Notícias Opinião
Quatro efeitos da crise do coronavírus na economia das empresas do agro
Por prover produtos essenciais à população, o agronegócio brasileiro tem sido um dos setores menos afetados pela atual crise
Artigo escrito por José Luiz Rampazo Filho, graduado em Economia pela FEARP/USP e mestre em Economia Política pela PUC/SP
“Isso não é o fim; não é nem o começo do fim; mas, talvez, seja o fim do começo”. A frase do mais famoso primeiro-ministro da Inglaterra, Winston Churchill, após uma vitória-chave dos Aliados na África, em 1942, poderia muito bem resumir o sentimento da maioria dos empresários brasileiros, depois de pouco mais de um mês de vigência das medidas de distanciamento social para combater o avanço do novo coronavírus no País.
O cenário de incertezas ganhou novos contornos nos últimos dias com a demissão do então ministro da Saúde, Luiz Mandetta, após semanas de divergências com o presidente Jair Bolsonaro sobre a manutenção das medidas de quarentena. A princípio, o novo ministro da área, Nelson Teich, é mais alinhado ao presidente. Ainda assim, não há garantia da retomada das atividades porque estados e municípios têm autonomia para determinar o fechamento de comércios e indústrias.
Por prover produtos essenciais à população, o agronegócio brasileiro tem sido um dos setores menos afetados pela atual crise. Isso não significa, contudo, que o setor não sentirá os efeitos negativos do cenário macroeconômico, reforçando a necessidade de cautela e planejamento.
Ao analisarmos o atual cenário macroeconômico, identificamos alguns efeitos negativos que podem trazer dificuldades ao caixa dos agentes do agronegócio nos próximos meses, sendo que quatro deles requerem mais atenção:
Oferta de crédito
A taxa de básica de juros, a taxa Selic, está no seu nível histórico mais baixo, de 3,75%, com perspectiva de novas quedas com a forte retração da atividade econômica. Contudo, são justamente as incertezas no ambiente econômico que devem impedir o setor produtivo de se beneficiar do “custo” mais barato do dinheiro.
Em momentos de crise, os bancos são muito seletivos na liberação de empréstimos, e empresas com nota de crédito mais baixa acabam tendo dificuldade de acessar recursos para fortalecer o capital de giro ou acabam tomando dinheiro a juros mais elevados.
Acreditamos que o Banco Central, dentro do conjunto de medidas que tem tomado para minimizar os impactos do coronavírus na economia, deve agir em para evitar um “empoçamento” de liquidez no setor financeiro, criando incentivos necessários para a injeção de capital na economia e para preservar a liquidez das empresas.
Dólar em alta
Desde o início da crise, vimos uma disparada da moeda norte-americana em relação às moedas emergentes, com os investidores se desfazendo de suas posições a procura de ativos mais seguros, para se proteger dos efeitos da pandemia na atividade econômica. Atualmente, o dólar já cruzou a faixa dos R$ 5,20 e não há sinais de queda no curto prazo.
À primeira vista, essa seria uma boa notícia para os setores agropecuários exportadores, que se tornam mais competitivos e se beneficiam do aumento das receitas em reais. Porém, acreditamos que a alta do dólar também pressiona os custos setoriais, tendo em vista que muitos insumos da cadeia de produção são importados (fertilizantes e defensivos, por exemplo) e, portanto, dolarizados. A conta de energia também deve subir com esse patamar de dólar, uma vez que a energia da hidrelétrica de Itaipu é cotada na moeda norte-americana.
Falências e desemprego
A interrupção temporária das atividades de indústrias e estabelecimentos comerciais deve levar ao crescimento do número de falências e, consequentemente, do desemprego no Brasil, com o impacto sobre a retomada da economia mesmo após o fim das medidas de isolamento social. Por isso, o governo federal tem adotado instrumentos de política fiscal e política monetária para mitigar os efeitos da crise, já pensando no cenário de retomada. Esse cenário terá impacto mais significativo em cadeias produtivas de maior sensibilidade, tais como flores, frutas e lácteos, e em produtos de maior valor agregado, de acordo com análises da Agrobrain.
Assim, a adoção de medidas para preservar o caixa e a negociação com bancos para obtenção de linhas de créditos para reforçar o capital de giro são fundamentais para atravessar este momento de turbulência da economia. Do ponto de vista das famílias, o isolamento social incorrerá em queda do nível de renda, o que deve afetar a compra de produtos alimentícios de maior valor agregado (como iogurtes, bolachas, etc),
Custo futuro da crise
Um assunto pouco explorado até o momento é o custo futuro que a crise do coronavírus irá deixar para as empresas. Como mencionado anteriormente, o aumento do nível de desemprego deve afetar o ritmo de retomada da economia. O encarecimento do crédito, apesar da queda da Selic, deve elevar o custo do endividamento das empresas, os insumos produtivos também ficarão mais caros, pressionando as margens do setor.
O ritmo de retomada da economia brasileira nos meses subsequentes ao fim da pandemia dependerá essencialmente de dois fatores: da eficácia das medidas econômicas tomadas agora pelo governo federal e da recuperação da economia global. Dentro desse contexto de incertezas, não é possível descartar que novos momentos de isolamento social venham a ser adotados pelo Brasil e outros países enquanto não se desenvolve uma vacina efetiva ao combate do coronavírus.
Diante de tantas variáveis, a análise dos especialistas da Agrobrain para o agronegócio brasileiro é: proteja o caixa. Preservar a liquidez é condição vital para superar a crise e garantir a perenidade de longo prazo dos negócios.
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Feicorte: São Paulo impulsiona mudanças no manejo pecuário com opção de marcação sem fogo
Estado promove alternativa pioneira para o bem-estar animal e a sustentabilidade na pecuária. Assunto foi tema de painel durante a Feicorte 2024
No painel “Uma nova marca do agro de São Paulo”, realizado na Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne – Feicorte, em Presidente Prudente (SP), que segue até o dia 23 de novembro, a especialista em bem-estar animal, Carmen Perez, ressaltou a importância de evitar a marcação a fogo em bovinos.
Segundo ela, a questão está diretamente ligada ao bem-estar animal, especialmente no que diz respeito ao local onde é realizada a marcação da brucelose, que ocorre na face do animal, uma região com maior concentração de terminações nervosas, um ponto mais sensível. Essa ação representa um grande desafio, pois, embora seja uma exigência legal nacional, os impactos para os animais precisam ser cuidadosamente avaliados.
“O estado de São Paulo tem se destacado de forma pioneira ao oferecer aos produtores rurais a opção de decidir se desejam ou não realizar a marcação a fogo. Isso é um grande avanço”, destacou Carmen. Ela também mencionou que os animais possuem uma excelente memória, lembrando-se tanto dos manejos bem executados quanto dos malfeitos, o que pode afetar sua condição e bem-estar a longo prazo.
Além disso, a imagem da pecuária é um ponto crucial, especialmente considerando o poder da comunicação atualmente. “Organizações de proteção animal frequentemente utilizam práticas como a marcação a fogo, castração sem anestesia e mochação para criticar a cadeia produtiva. Essas questões podem impactar negativamente a percepção do setor”, alertou. Para enfrentar esses desafios, Carmen enfatizou a importância de melhorar os manejos e de considerar os riscos de acidentes nas fazendas, que muitas vezes são subestimados quando as práticas de manejo não são adequadas.
“Nos próximos anos, imagino um setor mais consciente, em que as pessoas reconheçam que os animais são seres sencientes. As equipes serão cada vez mais participativas, e a capacitação constante será essencial”, afirmou. Ela finalizou dizendo que, para promover o bem-estar animal, é fundamental investir em treinamento contínuo das equipes. “Vejo a pecuária brasileira se tornando disruptiva, com o potencial de se tornar um modelo mundial de boas práticas”, concluiu.
Fica estabelecido o botton amarelo para a identificação dos animais vacinados com a vacina B19 e o botton azul passa a identificar as fêmeas vacinadas com a vacina RB 51. Anteriormente, a identificação era feita com marcação à fogo indicando o ano corrente ou a marca em “V”, a depender da vacina utilizada.
As medidas foram publicadas no Diário Oficial do Estado, por meio da Resolução SAA nº 78/24 e das Portarias 33/24 e 34/24.
Mudanças estabelecidas
Prazos
Agora, fica estabelecido que o calendário para a vacinação será dividido em dois períodos, sendo o primeiro do dia 1º de janeiro a 30 de junho do ano corrente, enquanto o segundo período tem início no dia 1º de julho e vai até o dia 31 de dezembro.
O produtor que não vacinar seu rebanho dentro do prazo estabelecido, terá a movimentação dos bovídeos da propriedade suspensa até que a regularização seja feita junto às unidades da Defesa Agropecuária.
Desburocratização da declaração
A declaração de vacinação pelo proprietário ou responsável pelos animais não é mais necessária. A partir de agora, o médico-veterinário responsável pela imunização, ao cadastrar o atestado de vacinação no sistema informatizado de gestão de defesa animal e vegetal (GEDAVE) em um prazo máximo de quatro dias a contar da data da vacinação e dentro do período correspondente à vacinação, validará a imunização dos animais.
A exceção acontecerá quando houver casos de divergências entre o número de animais vacinados e o saldo do rebanho declarado pelo produtor no sistema GEDAVE.
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Treinamento em emergência sanitária busca proteger produção suína do estado
Ação preventiva do IMA acontecerá entre os dias 26 e 28 de novembro em Patos de Minas, um dos polos da suinocultura mineira.
Com o objetivo de proteger a produção de suínos do estado contra possíveis ameaças sanitárias, o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) realizará, de 26 a 28 deste mês, em Patos de Minas, o Treinamento em Atendimento a Suspeitas de Síndrome Hemorrágica em Suínos. A iniciativa capacitará mais de 50 médicos veterinários do serviço veterinário oficial para identificar e responder prontamente a casos de doenças como a Peste Suína Clássica (PSC) e a Peste Suína Africana (PSA). A disseminação global da PSA tem preocupado autoridades devido ao impacto devastador na produção e na economia, como evidenciado na China que teve início em 2018 e se estendeu até 2023, quando o país perdeu milhões de suínos para a doença. Em 2021, surtos recentes no Haiti e na República Dominicana aumentaram o alerta no continente americano.
A escolha de Patos de Minas como sede para o treinamento presencial reforça sua importância como polo suinícola em Minas Gerais, com cerca de 280 mil animais produzidos, equivalente a 16,3% do plantel estadual, segundo dados de 2023 da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). A Coordenadoria Regional do IMA, em Patos de Minas, que atende cerca de 17 municípios na região, tem mais de 650 propriedades cadastradas para a criação de suínos, cuja sanidade é essencial para evitar prejuízos econômicos que afetariam tanto o mercado interno quanto as exportações mineiras.
Para contemplar a complexidade do tema, o treinamento foi estruturado em dois módulos: remoto e presencial. Na fase on-line, realizada nos dias 11 e 18 de novembro, especialistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade de Castilla-La Mancha, da Espanha e de empresas parceiras abordaram aspectos clínicos e epidemiológicos das doenças hemorrágicas em suínos. Já na fase presencial, em Patos de Minas, os participantes terão acesso a oficinas práticas de biossegurança, desinfecção, estudos de casos, discussões sobre cenários epidemiológicos, coleta de amostras e visitas a campo, além de simulações de ações de emergência sanitária, onde aplicarão o conhecimento adquirido.
A iniciativa do IMA conta com o apoio de cooperativas, empresas do setor suinícola, instituições de ensino, sindicato rural e a Prefeitura Municipal de Patos de Minas, além do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A defesa agropecuária em Minas Gerais depende de ações como essa, fundamentais para evitar a entrada de patógenos e manter a competitividade da produção local. Esse treinamento é parte das ações para manutenção do status de Minas Gerais como livre de febre aftosa sem vacinação.
Ameaças sanitárias e os impactos para a economia
No Brasil, a Peste Suína Clássica está sob controle nas zonas livres da doença. No entanto, nas áreas não reconhecidas como livres, a enfermidade ainda está presente, representando um risco significativo para a suinocultura brasileira. Esta enfermidade pode levar a alta mortalidade entre os animais, além de causar abortos em fêmeas gestantes. Por ser uma enfermidade sem tratamento, a prevenção constante e a vigilância da doença são fundamentais.
A situação é ainda mais crítica no caso da Peste Suína Africana, para a qual não há vacina eficiente e cuja propagação levaria a prejuízos imensos ao setor suinícola nacional, com risco de desabastecimento no mercado interno e aumento dos preços para o consumidor final. Os animais infectados apresentam sintomas como febre alta, perda de apetite, e manchas na pele.
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Faesp quer retratação do Carrefour sobre a decisão do grupo em não comprar carne de países do Mercosul
Uma das principais marcas de varejo, por meio do CEO do Carrefour França, anunciou que suspenderá vendas de carne do Mercosul: decisão gera críticas e debate sobre sustentabilidade.
O Carrefour França anunciou que suspenderá a venda de carne proveniente de países do Mercosul, incluindo o Brasil, alegando preocupações com sustentabilidade, desmatamento e respeito aos padrões ambientais europeus. A afirmação é do CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, nas redes sociais do empresário, mas destinada ao presidente do sindicato nacional dos agricultores franceses, Arnaud Rousseau.
A decisão gerou repercussão negativa no Brasil, especialmente no setor agropecuário, que considera a medida protecionista e prejudicial à imagem da carne brasileira, amplamente exportada e reconhecida pela qualidade.
Essa decisão reflete tensões maiores entre a União Europeia e o Mercosul, com debates sobre padrões de produção e sustentabilidade como pontos centrais. Para a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), essa decisão é prejudicial ao comércio entre França e Brasil, com impactos negativos também aos consumidores do Carrefour.
Os argumentos da pauta ambiental alegada pelo Carrefour e pelos produtores de carne na França não se sustentam, uma vez que a produção da pecuária brasileira está entre as mais sustentáveis do planeta. Esta posição, vinda de uma importante marca de varejo, é um indício de que os investimentos do grupo Carrefour no Brasil devem ser vistos com ressalva, segundo o presidente da Faesp, Tirso Meirelles.
“A declaração do CEO do Carrefour França, Alexandre Bompard, demonstra não apenas uma atitude protecionista dos produtores franceses, mas um total desconhecimento da sustentabilidade do setor pecuário brasileiro. A Faesp se solidariza com os produtores e espera que esse fato isolado seja rechaçado e não influencie as exportações do país. Vale lembrar que a carne bovina é um dos principais itens de comercialização do Brasil”, disse Tirso Meirelles.
O coordenador da Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da Faesp, Cyro Ferreira Penna Junior, reforça esta tese. “A carne brasileira é a mais sustentável e competitiva do planeta, que atende aos padrões mais elevados de qualidade e exigências do consumidor final. Tais retaliações contra o nosso produto aparentam ser uma ação comercial orquestrada de produtores e empresas da União Europeia que não conseguem competir conosco no ‘fair play’”, diz Cyro.
Para o presidente da Faesp, cabe ao Carrefour reavaliar sua posição e, eventualmente, se retratar publicamente, uma vez que esta decisão, tomada unilateralmente e sem critérios técnicos, revela uma falta de compromisso do grupo com o Brasil, um importante mercado consumidor.
Várias outras instituições se posicionaram contra a decisão do Carrefour, e o Ministério da Agricultura (Mapa). “No que diz respeito ao Brasil, o rigoroso sistema de Defesa Agropecuária do Mapa garante ao país o posto de maior exportador de carne bovina e de aves do mundo”, diz o Mapa em comunicado. “Vale reiterar que o Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo e atua com transparência no setor […] O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros”, continua a nota.
Veja aqui o vídeo do presidente.