Conectado com

Colunistas Opinião

Resiliência e luta na defesa da agropecuária paulista

Num cenário ainda marcado pela Covid-19 e seus impactos, os produtores rurais enfrentaram a dura crise hídrica, majoração tarifária da energia elétrica, geadas, frio intenso e incêndios provocados pela seca.

Publicado em

em

Divulgação/FAESP

Em 2021, embora tenha registrado uma produção de grãos de quase 255 milhões de toneladas, sustentado o superávit da balança comercial brasileira e as exportações de alimentos, biocombustíveis e commodities, constituindo-se em forte pilar da economia nacional em meio à crise pandêmica, a agropecuária vivenciou um ano de grande dificuldade. O Estado de São Paulo, que representa cerca de 20% do setor no país, foi um dos principais polos de resistência da atividade.

Num cenário ainda marcado pela Covid-19 e seus impactos, os produtores rurais enfrentaram a dura crise hídrica, majoração tarifária da energia elétrica, geadas, frio intenso e incêndios provocados pela seca. Diante de tantos obstáculos, que chegaram a provocar perdas de até 100% em algumas fazendas, é notável sua resiliência, coragem e eficácia para seguir trabalhando e provendo, sem interrupção, as distintas cadeias de valores dependentes da produção do campo. Tal conjuntura também exigiu mobilização firme, incansável e dedicada da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), em múltiplas frentes de defesa setorial.

Uma das vitórias nessa luta refere-se ao atendimento, pelo Governo Federal, do pedido de nossa entidade para estender até 31 de dezembro o prazo para vacinação dos rebanhos bovinos e bubalinos paulistas contra a febre aftosa, dando mais fôlego e tranquilidade aos produtores, ante a dificuldade de compra dos imunizantes. Ainda na cadeia produtiva da pecuária, comemoramos outra medida pela qual batalhamos muito: aprovação, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, da lei que reduz a burocracia para a produção de queijos artesanais, para os quais também pedimos a isenção do ICMS.

A Federação também se posicionou com muita firmeza frente aos ataques internacionais à agropecuária brasileira, a começar pelo embargo chinês à importação da carne, devido a dois casos atípicos isolados de vaca louca, que acometeram animais velhos e não destinados à produção e que, conforme atestou a Organização Mundial da Saúde Animal, não representam qualquer risco. Por isso, solicitamos ao nosso governo a intensificação dos esforços diplomáticos para a reversão da medida.

Repudiamos a forte pressão nos Estados Unidos, marcada pelo projeto de um senador e pelo lobby da National Cattlemen Beef Association (NCBA), pela paralisação das importações da carne brasileira, bem como a absurda proposta da União Europeia de restringir a importação de nossos produtos agropecuários, sob alegação de supostos problemas ambientais em nosso país. Ora, temos uma das mais avançadas legislações ambientais do mundo e produtores rurais exemplares em termos de sustentabilidade e proteção das reservas florestais e de mananciais. Temos demonstrado que, além de injustificáveis, esses ataques podem ser prejudiciais aos próprios países detratores e seus povos, que não podem esquecer algo crucial: o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de exportadores de carne bovina e de aves e o quarto lugar nas vendas mundiais de carne suína.

Em outra frente relevante de defesa da agropecuária, considerando que os recursos do Plano Safra deste ano, embora substantivos, não atendem totalmente à demanda do crédito rural, os impactos das geadas, incêndios e crise hidroenergética e os juros mais elevados, encaminhamos uma série de reivindicações e sugestões ao governo e ao mercado bancário, relativas ao maior acesso dos produtores a linhas facilitadas de financiamento. Às instituições financeiras e cooperativas, pedimos a prorrogação de contratos realizados por parte dos produtores paulistas e que estejam próximos do vencimento e/ou ampliação dos prazos e do parcelamento de pagamento e entrega dos produtos.

Ao Governo Federal, preconizamos linha de crédito de recuperação de cafezais danificados, disponibilizada com recursos do Funcafé, e criação de outra, com prazo de reembolso e condições facilitadas, para viabilizar a recuperação da estrutura produtiva e manutenção das atividades agropecuárias atingidas pelas intempéries. Ao Executivo paulista, reiteramos a necessidade de suplementação da subvenção ao prêmio do seguro rural. O número almejado é de R$ 100 milhões, praticamente o dobro do que obtivemos em 2020.

Também ao governo paulista, solicitamos duas providências contingenciais: prorrogação das parcelas dos financiamentos vigentes com recursos do Fundo de Expansão do Agronegócio, com a transferência de prestações vincendas para um ano após a última prestação prevista em contrato; e criação de linha de crédito emergencial, com verbas do mesmo órgão, para recuperação da estrutura produtiva e manutenção das atividades agropecuárias atingidas pelas geadas.

Estamos trabalhando para ampliar a adesão do produtor rural à Nota Fiscal Eletrônica e a utilização dos créditos do ICMS. Demandamos também aprimoramento na forma de aproveitamento dos créditos e melhorias operacionais no sistema E-credRural, o que certamente será uma conquista importante de nosso setor.

O ano de 2021 foi realmente difícil, mas, em contrapartida, referendou a capacidade de resistência, superação, trabalho e luta do meio rural. São mulheres e homens corajosos, que jamais esmorecem ante as adversidades e obstáculos. Por isso, é sempre muito gratificante a atuação e mobilização permanente de uma entidade de classe dedicada à representatividade e defesa dessa brava gente e do agronegócio.

Fonte: Por Fábio de Salles Meirelles é presidente do Sistema FAESP-SENAR/SP

Colunistas

Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

Publicado em

em

Foto: Claudio Pazetto

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.

O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock

Reposicionar para crescer

Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.

Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.

O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.

Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.

Digital: o novo campo do agro

As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels

compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.

Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.

Promoções e estratégias de varejo

Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.

Marketing como elo da cadeia produtiva

A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.

Fonte: O Presente Rural com Felipe Ceolin
Continue Lendo

Colunistas

Expandir sem desmatar: a lógica econômica que vai muito além do discurso

Recuperar áreas degradadas e investir em produtividade sustentável é hoje o caminho mais rentável e estratégico para o agro brasileiro crescer sem comprometer o meio ambiente.

Publicado em

em

Foto: Juliana Sussai

Dias atrás reli um artigo do pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, Décio Luiz Gazzoni, sobre a expansão agrícola sem desmatamento. O texto, publicado em 2023, ainda é muito atual e me fez refletir novamente sobre algo que sempre defendo: a sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental, é uma decisão econômica inteligente.

Como economista e alguém que acompanha o agro de perto, inclusive viajando para conhecer iniciativas em diferentes países, vejo com muita clareza o que Gazzoni já apontava: a grande fronteira do crescimento brasileiro está dentro das áreas já abertas, principalmente nas pastagens degradadas.

Artigo escrito por Fábio Torquato, economista, formado em Relações Internacionais e fundador da AgroTravel – Foto: Divulgação/AgroTravel

E os números mais recentes reforçam essa visão. Estudos da Embrapa, publicados na revista internacional Land, indicam que o Brasil possui cerca de 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas. Isso significa que temos uma área gigantesca pronta para ser recuperada e incorporada à produção, sem a necessidade de avançar sobre novos biomas.

Além disso, durante a COP29, que aconteceu ano passado em Baku, no Azerbaijão, o Brasil lançou o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que prevê US$ 120 bilhões em investimentos nos próximos dez anos para recuperar 40 milhões de hectares. O número do programa é maior do que o estimado pela Embrapa porque considera áreas em diferentes graus de degradação, aptas para conversão produtiva ao longo dos anos.

Do ponto de vista econômico, é um movimento que faz todo o sentido. Segundo o Broto Notícias, o custo de recuperação de uma pastagem varia de R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare, dependendo do nível de degradação, tipo de solo e métodos adotados. Parece caro? Talvez à primeira vista. Mas quando olhamos para o retorno — aumento de produtividade por hectare, redução de custos operacionais e acesso a mercados premium que pagam mais por produtos rastreáveis e sustentáveis — a conta fecha rapidamente.

Vi isso acontecer em fazendas que visitei em viagens técnicas com a AgroTravel ao redor do mundo.

Como bem lembra Gazzoni, o produtor brasileiro já tem tecnologia e conhecimento para fazer essa virada. O que falta, muitas vezes, é entender que sustentabilidade é investimento, e não custo. E agora, com bilhões de dólares disponíveis em crédito via BNDES, Banco do Brasil e fundos internacionais, esse argumento fica ainda mais forte.

Estamos acompanhando os trabalhos da COP30, que este ano acontece no Brasil, e o mundo inteiro está olhando para nosso país. A oportunidade está escancarada: quem se antecipar, quem enxergar a recuperação de pastagens como um ativo estratégico, vai liderar o agro brasileiro do futuro.

Sempre digo nos grupos que acompanham as viagens da AgroTravel: o futuro do agro não está em abrir novas áreas, mas em transformar cada hectare já aberto em um ativo de alta performance. O artigo de Gazzoni só reforçou o que vejo na prática. E, como economista, reafirmo: essa é a equação mais inteligente que já tivemos nas mãos.

Fonte: Assessoria AgroTravel
Continue Lendo

Colunistas

Meio ambiente e cooperativismo

Movimento econômico e social baseado em valores éticos e solidários, o cooperativismo reafirma, em tempos de COP 30, seu papel essencial na construção de um futuro sustentável, unindo produção, preservação e desenvolvimento coletivo.

Publicado em

em

Foto: Divulgação/Sistema Faep

As cooperativas representam o mais elevado estágio da organização humana em torno de valores éticos, solidários e sustentáveis. Elas não existem apenas para gerar resultados econômicos, mas para promover o desenvolvimento coletivo em harmonia com o meio ambiente e com as comunidades em que atuam. Por essência e por princípios universais, o cooperativismo defende a preservação da natureza, a gestão responsável dos recursos e o equilíbrio entre produção e sustentabilidade. Esse compromisso ambiental não é um apêndice, mas uma convicção enraizada na própria identidade cooperativista.

Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).

Em tempos de COP 30 é essencial lembrar que, nas cooperativas, cada decisão administrativa, cada projeto de ampliação e cada investimento em unidades industriais, agrícolas, logísticas ou administrativas é precedido por uma análise criteriosa dos impactos ambientais. O crescimento não se mede apenas em números, mas também na capacidade de reduzir emissões, otimizar o uso da água, reciclar resíduos e proteger a biodiversidade. É essa consciência prática e constante que diferencia o cooperativismo das demais formas de organização econômica. Ele entende que não há prosperidade possível em um planeta degradado, nem futuro para a economia sem o equilíbrio ambiental.

As cooperativas são parceiras leais do Poder Público na implementação de políticas voltadas ao meio ambiente. Estão sempre presentes em programas de reflorestamento, saneamento básico, manejo de resíduos, recuperação de nascentes e educação ambiental. Mas sua contribuição vai além da sustentabilidade ecológica — elas também participam ativamente de ações que promovem segurança, educação, cultura e mobilidade urbana, compreendendo que a proteção ambiental é inseparável da qualidade de vida e do bem-estar social. Onde há uma cooperativa, há compromisso com o futuro coletivo.

Essas instituições agem com coerência e exemplo, estimulando a cidadania e o senso de responsabilidade em seus empregados, cooperados, clientes e comunidades. Elas ensinam, pelo exemplo, que o progresso verdadeiro não nasce da exploração desenfreada, mas da gestão equilibrada e consciente dos recursos. O cooperativismo forma cidadãos engajados, capazes de compreender que o planeta é uma herança comum e que sua preservação é um dever de todos.

A defesa do meio ambiente é, portanto, um desdobramento natural dos princípios cooperativistas — entre eles, o interesse pela comunidade, a responsabilidade social e a intercooperação. Cada árvore preservada, cada solo recuperado e cada nascente protegida são expressões concretas de uma filosofia que valoriza a vida. As cooperativas não esperam por imposições legais ou incentivos externos para agir: elas o fazem porque acreditam que sua missão é cuidar das pessoas e do mundo em que elas vivem.

O cooperativismo é, por natureza, o caminho da sustentabilidade. Ele demonstra, todos os dias, que é possível crescer produzindo, prosperar preservando e inovar sem destruir. Em tempos de mudanças climáticas e desafios globais, as cooperativas reafirmam sua vocação de construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Elas provam, com ações e resultados, que a economia pode — e deve — caminhar de mãos dadas com o meio ambiente. Essa é a essência do cooperativismo: servir, preservar e transformar.

Fonte: Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).
Continue Lendo

NEWSLETTER

Assine nossa newsletter e recebas as principais notícias em seu email.