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Quebra na safra argentina e preocupações com clima norte-americano impulsionaram preços do milho no primeiro trimestre
No Brasil, as perspectivas eram positivas, com previsão de uma segunda safra robusta. No entanto, as preocupações com a estiagem nos Estados Unidos levantaram dúvidas sobre a capacidade de atingir a produtividade esperada.

No início de 2023, o desenvolvimento da safra argentina foi um dos principais direcionadores do mercado de milho. Sua produtividade estava no centro das discussões já no final do ano passado, visto que o atraso no plantio e o padrão mais seco que o normal construíam um cenário adverso para o desenvolvimento do cereal.
O quadro continuou piorando ao longo do desenvolvimento das lavouras e deteriorando as condições da safra, fornecendo suporte aos preços do cereal durante o primeiro trimestre de 2023. Em junho, a Bolsa de Buenos Aires estimava a produção do país em 34 milhões de toneladas, volume consideravelmente inferior ao registrado nas quatro temporadas anteriores, em que o país obteve colheitas acima de 50 milhões de toneladas.
Após a quebra da safra argentina ter sido assimilada pelos agentes, outros fatores se tornaram mais influentes a partir do segundo trimestre. Mesmo com atrasos no plantio em alguns estados brasileiros, as condições observadas nas lavouras da safra de inverno até o início de sua colheita indicavam que o país registraria uma segunda safra robusta.
Em julho, a StoneX estimava a safrinha em 105,2 milhões de toneladas, um recorde para o país, com a produção total – considerando as três safras – atingindo 136 milhões. Além da expectativa de elevada disponibilidade do cereal brasileiro, as perspectivas eram positivas para a safra norte-americana.
O relatório de intenções de plantio trouxe uma área plantada de 37,2 milhões de hectares em 2023, 1,4 milhão a mais que no ano anterior, e os modelos climáticos indicavam que este seria um ano de influência do El Niño, que tende a reduzir as chances de seca em períodos importantes para o desenvolvimento do cereal nos Estados Unidos e favorecer sua produtividade.
Contudo, recentemente, preocupações com o clima nos Estados Unidos abriram caminho para uma alta dos preços. No final de junho, o USDA alertava que a estiagem cobria 70% da área de milho, resultando em questionamentos sobre a capacidade dos Estados Unidos atingirem a produtividade média de 11,39 ton/ha estimada pelo Departamento.
Mesmo com um aumento na área plantada em 2023 para 38,1 milhões de hectares, 2,2 milhões, ou 6,2%, a mais que no ano passado, uma queda no rendimento médio poderia resultar em estoques finais em 2023/24 consideravelmente mais apertados que as 57,3 milhões de toneladas estimadas em junho pelo USDA. Desse modo, o clima nos Estados Unidos em julho, e até em agosto, será o grande foco do mercado e, qualquer mudança nas previsões devem promover elevadas oscilações nos preços.
Apesar das recentes preocupações com a oferta norte-americana, os fatores baixistas se sobressaíram no primeiro semestre de 2023. O contrato contínuo do milho na CBOT finalizou o mês de junho cotado a US¢ 554,5/bu, apresentando uma queda de 18,4%.
Além disso, por mais que uma menor oferta norte-americana possa resultar em um balanço global menos confortável, a continuidade de um fraco desempenho dos embarques dos Estados Unidos somado à chegada de uma grande quantidade do milho brasileiro no mercado poderiam contrabalancear uma possível menor disponibilidade do cereal estadunidense.
Demanda
Pelo lado demanda, será de grande importância acompanhar o desempenho dos indicadores econômicos ao redor do mundo, que possuem uma forte ligação com o consumo de grãos.
No caso da China, que se tornou nos últimos anos uma dos grandes importadores de milho, além do nível de atividade econômica será importante se atentar às condições da safra do país.
O El Niño tende a promover um padrão climático mais quente que o normal no Norte do país em julho e agosto. Isso poderia afetar negativamente a safra de milho do país, visto que grande parte da produção do cereal no país se concentra no Nordeste chinês.
Trigo chinês
Por outro lado, condições adversas afetaram a qualidade do trigo chinês, fazendo com que um volume maior do cereal possa ser destinado à alimentação animal, reduzindo a demanda por milho. De qualquer modo, será crucial ficar atento a qualquer fator capaz de impactar o balanço de oferta e demanda e lembrar que o mercado está sujeito a mudanças repentinas em sua dinâmica.
Embarques pelos portos do Mar Negro
A questão envolvendo Rússia, Ucrânia e os embarques pelos portos do Mar Negro, por exemplo, ainda é motivo de grande incerteza. Por mais os agentes já tenham assimilado a situação e que as frequentes ameaças por parte da Rússia já não causem tanta surpresa quanto no início da guerra, o fim do acordo de exportação de grãos pelo Mar Negro, cuja data de expiração é 17 de julho, e uma redução no escoamento do cereal pela região afetaria significativamente o mercado.
Fatores altistas
- Clima seco em regiões produtoras dos EUA e preocupação com produtividade do país;
- Receio de que o desenvolvimento de um padrão mais seco na China possa impactar produção local;
- Ameaça russa de não renovar o acordo de exportações pelo Mar Negro.
Fatores baixistas
- Boas condições da 2ª safra do Brasil e expectativa de produção recorde;
- Maior uso de trigo como ração na China pode diminuir demanda local por milho;
- Estimativas apontando para estoques finais globais mais confortáveis em 2023/24.

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Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025
Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves
A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.
Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.
Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.
Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves
Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.
Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.
Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.
Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.
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Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
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Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.







