Bovinos / Grãos / Máquinas A cada 3 bovinos que nascem um é Angus
Raça Angus conquista cada vez mais espaço no rebanho brasileiro
Reconhecida pelo alto padrão de qualidade da carne que produz, a raça ganhou notoriedade por oferecer gordura entremeada na carne, que garante maciez, sabor diferenciado e suculência. Esse diferencial no produto é resultado de um minucioso trabalho de melhoramento genético do rebanho alinhado a um padrão de acabamento – o que dá origem a carcaças uniformes e com alto índice de marmoreio.
Com tradição na criação de gado de corte, o Brasil abriga um rebanho com diferentes raças que se adaptaram ao clima tropical do país, entre elas a raça Angus, que tem conquistado cada vez mais o paladar dos brasileiros, despertando o interesse de pecuaristas, atentos ao exigente mercado consumidor, pela grande capacidade de produção de carne desses animais.
Considerada uma das raças mais nobres criadas em território nacional, estima-se que a cada três bovinos que nascem um é Angus, de acordo com a Associação Brasileira de Angus. “Talvez esse dado já esteja mudando para 1,5. Essa é a raça que mais vende sêmen no cruzamento industrial, então a criação está crescendo bastante, por isso que nós precisamos buscar cada vez mais melhores resultados, porque o Angus tem um potencial extraordinário e um mercado cada vez mais exigente”, exalta o pecuarista, empresário e atual presidente da Associação Brasileira de Angus, Nivaldo Dzyekanski, em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural.
Reconhecida pelo alto padrão de qualidade da carne que produz, a raça ganhou notoriedade por oferecer gordura entremeada na carne, que garante maciez, sabor diferenciado e suculência. Esse diferencial no produto é resultado de um minucioso trabalho de melhoramento genético do rebanho alinhado a um padrão de acabamento – o que dá origem a carcaças uniformes e com alto índice de marmoreio.
“Temos uma preocupação constante com o melhoramento genético da raça, porque precisamos prever lá na frente o que o mercado quer; porque o mercado é crescente, mas também é cada vez mais exigente. E o Angus hoje não é apenas uma raça bovina, é uma marca que o consumidor espera sempre ser surpreendido. E é isso que nós buscamos dentro do nosso plantel, animais que superem a expectativa do consumidor no marmoreio, na maciez e na suculência da carne”, evidencia Dzyekanski.
Melhoramento genético
Alinhado ao Promebo (Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne) desenvolvido em conjunto com a Associação Nacional de Criadores “Herd-Book Collares” (ANC), entidade onde também é feito o registro genealógico da raça no Brasil, a Angus dispõe há dois anos de uma plataforma digital de seleção genômica para os pecuaristas fazerem as solicitações dos exames de genotipagem do seu rebanho. O sistema pode ser utilizado por pecuaristas associados como por não-sócios.
Funciona assim: o criador realiza seu cadastro no link https://app.sifatweb.com.br/angus, onde vai colocar informações sobre os reprodutores, o tipo de teste e escolher o laboratório credenciado para fazer a análise. Após, realiza a coleta das amostras de pelo identificando com o número de registro e a tatuagem do reprodutor, em seguida envia para a associação através dos Correios, a Angus codifica o material e encaminha ao laboratório para fazer o exame de genotipagem.
Através deste software, a Angus está criando um banco nacional de genótipos da raça. Até o momento já foram solicitados 1.396 testes pela plataforma, deste total 585 somente em 2022. “Esse sistema veio para auxiliar os criadores a ter acesso a indicativos que permitam ganhos cada vez mais consistentes em suas propriedades”, destaca Dzyekanski.
Os resultados dos testes de genotipagem são enviados à ANC para incluir no Promebo, que fará o cálculo das predições genéticas – DEPs enriquecidas -, após os resultados ficam disponíveis no Promebo para acesso dos criadores. Em caso de os pecuaristas solicitarem o exame de homozigose, poderão consultar o resultado apenas pela plataforma da Angus.
“Com a análise genômica conseguimos identificar se um bezerro novo, que ainda não tem filhos, que tipo de filhos irá produzir, isso é espetacular, porque já faz uma pré-seleção. Então você multiplica aqueles que realmente têm potencial reprodutivo”, enfatiza o presidente da Angus.
Desenvolvimento da raça
Com a Embrapa Clima Temperado, a Angus firmou em setembro do ano passado uma parceria técnica de investimento genético à pesquisa agropecuária, através do repasse de um plantel de 150 vacas para formação de uma população de referência. Todo o rebanho utilizado para o desenvolvimento das pesquisas foi avaliado e registrado no Promebo, programa oficial da raça Angus, para que tenha aplicação direta na pecuária em terras baixas, típicas da região Sul do Brasil, onde há maior concentração de Angus por conta das condições climáticas com temperaturas mais amenas, mas também gerando dados para todos os interessados na criação de animais desta raça espalhados por outras regiões do país.
Através desta parceria técnica vai ser possível viabilizar a validação de protocolos sanitários de prevenção da Tristeza Parasitária Bovina (TPB), acesso a métodos para controle de carrapato, avaliação de desempenho da progênie de touros jovens, avaliação de desempenho qualitativo e quantitativo da carne Angus e a realização de pesquisas interdisciplinares em sistemas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP), ajustados às demandas da atividade agropecuária no Sul do Brasil.
Avanços da raça são mensurados no Promebo
Para realizar o melhoramento genético do rebanho, os criadores associados da Associação Brasileira de Angus participam do programa Promebo, onde são avaliadas características genéticas herdáveis dos animais e de importância econômica como peso ao nascer, ganho de peso ao desmame, ganho de peso da desmama ao sobreano, ganho de peso do nascimento ao sobreano, habilidade materna, conformação de carcaça, precocidade de acabamento, musculatura, tamanho, escores para prepúcio/umbigo, caracterização racial, pelame, pigmentação ocular ou da pálpebra, perímetro escrotal, área de olho de lombo, espessura de gordura subcutânea, espessura de gordura subcutânea medida na picanha, gordura intramuscular e resistência ao carrapato.
Para obter a Diferença Esperada na Progênie (DEP) são realizadas avaliações dos rebanhos conectados à uma base única das raças registradas e controladas pela ANC, onde são comparados os dados entre todos os animais presentes na análise, como touros pais, ventres e aqueles ainda sem progênie.
A partir da avaliação genética, o pecuarista consegue selecionar o touro reprodutor, saber as melhores novilhas para reposição, melhores touros em utilização e as vacas de melhor eficiência reprodutiva e maior capacidade em desmamar terneiros pesados.
Para o criador participar do programa é necessário que tenha balança de precisão na propriedade e o rebanho seja de animais identificados, com controle de nascimentos, pais conhecidos e avaliações em momentos estratégicos (desmame e pós-desmame).
O presidente da Angus menciona que o Promebo é um programa de referência com todas as informações dos animais registrados, o que denota maior segurança e credibilidade na compra de Angus em território nacional. “Através deste programa, o pecuarista ao comprar um reprodutor o fará não mais olhando visualmente o animal, mas por meio de dados sobre o seu desempenho, é como se ele tivesse em mãos um raio X daquele animal, o que facilita e direciona a raça para o desenvolvimento que o mercado deseja”, salienta Dzyekanski.
Outro teste que integra o Promebo é a Prova de Eficiência Alimentar Angus, onde são analisados o Consumo Alimentar Residual (CAR), o Ganho de Peso Residual (GPR), o Consumo e Ganho de Peso Residual (CGPR), além de características de carcaça como Área de Olho de Lombo (AOL), Espessura de Gordura Subcutânea na Picanha (EGP), Espessura de Gordura Subcutânea de Costela (EGS), Percentagem de Gordura Intramuscular (GIM) e perímetro escrotal (PE). A duração média que os animais ficam confinados é de 95 dias.
Estados produtores de Angus
De origem europeia, o Angus tem fácil adaptação nas regiões Sul, como nos Estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, mas também há criações em Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais e na Bahia. “Isso prova que o trabalho de melhoramento genético que estamos desenvolvendo está avançando. Hoje temos em torno de 15 mil produtores de Angus criadores de genética, animais puros (PO) e de cruzamento industrial no Brasil. E todos os Estados brasileiros utilizam sangue Angus no melhoramento genético”, menciona o presidente da Angus.
Carne certificada
O alto padrão de qualidade da carne é reflexo das ações realizadas pelo Programa Carne Angus Certificada, criado em 2003. De acordo com Dzyekanski, é realizado todo um trabalho dentro da indústria frigorífica de certificação da carne, com avaliação fenotípica do animal e de carcaça, que segue um rigoroso protocolo aprovado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e auditado pela empresa alemã TÜV Rheinland.
Segundo Dzyekanski, a carne Angus brasileira é reconhecida como uma das melhores do mundo, tendo nos últimos anos cortes produzidos no país reconhecidos em importantes eventos internacionais de qualidade, como do Instituto Internacional de Sabor e Qualidade e do Desafio Mundial do Bife, o que chamou atenção do mercado externo. Atualmente, a Angus exporta para países de cinco continentes.
Com 19 anos de existência, o Programa Carne Angus Certificada busca identificar dentro dos planteis aqueles indivíduos que mais evidenciam as principais características intrínsecas da raça – que é a maciez, a suculência, a gordura marmoreio e a gordura entremeada ao músculo, para que sejam multiplicados. “A cada ano estamos buscando novos parâmetros para identificar os indivíduos do rebanho que ofereçam mais essas características”, frisa Dzyekanski, ressaltando que o valor arrecadado pela certificação da carne Angus é investido em melhoramento da raça, para que os consumidores tenham sempre um produto de melhor qualidade.
Características
Entre as características da raça Angus, se destacam sua precocidade, uma vez que atinge mais cedo a puberdade nas mesmas condições alimentares de outras raças, o que encurta seu ciclo de desenvolvimento e oferece retorno mais rápido ao pecuarista; a sua habilidade materna, fertilidade e longevidade conferem à criação alta rentabilidade, tanto pelo número de bezerros nascidos, quanto pela quantidade de quilos de cada animal.
De acordo com a Angus, um touro criado em cobertura de campo reproduz, em média, 150 descendentes de genética melhoradora no plantel durante sua vida útil (4 a 5 anos). Somado a isso a rusticidade do Angus faz com que se adapte a diferentes situações climáticas e a vegetação, característica que permite a criação de rebanhos em diferentes regiões no Brasil.
Termotolerância
Com o crescimento cada vez maior da raça no país, a Angus firmou uma parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) para avaliar os efeitos das altas temperaturas em novilhas da raça Angus de diferentes pelos e pelames (comprimento do pelo). O pontapé inicial do projeto piloto foi dado em janeiro deste ano na Fazenda da Barragem, em Dom Pedrito, RS, onde 50 fêmeas com diferentes pelames – 25 pretas e 25 vermelhas – participaram dos testes, que têm como objetivo selecionar exemplares mais termotolerantes, ou seja, que têm melhor desempenho quando submetidos a temperaturas mais elevadas como das regiões Centro-Oeste, Norte e Sudeste.
Durante dez dias, o projeto mensurou a temperatura interna e externa dos animais, a taxa de ofegação, além de características comportamentais como ruminação, cio e alimentação, a fim de avaliar nas fêmeas os efeitos do estresse térmico, determinado pelo Índice de Temperatura e Umidade (THI). Para isso, as novilhas foram divididas em dois grupos conforme a cor do pelo (pretas e vermelhas) e, na sequência, segregadas de acordo com o escore de pelame (1, 2 e 3 – sendo o 1 com menos e o 3 com mais pelame). A temperatura interna dos animais foi medida automaticamente durante o período pela inserção de um termômetro vaginal que afere a temperatura a cada meia hora. A temperatura externa foi avaliada por termografia infravermelha em momentos específicos. “Tudo isso é uma evolução genética justamente para avançarmos as fronteiras do Brasil, para que o touro Angus possa cobrir vacas a campo em qualquer lugar do país”, salienta Dzyekanski.
De acordo com o professor e médico-veterinário Rafael Mondadori, que coordena o projeto inovador, após as análises do experimento espera-se que os animais vermelhos e os de pelame mais lisa suportem melhor o estresse térmico. A iniciativa é objeto de estudo da mestranda do Programa de Pós-Graduação em Veterinária da UFPel, Caroline Oliveira Farias, e de outras duas alunas.
Futuramente, o objetivo da Angus é que, em alguns anos, seja possível predizer os animais mais termotolerantes sem a necessidade de submetê-los a testes por meio da genômica, contudo, esse experimento contribuirá para formar uma população de referência para essa característica de difícil mensuração, gerando mais uma DEP para mensurar na adaptação da raça Angus no Brasil para produção em climas tropicais.
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Bovinos / Grãos / Máquinas
Mercado de cria e recria sinaliza recuperação em 2025 com retenção de fêmeas e reação nos preços
A produção formal de carne bovina no Brasil deve crescer cerca de 15% neste ano, ultrapassando 10 milhões de toneladas em equivalente carcaça.
Apesar de 2024 estar sendo marcado por elevados abates no Brasil, começa a surgir um sinal de mudança com a redução na intensidade dos descartes de fêmeas. Contudo, o preço do bezerro, principal indicador de uma possível virada no ciclo, continua desvalorizado.
A expectativa é que o mercado de cria possa reagir em 2025, após três anos consecutivos de aumento nos abates de fêmeas. Com a contração na produção de crias, os preços do bezerro devem iniciar um processo de recuperação, o que pode fortalecer a retenção de fêmeas e, consequentemente, reduzir o excesso de gado disponível para abate.
Esse cenário de 2024 e 2025 apresenta semelhanças com os períodos de 2014/2015 e 2019/2020, quando a retenção de fêmeas começou e ganhou força. “Nos dois biênios, o preço do bezerro subiu 41% e 56% em termos reais, respectivamente, ao longo dos dois anos. Entretanto, até julho de 2024, o bezerro acumulou uma queda de 14%. No entanto, em ciclos anteriores, antes de uma disparada nos preços do bezerro, houve uma fase de estabilidade nos valores”, relembra o gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, Cesar de Castro Alves.
Historicamente, o preço do boi gordo tende a seguir o movimento do bezerro, o que sugere que o animal terminado não ficará para trás quando o processo de recuperação do bezerro começar.
No que diz respeito à demanda, as exportações têm sido robustas, alcançando recordes e ajudando a escoar a crescente produção. Mesmo com esses embarques consistentes, espera-se uma elevação significativa no consumo interno de carne bovina em 2024. “Esse aumento será impulsionado pela maior oferta, que deverá resultar em preços mais acessíveis para o consumidor final”, expõe Alves.
De acordo com o especialista de mercado, a produção formal de carne bovina no Brasil deve crescer cerca de 15% neste ano, ultrapassando 10 milhões de toneladas em equivalente carcaça. As exportações, por sua vez, devem aumentar em 20%, atingindo 3,4 milhões de toneladas equivalentes carcaça. “Apesar desse forte desempenho no mercado externo, a oferta interna também vai expandir, com um crescimento estimado de 13%, elevando o consumo per capita de carne bovina para 32 kg/habitante, igualando o recorde histórico de 2013”, ressalta Alves.
Momento é de reposição do rebanho
Após anos difíceis, com pressão sobre os preços pecuários e margens reduzidas para os produtores, o cenário começa a apresentar sinais de melhora.
Com a expectativa de uma recuperação no mercado de cria, a estratégia de reter fêmeas se torna cada vez mais atrativa. “Essa retenção visa aproveitar a futura valorização do bezerro, que, uma vez em alta, tende a seguir um ciclo prolongado de crescimento, como observado em ciclos anteriores”, aponta Alves.
Para os segmentos de recria e engorda, o momento é propício, pois o preço do bezerro ainda está em patamares baixos. Conforme Alves, a aquisição dessas arrobas de entrada deve contribuir positivamente para as margens, uma vez que os preços estão projetados para se recuperarem gradualmente.
No segundo semestre de 2024, Alves diz que a expectativa de crescimento no volume de gado confinado em relação ao ano anterior, impulsionado por boas margens, decorrentes dos baixos custos da ração e do boi magro, além das oportunidades favoráveis de fixação de preços no mercado futuro.
Para os confinamentos, o uso de hedge para o gado terminado é essencial quando o resultado projetado é positivo. “Isso se deve ao ciclo rápido de produção, que não permite ao produtor aguardar por melhores condições de mercado quando o animal está pronto para o abate”, salienta.
De acordo com o profissional, os anos anteriores demonstraram que, mesmo durante a entressafra, os preços do boi gordo podem sofrer quedas bruscas, comprometendo os resultados planejados. “Seja por fatores externos, como embargos, ou simplesmente por uma oferta confortável, o investimento em proteção se mostra essencial para mitigar riscos e garantir a rentabilidade do pecuarista”, evidencia.
Margens dos frigoríficos
Para a indústria, Alves afirma que o cenário deve seguir favorável, apoiado nos preços mais retraídos do boi em relação aos da carne, embora o spread no mercado doméstico, que tem se mostrado muito positivo neste ano, possa acomodar um pouco dos patamares atuais.
As exportações devem continuar apresentando resultados favoráveis, impulsionadas pelo boi barato em dólares, mesmo diante da queda nos preços da carne na China e da desvalorização cambial no país asiático, que têm limitado uma recuperação nos valores de embarque.
Embora a China permaneça como principal destino das exportações, absorvendo cerca de metade do volume total, outros mercados como Emirados Árabes, Estados Unidos e Chile, têm mostrado um crescimento robusto, com margens mais atrativas do que as obtidas nas vendas para o mercado chinês.
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Bovinos / Grãos / Máquinas
Trigo tem balanço global apertado, mas competição com milho limita alta de preços
A La Niña promete impulsionar a produtividade da cultura, garantindo que a produção atinja a segunda melhor marca histórica, mesmo com uma redução na área plantada.
Apesar de um balanço global apertado para o trigo, a competição com o cenário mais favorável do milho está colocando um teto nas cotações internacionais do cereal. No Brasil, a La Niña promete impulsionar a produtividade da cultura, garantindo que a produção atinja a segunda melhor marca histórica, mesmo com uma redução na área plantada. O câmbio fraco também deve contribuir para elevar o piso dos preços internos no momento da colheita, oferecendo suporte adicional para o mercado local. Com esses fatores em jogo, os preços do trigo tendem a seguir uma trajetória positiva, refletindo as dinâmicas globais e as condições específicas do país.
Balanço entre oferta e demanda
De acordo com o analista de Commodities Agrícolas da Consultoria Agro do Itaú BBA, Fernando Gomes, os problemas climáticos no Leste europeu têm prejudicado a produtividade das lavouras de trigo na Ucrânia e na Rússia, que juntas representam cerca de 30% das exportações globais, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). “Para a safra 2024/25, o balanço global de oferta e demanda deve ser o mais apertado das últimas dez safras”, aponta Gomes.
Apesar da produção recorde estimada em 796 milhões de toneladas – 0,9% acima da safra anterior -, o consumo também é esperado para atingir 794 milhões de toneladas, apenas 0,4% abaixo do ano anterior, marcando a segunda maior demanda da história. “Esse cenário de consumo firme, aliado à redução dos estoques, vai resultar na quinta queda consecutiva na relação estoque/consumo, projetada para alcançar 32,2%, o pior nível desde 2014/15”, expõe o analista.
Mesmo com o aperto global entre oferta e demanda, o trigo enfrenta pressão de preços devido à substituição potencial por milho, que também é utilizado na produção de ração. “A oferta ampliada de milho está mantendo os preços do trigo para baixo, limitando o teto de mercado do cereal”, salienta Gomes, enfatizando que ajustes na disponibilidade de milho, especialmente em função de condições climáticas adversas na região do Mar Negro, podem impactar os preços tanto do trigo quanto do milho.
Além disso, a Rússia deve pressionar os preços globais, oferecendo descontos na região. “A janela de exportação russa é limitada, necessitando de grandes volumes perenes para evitar o aumento dos estoques. Essa necessidade de vender a preços mais baixos também contribui para a pressão sobre as cotações, independentemente dos fundamentos do balanço global”, menciona o profissional.
Por sua vez, o balanço dos Estados Unidos, onde está a principal bolsa que precifica o cereal globalmente, está indo na direção oposta ao balanço global, competindo com a oferta russa e aumentando a percepção de disponibilidade. “O aumento da área plantada e a recuperação das lavouras, mesmo em condições climáticas adversas, elevam a disponibilidade do cereal americano”, afirma o analista.
De acordo com o USDA, a safra americana de trigo 2024/25 está projetada para atingir 54,7 milhões de toneladas, marcando um aumento de 10,8% em relação ao ano anterior. “Este crescimento representa a colheita mais avançada das últimas safras”, relata Gomes, afirmando que o aumento da oferta traz conforto ao balanço, tornando-o mais folgado desde 2020/21, com a relação ao estoque/consumo, alcançando 75,5%.
Na Argentina, principal fornecedor de trigo para o Brasil, o fenômeno de La Niña previsto para a safra 2024/25 deve impulsionar a oferta do cereal, prevista para alcançar 18 milhões de toneladas, uma recuperação de 13,6% em relação à safra anterior, que foi prejudicada pelo El Niño. “Com essa recuperação, os níveis de oferta devem se alinhar com os preços globais, intensificando a competição com o mercado brasileiro”, pontua Gomes.
Safra brasileira
A produção brasileira de trigo para a safra 2024/25, projetada pelo USDA, deve alcançar 8,9 milhões de toneladas, marcando um aumento de 10,6% em relação à safra anterior. Apesar desse crescimento na oferta, Gomes diz que o cenário cambial pode manter os preços elevados.
No entanto, segundo o analista, com a melhora no balanço doméstico e a fraqueza dos preços internacionais, não se espera uma firmeza nas cotações, especialmente durante a janela de colheita, quando a competição com a armazenagem de outros grãos pode pressionar os preços devido à alta disponibilidade em um curto período. “Ao longo do ano, um câmbio mais fraco pode ajudar a sustentar os preços ao manter a paridade de exportação”, avalia.
As recentes chuvas no principal estado produtor, o Rio Grande do Sul, resultaram na perda de camadas férteis do solo em algumas regiões e dificultaram a obtenção de sementes de boa qualidade devido às perdas do ano passado causadas pelo El Niño, desestimulando o plantio do cereal no estado gaúcho.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área plantada deve diminuir em 11,6%, mas a oferta nacional ainda pode totalizar 8,9 milhões de toneladas, o que representaria a segunda maior produção da história, mesmo com a redução na área. Assim como na Argentina, o clima favorável deve beneficiar a produtividade e a qualidade do trigo na colheita.
Cotações domésticas
Gomes ressalta que o mercado de trigo tem poucos fundamentos para um aumento expressivo nos preços. Isso se deve ao balanço mais folgado da oferta para esta safra, somado a uma janela de comercialização curta no final do ano. “A janela restrita é resultado da necessidade de manter estoques limitados e da chegada da colheita da primeira safra, o que cria competição com o trigo armazenado e pressiona os preços para aumentar a liquidez do mercado”, explica.
Segundo o especialista, o câmbio local será o principal fator determinante para os preços durante a colheita e comercialização. “Com uma oferta superior à demanda, a paridade de exportação pode gerar competição entre tradings e a indústria, especialmente porque a qualidade do trigo tende a ser alta em anos de La Niña, o que deve sustentar as cotações locais”, analisa.
Durante a safra, Gomes diz que os produtores podem fixar preços em Chicago, garantindo que parte da produção tenha margem de operação fixada antes da comercialização física do cereal, considerando volatilidades favoráveis tanto nos preços do trigo quanto no câmbio.
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Bovinos / Grãos / Máquinas Nova DEP para facilidade de parto
Conheça tecnologia inédita para combater aumento dos partos distócicos em novilhas de raças zebuínas
A ênfase no crescimento foi justificada pelo retorno produtivo e econômico, mas os desafios relacionados a essa abordagem começaram a surgir, trazendo à tona a necessidade de um equilíbrio entre crescimento e bem-estar animal.
Nos últimos anos, o foco da seleção genética nas raças zebuínas, tradicionalmente voltado para características de crescimento, tem passado por uma grande transformação. A preocupação com os impactos a longo prazo dessa estratégia, especialmente no que se refere ao crescimento em idades jovens e seus reflexos no tamanho adulto, composição da carcaça, fertilidade e produtividade dos rebanhos, está em alta. Historicamente, a ênfase no crescimento foi justificada pelo retorno produtivo e econômico, mas os desafios relacionados a essa abordagem começaram a surgir, trazendo à tona a necessidade de um equilíbrio entre crescimento e bem-estar animal.
À medida que a pecuária de corte avança, a precocidade sexual e a fertilidade têm ganhado posição de destaque no melhoramento genético das raças zebuínas. A antecipação da prenhez, por exemplo, é uma característica que se mostra promissora, devido à alta variabilidade genética aditiva que apresenta, justificando sua adoção como critério de seleção. No entanto, a seleção para maiores taxas de crescimento e precocidade sexual não é isenta de desafios.
Pesquisadores e pecuaristas observaram ao longo dos últimos anos um aumento na incidência de distocia (dificuldade de parto) em novilhas precoces, associada ao maior peso ao nascer do bezerro e à menor idade ao primeiro parto, fatores que impactam negativamente a fertilidade e aumentam a mortalidade dos bezerros.
Atualmente, o peso ao nascer (PN) é a principal característica utilizada como indicativo de dificuldade de parto nas raças zebuínas. As estratégias de acasalamento baseadas em DEPs (Diferença Esperada na Progênie) moderadas a baixas para PN são comuns, com o objetivo de reduzir a incidência de distocia. No entanto, há indícios de que a seleção para baixo PN pode prejudicar o desenvolvimento animal, impactando negativamente o ganho de peso e o peso vivo em idades mais avançadas, o que levanta a necessidade de explorar alternativas genéticas.
Enquanto a facilidade de parto (FP) é uma característica bem estabelecida nas raças taurinas, nas zebuínas os estudos ainda são poucos. Contudo, a seleção direta para FP, associada à seleção para PN, pode ser uma estratégia promissora, com potencial para proporcionar ganhos genéticos a longo prazo, sem comprometer o desempenho dos rebanhos zebuínos. “Este novo enfoque reflete um equilíbrio necessário entre crescimento, fertilidade e bem-estar animal, buscando soluções que sustentem a eficiência reprodutiva e produtiva dos zebuínos no futuro”, enaltece o PhD em Melhoramento Animal e pesquisador sênior da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), Fernando Sebastián Baldi Rey.
DEP para Facilidade de Parto de Primíparas
A Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), em parceria com a USP, Unesp e Embrapa Cerrados, realizou um estudo para analisar a importância da adoção da FP como critério de seleção, resultando na criação da nova DEP para Facilidade de Parto de Primíparas. Essa ferramenta foi lançada durante o 28º Seminário Nacional de Criadores e Pesquisadores, realizado em agosto dentro da ExpoGenética 2024, em Uberaba (MG).
O presidente do Conselho Deliberativo da ANCP, João Carlos Guimarães Giffoni Filho expressou seu orgulho em liderar uma gestão que deu um grande passo no melhoramento genético com o lançamento da nova ferramenta. Ele destacou que, com os avanços obtidos em desempenho, qualidade de carcaça e redução da idade ao primeiro parto, era necessário ir além da tradicional DEP para peso ao nascimento. “A tecnologia veio para ficar, para auxiliar os criadores, e com certeza se tornará o foco dos principais criatórios de seleção, integrando o objetivo de seleção dos melhores rebanhos”, frisou.
À frente das pesquisas desde 2018, o PhD em Melhoramento Animal e pesquisador sênior da ANCP, Fernando Sebastián Baldi Rey, destacou os benefícios dessa nova DEP. “Utilizando dados fenotípicos fornecidos pelo programa de melhoramento genético Nelore Brasil da ANCP, o estudo classificou partos de primíparas quanto à necessidade de assistência, constatando que 88% dos partos ocorreram sem assistência, enquanto 12% necessitaram de auxílio”, afirmou.
Os resultados do estudo, segundo o pesquisador, indicam que a correlação genética entre FP e características indicadoras de precocidade sexual das fêmeas é moderada, sugerindo que a seleção para antecipação do parto em novilhas pode aumentar a incidência de distocia, trazendo consequências negativas para a fertilidade.
Por sua vez, Baldi explica que entre peso ao nascer e FP, as estimativas de correlação genética foram moderadas, indicando que a seleção para menor peso ao nascer poderia reduzir a incidência de distocias. “Apesar da correlação genética moderada com FP, a estimativa não é alta o suficiente para afirmar que a característica PN possa servir como indicador direto de FP. Além disso, a seleção para baixo PN pode potencialmente retardar o crescimento animal, dada a sólida e favorável correlação genética entre PN com peso ao desmame e sobreano. Assim, é possível concluir que a FP é um componente que deve ser considerado em primíparas da raça Nelore”, analisa o PhD em Melhoramento Animal.
Neste contexto, a nova DEP para Facilidade de Parto de Primíparas surge como uma ferramenta inovadora para auxiliar os criadores na redução da frequência de partos assistidos, especialmente em novilhas precoces. “Essa nova DEP disponibiliza ao mercado uma ferramenta expressada em probabilidade de parto com sucesso, ou seja, parto com sucesso é parto não assistido”, ressalta, dizendo que embora o peso ao nascimento tenha sido tradicionalmente utilizado como uma ferramenta para controlar problemas no parto, especialmente em relação à duração da gestação, as pesquisas demonstram que ele explica apenas 40% da variabilidade genética associada à facilidade de parto. “Em outras palavras, 60% dos fatores que influenciam a facilidade de parto não estão relacionados ao peso ao nascimento. É nesse contexto que a nova ferramenta desenvolvida será decisiva para auxiliar os criadores a reduzir a incidência desses problemas”, enfatizou.
Durante o 28º Seminário Nacional de Criadores e Pesquisadores, a ANCP também lançou a DEP Maternal para Facilidade de Parto, que considera fatores como a largura da anca e cistos ovarianos, que influenciam na facilidade de parto. “Associada à genômica que, assim como as outras características, tem uma contribuição muito importante para o melhoramento destas DEPs. Através da genômica podemos identificar e selecionar reprodutores ou selecionar fêmeas com menor incidência de partos distócicos e, desta forma, em um animal jovem conseguir saber de antemão se como reprodutor vai trazer ou não problemas ao parto”, salienta Baldi.
O que motivou o estudo
O pesquisador explica que, apesar da melhoria genética da precocidade sexual de fêmeas em rebanhos zebuínos, a incidência de problemas de parto aumentou nos últimos anos, provavelmente devido ao maior peso ao nascimento das progênies e à menor idade ao primeiro parto das novilhas sexualmente precoces, como consequência da seleção para maiores taxas de crescimento e precocidade sexual.
Segundo Baldi, a maioria das raças zebuínas são reconhecidas por uma baixa frequência de problemas de parto (distocia), mas sua incidência aumentou na raça Nelore, podendo chegar a 20% de partos assistidos em alguns rebanhos. “Geralmente, uma menor facilidade de parto está associada a maiores pesos ao nascer, pois os bezerros com alto peso ao nascer são mais suscetíveis à distocia que os bezerros com peso ao nascer baixo ou moderado”, evidencia o PhD em Melhoramento Animal.
“O uso do peso ao nascer do bezerro para indicar dificuldade no parto em novilhas sexualmente precoces compreende até hoje estratégias de seleção e acasalamento que adotam DEPs moderadas a baixas para o peso ao nascer”, complementa o pesquisador, ressaltando que os estudos têm demonstrado uma associação genética de moderada a alta entre o peso ao nascer e os problemas ao parto.
Para o desenvolvimento da nova DEP para Facilidade de Parto em novilhas precoces da raça Nelore foram coletadas desde 2018, com a colaboração de criadores associados, dados fenotípicos de FP de rebanhos zebuínos, totalizando 40 mil registros de FP e mais de 300 mil animais genotipados, dos quais aproximadamente 5% envolvem partos com assistência. “Esses dados incluem tantas vacas precoces, que conseguem parir antes dos 30 meses, quanto vacas não precoces. Entre as fêmeas jovens desafiadas precocemente, entre 12 e 15 meses, a incidência de partos distócicos chega a cerca de 7%, o que acende um alerta para os criadores. E nas vacas primíparas tradicionais, que parem com mais de 30 meses, a incidência de partos anormais é menor”, ressalta.
Estudos preliminares mostram que a nova ferramenta será particularmente útil em situações de animais com DEP para peso ao nascer maior que 1 kg. “A DEP Direta para Facilidade de Parto de Primíparas e a DEP Maternal deverão ser utilizadas de forma complementar junto com a DEP para peso ao nascer na hora de realizar a seleção e o acasalamento dos animais, utilizando os filtros genéticos que oferece o programa de acasalamentos MaxPag da ANCP”, aponta Baldi.
Seleção de touros
O pesquisador afirma que a nova DEP será também uma ferramenta para a seleção de touros destinados a novilhas precoces, especialmente quando utilizada em conjunto com outras DEPs, como Probabilidade de Permanência no Rebanho (Stayability – STAY %), Probabilidade de Parto Precoce (3P – %), Habilidade Maternal, precocidade no acabamento de carcaça e peso, características que contribuem para reduzir a incidência de distocia em novilhas precoces. “Além disso, a DEP Maternal para Facilidade de Parto também está sendo introduzida, uma vez que o parto distócico é influenciado não apenas pelo tamanho e peso do bezerro, condicionados tanto pelo pai quanto pela mãe, mas também por fatores maternos”, expõe.
Riscos que aumentam incidência de parto distócico
A incidência de parto distócico, ou dificuldade no parto, pode ser influenciada por diversos fatores. Entre os principais riscos estão os fatores genéticos, como o peso elevado ao nascimento do bezerro e a seleção para características de crescimento rápido e precocidade sexual, que podem predispor as fêmeas a partos difíceis.
Fatores fisiológicos também desempenham um papel importante, como a idade das novilhas no primeiro parto, especialmente quando muito jovens, e a condição corporal das fêmeas, com excesso de gordura na pelve dificultando o parto.
O pesquisador frisa que a utilização de touros com alta capacidade de crescimento, comum em programas de engorda, também aumenta o risco de distocia. “A nova DEP para Facilidade de Parto, uma ferramenta inédita para raças zebuínas, foi desenvolvida em resposta ao aumento dos partos distócicos em novilhas, intensificado pelo progresso genético em precocidade sexual e pelo aumento do peso ao nascimento”, menciona Baldi.
Além disso, Baldi diz que o manejo e a nutrição inadequados durante a gestação, como dietas excessivamente energéticas ou deficientes, aumentam os riscos, assim como condições ambientais estressantes e a falta de monitoramento adequado.
Embora a nutrição, especialmente no último terço da gestação, possa ajudar a reduzir a incidência de distocia, estratégias como a redução da alimentação das novilhas nesse período podem comprometer a reconcepção. “É muito importante adotar estratégias nutricionais e de manejo que evitem o aumento excessivo do peso ao nascimento, além de selecionar touros e novilhas com alta facilidade de parto. Isso é fundamental para mitigar esse problema crescente nos rebanhos bovinos brasileiros, especialmente aqueles que utilizam seleção genética avançada e tecnologias de ponta”, enfatiza.
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