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Reposição adequada é fundamental para a sustentabilidade da fazenda
Um bom programa de criação de bezerras e novilhas deve ter por objetivo principal a ‘entrega’ de novilhas parindo em bom estado por volta dos 24 meses

Artigo escrito por Alexandre M. Pedroso, consultor Técnico Nacional em Bovinos Leiteiros da Cargill Nutrição Animal – Nutron
Como sempre digo nesta coluna, a sustentabilidade da fazenda leiteira apoia-se em três pilares: preservação ambiental, responsabilidade social e eficiência econômica. E é importante lembrar: não existe sustentabilidade sem lucratividade. Há inúmeros fatores que afetam a lucratividade da exploração leiteira, e o foco do meu trabalho é o manejo alimentar do rebanho, especialmente das vacas leiteiras. Neste espaço eu tenho abordado outros temas como conforto animal e agrupamento do rebanho, que também são fundamentais para que a fazenda seja eficiente. Nesta edição vou falar sobre a questão da criação das novilhas de reposição, pois isso tem um impacto profundo na lucratividade da fazenda leiteira.
Toda fazenda precisa de boas novilhas para substituírem as vacas que naturalmente saem do rebanho, pelos mais variados motivos – descartes voluntários ou involuntários. Mesmo que a ‘perda’ de vacas no rebanho por doenças ou outros distúrbios seja pequena, a vida produtiva desses animais é limitada, de forma que é imprescindível ter na fazenda um bom programa de criação de bezerras e novilhas para garantir a reposição adequada dessas vacas.
Infelizmente muitas fazendas não dão a devida atenção a essa questão. Ainda há produtores que pensam nas bezerras e novilhas apenas como um item de custo na fazenda, quando, na verdade, deveriam encarar a criação desses animais como um dos investimentos mais importantes para a lucratividade. Via de regra, esse é um dos grandes exemplos de que o barato pode sair muito caro.
Um bom programa de criação de bezerras e novilhas deve ter por objetivo principal a ‘entrega’ de novilhas parindo em bom estado por volta dos 24 meses. Para tal, há algumas metas a cumprir, que são parâmetros fundamentais para garantir a eficiência do processo. A seguir destacarei o que considero parâmetros fundamentais para criar eficientemente as novilhas em uma fazenda leiteira.
Garantir a ingestão de quantidade adequada de colostro de boa qualidade nas primeiras 24 horas de vida da bezerra. É desnecessário falar sobre a importância da colostragem, que é uma das coisas mais básicas da criação de bezerras. A ingestão do colostro é fundamental para que as bezerras recebam a proteção imunológica (anticorpos) que previne a ocorrência de doenças na fase inicial de vida. Como não há transferência de anticorpos da mãe para o feto durante a gestação, as bezerras nascem sem proteção alguma, e dependem totalmente das imunoglobulinas (IgG) que recebem via colostro.
Uma colostragem bem-feita deve garantir a ingestão de pelo menos 150 gramas de IgG nas primeiras 24 horas de vida. A meta é que, 48 horas após o nascimento, as bezerras tenham no mínimo 10 gramas de IgG por litro de soro sanguíneo. Idealmente, as fazendas deveriam avaliar a concentração de IgG no colostro e no sangue das bezerras. Durante muito tempo isso não era simples de fazer, mas atualmente é possível realizar essas avaliações facilmente, utilizando-se um Refratômetro de Brix. Isso ajuda muito a ter certeza de que o processo de colostragem foi bem feito. Além disso, é fundamental cuidar para que o colostro seja fornecido em quantidade adequada rapidamente após o nascimento da bezerra. Nossa recomendação é fornecer o colostro da primeira ordenha o mais breve possível, garantindo a ingestão de 10% a 15% do peso vivo (PV) em colostro – cerca de quatro litros – nas primeiras seis horas de vida.
Outro parâmetro importante, ou meta a ser atingida, é conseguir que aos 90 dias de vida a bezerra apresente pelo menos 17% do peso adulto desejado. Isso significa que se o PV adulto é de 600 quilos, as bezerras deverão pesar pelo menos 102 quilos aos 90 dias de vida. Para tal, é preciso seguir um bom programa de aleitamento e iniciar precocemente o fornecimento de ração inicial. O consumo de alimentos sólidos é restrito nas primeiras semanas de vida, mas é fundamental que sejam introduzidos precocemente para que o desenvolvimento do rúmen seja estimulado o quanto antes.
O objetivo de um bom programa nutricional nessa fase é atingir o consumo de ração inicial (concentrado) de 2 kg/dia para promover a desmama, entre 60 e 90 dias de vida. Obviamente essa ração deve ser de alta qualidade, contendo aditivos específicos que ajudem no desenvolvimento ruminal e na prevenção de doenças. Nos primeiros 90 dias a ocorrência de doenças (morbidade) não deve passar de 10% e a mortalidade de bezerras deve ficar abaixo de 5%.
Após a desmama o foco é atingir o peso adequado para a primeira cobertura, por volta dos 13 a 15 meses de idade. A meta é ter pelo menos 75% das novilhas prenhes aos 15 meses de idade, com, no mínimo, 55% do PV adulto quando tiverem a prenhez confirmada. Considerando os 600 quilos já citados anteriormente, as novilhas prenhes deverão apresentar pelo menos 330 quilos, o que significa ter um ganho médio diário (GMD) em torno de 700 a 800 g/dia, da desmama até a cobertura. Trata-se de um objetivo totalmente possível, mas infelizmente isso ainda é um desafio em muitas fazendas. No entanto, é preciso entender que atingir essa meta é fundamental para garantir a lucratividade da operação leiteira.
Nessa fase é fundamental atender adequadamente aos requerimentos nutricionais das bezerras, oferecendo a elas alimentos de alta qualidade e dietas corretamente formuladas, com atenção especial aos níveis de energia e proteína. Segundo a professora Carla Bittar, do Departamento de Zootecnia da USP/ESALQ, muitos trabalhos de pesquisa mostram efeitos negativos no desenvolvimento da glândula mamária e na produção de leite na primeira lactação quando novilhas apresentam taxas de ganho de peso acima de 800 g/dia. Ajustes nas dietas desses animais, aumentando a relação entre proteína e energia, podem minimizar esse problema. O objetivo é ter novilhas com peso adequado no momento da cobertura, mas que não sejam excessivamente gordas, ou seja, é preciso atenção ao tamanho corporal também – daí a importância de fornecer mais proteína nessa fase.
Com relação ao peso na primeira parição, para que as novilhas tenham um bom desempenho produtivo, a meta é atingir pelo menos 94% do PV adulto imediatamente após o parto, e que isso aconteça até os 24 meses de idade. Isso corresponde a 564 quilos para um PV adulto de 600 quilos. Após a prenhez, o ritmo de crescimento pode ser mais acelerado, com GMD acima dos 900 g/dia. Não há prejuízo ou risco associado a esses ganhos mais elevados. A questão é avaliar a relação entre custo e benefício da operação. Da mesma forma que na fase anterior, para que o desenvolvimento seja adequado é imprescindível oferecer às novilhas alimentos de alta qualidade e dietas corretamente formuladas, que atendam integralmente aos seus requerimentos nutricionais.
A professora Carla Bittar também alerta que os investimentos na nutrição de novilhas devem ser avaliados de forma a manter índices adequados de eficiência produtiva. Quando os animais não são manejados e alimentados adequadamente e apresentam baixas taxas de crescimento, têm suas idades de cobertura e de primeiro parto aumentadas, o que pode encarecer o custo total de produção dessas novilhas, prejudicando a lucratividade da fazenda.
Por outro lado, investir corretamente em nutrição durante a fase pré-púbere pode resultar em redução na idade de primeira cobertura e, consequentemente, de primeiro parto, o que é altamente desejável. No entanto, esse investimento precisa gerar retorno financeiro positivo em um prazo mais curto e, para tal, é fundamental adotar tecnologias corretas, usar alimentos de alta qualidade, formular adequadamente as dietas e fazer um bom acompanhamento do ritmo de crescimento das bezerras e novilhas em cada etapa. Ter um técnico de confiança, que possa fazer as recomendações corretas e acompanhar de perto o programa de criação de novilhas, é fundamental para que esse programa tenha sucesso e possa contribuir decisivamente para a sustentabilidade da fazenda.
É muito importante que produtores de leite e técnicos envolvidos no manejo dos rebanhos leiteiros entendam que a criação de novilhas é um investimento que pode ter retorno em prazo mais longo ou mais curto, de acordo com a qualidade do trabalho feito com esses animais e com o nível de investimento em manejo, qualidade dos alimentos e uso adequado de tecnologias. Esse investimento, via de regra, determina a vida útil desses animais no rebanho e o quanto eles darão de retorno financeiro ao produtor.

Notícias
Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025
Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves
A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.
Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.
Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.
Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves
Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.
Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.
Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.
Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.
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Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
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Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.



