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Resposta imune induzida pelo alimento: conectando (mais uma vez) nutrição e imunidade

O sistema imune é uma das mais complexas áreas de estudo dentro da biologia, desafiando desde os profissionais da saúde/nutrição até os pesquisadores da biologia evolutiva. Porém, a necessidade de conhecer mais profundamente as interações entre nutrição e resposta imune é consenso, pois permitirá o refinamento das estratégias que, em última análise, podem melhorar o bem-estar e o desempenho dos animais.

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Fotos: Divulgação/Elanco

É tarefa do sistema imunológico identificar o que é próprio ou não do organismo animal para protegê-lo através de ações deflagradas por uma complexa rede de órgãos, células e moléculas. Imunologia é uma área bastante complexa e seu estudo aprofundado pode requerer longos anos. O mesmo acontece com aqueles que se dedicam a estudar os mecanismos necessários para a correta nutrição dos animais. Por isso, compreender profundamente as duas  áreas (imunologia e nutrição) é tarefa para poucos… Mas, afinal, por que o nutricionista precisa  entender sobre resposta imune? O que há por trás dos “soldadinhos que nos defendem das doenças”?

Reconhecendo o inimigo

Vários mecanismos são utilizados pelo sistema imune para cumprir sua função primordial de defesa, com respostas iniciais da imunidade inata, seguidas pelas reações tardias da imunidade adquirida. Trabalhar com dois níveis diferentes de resposta imune é uma forma de contornar a diferença nas taxas de evolução entre os patógenos e seus hospedeiros. Aves e suínos se reproduzem apenas algumas vezes ao ano, especialmente no ambiente natural, onde grande parte da evolução destas espécies ocorreu. Por outro lado, a evolução dos patógenos é muito mais rápida, uma vez que parasitas, bactérias e vírus podem se multiplicar em questão de dias, horas ou minutos.

A primeira linha de defesa é chamada de imunidade inata, natural ou nativa. Este componente do sistema imune é filogeneticamente muito antigo e está presente mesmo em plantas e insetos, inclusive nos indivíduos saudáveis. A imunidade inata é responsável por bloquear a entrada de microrganismos e eliminar rapidamente aqueles que conseguem chegar aos tecidos do hospedeiro. Seus mecanismos compreendem barreiras físicas, químicas e biológicas, além de componentes celulares e moléculas solúveis.

A resposta imune adquirida possui especificidade e diversidade de reconhecimento, memória, especialização de resposta, autolimitação e tolerância a componentes do próprio organismo. Por outro lado, a ação do sistema imunológico inato independe de estímulo prévio e normalmente sua resposta será a mesma em encontros repetidos com um patógeno (sem memória). Isso acontece por que o sistema reconhece estruturas que são comuns a diversas classes de microrganismos e que não estão presentes nas células normais do hospedeiro. Este reconhecimento é realizado pelos ‘receptores de reconhecimento de padrões’ localizados nas membranas e no interior das células (Figura 1).

Figura 1 – Processo de reconhecimento de padrões pelo sistema imune inato

As moléculas capazes de ativar a imunidade inata são chamadas de ‘padrões moleculares associados ao patógeno’ (PAMP, do inglês, pathogen-associated molecular patterns). Além delas, moléculas expressas por células danificadas do hospedeiro (DAMP) também podem ser reconhecidas pelo sistema inato. Neste último caso, conteúdo mitocondrial ou fragmentos de DNA e RNA podem ser reconhecidos como indicativos de que houve danos às células do indivíduo.

A interação entre receptores e PAMP guarda semelhança com a complementaridade entre antígeno e anticorpo (imunidade adquirida). Porém, no caso das respostas inatas, não há diversidade nem capacidade adaptativa para novos receptores ou novos padrões moleculares além daqueles já programados no código genético.

No caso dos PAMP, os receptores de reconhecimento de padrões evoluíram para identificar estruturas que são geralmente essenciais para a sobrevivência e infectividade dos microrganismos, ou seja, que normalmente são conservadas evolutivamente. Dessa forma, os patógenos seguem sendo reconhecidos mesmo após mutações ou quando não expressam seus alvos de reconhecimento.

Amigo ou inimigo?

A resposta imune inata é muito rápida, mas relativamente inespecífica. Na prática, uma ampla gama de substâncias (ácidos nucleicos, lipídios da parede celular, proteínas e carboidratos) pode atuar como PAMP. A regra geral é ser algo não encontrado no organismo do hospedeiro, mas que é componente comum em patógenos. Porém, isso não significa que os compostos que atuam como PAMP sejam encontrados exclusivamente em organismos patogênicos.

Embora a função fisiológica do sistema imune seja a vigilância e a defesa contra microrganismos infecciosos, outras substâncias estranhas podem gerar respostas imunes, mesmo que não infecciosas. Assim, uma definição mais inclusiva da resposta imune deveria citar que esta é uma reação aos componentes de microrganismos e pequenos agentes químicos que são reconhecidos como estranhos, independente da sua consequência fisiológica ou patológica.

Exemplos de fontes não patogênicas de PAMP são as paredes celulares de diversas plantas e leveduras, que frequentemente são utilizadas para alimentação de humanos e animais. Além de desnecessária, esta ativação da resposta imune inata demanda o consumo de energia que poderia ser utilizada para outras atividades metabólicas, como crescimento ou produção.

Resposta imune induzida pelo alimento

Os beta-mannanos, também conhecidos como beta-galactomananos, são polissacarídeos não amiláceos solúveis em água. Os beta-mannanos não são digeridos por animais não-ruminantes e estão entre os principais fatores anti-nutricionais para estas espécies, sendo frequentemente associados ao aumento na viscosidade da digesta e redução no aproveitamento dos nutrientes das rações.

Os beta-mannanos podem ser encontrados na superfície de diversos microrganismo patogênicos e, por isso, sua presença no lúmen intestinal é identificada pelo sistema imune inato animal (PAMP).

Um exemplo está na Figura 2, onde a estrutura da parede celular da Candida albicans é apresentada.

Figura 2. Estrutura da parede celular da Candida albicans, onde o β-1,4 manano é encontrado

Porém, por compor a parede celular vegetal, especificamente a fração de hemicelulose (Figura 3), esta substância também está presente em vários ingredientes utilizados para fabricação de ração, em especial nos grãos de soja. Nestes grãos, os beta-mannanos estão principalmente associadas com a casca e a fração fibrosa do farelo. Palmiste e goma de guar também são fontes ricas deste polissacarídeo, embora sem uso frequente no Brasil. A concentração de beta-mannanos em outros ingredientes é apresentada na Tabela 1.

Quando os alimentos são ingeridos eles passam pelo processo de digestão e, nesse ponto, os beta-mannanos e outras substâncias que podem atuar como PAMP são liberadas. Esses elementos livres entram em contato com células do sistema imune presentes no trato digestório e provocam sua ativação.

Figura 3. Estrutura da parede celular do grão de soja, onde o β-1,4 manano é encontrado

O acionamento dos macrófagos se dá tanto pela fagocitose dos PAMP quanto por contato com receptores de superfície, causando exacerbada sintomatologia inflamatória nos animais. Uma das hipóteses de atuação dos PAMP é através da estimulação do fator NF-kappa B. O efeito de um extrato contendo altos níveis de beta-mannanos e de uma solução de LPS foi testada (in vitro) sobre monócitos humanos. Foi verificado que os beta-mannanos ativam o fator NF-kappa B pela mesma via de ativação que os LPS. Esse fator é responsável pela expressão de vários genes em células de defesa do organismo, em especial nos monócitos e macrófagos ativados. Dentre os principais genes regulados pelo fator NF-kappa B estão: citocinas pró-inflamatórias, quimiocinas, enzimas inflamatórias, moléculas de adesão, receptores e inibidores de apoptose.

Para a completa sensibilização dos macrófagos são necessários no mínimo dois sinais, como por exemplo, a exposição a interferon-gama e a beta-mannanos ou LPS. No entanto, uma previa exposição dos macrófagos ao beta-mannanos pode torná-los mais reativos ao segundo sinal. Estudos apontam que o interferon-gama e beta-mannanos possuem sinergismo bilateral levando a uma ativação de macrófagos mais forte em comparação com outros mecanismos.

Em última análise, a ativação do sistema imune induz repartição de recursos, onde parte da energia que seria utilizada para crescimento do animal é desviada para proliferação de células de defesa. O processo interfere, portanto no potencial de desempenho dos animais.

Tabela 1. Conteúdo de β-mananos nos principais ingredientes utilizados em dietas para aves e suínos.

INGREDIENTES                     MÉDIA, %        MÍNIMO, %        MÁXIMO, %

Aveia                                                    0,31                       –                              –

Canola                                                 0,08                       0,07                       0,09

Canola, bagaço                                 0,13                       –                              –

Canola, farinha                                 0,18                       0,13                       0,37

Cevada                                                0,42                       0,37                       0,46

DDGS                                                   0,57                       0,23                       1,09

Girassol, farinha com casca            0,62                       0,53                       0,69

Girassol, farinha sem casca             0,57                       0,42                       0,75

Milho                                                   0,14                       0,09                       0,22

Milho, farinha de glúten                 0,17                       0,10                       0,24

Palmiste, farinha                              7,24                       5,34                       10,90

Soja, cascas                                        6,67                       6,43                       6,91

Soja, farelo 44% PB                         0,79                       0,38                       1,30

Soja, farelo 46% PB                         0,69                       0,33                       1,15

Soja, farelo 48% PB                         0,59                       0,28                       1,00

Soja, farinha fermentada                0,59                       0,58                       0,59

Soja, Full Fat                                      0,71                       0,42                       1,05

Trigo                                                     0,27                       0,11                       0,42

Trigo, farelo                                       0,25                       0,21                       0,34

Custos nutricionais da resposta imune

Muitas evidências científicas estão validando a estreita relação entre a nutrição, a saúde intestinal e a imunidade dos animais. Além da função crítica na digestão e absorção dos nutrientes, o intestino também pode ser considerado o maior órgão imune do organismo. Por conta desta forte relação entre os sistemas, a nutrição dos animais pode influenciar a imunidade através de vários mecanismos.

Uma das vias mais evidentes desta relação é o alto “custo” nutricional associado com o desenvolvimento e a ativação do sistema imune. As células do sistema imune, assim como qualquer célula do organismo, demandam nutrientes para sua manutenção e multiplicação. Além disso, os nutrientes também são necessários para a produção de outras proteínas acessórias na resposta imune.

Os custos nutricionais da ativação e manutenção da resposta imune são difíceis de serem estimados uma vez que variam com inúmeros fatores, tanto do animal (ex: espécie e genética), como do patógeno (ex: virulência e período de exposição). Em geral, o sistema imune adaptativo é caro para ser desenvolvido, mas barato para ser utilizado.

Por outro lado, o custo para o desenvolvimento da imunidade inata é bastante baixo, porém, os custos para sua ativação são altos e repetidos a cada encontro com o “patógeno em potencial”.

Experimentos com alimentação pareada para simular o impacto da redução de consumo (frequentemente observada na fase aguda da resposta) indicaram que o sistema imune responde por 9% do uso de nutrientes em frangos de corte. De modo bastante particular, os custos energéticos são frequentemente relacionados com o desenvolvimento e ativação da resposta imune, sendo induzidos tanto na fase aguda quanto para proliferação de leucócitos e anticorpos.

Além dos custos diretos da ativação da resposta imune, existem outras demandas que podem ser consideradas a longo prazo. Por exemplo, quando os processos pró-inflamatórios são mantidos, as consequências de comprometimento de tecidos e uso de nutrientes podem se prolongar por mais tempo. O estresse oxidativo é outra forma de indução de custos a longo prazo, embora os estudos nessa área ainda sejam bastante empíricos e a quantificação deste impacto seja complexa.

A proteção do organismo por um sistema imune eficiente é certamente necessária e positiva. Porém, os investimentos na imuno-competência podem afetar negativamente outras funções biológicas, como o crescimento dos animais, por conta dos custos nutricionais envolvidos. Essa relação é especialmente válida quando a resposta imune é gerada por alimentos (FIIR), ou seja, por PAMP sem consequência fisiológica grave ou patogenia associada. Nestes casos, o custo da ativação virá sem benefícios. Nesses casos, as consequências nutricionais e econômicas de gerar uma resposta inflamatória são relacionadas inversamente com o desempenho dos animais.

Outros “custos” da Fiir e dos beta-mannanos

As consequências positivas da ativação do sistema imune são indiscutíveis e incluem a defesa do organismo e a promoção de respostas vacinais. Porém, também existem consequências negativas, especialmente nos casos em que a resposta imune é gerada sem a presença efetiva de um patógeno (como na FIIR).

Muitas dessas  consequências  são compartilhadas com doenças entéricas ou outras reações inflamatórias exageradas, como a redução na absorção de nutrientes, perda de fluídos e disbiose. Algumas dessas consequências negativas são listadas na Figura 4 e detalhadas a seguir.

Figura 4. Consequências negativas associadas aos beta-mannanos

A inflamação é uma resposta genérica e, por isso, é considerada um mecanismo da imunidade inata. Esses processos são parte de uma resposta biológica complexa do intestino a uma possível ameaça. Além dos sinais clássicos, perda de integridade intestinal e de função absortiva também são frequentemente observados após a inflamação.

O prejuízo no aproveitamento dos nutrientes pode ser agravado ainda mais no caso específico da ativação de resposta imune por beta-mannanos, pois estas substancias atuam diretamente sobre a absorção de nutrientes. Os beta-mannanos são considerados fatores antinutricionais importantes, frequentemente relacionados com piora na viscosidade e aproveitamento nos nutrientes.

Os beta-mannanos são fortemente hidrofílicos, o que representa uma função importante durante o processo germinativo das plantas, auxiliando na disponibilização de reservas de água para o embrião. A mesma propriedade que é útil para as plantas pode ser prejudicial para os animais. Alimentos ricos em beta-mannanos aumentam a viscosidade da digesta, o que interfere no tempo de trânsito intestinal e o aproveitamento de nutrientes. O consumo de dietas com alta viscosidade pode levar ao aumentar do trato digestório dos animais, provavelmente para compensar a alteração na taxa de passagem da digesta. Como o trato digestório representa um custo metabólico relevante para o animal, essa alteração de tamanho pode impactar nas exigências nutricionais para mantença.

Por outro lado, o prejuízo absortivo associado aos beta-mannanos ocorre provavelmente devido sua interação com a glicocálix que leva ao espessamento da camada de muco e impede fisicamente a absorção. Alterações na liberação de hormônios e modificação no tempo de trânsito intestinal também foram observadas em decorrência da ação dos beta-mannanos.

Animais alimentados com dietas contendo ingredientes com altos níveis de beta-mannanos têm menor absorção de glicose e ácido pirúvico. Além disso, esses mesmos animais apresentam menor liberação de insulina, glucagon e peptídeo insulinotrópico dependente de glicose. Os carboidratos no trato gastrointestinal superior estimulam a liberação de peptídeo insulinotrópico dependente de glicose, porém com a presença de beta-mannanos sua liberação é reduzida proporcionando uma menor absorção de glicose. Com baixa glicemia, a insulina tende a ser secretada em menor quantidade podendo levar a menor absorção de amino ácidos estimulada pela insulina. Aumento no consumo de água em frangos de corte também foi associado a dietas com alta concentração de beta-mannanos, assim como existem relatos de aumento na umidade de cama.

Uma maior disponibilidade de nutrientes não absorvidos dentro do lúmen intestinal cria um ambiente favorável para a proliferação de microrganismo patogênicos ou não. Dentre os não patogênicos, pode ocorrer a multiplicação de organismos que degradam sais biliares, levando a redução na taxa de absorção de gordura e aminoácidos. Em frangos de corte criados sobre camas, o acréscimo no percentual de água da excreta (devido a maior viscosidade) causa aumento na ocorrência de calos de patas. Todos estes fatores combinados levam a obtenção de lotes desuniformes, especialmente se os animais enfrentarem algum desafio sanitário concomitante.

As partículas de alimento não digeridas no lúmen intestinal também servem de substrato para o crescimento bacteriano indesejável. Os processos inflamatórios colaboram para a disbiose, pois também alteram o ambiente oxidativo e metabolômico do intestino.

Em casos assim, a microbiota comensal benéfica e diversa pode ser alterada para uma população com diversidade reduzida e desenvolvimento de populações ruins para a saúde intestinal.

A perturbação da integridade intestinal também é frequentemente acompanhada de aumento na permeabilidade, que pode colaborar para a perda de digestibilidade e absorção dos nutrientes, além de favorecer a passagem de toxinas e ou patógenos. Esta via de transporte pode permitir que fatores pró-inflamatórios locais adquiram efeito sistêmico, alcançando outros órgãos e ativando proteínas de fase aguda. Citocinas e proteínas de fase aguda podem induzir reações antagônicas aos processos produtivos com redirecionamento dos nutrientes (inicialmente destinados para crescimento) para funções de defesa do organismo.

São reações negativas em cascata, cuja gravidade depende da extensão na ativação do sistema imune e também da coparticipação de outros desafios (sanitários, por exemplo). Entretanto, é importante que o nutricionista conheça e considere estes pontos na escolha dos ingredientes que irão compor as dietas dos animais, tanto aqueles que colaboram como fontes de beta-mannanos, como no uso da beta-mananase como ferramenta para contornar este desafio.

Conclusão

O sistema imune é uma das mais complexas áreas de estudo dentro da biologia, desafiando desde os profissionais da saúde/nutrição até os pesquisadores da biologia evolutiva. Porém, a necessidade de conhecer mais profundamente as interações entre nutrição e resposta imune é consenso, pois permitirá o refinamento das estratégias que, em última análise, podem melhorar o bem-estar e o desempenho dos animais.

As referências bibliográficas estão com o autor. Contato via: marcos.silva@elancoah.com.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor suinícola e da piscicultura acesse gratuitamente a edição digital Suínos e Peixes.

 

Fonte: Por Marcos Kipper da Silva, consultor técnico saúde nutricional da Elanco.

Suínos

Importância do diagnóstico para controle de diarreia em leitões de maternidade

Ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais.

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Fotos: Divulgação/Agroceres Multimix

Artigo escrito por Lucas Avelino Rezende, consultor de Serviços Técnicos de suínos na Agroceres Multimix

Uma das causas mais frequentes de morte de leitões na maternidade, sem dúvidas, é a diarreia neonatal, que pode ser causada por diversos fatores, incluindo infecções bacterianas, virais ou parasitárias, bem como problemas nutricionais ou ambientais.

Por ser multifatorial, a simples presença de patógenos entéricos nem sempre é suficiente para produzir doença clínica. Diante disso, é importante saber que é necessário haver uma interação hospedeiro-ambiente-patógeno. Diferenças em práticas específicas de manejo e ambiente, bem como características do animal e do rebanho, podem influenciar muito o risco de ocorrência da doença.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Alguns fatores podem contribuir para o aumento na ocorrência da diarreia pré-desmame, como: leitões de baixo peso ao nascer, baixa temperatura ambiental levando ao estresse pelo frio, higiene ruim da gaiola de parição, ingestão de leite e colostro insuficientes e o número insuficiente de tetos para a prole.

As principais causas infecciosas de diarreia em leitões na maternidade no Brasil são as Clostridioses, Colibacilose, Rotaviroses e Coccidiose. Em alguns casos, a coinfecção de dois ou mais agentes podem estar presentes e agravar o caso de diarreia.

A sobrevivência de leitões é influenciada por vários fatores, incluindo ordem de nascimento, peso ao nascer, ingestão de colostro e níveis séricos de imunoglobulina G (IgG). Esses fatores interagem de maneiras complexas para determinar a suscetibilidade do leitão a doenças e a saúde geral.

Um importante ponto para entender a dinâmica do surgimento de diarreias na maternidade é a avaliação da ingestão de colostro pelos leitões, uma vez que é essencial para a imunidade passiva dos leitões recém-nascidos, já que não há transferência de imunoglobulinas e outros componentes da imunidade materna para os leitões via transplacentária.

De modo geral, granjas com baixo peso ao nascimento ou uma grande variabilidade do tamanho dos leitões nascidos são aquelas mais desafiadas com diarreias na maternidade, porque leitões com menor peso ao nascer podem ter dificuldade em consumir colostro suficiente, resultando em níveis mais baixos de IgG e maior suscetibilidade a infecções.

O diagnóstico clínico da causa da diarreia em leitões pode ser subjetivo e propenso a erros. Fatores como estresse, condições ambientais e outros problemas de saúde subjacentes podem ser muito semelhantes aos sintomas da diarreia. Para isso, devemos desenvolver critérios de diagnóstico mais objetivos para diarreia em leitões, como: monitorar os leitões desde o nascimento, permitindo a detecção precoce da doença, incorporar testes laboratoriais (por exemplo, consistência fecal, pH e níveis de eletrólitos), realizar necropsias e exames complementares a detecção viral ou bacteriana, como histopatologia e imuno-histoquímica.

Diagnóstico

Um diagnóstico preciso ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais. Um dos pilares para isso é a coleta adequada de amostras. Ela permite a identificação dos agentes etiológicos, avaliação da resposta imune e a monitorização da eficácia das terapias.

A escolha do tipo de amostra dependerá do agente etiológico suspeito e dos objetivos do exame. As amostras mais comuns incluem:

  • Fezes: A coleta de fezes é o método mais simples e acessível. É importante coletar amostras frescas e representativas de diferentes animais do lote. Para suspeitas virais é importante coletar sempre de animais na fase aguda da doença, quando a eliminação viral é maior. Para casos de suspeita parasitária é importante associar o diagnostico com histopatologia, uma vez que a eliminação do Cystoisospora é intermitente.
  • Sangue: A análise do sangue permite avaliar a resposta imune, a presença de anticorpos e detectar alterações bioquímicas.
  • Conteúdo intestinal: A coleta do conteúdo intestinal é indicada para a identificação de patógenos que colonizam o intestino delgado ou grosso.
  • Tecidos: A coleta de tecidos para histopatologia é parte fundamental e complementar as análises de cultivo bacteriano e detecção viral nas fazes ou conteúdo intestinal.

A coleta de amostras deve ser realizada de forma cuidadosa para evitar a contaminação e garantir a qualidade do material. Os recipientes utilizados para a coleta das amostras devem estar limpos e esterilizados para evitar a contaminação por outros microrganismos. De modo geral, é importante que as amostras sejam bem refrigeradas e nunca congeladas, uma vez que o processo de congelamento pode inviabilizar o cultivo bacteriano.

Após a coleta das amostras, diversos métodos podem ser utilizados para o diagnóstico, dentre eles cultura que possibilita a identificação e o isolamento de bactérias, PCR que detecta a presença de DNA ou RNA de vírus, bactérias com alta especificidade, sorologia para pesquisa de anticorpos contra os agentes infecciosos, indicando uma infecção prévia ou atual e a histopatologia que permite a avaliação de lesões histológicas e a identificação de agentes infecciosos em tecidos.

A histopatologia desempenha um papel crucial no diagnóstico preciso de doenças intestinais em leitões. Através da análise microscópica de tecidos, é possível identificar lesões características de diversas doenças, auxiliando na diferenciação entre condições infecciosas, inflamatórias, neoplásicas e degenerativas.

A escolha do método de coleta de amostra e do exame laboratorial dependerá do agente etiológico suspeito, da fase da doença e dos recursos disponíveis. A correta coleta e o transporte das amostras são essenciais para garantir a qualidade dos resultados.

A interpretação correta dos resultados dos exames laboratoriais é crucial para o diagnóstico preciso e o tratamento adequado da diarreia em leitões. Ela envolve a análise dos dados obtidos, a correlação com os sinais clínicos e a consideração de outros fatores, como a idade dos animais, as condições de manejo e a história epidemiológica do plantel.

Em resumo, o diagnóstico é uma ferramenta essencial no combate à diarreia em leitões de maternidade, uma vez que permite ações direcionadas e eficazes para controlar e prevenir a doença, garantindo a saúde e o bem-estar dos animais.

As referências bibliográficas estão com o autor. Contato: marketing.nutricao@agroceres.com.

O acesso é gratuito e a edição Suínos pode ser lida na íntegra on-line clicando aqui. Tenha uma boa leitura!

Fonte: O Presente Rural com Lucas Avelino Rezende
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Suínos

Especialista evidencia importância de os profissionais da cadeia suinícola entenderem o que é sustentabilidade

Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção.

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Na suinocultura, a sustentabilidade se tornou um dos principais desafios enfrentados pelos profissionais do setor. O médico-veterinário José Francisco Miranda, especialista em Qualidade de Alimentos, destaca que a compreensão desse conceito é fundamental para que zootecnistas e veterinários contribuam efetivamente para a produção sustentável de suínos. “É preciso entender que a sustentabilidade não é custo, mas investimento”, afirma.

Ele ressalta que, ao longo dos últimos 15 anos, a discussão sobre práticas sustentáveis ​​esteve frequentemente atrelada a um aumento nos custos, envolvendo ações como o plantio de árvores e a adequação da dieta dos animais. “Essas práticas eram vistas como um custo, o profissional precisa desmistificar essa visão. Na verdade, boas práticas de produção estão intimamente ligadas a resultados positivos”, explica.

Para Miranda, a eficiência na conversão alimentar é um exemplo claro de como sustentabilidade e produtividade caminham juntas. “Não existe produção com alta conversão alimentar que não seja sustentável. Os números de emissões são baixos quando a eficiência é alta”, ressalta.

Um ponto destacado pelo especialista é o papel dos zootecnistas e nutricionistas na cadeia produtiva. “Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção. E cada vez mais eles terão um papel significativo na implantação da sustentabilidade dentro das empresas”, afirma.

O entendimento das análises de sustentabilidade e das tecnologias disponíveis é essencial. Miranda menciona, como exemplo, o uso de aditivos nutricionais, como a protease, que permite reduzir a quantidade de soja na ração. “Com isso, é possível diminuir a pegada de carbono em até 12%. No entanto, menos de 40% dos produtores no mundo utilizam essa tecnologia, o que revela uma falta de informação e confiança na eficácia desses produtos”, expõe.

Comunicação e conscientização

Para que as informações sobre sustentabilidade sejam disseminadas na suinocultura é fundamental que os profissionais comuniquem os benefícios dessas práticas não apenas entre si, mas também para a alta direção das empresas. “Os profissionais precisam trazer essa informação para a gestão, conscientes de que a sustentabilidade deve ser uma estratégia de crescimento, não apenas uma preocupação financeira”, destaca Miranda.

O especialista também ressalta a importância de uma colaboração entre academia, indústria e governo para facilitar a adoção de novas tecnologias. “Cada parte da cadeia produtiva deve contribuir para acelerar esse processo. É um esforço coletivo que envolve desde a produção até a comercialização”, enfatiza.

Compromisso do setor

Miranda acredita que o setor está comprometido com a adoção de práticas sustentáveis, embora reconheça a necessidade de discussão sobre o que é realmente necessário para essa transição. “As empresas entendem que a sustentabilidade traz benefícios não apenas para o planeta, mas também para sua própria lucratividade, mas é preciso acelerar a implementação destas práticas sustentáveis”, frisa,

Para se destacar neste cenário, Miranda enfatiza que os profissionais devem se aprofundar nas análises de sustentabilidade e na análise do ciclo de vida dos produtos. “Um bom profissional deve entender desde a produção do grão até o produto final que chega ao consumidor. Se ele se restringir a uma única área, pode perder de vista os benefícios que sua atuação pode trazer para toda a cadeia”, salienta.

A visão do especialista reforça que a sustentabilidade na suinocultura não é uma tendência passageira, mas uma necessidade imediata. “A adoção de práticas sustentáveis, aliada ao conhecimento técnico e científico, é fundamental para garantir um futuro mais responsável e eficiente para a indústria suinícola”, afirma.

O acesso é gratuito e a edição Suínos pode ser lida na íntegra on-line clicando aqui. Tenha uma boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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Suínos

Suinocultura teve ano de recuperação, mas cenário é de cautela

Conjuntura foi apresentada ao longo de reunião da Comissão Técnica de Suinocultura da Faep. Encontro também abordou segurança do trabalho em granjas de suínos.

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Foto: Divulgação/Sistema Faep

Depois de dois anos difíceis, a suinocultura paranaense iniciou um período de recuperação em 2024. As perspectivas para o fim deste ano são positivas, mas os primeiros meses de 2025 vão exigir cautela dos produtores rurais, que devem ficar de olho em alguns pontos críticos. O cenário foi apresentado em reunião da Comissão Técnica (CT) de Suinocultura do Sistema Faep, realizada na última terça-feira (19). Os apontamentos foram feitos em palestra proferida por Rafael Ribeiro de Lima Filho, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A mesma conjuntura consta do levantamento de custos de produção do Sistema Faep, que será publicado nos próximos dias.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

O setor começou a se recuperar já em janeiro deste ano, com a retomada dos preços. Até novembro, o preço do suíno vivo no Paraná acumulou aumento de 54,4%, com a valorização se acentuando a partir de março. No atacado, o preço da carcaça especial também seguiu esse movimento. A recomposição ajudou o produtor a se refazer de um período em que a atividade trabalhou no vermelho.

Por outro lado, a valorização da carne suína também serve de alerta. Com o aumento de preços, os produtos da suinocultura perdem competitividade, principalmente em relação à carne de frango, que teve alta bem menor ao longo ano: o preço subiu 7,7%, entre janeiro e novembro. Com isso, a tendência é que o frango possa ganhar a preferência do consumidor, em razão dos preços mais vantajosos.

“Temos que nos atentar com a competitividade da carne suína em relação a outras proteínas. Com seus preços subindo bem menos, o frango se tornou mais competitividade. Isso é um ponto de atenção para a suinocultura, neste cenário”, assinalou Lima Filho.

Exportações

Foto: Claudio Neves

Com 381,6 mil matrizes, o Paraná mantém 18% do rebanho brasileiro de suínos. A produção nacional está em estabilidade nos últimos três anos, mas houve uma mudança no portifólio de exportações paranaenses. Com a recomposição de seus rebanhos, a China reduziu as importações de suínos. O país asiático – que chegou a ser o destino de 40% das vendas externas paranaenses em 2019 – vai fechar 2024 com a aquisição de 17% das exportações de suínos do Paraná.

Em contrapartida, os embarques para as Filipinas aumentaram e já respondem por 18% das vendas externas de carne suína do Estado. Entre os destinos crescentes, também aparece o Chile, como destino de 9% das exportações de produtos da suinocultura paranaense. Nesse cenário, o Paraná deve fechar o ano com um aumento de 9% no volume exportado em relação a 2023, atingindo 978 mil toneladas. Os preços, em compensação, estão 2,3% menores. “Apesar disso, as margens de preço começaram a melhorar no segundo semestre”, observou Lima Filho.

Perspectivas

Diante deste cenário, as perspectivas são positivas para este final de ano. O assessor técnico da CNA destaca fatores positivos, como o recebimento do 13º salário pelos trabalhadores, o período de férias e as festas de final de ano. Segundo Lima Filho, tudo isso provoca o aquecimento da economia e tende a aumentar o consumo de carne suína. “A demanda interna aquecida e as exportações em bons volumes devem manter os preços do suíno vivo e da carne sustentados no final deste ano, mantendo um momento positivo para o produtor”, observou o palestrante.

Para 2025, se espera um tímido crescimento de 1,2% no rebanho de suínos, com produção aumentando em 1,6%. As exportações devem crescer 3%, segundo as projeções. Apesar disso, por questões sazonais, os produtores podem esperar uma redução de consumo nos dois primeiros meses de 2025. “É um período em que as pessoas tendem a ter mais contas para pagar, como alguns impostos. Além disso, a maior concorrência da carne de frango pode impactar a demanda doméstica”, disse Lima Filho.

Além disso, o aumento nos preços registrados neste ano pode estimular o alojamento de suínos em 2025. Com isso, pode haver uma futura pressão nos preços nas granjas e nas indústrias. Ou seja, o produtor deve ficar de olho no possível aumento dos custos de produção, puxado principalmente pelo preço do milho, da mão de obra e da energia elétrica. “O cenário continua positivo para a exportação, mas o cenário para o ano que vem é de cautela. O produtor deve se planejar e traçar suas estratégias para essa conjuntura”, apontou o assessor da CNA.

Segurança do trabalho

Além disso, a reunião da CT de Suinocultura da FAEP também contou com uma palestra sobre segurança do trabalho em granjas de suínos. O engenheiro e segurança do trabalho e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sandro Andrioli Bittencourt, abordou as Normas Regulamentadoras (NRs) que visam prevenir acidentes de trabalho e garantir a segurança e o bem-estar dos trabalhadores.

Entre as normativas detalhadas na apresentação estão a NR-31 (que estabelece as regras de segurança do trabalho no setor agropecuário), a NR-33 (que diz respeito aos espaços confinados, como silos, túneis e moegas) e a NR-35 (que versa sobre trabalho em altura). Em seu catálogo de cursos, o Sistema Faep dispõe de capacitações para cada uma dessas regulamentações.

Fonte: Assessoria Sistema Faep
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