Bovinos / Grãos / Máquinas
Raça Nelore moldou a pecuária brasileira e agora conquista o mundo
Com 80% do rebanho de corte no país, avanços em genética e rastreabilidade garantem à raça eficiência, sustentabilidade e competitividade ao Brasil no mercado global de carne.

A raça Nelore, na Índia conhecida como Ongole, tem uma história de mais de 3 mil anos e é considerada sagrada no hinduísmo. Chegou ao Brasil em 1868, quando um casal de bovinos desembarcou em Salvador, e se consolidou a partir de 1878, com a importação de outro casal pelo suíço Manoel Ubelhart Lembgruber. Rapidamente disseminada pelo país, a raça teve seu registro genealógico criado em 1938, se tornando a principal da pecuária brasileira. Esse é o ponto de partida de uma história de evolução contínua, que atravessa gerações e molda até hoje a pecuária nacional.
Hoje, o Nelore representa cerca de 80% do rebanho nacional de bovinos de corte, resultado de décadas de aprimoramento genético e fomento contínuo à qualidade. Não é qualquer coisa. O Brasil tem mais de 215 milhões de bovinos. Considerando que cerca de 20% do plantel do país é composto por bovinos de aptidão leiteira, todo o restante é destinado à produção de carne. Tomando como base os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estamos falando em torno de 153 milhões de animais Nelore ou anelorados. Esse protagonismo no campo reflete-se também nos resultados econômicos e zootécnicos.
A força da pecuária brasileira é comprovada em várias áreas. Em termos de produção, são mais de 10 milhões de toneladas de carne por ano. Em exportação, foram 2,89 milhões de toneladas no ano passado, com receita superior a R$ 70 bilhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). De janeiro a julho deste ano, já foram embarcadas 1,78 milhão de toneladas com receita de R$ 49 bilhões.

Nabih Amin El Aouar, diretor de fomento da carne da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), pecuarista e médico cardiologista.
A rastreabilidade é um dos temas mais importantes e recentes. Ela funciona como um “RG” de cada animal, permitindo acompanhar sua trajetória desde a fazenda até a mesa do consumidor. Em dezembro do ano passado, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) lançou o Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (PNIB). O objetivo é rastrear todo o rebanho até 2032.
A iniciativa é vista de forma positiva, pois tem potencial para gerar benefícios diretos à agropecuária brasileira, como o fortalecimento dos programas de saúde animal e do monitoramento, além de agregar benefícios indiretos, especialmente na gestão do rebanho e do negócio, resultando em maior competitividade dos nossos produtos no comércio global.
Além do PNIB, outro aspecto decisivo nessa evolução é o uso crescente da tecnologia. Novos insumos e inovações em diferentes frentes permitem identificar animais com características ideais de produção de carne premium. Essa evolução contribui para a qualidade da carne Nelore e para o fortalecimento da carne brasileira no mundo.
Esse avanço ocorre graças ao melhoramento genético – que tem proporcionado à pecuária brasileira ganhos expressivos de produtividade, como a produção em menor área, com impactos diretos na eficiência, sustentabilidade e rentabilidade do setor. Outros fatores importantes são a nutrição, a sanidade, a gestão e a qualificação da mão de obra. Indiscutivelmente, a soma de conhecimento, manejo e inovação traz benefícios diretos para toda a cadeia: produtores, frigoríficos e consumidores.
Atualmente, estamos somente atrás dos Estados Unidos em produção. No entanto, a tendência é de ultrapassar os EUA, já que a produtividade brasileira cresce ano após ano, enquanto o rebanho norte-americano está em queda.
Nesse cenário, a Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB) tem papel fundamental para o preparo e orientação dos pecuaristas brasileiros para os desafios do mercado. A entidade promove ações para aprimorar a pecuária de corte, como o Circuito Nelore de Qualidade, que avalia e promove a qualidade da carne Nelore – em 2024 foram avaliados mais de 38 mil animais, os Rankings Nelore, Nelore Mocho e Nelore Pelagens e os leilões oficializados pela entidade. Com esses esforços, a ACNB se dedica a trabalhar e divulgar a genética de alta qualidade da raça Nelore, com o objetivo de melhorar ainda mais o rebanho bovino.
Neste ano, firmamos uma parceria com a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), aproximando o Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos para a Produção de Carne (PMGZ Carne) do Circuito Nelore de Qualidade. É um projeto no qual o Circuito abriu portas e criou condições para que a iniciativa da ABCZ pudesse aproveitar toda a mobilização realizada em suas etapas, tendo como objetivo avaliar genomicamente os animais com pais Nelore PO (Puros de Origem) identificados.
Com essas iniciativas, a ACNB segue na linha de frente da modernização da raça Nelore. Por meio de certificações, rankings, eventos, tecnologia e parcerias internacionais, a associação consolida uma trajetória marcada pela qualidade, sustentabilidade e valorização da carne Nelore – assegurando que ela continue conquistando espaço, confiança e sabor nas mesas do Brasil e do mundo.

Bovinos / Grãos / Máquinas
Brasil apresenta na COP30 ações que unem produtividade e redução de metano na pecuária
Iniciativas do Mapa destacam inovação, assistência técnica e parcerias internacionais para ampliar tecnologias sustentáveis e fortalecer a pecuária de baixa emissão.

Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) apresentou, nesta segunda-feira (17), na Blue Zone da COP30, as principais ações brasileiras que associam ganho de produtividade à redução das emissões de metano na pecuária. A agenda reuniu representantes de financiadores como Global Methane Hub e Environmental Defense Fund (EDF), além de organizações multilaterais como a FAO, a Climate and Clean Air Coalition (CCAC) e a Clean Air Task Force (CATF).
O Mapa foi representado por Bruno Brasil, diretor do Departamento de Produção Sustentável, que destacou a integração entre inovação, assistência técnica e práticas sustentáveis para acelerar a transição climática no campo.

Foto: Mapa
Segundo ele, a adoção de tecnologias alinhadas ao Plano ABC+ e a estratégias de intensificação sustentável reforça o papel do Brasil como referência global em pecuária de baixa emissão. “A experiência brasileira demonstra que o ganho de produtividade na pecuária é uma medida efetiva na redução da intensidade de emissões de metano, conciliando sustentabilidade e renda para o produtor rural”, destacou Bruno Brasil.
Durante o encontro foram discutidas possibilidades de financiamento para serviços de ATER digital com foco em ampliar o acesso de produtores a soluções tecnológicas e sustentáveis. As instituições presentes reforçaram a importância de parcerias internacionais para fortalecer iniciativas que apoiam a redução do metano e a adaptação climática na agropecuária.
Bovinos / Grãos / Máquinas Irregularidades sanitárias
Cargueiro barrado na Turquia inicia retorno após dois meses sem desembarque
Retorno deve durar cerca de um mês, com chegada prevista para 14 de dezembro. As condições a bordo têm sido descritas por testemunhas como degradantes, com forte odor, infestação de moscas e carcaças acumuladas no convés, em processo avançado de decomposição.

Cerca de três mil vacas estão há dois meses confinadas em um navio que não obteve autorização para desembarcar sua carga na Turquia, após autoridades identificarem graves irregularidades na documentação sanitária e na identificação dos animais. A inspeção turca constatou que 146 bovinos estavam sem brincos de identificação ou com numeração ilegível, enquanto 469 apresentavam marcas que não correspondiam às listas oficiais de importação, falhas que acenderam o alerta para riscos sanitários, incluindo a possível transmissão de doenças. Também foi reportada a morte de 48 animais durante a viagem.
O cargueiro Spiridon II deixou Montevidéu, Capital do Uruguai, em 20 de setembro, e chegou à região do porto de Bandırma em 22 de outubro. Desde então, não recebeu permissão para desembarcar as vacas, destinadas à produção de leite. Após semanas ancorado, o navio deixou Bandırma na última sexta-feira (14), cruzou o Estreito de Çanakkale e agora navega de volta rumo ao Uruguai. Segundo dados da plataforma MarineTraffic, o retorno deve durar cerca de um mês, com chegada prevista para 14 de dezembro.

Fotos: Reprodução
Odor forte e infestação de moscas
As condições a bordo têm sido descritas por testemunhas como degradantes, com forte odor, infestação de moscas e carcaças acumuladas no convés, em processo avançado de decomposição. Além das mortes registradas, a organização Animal Welfare Foundation (AWF) relatou, com base em informações obtidas localmente, o nascimento de cerca de 140 bezerros durante a travessia.
Retorno a Uruguai
A especialista em bem-estar animal Maria Boada, da AWF, alertou que muitos dos bovinos não devem resistir a uma segunda viagem de um mês até Montevidéu e que o navio aparenta ter estoque insuficiente de alimento. Ela também afirmou ser provável que os animais mortos tenham sido descartados no mar.

Foto: Reprodução
A veterinária australiana Lynn Simpson, referência internacional em transporte marítimo de animais, lançou novos alertas ao relatar vazamento de fluidos provenientes de carcaças em decomposição no convés, destacando riscos ao bem-estar animal, à saúde pública e à segurança ambiental.
Esta não é uma situação isolada envolvendo a exportação de animais vivos. Ao redor do mundo, casos como esse se repetem, cada vez com maior frequência, devido à péssima condição dos chamados navios boiadeiros. A exportação de animais vivos é uma das atividades de maior impacto negativo da pecuária, as más condições de higiene e bem-estar nos navios causam intenso sofrimento animal e oferecem riscos à saúde pública e ao meio ambiente.
Outros casos
Em 2024, o navio transportador de animais vivos Al Kuwait atracou no porto da Cidade do Cabo para carregar ração. A chegada do curral flutuante poluiu o ar da capital legislativa da África do Sul e seu cartão-postal mais característico com o cheiro fétido de esterco de 19.000 touros embarcados no Brasil para serem enviados ao Iraque. O episódio foi exposto pela National Council of Societies for the Prevention of Cruelty to Animals (NSPCA).
A equipe da NSPCA que embarcou no navio descreveu o que testemunhou como abominável. Além de animais mortos, outros animais feridos e doentes foram encontrados a bordo, alguns dos quais tiveram que ser sacrificados. Havia escassez de medicamentos necessários para lidar com os problemas de saúde animal encontrados, entre eles um surto de conjuntivite bovina. Tampouco havia assistência médica suficiente: apenas dois veterinários, auxiliados por quatro tratadores, acompanhavam os 19.000 touros.
Em 2019, o Queen Hind naufragou no Porto de Midia na Romênia, pouco após zarpar carregado com milhares de ovinos vivos. Em 2022, o Al Badri 1, também carregado, adernou e afundou em um berço de atracação do porto de Suakin, no Sudão. O navio que afundou no porto romeno, o Queen Hind, esteve no Brasil apenas alguns meses antes do acidente. Investigações subsequentes indicaram diversas irregularidades, inclusive a existência de compartimentos de carga ocultos. Tanto o Haidar quanto o Queen Hind e o Al Badri 1 eram navios convertidos.
Em 2018, uma operação de exportação de bovinos vivos causou intensa poluição do ar na cidade de Santos-SP, em decorrência do acúmulo de fezes e urina dos animais na embarcação, o navio de bandeira panamenha MV Nada. Os 27 mil bois pertenciam à Minerva e tinham por destino a Turquia. A empresa foi multada pela prefeitura municipal por infração ambiental e maus tratos animais.
Em 2015, na cidade de Barcarena (PA), o navio Haidar, com quase 5 mil bois vivos, 28 tripulantes a bordo e 700 toneladas de óleo, naufragou no Porto de Vila do Conde. A decomposição dos corpos dos animais mortos e o vazamento de óleo do navio provocaram um dos piores desastres ambientais da história do estado. As carcaças e o óleo que vazou do Haidar deixaram um rastro de contaminação que alcançou a cidade de Belém, cerca de 60 km rio abaixo.
Em 2012, 2.750 bois morreram asfixiados a bordo do navio de bandeira panamenha MV Gracia Del Mar, em decorrência de uma pane no sistema de ventilação durante a viagem. Os animais, fornecidos pela Minerva, foram embarcados no porto de Vila do Conde, em Barcarena-PA, e tinham por destino o Egito.
No Porto de São Sebastião, o terceiro do país que mais exporta animais vivos, a população relata como fica a cidade nos dias de operação: o trânsito fica congestionado pelo grande fluxo de caminhões; o mau cheiro das fezes e da urina dos animais empesteia o ar e prejudica o turismo na região. Este cenário foi retratado no documentário “Elias: O Boi que Aprendeu a Nadar”, da Mercy For Animals.
Bovinos / Grãos / Máquinas
Casos de raiva no Paraná exigem cuidados redobrados nas propriedades
Crescimento dos focos da doença mobiliza autoridades, Sistema Faep e produtores na vacinação obrigatória, reforço da vigilância e ações de educação sanitária em diversas regiões.

O Paraná tem registrado casos de raiva herbívora em rebanhos de animais de produção, o que acende o alerta para a necessidade de ações de controle da zoonose (doença infecciosa transmitida entre animais e seres humanos).
Por isso, as autoridades sanitárias, com apoio do Sistema Faep e produtores rurais, têm promovido uma série de medidas de controle, como vacinação obrigatória, reforço na vigilância e campanhas de educação. “Nas últimas décadas, o Sistema Faep investiu, de forma sistemática, na sanidade animal e na segurança das atividades agropecuárias. Agora, nas ações contra a raiva, não é diferente. Temos colaborado ativamente nas campanhas de disseminação de informações e de conscientização. É preciso ampliar a importância do controle dessa doença e garantir a proteção dos nossos rebanhos comerciais”, enfatiza o presidente interino do Sistema Faep, Ágide Eduardo Meneguette.

Foto: Licia Rubinstein
A presença da raiva no Paraná é recorrente, o que exige atenção constante dos produtores. Porém, há uma região que concentra boa parte dos casos. Em 2024, o Estado confirmou 227 focos de raiva, sendo mais da metade em propriedades localizadas na área de abrangência das regionais de Cascavel e Laranjeiras do Sul. A situação se repete em 2025. Até setembro, já foram contabilizados 166 focos em 41 municípios, sendo 81 na região Oeste.
De acordo com chefe do Departamento de Saúde Animal da Agência Estadual de Defesa Agropecuária (Adapar), Rafael Gonçalves Dias, esse número elevado motivou a publicação da Portaria 368/2025, que torna obrigatória a vacinação contra raiva em 30 municípios da região Oeste do Paraná (veja a lista mais abaixo) para bovinos, búfalos, cavalos, asnos, mulas, ovinos e caprinos a partir de três meses de idade. “Simultaneamente, intensificamos a mobilização com o projeto ‘Adapar Educa a Campo’, que tem percorrido municípios da região para fortalecer a conscientização e engajamento local. Essas ações visam a contenção de focos ativos e a prevenção em áreas vizinhas para evitar a expansão da doença”, detalha Dias.
Em outubro, o órgão e o Sistema Faep realizaram reuniões e encontros em propriedades rurais, assentamentos e prefeituras, com um público estimado em 1,1 mil pessoas. Além disso, a campanha teve divulgação nos veículos de comunicação do Oeste. “O Sistema Faep apoiou diretamente essa ação. Esse projeto-piloto, cuja proposta é expandir para outras áreas da defesa agropecuária, promoveu a integração entre a agência e a sociedade por meio da educação sanitária”, explica Nicolle Wilsek, técnica do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP.
Confira os municípios onde a vacinação é obrigatória
- Boa Vista da Aparecida
- Braganey
- Campo Bonito
- Capanema
- Capitão Leônidas Marques
- Cascavel
- Catanduvas
- Céu Azul
- Diamante d’Oeste
- Foz do Iguaçu
- Guaraniaçu
- Ibema
- Itaipulândia
- Lindoeste
- Matelândia
- Medianeira
- Missal
- Planalto
- Pérola d’Oeste
- Quedas do Iguaçu
- Ramilândia
- Realeza
- Rio Bonito do Iguaçu
- Santa Lúcia
- Santa Tereza do Oeste
- Santa Terezinha de Itaipu
- São Miguel do Iguaçu
- Serranópolis do Iguaçu
- Três Barras do Paraná
- Vera Cruz do Oeste
Saiba como identificar casos de raiva

Foto: Fabiano Bastos
A raiva em herbívoros é transmitida, entre outras formas, por morcegos hematófagos (que se alimentam de sangue de animais). Entre os sintomas da doença estão o isolamento do animal, apatia ou agitação, perda de apetite, salivação intensa e dificuldade para engolir, fezes secas e escuras, e progressiva paralisia dos membros. “Diante desses sinais clínicos, a doença é praticamente irreversível e fatal para os animais acometidos”, alerta Rafael Gonçalves Dias, chefe do Departamento de Saúde Animal da Adapar.
Se um produtor suspeitar de raiva em algum animal do rebanho, a orientação é: isolar o animal suspeito, notificar imediatamente à Adapar e não mexer ou manipular o animal sem proteção. “É importante que quando o animal morrer, o produtor solicite a visita da Adapar para coletar uma amostra. Além disso, ações importantes são reforçar a vacinação no entorno da propriedade, identificar possíveis abrigos de morcegos e monitorar os demais animais da propriedade”, orienta Dias.
Outros cuidados
O chefe do Departamento de Saúde Animal da Adapar enfatiza que, mesmo em municípios onde a vacinação não é obrigatória, o ato de imunizar o rebanho previne que animais suscetíveis sejam infectados caso o vírus chegue até aquela área. “Mesmo sem obrigatoriedade legal, vacinar ajuda a formar uma ‘cobertura imunológica’, que reduz o risco de propagação desde as áreas de foco. Vacinar antecipadamente constitui uma medida preventiva responsável e vantajosa, independentemente de obrigatoriedade legal”, reforça.
Segundo Nicolle Wilsek, técnica do Sistema FAEP, há medidas complementares que ajudam na prevenção da raiva e de outras doenças que podem afetar os rebanhos. “É preciso seguir boas práticas sanitárias, como manter o registro detalhado de vacinações, investir em capacitação contínua, incluir cláusulas de sanidade em transações de animais e promover a conscientização de cuidados pessoais no manejo”, destaca.



