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Renda baixa e desigualdade agravam insegurança alimentar no Brasil

Estagnação salarial e alta dos preços dos alimentos limitam o acesso da população pobre a uma alimentação adequada.

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Os elementos mais relevantes para compreender e mitigar, no curto prazo, o problema da insegurança alimentar no Brasil são os fatores que determinam a demanda por alimentos, renda e preferências dos consumidores, inclusive aquelas derivadas de hábitos e tradições alimentares.

Foto: Marcelo Casal Jr/Agência Brasil

Salários reais estagnados ou em queda, ou seja, refletindo perda do poder de compra dos assalariados, comprometem o acesso à alimentação. Isso é particularmente determinante quando tratamos da população de mais baixa renda e dos grupos mais vulneráveis. O comprometimento é, certamente, maior quando se pensa em uma alimentação adequada do ponto de vista nutricional – com menos produtos ultraprocessados e mais frutas, verduras e legumes, por exemplo.

As famílias mais pobres gastam uma proporção muito maior de sua renda com alimentos do que as famílias de renda mais elevada. Estudo coordenado por Walter Belik, publicado em 2020, mostra que as famílias mais pobres alocam 26% de sua renda mensal em alimentos, enquanto as mais abastadas, somente 5%.

Há vários elementos que corroboram a tese de que a situação atual de insegurança alimentar no Brasil está mais vinculada às questões de renda do que à evolução da produção agrícola ou, mesmo, das exportações agroindustriais. Limitações da renda que se agravam, comprometendo o poder de compra dos trabalhadores, na medida em que os preços dos produtos básicos se elevam.

Momentos de instabilidade econômica, que geram desemprego, inflação, desvalorização cambial, resultam em perda

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

de poder de compra e, portanto, comprometem o acesso aos alimentos. O Brasil, desde 2014, tem passado por instabilidade econômica, refletida em maior ou menor proporção em alguns indicadores que posso destacar.

No primeiro trimestre de 2014, a taxa de desemprego, segundo dados do IBGE (PNAD Contínua), era de 7,2%, seguindo-se um período de elevação, chegando ao primeiro trimestre de 2021 com 14,9%, caindo desde então, alcançando 6,2% no último trimestre de 2024. Esse período de elevação, agravado pela pandemia de covid-19, causou um impacto muito negativo sobre a pobreza e elevou a proporção de pessoas em situação de insegurança alimentar moderada e grave, esta última registrada nos relatórios da Rede PENSSAN de 2021 e 2022. A PNAD Contínua (IBGE) referente ao 4º trimestre de 2023 apontou recuperação no nível de segurança alimentar da população. Movimento concomitante à recuperação que vivenciamos no mercado de trabalho nos últimos dois anos.

O salário mínimo, por sua vez, do início de 2014 a dezembro de 2024, aumentou 95% em termos nominais. Considerada a inflação geral medida pelo INPC, que acumulou 85,8% nesse mesmo intervalo, o aumento do salário real, ou seja, o poder de compra do salário aumentou praticamente 5%.

Contudo, se essa evolução do salário nominal for comparada a um índice da inflação acumulada especificamente para o preço dos alimentos, a exemplo do INPC para alimentos e bebidas, que mostrou alta de 116,7% no mesmo período analisado, constata-se que, de fato, o consumidor de mais baixa renda perdeu poder de compra.

Logo, para a população de menor renda, as condições econômicas de acesso aos alimentos pioraram. Ora, quem não tem renda ou carece de renda suficiente fica limitado em suas escolhas na aquisição de produtos, inclusive dos alimentos, optando por aqueles mais baratos que, muitas vezes, não atendem às necessidades nutricionais das pessoas. Assim, agravam-se os problemas sociais com o aumento de doenças relacionadas a uma alimentação inadequada.

Pobreza e desigualdade de renda são questões estruturais, cuja solução só pode ser alcançada com políticas firmes e estáveis que busquem atingir objetivos de médio e longo prazo, de melhoria da infraestrutura econômica e social no País. Inclusão social, saúde, saneamento básico, educação, aqui valendo explicitar a importância do investimento em formação de capital humano, do apoio ao empreendedorismo, ao desenvolvimento científico e às inovações tecnológicas. Estes são investimentos essenciais para que a sociedade brasileira se torne menos desigual e que a economia nacional se torne mais resiliente perante as instabilidades econômicas e políticas, nacionais e internacionais.

É claro que choques de curto prazo, como a quebra de uma safra devido a eventos climáticos, comprometem a oferta

Foto: Divulgação/Frimesa

de produtos agrícolas alimentícios e causam pressão sobre os preços dos mesmos. Além disso, conflitos em regiões que são importantes fornecedoras de petróleo e insumos impactam os preços dos alimentos, e, portanto, a segurança alimentar da população socialmente mais vulnerável. Igualmente, também geram impactos sobre os preços dos alimentos a instabilidade político-econômica mundial, que contribui para a desvalorização do Real em relação ao dólar e a outras moedas importantes para as contas externas brasileiras.

Fatores históricos e estruturais no Brasil explicam o perfil da população mais vulnerável à insegurança alimentar e sua concentração geográfica em algumas regiões; enquanto a instabilidade econômica, como os desequilíbrios no mercado de trabalho, nos preços da economia (inflação) e nas contas externas explicam os choques sobre os indicadores sociais e de segurança alimentar.

Compreender a raiz dos problemas e reconhecer sua natureza é essencial para que as políticas voltadas à segurança alimentar não percam seu rumo: definir uma direção não somente certeira, mas, sobretudo, utilizando mecanismos que garantam sua permanência e sustentabilidade até que os objetivos estruturais de longo prazo sejam atingidos. Ao se atingir esses objetivos de médio e longo prazo, também estaremos assegurando menos sobressaltos e mais resiliência diante de instabilidades e choques de curto prazo.

Fonte: Artigo escrito por Sílvia Helena Galvão de Miranda, pesquisadora do Cepea

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Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

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Foto: Claudio Pazetto

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.

O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock

Reposicionar para crescer

Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.

Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.

O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.

Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.

Digital: o novo campo do agro

As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels

compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.

Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.

Promoções e estratégias de varejo

Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.

Marketing como elo da cadeia produtiva

A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.

Fonte: O Presente Rural com Felipe Ceolin
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Expandir sem desmatar: a lógica econômica que vai muito além do discurso

Recuperar áreas degradadas e investir em produtividade sustentável é hoje o caminho mais rentável e estratégico para o agro brasileiro crescer sem comprometer o meio ambiente.

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Foto: Juliana Sussai

Dias atrás reli um artigo do pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, Décio Luiz Gazzoni, sobre a expansão agrícola sem desmatamento. O texto, publicado em 2023, ainda é muito atual e me fez refletir novamente sobre algo que sempre defendo: a sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental, é uma decisão econômica inteligente.

Como economista e alguém que acompanha o agro de perto, inclusive viajando para conhecer iniciativas em diferentes países, vejo com muita clareza o que Gazzoni já apontava: a grande fronteira do crescimento brasileiro está dentro das áreas já abertas, principalmente nas pastagens degradadas.

Artigo escrito por Fábio Torquato, economista, formado em Relações Internacionais e fundador da AgroTravel – Foto: Divulgação/AgroTravel

E os números mais recentes reforçam essa visão. Estudos da Embrapa, publicados na revista internacional Land, indicam que o Brasil possui cerca de 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas. Isso significa que temos uma área gigantesca pronta para ser recuperada e incorporada à produção, sem a necessidade de avançar sobre novos biomas.

Além disso, durante a COP29, que aconteceu ano passado em Baku, no Azerbaijão, o Brasil lançou o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que prevê US$ 120 bilhões em investimentos nos próximos dez anos para recuperar 40 milhões de hectares. O número do programa é maior do que o estimado pela Embrapa porque considera áreas em diferentes graus de degradação, aptas para conversão produtiva ao longo dos anos.

Do ponto de vista econômico, é um movimento que faz todo o sentido. Segundo o Broto Notícias, o custo de recuperação de uma pastagem varia de R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare, dependendo do nível de degradação, tipo de solo e métodos adotados. Parece caro? Talvez à primeira vista. Mas quando olhamos para o retorno — aumento de produtividade por hectare, redução de custos operacionais e acesso a mercados premium que pagam mais por produtos rastreáveis e sustentáveis — a conta fecha rapidamente.

Vi isso acontecer em fazendas que visitei em viagens técnicas com a AgroTravel ao redor do mundo.

Como bem lembra Gazzoni, o produtor brasileiro já tem tecnologia e conhecimento para fazer essa virada. O que falta, muitas vezes, é entender que sustentabilidade é investimento, e não custo. E agora, com bilhões de dólares disponíveis em crédito via BNDES, Banco do Brasil e fundos internacionais, esse argumento fica ainda mais forte.

Estamos acompanhando os trabalhos da COP30, que este ano acontece no Brasil, e o mundo inteiro está olhando para nosso país. A oportunidade está escancarada: quem se antecipar, quem enxergar a recuperação de pastagens como um ativo estratégico, vai liderar o agro brasileiro do futuro.

Sempre digo nos grupos que acompanham as viagens da AgroTravel: o futuro do agro não está em abrir novas áreas, mas em transformar cada hectare já aberto em um ativo de alta performance. O artigo de Gazzoni só reforçou o que vejo na prática. E, como economista, reafirmo: essa é a equação mais inteligente que já tivemos nas mãos.

Fonte: Assessoria AgroTravel
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Meio ambiente e cooperativismo

Movimento econômico e social baseado em valores éticos e solidários, o cooperativismo reafirma, em tempos de COP 30, seu papel essencial na construção de um futuro sustentável, unindo produção, preservação e desenvolvimento coletivo.

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Foto: Divulgação/Sistema Faep

As cooperativas representam o mais elevado estágio da organização humana em torno de valores éticos, solidários e sustentáveis. Elas não existem apenas para gerar resultados econômicos, mas para promover o desenvolvimento coletivo em harmonia com o meio ambiente e com as comunidades em que atuam. Por essência e por princípios universais, o cooperativismo defende a preservação da natureza, a gestão responsável dos recursos e o equilíbrio entre produção e sustentabilidade. Esse compromisso ambiental não é um apêndice, mas uma convicção enraizada na própria identidade cooperativista.

Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).

Em tempos de COP 30 é essencial lembrar que, nas cooperativas, cada decisão administrativa, cada projeto de ampliação e cada investimento em unidades industriais, agrícolas, logísticas ou administrativas é precedido por uma análise criteriosa dos impactos ambientais. O crescimento não se mede apenas em números, mas também na capacidade de reduzir emissões, otimizar o uso da água, reciclar resíduos e proteger a biodiversidade. É essa consciência prática e constante que diferencia o cooperativismo das demais formas de organização econômica. Ele entende que não há prosperidade possível em um planeta degradado, nem futuro para a economia sem o equilíbrio ambiental.

As cooperativas são parceiras leais do Poder Público na implementação de políticas voltadas ao meio ambiente. Estão sempre presentes em programas de reflorestamento, saneamento básico, manejo de resíduos, recuperação de nascentes e educação ambiental. Mas sua contribuição vai além da sustentabilidade ecológica — elas também participam ativamente de ações que promovem segurança, educação, cultura e mobilidade urbana, compreendendo que a proteção ambiental é inseparável da qualidade de vida e do bem-estar social. Onde há uma cooperativa, há compromisso com o futuro coletivo.

Essas instituições agem com coerência e exemplo, estimulando a cidadania e o senso de responsabilidade em seus empregados, cooperados, clientes e comunidades. Elas ensinam, pelo exemplo, que o progresso verdadeiro não nasce da exploração desenfreada, mas da gestão equilibrada e consciente dos recursos. O cooperativismo forma cidadãos engajados, capazes de compreender que o planeta é uma herança comum e que sua preservação é um dever de todos.

A defesa do meio ambiente é, portanto, um desdobramento natural dos princípios cooperativistas — entre eles, o interesse pela comunidade, a responsabilidade social e a intercooperação. Cada árvore preservada, cada solo recuperado e cada nascente protegida são expressões concretas de uma filosofia que valoriza a vida. As cooperativas não esperam por imposições legais ou incentivos externos para agir: elas o fazem porque acreditam que sua missão é cuidar das pessoas e do mundo em que elas vivem.

O cooperativismo é, por natureza, o caminho da sustentabilidade. Ele demonstra, todos os dias, que é possível crescer produzindo, prosperar preservando e inovar sem destruir. Em tempos de mudanças climáticas e desafios globais, as cooperativas reafirmam sua vocação de construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Elas provam, com ações e resultados, que a economia pode — e deve — caminhar de mãos dadas com o meio ambiente. Essa é a essência do cooperativismo: servir, preservar e transformar.

Fonte: Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).
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