prolongar a vida útil dos alimentos. Um exemplo é a aplicação de cera em frutas cítricas ou maçãs, que além de proteger, confere melhor aspecto ao alimento, deixando-o mais atraente (brilhante) ao consumidor, e pode ser ingerido sem risco à saúde. 
Com a nanotecnologia novas embalagens e revestimentos se tornaram alvo de pesquisa para incrementar a proteção e melhorar o aspecto de alimentos.  
 
A pesquisa em nanotecnologia 
No estudo da Embrapa, que teve início em março de 2015, diversos recobrimentos estão sendo desenvolvidos e testados, para avaliação das propriedades do produto nanotecnológico e as melhorias que oferece na qualidade de ovos comerciais.
"Estamos na fase laboratorial, desenvolvendo o produto e otimizando a solução que pretendemos usar", explica Francisco Noé da Fonseca, analista responsável pelo desenvolvimento e avaliação do produto. 
Um dos revestimentos foi feito com base em um polímero biodegradável amplamente utilizado na indústria farmacêutica e de alimentos e incorporado de nanopartículas, de modo a se obter um filme que confira mais resistência à casca e reduza a permeabilidade.
Entre as melhorias que ele oferece está a manutenção da qualidade interna do ovo, que limitou a deterioração interna, mensurada por parâmetros como perda de massa do ovo e altura da clara. 
No teste de aplicação do produto, os ovos revestidos mantidos em temperatura ambiente (sem refrigeração) durante um mês apresentaram-se em melhor condição comparados aos ovos não revestidos, que mostraram maior degradação.
A próxima etapa desse estudo será a avaliação semanal da qualidade dos ovos revestidos para estabelecer o quanto eles resistem a mais que ovos não revestidos na prateleira. 
 
A resistência à quebra de casca também se apresentou positiva, de acordo com o analista. Ao serem submetidos à compressão, a extensão da trinca ou da rachadura dos ovos revestidos foi bem menor em relação aos ovos sem revestimento, indicando um incremento à resistência da casca. 
Nesse caso, a película protegeu o ovo do impacto e não chegou a comprometer a estrutura interna. A pesquisa, agora, vai iniciar a etapa de ensaios microbiológicos e de qualidade.
 
Agregando valor 
Outra possibilidade que será analisada no projeto, por meio das avaliações econômicas, é a de que o produto indicado para o revestimento dos ovos proporcionará ganhos financeiros e sociais na produção de ovos. 
"Com o revestimento, o tempo de prateleira ou vida útil dos ovos poderá ser ampliado e sem necessidade de refrigeração, garantindo valor agregado ao produto com valorização de toda a rede de varejo e distribuição porque oferecerá economia de energia", explica o analista Noé.
 
Explorar novos mercados é outro ganho que o produtor de ovos pode ter com a aplicação dos revestimentos, uma vez que o transporte desse alimento é algo frágil e acaba restrito a pequenas distâncias ou público. 
Com a nova tecnologia, o produtor poderá avançar na entrega, atendendo a demandas além da sua região, como as de outros estados, por exemplo. 
O principal desafio do projeto é fazer um produto para ser aplicado em larga escala pelo mercado, em nível industrial. Para isso, a Embrapa aposta em parcerias. "Alguns parceiros já estão interessados em testar e validar o produto, tanto na parte de escalonamento da produção do composto nanoestruturado quanto em equipamentos para revestir os ovos", disse Noé.

Foco na casca 

Considerando a questão de inocuidade, o ovo é um alimento seguro se seguidas todas as etapas de produção de maneira correta. "Se todas as fases do seu beneficiamento, como coleta, limpeza externa, classificação, acondicionamento e transporte, ocorreram de forma higiênica, não temos nenhum risco em consumir ovos", alertou a pesquisadora Helenice. Ela completa: "O cuidado se inicia na vacinação das aves produtoras, protegendo-as de doenças que impactam a saúde pública".
 
Muitos produtores fazem a limpeza dos ovos com água clorada, antes de refrigerá-los, para remover sujidades e reduzir a carga microbiana que adere à superfície da casca. Esse processo, alerta a pesquisadora, deve ser feito de maneira adequada para evitar danos à película (membrana) protetora da casca, o que permitiria a entrada de microorganismos.
 
A aplicação da cobertura nanoestruturada nos ovos surge como alternativa de aumentar a proteção natural da casca, devolvendo um recobrimento que foi "retirado" no momento da lavagem. "Com isso preserva-se a massa do alimento e impede-se a entrada de patógenos", comentou Noé. "É importante destacar que a película protege ovos saudáveis, oriundos de uma prática adequada de produção", enfatiza a pesquisadora Helenice.
 
A pesquisa de desenvolvimento de revestimento nanoestruturado para ovos integra a Rede de Pesquisa em Nanotecnologia para o Agronegócio (Rede Agronano), estabelecida pela Embrapa Instrumentação e agrega grupos de pesquisa em nanotecnologia aplicada às demandas do agronegócio.
 
A produção de ovos 
Com um apontamento positivo da Organização Mundial da Saúde, o ovo se torna um alimento cada vez mais indispensável na mesa do consumidor. Essa cadeia produtiva tem um crescimento positivo no cenário de agronegócio nacional.
 
O consumo per capita aumentou para 34 ovos por habitante entre 2010 e 2014, saltando de 148,15 para 182,18 unidades comercializadas, conforme dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). O plantel de poedeiras no Brasil teve um incremento de 2,15% entre 2013 e 2014, passando de 128,8 milhões para 131,6 milhões de aves.

Fonte: Embrapa Suínos e Aves

Continue Lendo

Avicultura

Evolução da Bronquite Infecciosa desafia vacinação na avicultura moderna

Essa doença causa uma série de problemas que afetam a produtividade e a rentabilidade das granjas.

Publicado em

em

Foto: Shutterstock

Altamente contagiosa, a Bronquite Infecciosa (IBV) é uma doença respiratória que afeta diretamente a produção de aves, trazendo grandes impactos econômicos. Com uma alta taxa de mutação e a capacidade de se recombinar com outras cepas, o vírus permanece uma ameaça persistente, exigindo atenção contínua de produtores e especialistas em sanidade animal.

O vírus IBV é caracterizado por sua variabilidade genética e capacidade de evoluir rapidamente. O fenômeno de recombinação entre cepas de campo e vacinas já foi observado, embora a maioria dessas recombinações desapareça rapidamente. Apesar de décadas de uso de vacinas em regiões como Estados Unidos, Europa e partes da Ásia, as cepas recombinadas das vacinas não se tornaram um problema significativo. No entanto, especialistas alertam que o risco de mutações e recombinações ainda é uma preocupação, especialmente em áreas de alta pressão viral.

Imunologista e pesquisador sênior do Instituto Royal GD, na Holanda, Sjaak de Wit: “Em áreas onde várias cepas estão em circulação, a combinação inteligente de diferentes vacinas pode ajudar a ampliar a proteção cruzada” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

Segundo o imunologista e pesquisador sênior do Instituto Royal GD, na Holanda, Sjaak de Wit, a diversidade de cepas em circulação no mundo faz com que o controle da doença seja complexo. Ele destaca que cepas como a BR1 (local), Var2 (originária do Oriente Médio) e Q1 (originária da Europa/Ásia) são atualmente predominantes no Brasil. Além disso, a introdução de novas cepas de outras regiões amplia ainda mais os desafios no controle da doença.

Os impactos da Bronquite Infecciosa vão muito além dos prejuízos diretos à saúde das aves. A doença causa uma série de problemas que afetam a produtividade e a rentabilidade das granjas, desde uma queda na ingestão de ração até a redução no crescimento dos animais. “Frangos de corte infectados pelo IBV sofrem de sintomas respiratórios como espirros, roncos e secreção nasal, além de mortes súbitas por sufocamento”, explicou Wit durante sua participação no 15º Encontro Mercolab de Avicultura, realizado no dia 10 de setembro em Cascavel, no Oeste do Paraná, acrescentando: “A síndrome da cabeça inchada e infecções bacterianas secundárias, como as causadas por Escherichia coli e Ornithobacterium rhinotracheale, também agravam o quadro clínico, aumentando as taxas de condenação no abate”.

Em galinhas poedeiras e reprodutoras, o imunologista expõe que o vírus compromete a qualidade dos ovos, resultando em cascas mais frágeis, irregulares ou manchadas, e um aumento de ovos considerados de segunda categoria. Além disso, há uma redução na taxa de eclosão dos ovos, o que compromete a produção de pintinhos. “Infecções severas também podem causar a condição de camadas falsas, em que as aves parecem saudáveis, mas são incapazes de produzir ovos devido a danos irreversíveis no oviduto”, relatou.

A doença, quando combinada com fatores como clima desfavorável ou imunossupressão, pode ser ainda mais devastadora. “A combinação de infecções virais com problemas ambientais e dietas inadequadas também aumenta a gravidade da IBV. Micotoxinas presentes na ração, por exemplo, podem piorar o quadro de aves infectadas, comprometendo ainda mais o desempenho produtivo”, ressalta.

Ferramentas de controle

A vacinação é uma das principais ferramentas para o controle da Bronquite Infecciosa, mas sua aplicação exige cautela e planejamento. De acordo com o imunologista, a eficácia da vacina pode variar dependendo da combinação de cepas utilizadas e das condições do campo. “A recomendação é o uso de vacinas homólogas, que oferecem proteção mais eficaz contra cepas específicas. No entanto, em áreas onde várias cepas estão em circulação, a combinação inteligente de diferentes vacinas pode ajudar a ampliar a proteção cruzada”, salienta.

Além da vacinação, a melhoria das condições de manejo, como ventilação adequada e controle de estresse térmico, também desempenha um papel fundamental na prevenção e mitigação da doença. “A detecção precoce por meio de técnicas de diagnóstico eficazes, como testes de RT-PCR e genotipagem, é essencial para identificar de forma rápida as cepas circulantes e ajustar as estratégias de vacinação”, enfatiza Wit.

O pesquisador menciona que, com o surgimento de novas cepas e a contínua evolução do vírus, o setor precisa investir cada vez mais em tecnologias de diagnóstico, vacinas eficazes e boas práticas de manejo para minimizar os prejuízos e assegurar a sustentabilidade da produção avícola.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse a versão digital de Avicultura de Corte e Postura clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
Continue Lendo

Avicultura

Gestão integrada do Programa de Autocontrole na avicultura garante maior eficiência da produção ao abate

A integração de boas práticas, tecnologias avançadas e uma abordagem proativa ao autocontrole ajudam a promover a sustentabilidade e o sucesso da indústria avícola.

Publicado em

em

Fotos: Shutterstock

A gestão eficaz do Programa de Autocontrole (PAC) na avicultura de corte assegura a qualidade e a segurança dos produtos avícolas. Desde o campo até o abatedouro, cada etapa do processo deve ser cuidadosamente controlada e monitorada para garantir que os padrões mais exigentes sejam atendidos. “A integração de boas práticas, tecnologias avançadas e uma abordagem proativa ao autocontrole ajudam a promover a sustentabilidade e o sucesso da indústria avícola, mas, para garantir uma operação bem-sucedida no abate, é essencial que a cadeia produtiva conheça detalhadamente seus processos e tenha acesso a informações precisas vindas do campo”, frisou a médica-veterinária, pesquisadora e doutora em Ciência Animal e Pastagens, Liris Kindlein, durante o 15º Encontro Mercolab de Avicultura, realizado no dia 10 de setembro, em Cascavel (PR).

O evento, que reuniu especialistas e profissionais do setor avícola, reforçou a relevância de aprimorar a comunicação e o fluxo de informações desde a produção no campo até o processo final no abatedouro, para otimizar recursos e aumentar a eficiência produtiva. “Trabalhamos para sermos cada vez mais assertivos. Não é uma tarefa fácil, mas quanto mais precisos formos, melhor será o aproveitamento no abate”, frisou Liris, reforçando a necessidade de uma gestão integrada e inteligente para alcançar melhores resultados.

A implementação do PAC na avicultura de corte apresenta entre seus benefícios a garantia de produtos seguros e de alta qualidade, o aumento da confiança do consumidor e a melhoria da eficiência operacional. No entanto, também enfrenta desafios, como a necessidade de investimento em tecnologias e infraestrutura, e a necessidade de treinamento contínuo para os colaboradores do campo e das plantas frigoríficas.

Etapas do autocontrole

O processo de autocontrole na avicultura de corte começa na granja com a escolha de aves com boa genética e um manejo adequado, alimentação balanceada, ventilação e higiene dos galpões para evitar entrada de possíveis doenças. A vacinação preventiva e exames regulares garantem a detecção precoce de problemas, enquanto o controle ambiental, como temperatura, umidade e ventilação adequadas, assegura a saúde das aves e a qualidade da carne, associados com a gestão de resíduos e a limpeza das instalações.

A transição das aves para o abatedouro é uma etapa crítica e exige cuidados para minimizar o estresse e o risco de contaminação. As aves devem ser transportadas em veículos apropriados, com ventilação e proteção contra o clima, e o tempo de transporte deve ser minimizado. O monitoramento das condições de transporte e o registro dos indicadores de bem-estar animal asseguram a conformidade com as normas.

No abatedouro, o autocontrole segue com procedimentos rigorosos de higiene e segurança, incluindo limpeza e desinfecção das instalações e equipamentos, além de monitoramento das práticas de higiene dos funcionários para evitar contaminação. As aves são inspecionadas antes e depois do abate para detecção de doenças, e o controle de temperatura no processamento e armazenamento é fundamental para a segurança da carne. A rastreabilidade é mantida com documentação detalhada de cada lote, desde a granja até o produto final, assegurando conformidade com as regulamentações.

Requisitos e desafios para frigoríficos no controle de lotes

Médica-veterinária, pesquisadora e doutora em Ciência Animal e Pastagens, Liris Kindlein: “É importante que os frigoríficos compreendam os problemas específicos de cada lote para mitigar impactos negativos durante o processo de abate e assegurar que o produto final atenda aos padrões exigidos” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

A Portaria 736 marca um avanço na regulamentação do setor de frigoríficos, impondo exigências mais rigorosas para o controle e a gestão de lotes. Com a necessidade de documentação detalhada e a implementação de sistemas de monitoramento eficazes, os frigoríficos terão a oportunidade de melhorar a segurança alimentar e a qualidade de seus produtos. “A adesão a estas novas normas não só assegura a conformidade com a legislação, mas também fortalece a confiança do consumidor e a sustentabilidade do setor”, frisa Liris.

A Portaria 736 estabelece novos critérios para o controle e a gestão de lotes em frigoríficos, trazendo importantes mudanças para o setor. O objetivo central da normativa é garantir a segurança e a qualidade dos produtos, exigindo uma abordagem mais detalhada e estruturada no acompanhamento dos lotes de carne.

A especialista diz que uma das principais determinações da Portaria 736 é que as empresas devem ter um controle minucioso sobre os lotes a serem abatidos. As informações necessárias incluem desde  o percentual de lesões presentes, as condições sanitárias das aves e a uniformidade do lote. “É importante que os frigoríficos compreendam os problemas específicos de cada lote para mitigar impactos negativos durante o processo de abate e assegurar que o produto final atenda aos padrões exigidos”, salienta Liris.

Para garantir a eficácia deste controle, os frigoríficos vão precisar implementar sistemas ainda mais robustos de monitoramento e documentação. “A análise detalhada das condições dos lotes vai permitir uma melhor gestão dos processos internos e ajudar a evitar problemas de qualidade que possam afetar a segurança alimentar”, pontua.

Exigências para adesão ao PAC

A Portaria 736 também estabelece que, para solicitar a adesão ao Programa de Autocontrole os frigoríficos devem apresentar um estudo detalhado do histórico das alterações detectadas pela inspeção tradicional. Além disso, é necessário fornecer o histórico de análises relacionadas ao controle higiênico-sanitário do processo. “Este requisito visa garantir que as empresas estejam comprometidas com práticas de controle rigorosas e transparentes”, enfatiza Liris, ressaltando que a documentação e a análise histórica vão ajudar a demonstrar a conformidade com as normas e a eficácia das medidas implementadas para assegurar a qualidade e a segurança dos produtos.

Também está previsto na Portaria 736 a criação de uma lista de estabelecimentos sujeitos a inspeção com base em risco. A partir de 31 de dezembro de 2028 essa inspeção será compulsória, o que significa que os frigoríficos vão precisar estar preparados para atender aos critérios estabelecidos para evitar penalidades e garantir a continuidade das suas operações. “A inclusão na lista de inspeção baseada em risco objetiva priorizar os estabelecimentos que apresentam maior potencial para não conformidades ou problemas sanitários, garantindo que recursos sejam alocados de forma eficiente e que os riscos sejam geridos de maneira adequada”, reforça a médica-veterinária.

Importância do levantamento de dados

Um levantamento realizado entre 2016 e 2019 em 144 frigoríficos, envolvendo o abate de mais de 19 bilhões de aves do gênero Gallus, revelou que as principais causas de condenação de carcaças foram contaminação gastrointestinal e biliar, lesões de pele, artrite e aerossaculite, entre outros problemas. Esses dados destacam a importância de uma gestão eficiente para reduzir perdas e garantir a qualidade final do produto.

Liris explica que a gestão do Programa de Autocontrole da planta de abate será estruturada a partir do levantamento de dados históricos da  empresa, incluindo principais diagnósticos de campo, causas de condenações e eficiência dos processos. “O foco será o aprimoramento das monitorias preventivas, com avaliações de aves vivas, além do controle rigoroso da qualidade da matéria-prima durante todo o processo produtivo”, ressalta.

Conforme a profissional, a avaliação das aves vivas já é exigida no boletim sanitário, conforme estabelece a Circular 100, que trata da inspeção ante mortem. “A avaliação das aves no campo é uma medida fundamental para garantir a qualidade desde o início da cadeia”, frisa Liris, salientando a importância dessa prática para a saúde e o bem-estar animal, bem como para a segurança alimentar.

Avaliação sanitária

A avaliação sanitária das aves, realizada no campo antes do abate, é uma etapa fundamental para garantir a qualidade no processo de abate. Esse monitoramento envolve o exame clínico dos animais, observação de comportamento, resultados de necropsias a campo (pré-abate) e análises laboratoriais, fatores que ajudarão a formar um diagnóstico sobre o estado do lote e seu impacto no frigorífico. “As informações coletadas no campo são fundamentais para a decisão sobre o processo de abate, considerando o histórico do produtor. Problemas como lesões de aerossaculite e articulares, sejam unilaterais ou bilaterais, influenciam diretamente o fluxo de abate e as condições higiênico-sanitárias. Conhecendo esses dados são possíveis mitigar problemas durante o abate”, menciona a especialista.

Essa comunicação entre campo e frigorífico deve ser uma via de mão dupla, permitindo que as melhorias sejam implementadas no manejo das aves e a retroalimentação seja eficiente. “A padronização dos monitoramentos sanitários é essencial para garantir que as informações repassadas ao frigorífico sejam precisas e úteis. Isso exige treinamento adequado de médicos-veterinários e extensionistas no campo”, afirma Liris.

A padronização do olhar técnico, tanto no campo quanto no abatedouro, é indispensável para correlacionar as condições sanitárias do lote visando maior assertividade das informações repassadas ao frigorífico. “Campo e indústria funcionam de forma interdependente e inter-relacionada”, frisa a especialista, destacando a importância da coleta de informações sobre manejo, sanidade, nutrição e genética para mitigar possíveis problemas ao longo da cadeia produtiva.

Embora avanços ao longo da cadeia já tenham sido feitos, é preciso integrar as informações do campo ao frigorífico. “Apesar de sermos muito bons no que fazemos, temos ineficiências dentro do campo e da indústria que fazem com que tenhamos perdas tanto sanitárias quanto qualitativas”, reitera Liris. “A gestão do Programa de Autocontrole vai conectar as operações no campo com as do frigorífico melhorando esses processos, unindo esforços para aumentar a eficiência e reduzir as falhas ao longo da cadeia produtiva”, complementa a médica-veterinária.

Aplicabilidade da retroalimentação

O novo modelo de inspeção com base em risco traz mudanças significativas na execução e autonomia de gestão pelas empresas. A avaliação post mortem das carcaças, por exemplo, passará a ser 100% responsabilidade das empresas, enquanto a inspeção oficial do governo será feita por amostragem, verificando se os procedimentos foram realizados conforme descritos nos documentos do Programa de Autocontrole. “Esses programas precisam ser detalhados e documentados, incluindo as ações corretivas a serem tomadas em casos de problemas no lote, garantindo o máximo aproveitamento possível da carne. As empresas já estão desenvolvendo esses documentos, que serão avaliados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, por meio de auditorias documentais e amostrais”, salienta Liris.

Além disso, há maior flexibilidade na gestão do processo de abate, permitindo otimizações em termos de recursos humanos, velocidade de abate e gestão de lotes. Isso facilita a tomada de decisões rápidas para manter as condições higiênico-sanitárias sem comprometer a eficiência da operação.

Em países com sistemas de autocontrole baseados em risco, é comum a exigência de indicadores zootécnicos. No Brasil, o indicador mais relevante é a prevalência de Salmonella, um patógeno de grande preocupação. Atualmente, a Instrução Normativa 20 (IN20) determina que a prevalência de Salmonella não ultrapasse 20%. “Se houver alterações nas condições higiênico-sanitárias, a legislação exige que a indústria faça um mapeamento das etapas do processo de abate para identificar onde pode haver aumento da carga microbiana. Isso é fundamental para compreender os patógenos envolvidos, as etapas críticas e os pontos de controle necessários para evitar problemas”, menciona.

Liris reforça que o PAC é uma ferramenta de gestão essencial para identificar, avaliar e controlar riscos ao longo do processo. “Temos domínio sobre os programas de gestão de autocontrole, mas precisamos nos apropriar completamente do abate, compartilhando informações para implementar ações corretivas eficazes e garantir o melhor aproveitamento da carne vendável”, destaca um especialista.

Autocontrole na cadeia produtiva

O Autocontrole no Processo de Abate agora foi atualizado para  Autocontrole na Cadeia Produtiva, reforçando a integração entre campo e abatedouro. Esse modelo traz maior autonomia às empresas, permitindo uma gestão mais eficiente e ágil em todas as etapas, desde a criação das aves até o abate. “A implementação desse autocontrole vai aumentar a eficiência, otimizando o aproveitamento de carcaças e reduzindo custos fixos, bem como, a padronização dos critérios de condenação e o monitoramento contínuo garantem não apenas a segurança dos alimentos, mas também a responsabilidade das empresas no cumprimento das normas sanitárias”, exalta Liris.

Além disso, a profissional salienta que o acompanhamento constante permite a implementação de ações mitigatórias para prevenir problemas ao longo da cadeia, reforçando a qualidade final do produto.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse a versão digital de Avicultura de Corte e Postura clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
Continue Lendo

Avicultura Dia Mundial do Ovo

Consumo da proteína animal em 2024 deve ser o maior da história

Produção será recorde, se aproximando de 57 bilhões de unidades.

Publicado em

em

Foto: Gilson Abreu

Ao longo deste ano, a cada segundo, as granjas brasileiras têm produzido em ritmo recorde, alcançando cerca de 1.800 unidades por segundo, ressalta a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) em meio às comemorações do Dia Mundial do Ovo, celebrado esta sexta-feira (11).

Conforme perspectivas da associação, o Brasil deverá encerrar o ano alcançando o marco de 56,900 bilhões de unidades de ovos produzidos nas granjas de norte a sul do país. O número é recorde, e supera em 8,5% a produção registrada no ano anterior, com 52,448 bilhões de unidades.

A produção, de acordo com o presidente da ABPA, Ricardo Santin, tem sido impulsionada pelo aumento do consumo da proteína, que deverá encerrar o ano no maior patamar da história do setor.

Conforme as projeções da associação, cada brasileiro deverá consumir até 263 unidades ao longo dos 12 meses deste ano, 21 unidades a mais em relação à 2023, quando o índice chegou a 242 unidades.

“Está mais competitivo produzir ovos em 2024. Os custos estão mais ajustados e o consumidor tem demandado mais o produto. As perspectivas para o setor são positivas e nossos indicadores apontam a ampliação dos níveis de consumo para o próximo ano. Além do fato de ser uma das proteínas mais versáteis e acessíveis disponíveis, o ovo já é reconhecido pelos consumidores de todas as classes e perfis de consumo como um dos alimentos mais completos que existem. Exatamente por isso, o ovo deixou de ser visto apenas como um simples produto e passou a ser um alimento que tem influência tanto para a segurança alimentar, como para a saúde pública”, avalia o presidente da ABPA, Ricardo Santin.

O Dia Mundial do Ovo é comemorado em todas as nações produtoras e consumidoras dessa proteína. É o caso do Brasil, que atualmente é o quinto maior produtor desta proteína, e mantém níveis de consumo bem acima da média internacional, que é de 230 unidades.

No Brasil, o Dia Mundial do Ovo é organizado pelo Instituto Ovos Brasil.

Fonte: Assessoria ASCOM ABPA
Continue Lendo

NEWSLETTER

Assine nossa newsletter e recebas as principais notícias em seu email.