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Avicultura Agronegócio 4.0

Qualificação profissional e conectividade são desafios, mas avicultura brasileira é protagonista mundial ao adotar tecnologias

O 4.0 já é uma realidade há algum tempo no agronegócio. As tecnologias disponíveis, e que continuam sendo criadas diariamente, auxiliam toda a cadeia produtiva, desde o produtor rural até a agroindústria.

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Divulgação/OP Rural

O 4.0 já é uma realidade há algum tempo no agronegócio. As tecnologias disponíveis, e que continuam sendo criadas diariamente, auxiliam toda a cadeia produtiva, desde o produtor rural até a agroindústria. Porém, com tantas novidades chegando, algumas dúvidas podem surgir: o setor está preparado? Há pessoal capacitado para lidar com isso? É possível acompanhar tudo e saber o que usar? E o pior: a propriedade tem acesso à internet? Para sanar estas e outras dúvidas, a reportagem de O Presente Rural conversou com o presidente da Associação Catarinense de Avicultura (Acav) e diretor do Sindicato das Indústrias da Carne e Derivados no Estado de Santa Catarina (Sindicarne), José Antônio Ribas Júnior.

Para Ribas, a grande pegada quando o assunto são estas tecnologias é a importância das pessoas no processo. “Nós precisamos desenvolver pessoas, porque a tecnologia está andando muito rápido e quem serão os profissionais que vão trabalhar com essa tecnologia. Ainda é um grande desafio desenvolver produtores, transportadores, operadores de granja, de transporte das aves, de ração, de incubatório, de produção. Temos o trabalho de desenvolver não somente o produtor, mas a assistência técnica, veterinários, técnicos, agrônomos, zootecnistas, desenvolver todas essa cadeia de pessoas conectadas a avicultura”, sustenta.

O Presente Rural – São muitas as novas tecnologias que estão surgindo para o agronegócio nos últimos anos. Como a agroindústria está absorvendo todas estas novidades?

José Antônio Ribas Júnior – O novo Vale do Silício do mundo é o agronegócio brasileiro, está acontecendo um movimento extraordinariamente grande, um movimento qualificado e competente de criar soluções tecnológicas para muitas questões dentro do agronegócio. Na atividade de aves e suínos, esse movimento vem sendo ampliado de maneira significativa em inúmeras frentes. O grande drive de absorção de todas as oportunidades tecnológicas que abrem um link de possibilidades que talvez a gente nem tenha a dimensão de entender ainda, porque abre um novo universo de possibilidades, é de analises de dados, de geração de conhecimento, de interrelação de variáveis, de possibilidades de gerar informação, de ler coisas que hoje o olho humano não lê, de conseguir ter a sensibilidade de temas que dependem muito de gente e que você possa tirar isso desse obstáculo é muito grande.

Então como o setor vai pensar e absorver tudo isso? Fundamentalmente é uma eleição de tecnologias que geram resultado, porque a tecnologia em si só não tem fim, ela precisa ser uma tecnologia que gere resultado e esse resultado pode ser desde uma melhoria de qualidade, pode ser uma melhoria de possibilidade de trabalho, de posto de trabalho, pode ser uma redução de custo, uma agregação de valor. Tem vários drives, mas a grande resposta é: o que vai estabelecer que tecnologias que ficam em pé e tecnologias que serão descartáveis é realmente qual resultado que ela gera. E isso todos os fornecedores de tecnologia precisam ter muito claro. Vender tecnologia por si só não muda nada. É muito bonito eu ver coisas na tela do meu celular, eu ter uma inteligência artificial gerando ajustes, fazendo algumas leituras. Mas se isso não gera algum valor agregado, alguma melhoria de resultado, seja na granja desde que for aumentar a eficiência, aumentar qualidade, reduzir custos, seja qual for, não fica em pé.

O Presente Rural – A agroindústria está preparada para absorver todas estas novidades que estão chegando?

José Antônio Ribas Júnior – A agroindústria brasileira sempre foi de ponta na área de aves e suínos, sempre foi protagonista, de vanguarda. O Brasil produz em nível tecnológico que não deixa a desejar para ninguém no mundo. Tem lugares que está robotizado. A gente não pode confundir tecnologia e robotização, são coisas que eventualmente são a mesma coisa, mas toda robotização está dentro da tecnologia, mas nem toda tecnologia é robotização. Nós temos coisas muito mais amplas sob a ótica tecnológica e o setor do agronegócio é vanguarda nisso, no modelo de criação de aves e suínos, vanguarda no jeito de operar essas cadeias, nas competências que transformaram nosso setor no maior exportador de aves do mundo, num relevante de suínos do mundo, de ter o status sanitário que nós temos, de produzir com a qualidade que nós produzimos, com custo competitivo que nós conseguimos alcançar. Isso mostra que é um setor muito receptivo à inovação. Daqui saíram grandes movimentos de produção que hoje são reconhecidos pelo mundo na competência que é feito aqui. Então tenho certeza de que o setor não somente está de braços abertos, como ele é participante desse processo, mais do que isso, ele é construtor desse processo, somos autores desse processo. O setor vem construindo soluções e vem gerando tecnologias e ele é puxador de todo esse processo.

O Presente Rural – O que existe de novo que a agroindústria está usando?

José Antônio Ribas Júnior – Tem muita coisa de novo sendo trazido de tecnologia. Desde tecnologias de imagem, que permite através de câmeras de vídeo fazer a leitura de peso de animais, de grano de peso, de comportamento animal, para que a gente amplie mais ainda a nossa competência de bem-estar animal, por exemplo, porque fica menos dependente do homem, do operador, de ter a percepção, que eventualmente ele não enxerga aquilo que está acontecendo. Então temos câmeras de vídeos fazendo esse movimento, nós temos ciência de dados conseguindo fazer análises estatísticas de uma amplitude de informações muito maior e permitindo decisões melhores, mais qualificadas. Nós temos também ganho de tempo de resposta da qualidade de análise de dados, pela capacidade desses dados transitarem e serem analisados. Esse tempo de resposta tem valor. Enfim, tem uma amplitude de novas tecnologias acontecendo de uma maneira muito grande.

Tecnologias ampliando e substituindo alguns produtos, até trazendo a possibilidade de gente fazer uma ração mais qualificada, produzindo probióticos, prebióticos, que substituem antibióticos, ou seja, é mais saúde, super conectado ao One Health, que é o conceito da saúde única, é o conceito de nós evitarmos as resistências bacterianas, de melhorar a sanidade e saúde de toda a produção. Enfim, têm muitas tecnologias chegando, sem contar todo esse aparato tecnológico que hoje está embarcado em um galpão de aves, um galpão de suínos, que permite o controle de muitas variáveis, como temperatura, umidade, concentração de gases, disponibilidade de comida e água. Há uma série de tecnologias sendo embarcadas hoje em todo o sistema, tecnologias de rastreamento, que permitem o movimento de monitoramento das rações por transporte, da logística, otimizando a logística, com ganhos para o planeta, porque você reduz consumo de combustível, você permite segurança, porque isso também permite que a gente monitore se os caminhões estão respeitando as regras de trânsito, por exemplo. Têm muitos ganhos na qualidade de vida, na qualidade da produção e na eficiência do sistema de criação. Eu sou muito empolgado com essa ideia porque ela vai permitir que a gente construa muitas soluções novas e ofereça muita eficiência ao sistema. Mas, de novo, sempre gerando resultado.

O Presente Rural – Pode citar algumas tecnologias que surgiram, mas ainda está difícil de serem “aproveitadas” pela agroindústria?

José Antônio Ribas Júnior – Têm muitas tecnologias que ainda carecem de viabilidade, delas conseguirem mostrar seus resultados. Essas tecnologias de imagem que eu citei ainda estão passando por calibração, por aprendizado, os algoritmos precisam aprender mais isso, leva tempo de você botar muita informação para dentro para acontecer esse aprendizado. Há outras tecnologias que ainda têm problemas de alto custo, ainda são caras para serem acessadas e isso vai passar por um tempo para a gente conseguir construir soluções mais baratas, conseguir desenvolver tecnologias internamente no Brasil, então também passam por este processo. Nós temos um exemplo muito claro, que a poucos anos atrás a produção de energia fotovoltaica era um pouco proibitiva, o custo benefício era ruim, hoje já está muito mais acessível, então mostra que o tempo vai trazendo soluções mais assertivas ainda. Uma grande dificuldade que existe no Brasil ainda é a conexão, a transmissão de dados, ainda muito precária no meio rural e isso também traz um pouco de restrição, porque essa integração de informação, toda essa conectividade vai passar por esses obstáculos que é são, por exemplo, a conectividade.

O Presente Rural – Percebe-se que, mesmo com tantas novidades surgindo quase que diariamente, ainda falta alguma inovação chegar a agroindústria? Qual seria?

José Antônio Ribas Júnior – Com certeza ainda faltam inovações chegarem ao nosso setor. Nós ainda temos uma desafio muito grande com o meio ambiente de reduzir a nossa pegada de carbono, então a gente precisa olhar para essa cadeia de maneira mais ampla ainda para eficiência na produção dos grãos, para eficiência do consumo e da transformação desse grão em proteína animal, ainda há muito o que se buscar de conseguir dar mais ciência aplicada à produção de milho dedicado ao frango, ao suíno, soja dedicada a essas espécies, têm muitas coisas por fazer ainda que podem trazer resultados para o planeta, porque isso é eficiência da cadeia de produção, que traz dentro do seu escopo esse conceito de sustentabilidade.

Nós ainda precisamos desenvolver o melhor uso da água, o uso racional da água ainda é uma oportunidade. Nós temos uma oportunidade para ampliar mais ainda o bem-estar animal, então ainda tem temas muito importantes a serem desenvolvidos e que. Tenho certeza que com essas novas tecnologias chegando, esse grande número de empresas e pessoas estudando e olhando para o agronegócio, porque o agronegócio virou algo atrativo para o mundo inteiro. Nós estamos vendo o presidente da Microsoft investindo em agronegócio, o presidente do Facebook olhando para questões do agronegócio, o Google olhando para o agronegócio, ou seja, o agronegócio parte de um pressuposto muito simples: é dali que o mundo se alimenta. Independentemente do que você opta por alimentação, essa alimentação virá do agronegócio, então por isso que ele está ganhando tanta relevância. Mas ainda há muita tecnologia. Nós ainda precisamos fazer o alimento chegar no prato de muita gente, então também vamos precisar do apoio da tecnologia para chegar ao prato de muita gente que hoje não consegue ter um prato de comida qualificado na sua mesa. Há muita coisa a ser feita ainda.

O Presente Rural – Quais são os desafios que a agroindústria vem enfrentando quando o assunto são estas novas tecnologias 4.0?

José Antônio Ribas Júnior – Um dos grandes desafios do 4.0 é a conectividade, a transmissão de dados, sem nenhuma dúvida. Ela ainda é um dos grandes problemas, a cobertura de 3G, 4G, no meio rural, no setor de produção é muito fraca ainda e isso limita. O mundo quer falar de 5G, mas nós ainda temos limitações muito grandes de cobertura, obstáculos bastante importantes. Mas eu quero botar um ponto aqui que é muito relevante, que talvez seja um dos grandes temas do agronegócio: nós precisamos desenvolver pessoas, porque a tecnologia está andando muito rápido. Quem serão os profissionais que vão trabalhar com essa tecnologia? Ainda é um grande desafio desenvolver produtores, transportadores, operadores de granja, de transporte das aves, de ração, de incubatório, de produção. Temos o trabalho de desenvolver não somente o produtor, mas a assistência técnica, veterinários, técnicos, agrônomos, zootecnistas, desenvolver todas essa cadeia de pessoas conectadas a avicultura. Que profissional nós precisaremos ter nesse novo mundo da tecnologia? Esse é um trabalho de desenvolvimento grande que as agroindústrias tem feito. Temos chamado a universidade, a academia para dentro dessa discussão, para que a academia se conecte a isso, entenda essa necessidade, essa demanda, e trabalhe junto conosco para desenvolver esses profissionais e para disponibilizar ao mercado um profissional qualificado para este mundo. Essa geração nova já vem muito conectada a essas tecnologias, mas estão conectadas às tecnologias para o seu uso pessoal, para as suas questões pessoais.

Agora, como você interage com essas tecnologias profissionais, com essas tecnologias de processo, com essas tecnologias da cadeia de produção de maneira a fazer elas darem o resultado que se espera? Esse é um grande trabalho de desenvolvimento que vem sendo feito, academias de treinamento, lives, webinares, enfim, muita coisa tem sido buscada. A gente aprendeu com a pandemia o uso das tecnologias, das videoconferências, de acessar pessoas com imagem, então nós temos que buscar muito disso para fazer desenvolvimento, um trabalho contínuo e muito importante para que a gente vá desenvolvendo as pessoas para tirarem o máximo proveito da tecnologia.

O Presente Rural – Como o senhor, como um profissional da agroindústria, vê a chegada destas novas tecnologias e a adaptação que as empresas estão tendo que fazer para poder usá-las ao máximo?

José Antônio Ribas Júnior – A chegada das novas tecnologias olhamos com muito otimismo, uma percepção, um mundo de oportunidades que pode se abrir, de ganhos de eficiência, seja por tempo de resposta aos problemas, quando a gente conseguir conectar essa enormidade de dados que nós manuseamos de uma formulação de ração, de um pintinho que é produzido, de um controle de ambiência que esse animal é submetido, todas essas variáveis, do jeito de transportar, do controle de transporte, quando todas essas variáveis começam a se integrar e interagir, serem cruzadas e serem correlacionadas nós podemos ter muitos aprendizados, podemos melhorar e qualificar muito a nossa decisão, podemos ganhar em eficiência. Há essa expectativa de que nós temos realmente que tirar resultado disso e em um curto prazo. É obvio que isso é uma jornada muito extensa, mas a gente precisa ir conquistando terreno e gerando resultado, porque isso vai motivando o produtor, o colaborador, as lideranças da empresa a investir cada vez mais em tecnologia porque ela vai dando resultado, a se aprimorar nos uso dela e tudo isso trazer benefícios para toda a cadeia de produção.

O Presente Rural – Em comparação com outros países, como o Brasil está na adesão destas novas tecnologias 4.0?

José Antônio Ribas Júnior – Todos os países do mundo estão trabalhando em cima do 4.0, existe muita ciência em cima disso. Mas eu não tenho nenhuma dúvida que o Brasil está puxando muito desses temas. Porque no Brasil o campo tem sido muito fértil para o desenvolvimento das tecnologias, o uso delas e para realmente fazer elas serem realmente relevantes no processo de produção. O Brasil não está atrás de nenhum país. Obviamente que alguns países que já detêm muito conhecimento científico e muita competência na produção da tecnologia, que consegue produzir, até porque o Brasil ainda é depende da importação de muitos itens tecnológicos, esses países acabam tendo essa vantagem competitiva. Mas o que nos difere é que o protagonismo do setor, a interatividade de toda essa cadeia que é integrada consegue fazer com que a velocidade nossa consiga ser muito grande porque o sistema de integração, sistema cooperativo, são alavancagem importantes nesse processo porque eles conectam o produtor muito rapidamente a estas tecnologias e fazem o filtro de quais tecnologias realmente são relevantes porque se não o produtor fica exposta o que chega até ele pode não ser a melhor tecnologia ou que não esteja atendendo seu objetivo. As cooperativas, as agroindústrias, todo o sistema de integração da produção de aves e suínos tem essa competência de fazer essa filtragem, trazer o que há de melhor e de colocar os seus especialistas a estudar cada vez mais para que o que chegue ao produtor chegue de maneira mais assertiva. Isso faz com que o Brasil ganhe uma velocidade muito grande. A gente vem observando que aqui no Brasil esse processo tenha andado muito mais rápido, o que acontece nesse mundo digital aqui no Brasil impressiona o mundo inteiro, porque a gente vem desenvolvendo muitas soluções de uma maneira muito rápida.

Outro ganho da tecnologia que é muito relevante é que ela está trazendo um benefício adicional muito bonito, que é a atratividade para os jovens da atividade de aves e suínos. Há 25 anos, quando eu era extensionista, a gente tinha uma preocupação muito grande com isso no meio rural, com o envelhecimento do campo. Hoje a gente vê muitos filhos de produtores muito atraídos pela atividade, ficando na granja, querendo conduzir o negócio, porque perceberam na tecnologia uma melhor qualidade de vida, facilitou muito o trabalho, deixou o trabalho menos braçal e muito mais intelectual, e essa turma, a nova geração, que está chegando se atrai muito por isso. Então está sendo também um instrumento de fixação de mão de obra no campo, de atratividade para o jovem e ele vai fazer um upgrade em tudo isso porque ele vem com essa vontade, com esse apetite pela tecnologia, então estamos conseguindo inclusive este ganho.

O Presente Rural – O senhor pode citar alguns exemplos de quais são estas tecnologias de IA, Big Data, entre outras, na avicultura?

José Antônio Ribas Júnior – Têm muitos exemplos de tecnologia que existem hoje. Na avicultura existem painéis de controle integrado de tudo o que acontece no ambiente do aviário, que aquele painel já faz a leitura de temperatura, da umidade, da ventilação, da luminosidade, da sensação térmica, da quantidade de gás presente, e o próprio painel já decide qual equipamento ligar, quando ligar, e faz todo esse gerenciamento. Isso já é um algoritmo, uma inteligência dentro do sistema gerenciando o processo. Já existem sistemas disponíveis que inclusive podem tomar a decisão de rapidamente reagir a qualquer situação imprevista, olhando até para o consumo de ração do animal, seja de aves ou de suínos, do consumo de água, e também já tomar a decisão, existe já a tecnologia que consegue, ao você fotografar um animal, ter um diagnóstico de qual é o problema que aquele animal pode estar passando, qual é a dificuldade, até mesmo qual é a própria doença, baseado em alguma sintomatologia ou sinal que o animal pode estar passando e que isso ajuda o produtor a fazer o seu diagnóstico.

Já existe muita ciência de imagem, gerando peso dos animais, gerenciando em tempo real o peso dos animais, existem imagens trabalhando para fazer a qualificação do animal no abate, para fazer a leitura de qualidade daquele animal, e com isso permitir que você diferencie qualidade e possa também remunerar meritocraticamente por qualidade, ou que você possa destinar um tipo de característica de um animal para um produto A ou B. Tudo isso já são tecnologias que estão aí. E agora com a chegada da nuvem, a possibilidade que já está acontecendo de jogar dados na nuvem e você ter uma possibilidade de administrar um número de dados muito maior, interrelações muito maiores também já é uma situação que já está disponível.

O Presente Rural – Além da agroindústria, outros elos da avicultura estão preparados para absorver todas estas novas tecnologias?

José Antônio Ribas Júnior – O setor já está sim preparado para tudo isso, o setor vem se preparando para isso e já falava em tecnologia na década de 1980 quando começaram a automatizar processos de criação. Como eu falei, o setor é muito protagonista nisso, tem uma capacidade de inovação impressionante, se reinventa a cada crise, entendendo que precisa buscar soluções. Então, o setor está preparado para tudo isso, sim. Obvio que sempre buscando mais e melhor conhecimento para administrar tudo isso, investindo nos profissionais. Eu pessoalmente acredito muito nessas soluções, nós estamos investindo como setor, como empresa, como profissional neste processo porque acreditamos que ele vai trazer melhores resultados do que nós operamos hoje e isso, em última análise, para mim, tudo isso tem uma conexão superimportante que é a sustentabilidade. Nós vamos ser mais eficientes sob todas as óticas, mais eficientes socialmente, porque vamos ser mais includentes, em governança porque vamos administrar melhor, dar mais transparência sob a nossa gestão, vamos poder mostrar em tempo real o que a gente fala e faz, e vamos ser mais eficientes no consumo dos recursos naturais do planeta. Tudo isso vai trazer um resultado muito positivo e a gente acredita muito nisso.

Hoje todas as empresas estão assumindo compromissos de sustentabilidade, tem esse conceito novo do ESG, que traz o meio ambiente, social e governança, e tudo isso já está conectado. Essa tecnologia vai permitir a gente conquistar melhores resultados, mais eficiência e fundamentalmente mostrar ao consumidor que é, em última análise, o grande beneficiário de tudo isso, porque ele vai poder acessar um produto muito mais sustentável no seu prato, com muito mais qualidade. A gente vai poder atingir melhor esse consumidor, desde aquele que vai poder acessar pela primeira vez um prato de comida qualificado até os mais exigentes que vão poder ter um acesso à informação diferenciado, mostrando o quão competente é o nosso sistema de produção.

O Presente Rural – Como o senhor vê o comportamento do setor quanto a estas novas tecnologias?

José Antônio Ribas Júnior – Consegue cobrir todos os assuntos deste tema que são superimportantes nesse processo. Nós não podemos perder de vista os drives que conduzem tudo isso. Da gente cuidar melhor de gente, de todas as pessoas que estão envolvidas na cadeia de produção, melhorando a qualidade de vida delas, através das tecnologias, através da facilidade das rotinas de trabalho, através da eficiência do trabalho. Nós temos que cuidar do meio ambiente e a tecnologia nos ajudará com isso, usar melhor os recursos naturais, mostrar à sociedade o quão somos comprometidos com o meio ambiente, que isso já é um DNA do setor, mas vamos poder mostrar isso com mais clareza. A gente vai poder dar muita atenção a toda a eficiência e qualificação dos nossos produtos, dando condição de melhorar bem-estar animal mais ainda, esses conceitos de One Health, de redução de antibióticos, enfim, tem inúmeros ganhos associados a isso. Tudo ao seu tempo, tudo construído com muita seriedade, com muita responsabilidade para que a gente vá construindo dias melhores à frente.

Sou um otimista sobre isso, mas com muito realismo, para que a gente não queira desenhar algo excepcional e deixe de fazer o que é bom, para a gente ir fazendo um passo de cada vez realmente com essa sensação de que estamos construindo um caminho certo. Muitos aprendizados acontecerão, mas estamos superabertos para esses aprendizados. Eu pessoalmente tenho aprendido muito nesse segmento, nesse setor, das oportunidades que a gente pode aproveitar. Não tenho dúvidas de que estamos construindo dias melhores à frente porque todos nós estamos muito imbuídos de entregar um planeta melhor para as próximas gerações, produzindo alimentos de maneira muito correta e transparente para que toda a sociedade tenha muito orgulho da produção de proteína que nós fazemos.

O produtor do agronegócio tem uma capacidade muito grande de gerar qualidade de vida, não somente por toda a economia que ele movimenta, mas também nos indiretos para toda a sociedade, até porque é um setor que gera movimento econômico, que traz investimentos, que geram mais empregos, emprego gera mais consumo, consumo gera mais movimento econômico que gera mais empregos, que gera mais consumo. Veja que a gente alimenta uma roda de ganhos sociais, econômicos e agregação de valor para a sociedade que é muito grande. E o que a gente quer fazer é que a tecnologia facilite tudo isso. E em outro viés que melhore muito o nosso nível de comunicação com o nosso cliente, com o nosso consumidor, com a sociedade, mostrando como que a gente produz para que tenham segurança, que nós cuidamos de todos os aspectos de sanidade, de saúde, de bem-estar, das pessoas para que possam consumir um alimento de maneira muito tranquila de que estão cuidando do planeta, das pessoas e dos animais. Tudo isso nos reserva benefícios muito grandes para serem conquistados.

Avicultura

ABPA comemora 10 anos de fundação com conquistas para o setor

Entidade celebra momentos que marcaram a história da avicultura e da suinocultura do país

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Presidente da ABPA, Ricardo Santin. - Foto : Assessoria

A cadeia produtora e exportadora da avicultura e da suinocultura do Brasil celebra na data de hoje uma década de um dos marcos mais importantes de sua história, a criação da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

A entidade fundada em 2014 nasceu dos anseios dos diversos elos dos setores por uma organização única, que utilizasse as sinergias comuns às cadeias produtivas para atuar de forma ainda mais estruturada e assertiva como representação político-institucional, fomentadora do desenvolvimento setorial e promotora das cadeias nos mercados interno e internacional.

Assim ocorreu a fusão de duas organizações, a UBABEF (avícola, fruto da fusão da UBA com ABEF) e a ABIPECS (suinícola), que resultaram em uma entidade que atualmente detém mais de 140 associados dos diversos elos dos setores, das agroindústrias produtoras e exportadoras, empresas fornecedoras da cadeia, às entidades representativas dos estados e dos segmentos fornecedores.

Francisco Turra, ex-ministro da agricultura e atual presidente conselho consultivo da associação, foi presidente da ABPA desde a sua fundação até o ano de 2020, quando Ricardo Santin (então diretor-executivo da entidade) foi escolhido o novo presidente. Grandes nomes da cadeia produtiva também fizeram parte do quadro da entidade, como os médicos veterinários Rui Vargas e Ariel Antônio Mendes. Leomar Somensi foi o primeiro e único presidente do Conselho Diretivo e comandou a estrutura diretiva da entidade ao longo desta década, em consonância com José Carlos Zanchetta, presidente do Conselho Consultivo até 2020.

A força institucional da ABPA, respaldada pela força associativa de seus associados e pelos 4 milhões de brasileiros que atuam direta e indiretamente nos setores, foi fundamental para a conquista de grandes avanços, como também para a superação de diversas crises.

Por meio das sinergias construídas, a ABPA apoiou a ampliação da presença internacional da avicultura e da suinocultura do Brasil, o que se vê pelos números conquistados pelas marcas setoriais mantidas em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).

Apenas no âmbito internacional, são quase 80 eventos organizados e executados pela associação, incluindo grandes ações como campanhas e feiras (como Gulfood, Anuga e SIAL), que resultaram em US$ 14,7 bilhões em negócios para as empresas participantes. Junto a isso, dezenas de missões rumo a mercados estratégicos foram organizadas, bem como o apoio à organização de missões sanitárias para validação e habilitação dos frigoríficos brasileiros.

Destas sinergias também nasceu o então Salão Internacional de Avicultura e Suinocultura, atual Salão Internacional de Proteína Animal (SIAVS), a maior feira dos setores no Brasil e principal momento político-institucional das cadeias produtivas – que já reuniu mais de 100 mil pessoas visitantes ao longo de cinco edições.

No mercado interno, a promoção do consumo se aliou ao trabalho de defesa das cadeias de valor. Campanhas diversas foram promovidas em conjunto com as empresas associadas, seja para fomentar o consumo dos produtos ou para promover a conscientização em temas emergenciais, como a Influenza Aviária e a Peste Suína Africana – lembrando que o Brasil permanece livre das duas enfermidades.

A gestão de crise também fez parte da estrutura de trabalho institucional, e grandes desafios foram superados ao longo desta década. No âmbito setorial, as duas grandes crises dos insumos (em 2016 e no triênio 2020-2022) marcaram a forte interlocução da entidade com os entes governamentais e setoriais. Os equívocos de informação da Operação Carne Fraca, ocorrida em 2017, estabeleceu um dos mais complexos momentos de recuperação da imagem setorial da indústria de alimentos.

Por outro lado, em crises ampliadas, como a Greve dos Caminhoneiros (2018) e os efeitos da Pandemia Global no abastecimento demandaram ações incisivas junto aos entes federais e estaduais e reforçaram a ampla articulação existente entre a ABPA e suas entidades filiadas nos estados.

“Todos estes fatos são recortes dentro de uma história ampla, complexa e com um propósito maior, de promover e defender uma cadeia produtiva com influência direta na vida de centenas de milhões de pessoas no Brasil e em mais de 150 países, o que gerou ao nosso país quase US$ 100 bilhões em exportações. A ABPA é o reflexo de uma história setorial de sucesso e de anseios conquistados, que crescem e se modernizam com a força e a visão da dinâmica cadeia de proteína animal, no auxílio à segurança alimentar do Brasil e do mundo”, destaca o presidente da ABPA, Ricardo Santin.

Fonte: Assessoria ABPA
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Avicultura

Nutrição, manejo e genética: o tripé da saúde locomotora em frangos

Seleção de animais por características de crescimento rápido muitas vezes resulta em desequilíbrios entre a capacidade estrutural do esqueleto e o peso corporal, tornando as aves mais suscetíveis a lesões articulares, afetando de sobremaneira o bem-estar e a produtividade das aves.

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Fotos: Shutterstock

As questões relacionadas à saúde locomotora em frangos de corte têm, nos últimos anos, despertado uma preocupação crescente na indústria avícola. O rápido crescimento genético das aves para atender à demanda do mercado tem levado a um aumento na incidência desses problemas, principalmente de artrites.

A seleção de animais por características de crescimento rápido muitas vezes resulta em desequilíbrios entre a capacidade estrutural do esqueleto e o peso corporal, tornando as aves mais suscetíveis a lesões articulares, afetando de sobremaneira o bem-estar e a produtividade das aves. Condições de manejo inadequadas, como densidade populacional elevada, má qualidade da cama, ventilação inadequada e estresse térmico, podem contribuir para o aumento da incidência de problemas locomotores.

A falta de espaço e a qualidade inadequada do substrato podem causar lesões nas articulações e dificultar o movimento das aves. A nutrição também desempenha um papel fundamental na saúde locomotora das aves. Dietas desequilibradas em minerais e vitaminas essenciais, como cálcio, fósforo e vitamina D, podem comprometer a saúde óssea e articular das aves. A formulação cuidadosa das dietas, adaptada às necessidades específicas das aves em diferentes estágios de crescimento, é essencial para prevenir deficiências nutricionais que possam contribuir para o desenvolvimento de artrites.

Médica-veterinária, professora, mestre em Nutrição Animal e doutora em Zootecnia, Jovanir Inês Müller Fernandes: “Devido a dor e a dificuldade locomotora as aves passam a ficar mais tempo sentadas, o que compromete ainda mais a circulação sanguínea nas áreas de crescimento ósseo” – Fotos: Divulgação

Além disso, medidas preventivas, como o monitoramento regular da saúde locomotora das aves e a identificação precoce de problemas, são fundamentais para garantir o bem-estar das aves e a sustentabilidade da indústria avícola. Investimentos em pesquisa contínua e educação para produtores são essenciais para promover práticas de manejo sustentáveis e melhorar o desempenho econômico e ambiental da produção avícola.

Diante desse cenário, se faz necessário uma abordagem multifatorial, envolvendo estratégias de manejo integradas para reduzir a incidência de artrites e problemas locomotores em frangos de corte. Isso inclui a seleção criteriosa de linhagens genéticas com melhores características de saúde locomotora, o fornecimento de ambientes de alojamento adequados e a implementação de programas nutricionais. Sobre essa temática, a médica-veterinária, professora, mestre em Nutrição Animal e doutora em Zootecnia, Jovanir Inês Müller Fernandes, tratou no 24º Simpósio Brasil Sul de Avicultura (SBSA), realizado entre os dias 09 e 11 de abril, no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes, em Chapecó (SC).

Multifatoriais

Os aspectos mais relevantes que estão relacionados com os problemas locomotores são fatores traumáticos ou mecânicos, infeciosos, nutricionais, ambientais e relacionados ao manejo. Esses fatores podem ainda estar associados ou ocorrer de forma isolada. Jovanir menciona que a cama de má qualidade, que não foi adequadamente manejada no intervalo entre lotes, pode levar à instabilidade na locomoção do pintainho pela presença de cascões e desnivelamentos e resultar em microfraturas e fendas em áreas de crescimento ósseo nas extremidades dos ossos longos, como tíbia e fêmur.

Por outro lado, camas úmidas podem predispor às lesões de coxim plantar, as pododermatites, que além de provocar dor, são portas de entrada para bactérias e vírus presentes na cama. “O aumento na umidade nas camas pode ser resultado da baixa digestibilidade da dieta (granulometria inadequada, micotoxinas, fatores antinutricionais e agentes patogênicos), da ambiência inadequada (manejo de placas evaporativas, ventilação e estresse térmico) e das disbacterioses, que alteram a estabilidade da microbiota intestinal, comprometendo a funcionalidade da mucosa intestinal”, ressalta a médica-veterinária.

A doutora em Zootecnia explica que bactérias oportunistas podem atravessar a barreira epitelial intestinal através das junções firmes entre as células e por meio da via hematogênica chegam até às microfraturas e fissuras osteocondróticas na extremidade proximal do fêmur e da tíbia, contribuindo com o quadro de necrose e degeneração das áreas de metáfise dos ossos longos. “Devido a dor e a dificuldade locomotora as aves passam a ficar mais tempo sentadas, o que compromete ainda mais a circulação sanguínea nas áreas de crescimento ósseo, contribuindo com a isquemia e necrose. Esses distúrbios podem resultar em alterações da angulação dos ossos longos e contribuir para o rompimento de ligamentos e tendões, além da ocorrência de artrites assépticas”, pontua Jovanir.

Além desses fatores, a identificação de cepas bacterianas e virais mais patogênicas e virulentas, que eram consideradas comensais, podem estar envolvidas na ocorrência e agravamento dos problemas locomotores e artrites. “O surgimento dessas cepas pode estar relacionado com a pressão de seleção de microrganismos resistentes pelo uso sem critérios de antibióticos terapêuticos e o manejo inadequado”, ressalta Jovanir, acrescentando: “Nessa situação, a troca de genes de resistência entre bactérias do ambiente por meio de elementos genéticos móveis contribui para a manutenção dessas bactérias portadoras de genes de patogenicidade e de resistência aos antibióticos de um lote para outro. Além disso, o curto período de intervalo entre lotes, o aumento da densidade de alojamento e os erros de manejo, mantém essas cepas mais resistentes e mais patogênicas que podem acometer as aves e resultarem em diferentes manifestações de lesões e comprometimento do sistema locomotor”.

As artrites e problemas locomotores acarretam uma série de consequências adversas nas aves, incluindo dor, comprometimento do bem- -estar animal, dificuldade locomotora,

restrição de acesso à água e ração, prostração sobre a cama, ingestão de cama e inalação de amônia, aumento da taxa de mortalidade (com aves eliminadas), queda no desempenho produtivo, aumento das condenações no abatedouro devido à fragilidade óssea, dermatites/celulites e aerossaculite.

Perdas operacionais no abatedouro

No ambiente do abatedouro, esses problemas também se refletem em perdas operacionais, visto que a redução da velocidade no processo de abate é necessária devido ao aumento das condenações, além dos riscos microbiológicos adicionais decorrentes do aumento da presença de patógenos durante o processamento das carcaças.

Nutrição: papel-chave na prevenção

A nutrição tem papel fundamental em prover nutrientes para o crescimento ósseo. É importante que os níveis nutricionais sejam ajustados à necessidade das aves e aos processos de fabricação de ração. Um desafio é fazer com que esses nutrientes cheguem até o osso. “A baixa digestibilidade dos ingredientes, granulometria inadequada, ocorrência de micotoxinas, fatores antinutricionais e agentes patogênicos presentes nos ingredientes podem levar às falhas nos processos de digestão e absorção e em agressão à mucosa intestinal, resultando em sobras de substratos que podem desestabilizar e romper a homeostase do microbioma intestinal, contribuindo com a proliferação das bactérias patogênicas”, expõe a mestre em Nutrição Animal.

De acordo com ela, o aumento, principalmente de proteína não digerida e resultante do aumento do turnover celular da mucosa intestinal, leva a putrefação e a produção de substâncias e moléculas (aminas biogênicas, ácidos graxos de cadeia ramificada, amônia, indol e escatol) que afetam a funcionalidade da mucosa intestinal. “Além da redução da absorção de nutrientes, ocorre aumento da permeabilidade intestinal, ativação do sistema imunológico do hospedeiro, translocação bacteriana, lipopolissacarídeos e padrões moleculares associados a microrganismos (MAMPs) através da barreira endotelial e liberação de citocinas pró-inflamatórias como TNF-α, IL-6, IL-11 e IL-17, que podem ativar a osteoclastogênese e aumentar a reabsorção óssea, principalmente das trabéculas, localizadas nas regiões proximais dos ossos longos”, enfatiza.

Genética das linhagens

O constante melhoramento genético tem resultado em mudanças no crescimento e na deposição de tecido muscular, alterando a conformação da carcaça pela maior deposição de carne de peito, movendo o centro de gravidade dos frangos de corte para frente. “Isso tem contribuído para que a ave adapte sua postura com modificação das propriedades morfológicas, biofísicas e mecânicas da estrutura óssea, o que afeta diretamente as regiões proximais da tíbia e fêmur e a quarta vertebra, ponto de sustentação do peso a ave. Além disso, ossos crescem acompanhando a taxa de crescimento muscular em função da gravidade que o peso vivo exerce, entretanto, não mineralizam o suficiente até a idade de abate”, frisa Jovanir.

Dessa forma, a docente diz que é importante compreender que a rápida taxa de crescimento das atuais linhagens de frangos de corte não é causa das artrites e problemas locomotores, mas sim se constitui num fator de predisposição. “Isso é confirmado pela variação na ocorrência e na gravidade dos problemas locomotores e artrites entre as linhagens genéticas, regiões, clima e até entre aviários de uma mesma companhia avícola”, menciona.

Principais desafios de manejo

Um dos principais desafios enfrentados, segundo Jovanir, é manter um ambiente adequado e saudável que permita a expressão natural do comportamento das aves, enquanto atende às necessidades de bem-estar, saúde e produtividade das mesmas. “As aves respiram, comem (ração e cama) e bebem, portanto, diminuir a carga de microorganismos patogênicos e antígenos que possam perturbar a homeostase do sistema imune de mucosas contribui não só para a redução de problemas locomotores e artrite, como também para a redução de outras condições que afetam o bem-estar das aves, a produtividade e a rentabilidade da cadeia avícola”, salienta a doutora em Zootecnia.

O manejo da cama e do ambiente das aves se constituem no maior desafio que precisa ser enfrentado. Com as constantes melhorias genéticas, o aumento da taxa de crescimento e da taxa metabólica das aves vêm acompanhado do aumento do consumo de ração, da produção de gases e da excreção de água. “A cama retém esses substratos, os quais são metabolizados pela microbiota, alterando o perfil e a diversidade, gerando ainda mais umidade e amônia”, enfatiza, ampliando: “A umidade excessiva contribui com a ocorrência direta dos problemas locomotores e artrites, enquanto que a amônia é o principal agressor da mucosa respiratória, predispondo a ocorrência de aerossaculite e outros problemas respiratórios”.

Alojamento e densidade populacional

Na eclosão, os pintainhos apresentam placas de crescimento ósseo espessas e frágeis e ossos fino e porosos. O período logo após a eclosão é um estágio crítico para o desenvolvimento ósseo e, por isso, de acordo com Jovanir, as práticas realizadas no incubatório devem prevenir lesões mecânicas e amenizar estressores e contaminações que possam impactar o crescimento e a mineralização óssea.

Somado a isso, o tempo e a qualidade do transporte dos pintainhos até as granjas podem ser fatores primários da ocorrência de problemas locomotores em frangos de corte. “No alojamento é necessário adotar estratégias que minimizem os impactos sobre essas estruturas ósseas frágeis e oferecer um ambiente adequado que permite o estabelecimento de uma microbiota simbiótica, uma vez que o pintainho não é colonizado pela transferência da microbiota materna, a exemplo de outras espécies”, pontua a médica-veterinária. O maior número de aves por metro quadrado implica em maior volume de excretas, maior umidade na cama e pior qualidade do ar, fatores fortemente associados a ocorrência dos problemas locomotores e artrite. “A densidade populacional de um aviário deve ser muito bem calculada e dimensionada levando em conta a capacidade de manter o ambiente em torno da ave adequado para o seu bem-estar, comportamento natural, produtividade e saúde”, reforça Jovanir.

Sinais clínicos comuns

Entre os sinais clínicos mais comuns de artrites e problemas locomotores em frangos de corte, estão a dificuldade locomotora (andar com dor), claudicação, busca por equilíbrio ao andar com abertura de asas, dedos tortos, assimetria entre pernas, articulações (especialmente articulação tibiotársica) quentes e com aumento de tamanho, além de aves em posição de decúbito ou sentadas.

Controle e prevenção

As medidas de controle e prevenção para reduzir a ocorrência de artrites e problemas locomotores são basicamente as mesmas previstas nos programas sanitários que as empresas e agroindústrias aplicam para reduzir a ocorrência de qualquer enfermidade ou distúrbio. “É importante que os programas sanitários sejam pautados em dados históricos de cada cooperativa ou agroindústria da ocorrência desses problemas para que seja possível a interpretação e entendimento dos fatores envolvidos e traçadas estratégias mais especificas e assertivas no controle”, enfatiza, evidenciando que além da adoção de estratégias sanitárias, nutricionais e ambientais, deve haver um comprometimento coletivo de todos os envolvidos com a cadeia avícola.

Na fábrica de ração, a especialista diz que devem ser implantados e acompanhados programas de qualidade em todas as etapas de fabricação e de processamento. “As estratégias devem ser aplicadas ainda nos matrizeiros, visando a qualidade da casca do ovo, a transferência de nutrientes para o embrião e o controle sanitário”, menciona.

No incubatório, Jovanir destaca a necessidade de realizar estudos que busquem oportunidades de aprimoramento no desenvolvimento do tecido ósseo, bem como melhorias nos processos aos quais o pintainho recém-eclodido é submetido. “É fundamental que o pintainho seja transportado para as granjas sem impacto sobre o aparelho locomotor”, frisa.

Nas granjas, a docente explica que as camas devem estar secas, trituradas e aquecidas, uma vez que a presença de cascões causa instabilidade nas articulações de ossos longos, ainda com grande quantidade de tecido cartilaginoso. “A altura dos bebedouros nipple é um fator que pode comprometer a saúde das placas de crescimento dos ossos, devido ao esforço para beber água. O manejo do ambiente das aves, a qualidade do ar e água são fatores fundamentais para controlar a diversidade e a carga microbiológica e eliminar organismos competitivos, promovendo a manutenção da estabilidade do microbioma simbiótico no ambiente intestinal da ave”, reforça.

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Fonte: O Presente Rural
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Avicultura

Paraná impõe mais rigor para manter gripe aviária longe de seus planteis

Além das medidas de controle voltadas para a segurança alimentar e a reputação da indústria avícola paranaense e brasileira, também é importante desmistificar mitos e informar o
consumidor sobre a doença e que o consumo de produtos avícolas é seguro mesmo que haja ocorrência de foco em granjas comerciais.

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Foto: Shutterstock

Com pouco mais de quatro meses sem uma ocorrência do vírus da Influenza aviária de Alta Patogenicidade (H5N1) no Paraná, a Agência de Defesa Agropecuária (Adapar) continua alerta e atuando em conjunto com as entidades setoriais e a cadeia produtiva do estado no combate à doença. O vírus é altamente contagioso e afeta várias espécies de aves industriais, domésticas e silvestres, além de animais marinhos e ocasionalmente outras espécies.

Até o fechamento desta reportagem haviam 13 focos de gripe aviária confirmados no Paraná, todos na região litorânea e em animais silvestres. Com três casos cada, Guaraqueçaba, Paranaguá e Pontal do Paraná lideram os registros, seguidos por Guaratuba com dois focos, enquanto Antonina e Matinhos reportaram um foco cada.

Até o momento, não foram registrados casos em aves comerciais ou de subsistência no Paraná, sendo todas as ocorrências diagnosticadas em aves silvestres das espécies trinta-réis-real, trinta-réis-de-bando e gaivota-maria-velha.

Médico-veterinário e fiscal de defesa agropecuária da Adapar, Jeison Solano Spim: “O consumo de carne e de ovos é segura” – Fotos: Jaqueline Galvão/OP Rural

O médico-veterinário e fiscal de defesa agropecuária da Adapar, Jeison Solano Spim, ressalta que as regras de biosseguridade para registro avícola sempre foram muito rígidas no estado. “O Paraná segue uma legislação nacional, mas com suas particularidades, uma vez que enquanto a legislação do país dispensa o registro para produtores com até mil aves, no Paraná essa regra é mais rigorosa, exigindo registro independente da quantidade de aves mantidas pelo produtor. “Se for produtor comercial, obrigatoriamente precisa de registro e precisa cumprir as medidas de biossegurança exigidas”, enfatiza Spim.

Mesmo com o enfrentamento da Influenza aviária, essas regras não sofreram alterações significativas, já que são bastante rigorosas desde o início. O que foi intensificado é a fiscalização, que ocorre no momento do registro, válido por cinco anos. Durante esse período de vigência do registro, as granjas são submetidas a vistorias periódicas por fiscais. Spim explica: “Durante esses cinco anos a granja recebe periodicamente a vistoria de fiscais até o momento da renovação, quando é feita uma nova vistoria”.

Essas medidas visam garantir a conformidade com os protocolos de biosseguridade e contribuir para a prevenção e controle de doenças avícolas, incluindo a Influenza aviária. “A cooperação dos produtores e o rigor na aplicação das regulamentações são essenciais para proteger tanto a saúde das aves quanto a segurança alimentar da população”, salienta o fiscal.

Intensificação da fiscalização

Em dezembro de 2023, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) demandou que os órgãos de defesa agropecuária dos estados intensificassem as ações junto às granjas. “Passamos mais um pente fino nas unidades produtivas, ocasião em que foram identificadas algumas granjas com problemas sanitários pontuais, que incluem principalmente questões de manejo e limpeza do ambiente. Para regularizar esses problemas, iniciamos em fevereiro uma ação nestas unidades”, relata Spim.

A Agência de Defesa Agropecuária do Paraná mantém uma vigilância e busca ativa pelo vírus da Influenza aviária a fim de mapear em quais locais o vírus está circulando. “Esse trabalho é constante e é realizado desde que o primeiro caso foi confirmado no Paraná, em junho de 2023, demonstrando o compromisso do estado com a segurança sanitária na produção avícola”, evidencia o fiscal.

Maior produtor de aves do país

Em 2023, o Paraná reafirmou seu protagonismo na produção de alimentos, especialmente na avicultura. O estado produziu 2,1 bilhões de frangos, mantendo sua liderança no

ranking nacional com uma participação de 34,3%, seguido por Santa Catarina e Rio Grande do Sul, de acordo com os dados divulgados em março pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse resultado representou um crescimento de 5,4% em relação ao ano anterior, reafirma a posição do Paraná como principal polo de produção avícola do país. “O Paraná ostenta o título de principal produtor de frango do Brasil, um feito atribuído ao trabalho dedicado das empresas, entidades setoriais, do governo e dos produtores que garantem qualidade do alimento que chega à mesa dos consumidores”, destaca o profissional.

Além disso, o estado também cresceu na produção de ovos de galinha, alcançando a marca de 434 milhões de dúzias em 2023, aumento de 7,1% em relação a 2022 e um novo recorde na série histórica. Esses dados reforçam o papel fundamental do Paraná na garantia do abastecimento nacional e na consolidação da agroindústria brasileira como um dos principais players globais.

Em todo o país foram abatidos 6,28 bilhões de frangos, crescimento de 2,8% em relação ao ano anterior, o que também foi o melhor resultado da série histórica iniciada em 1997. Além disso, o país registrou um aumento na produção de ovos de galinha, alcançando um total de 4,21 bilhões de dúzias, outro recorde histórico.

Educação sanitária

Além das ações de fiscalização e controle, o fiscal da Adapar enfatiza a importância da educação sanitária. Spim frisa que é fundamental alinhar diretrizes de segurança da produção que devem ser seguidas à risca, mas ressalta que os produtores também estão conscientes de suas responsabilidades para garantir a biossegurança na produção de animais. “Essa abordagem holística, que combina fiscalização rigorosa, vigilância ativa e educação sanitária, é essencial para manter a segurança e a qualidade da produção avícola do Paraná e assegurar a confiança do consumidor no produto final”, reforça.

Avicultor Altevir Ferneda, da Linha Rocinha, em Guaraniaçu, PR: “Desde o início de nossa produção avícola, sempre priorizamos a máxima atenção à criação, conscientes da responsabilidade que carregamos”

Com capacidade para alojar até 70 mil aves por lote, o avicultor Altevir Ferneda, da Linha Rocinha, localizada em Guaraniaçu, interior do Paraná, afirma que sempre manteve medidas de biosseguridade rigorosas em sua propriedade, mas, com a ocorrência dos primeiros casos da doença em aves silvestres no litoral, essas medidas foram intensificadas. “Nossa granja é toda automatizada e restringimos o acesso exclusivamente aos funcionários autorizados. Monitoramos de forma contínua as instalações dos aviários e mantemos cuidado especial com as aves, a fim de sua segurança e saúde sejam garantidas”, assegura. “Reconhecemos a importância desse cuidado rigoroso para evitar a entrada de qualquer patógeno nas instalações. Desde o início de nossa produção avícola, sempre priorizamos a máxima atenção à criação, conscientes da responsabilidade que carregamos”, exalta o produtor, que trabalha junto com os familiares Fernando, Aline e Frederico na propriedade.

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Período de migração

O médico-veterinário conta que até 2023 a agência trabalhava com uma rota migratória que trouxe o vírus para o país. No entanto, ao longo do ano, os fiscais aprenderam mais sobre as aves migratórias e descobriram várias rotas, incluindo aquelas que vêm diretamente da Europa para o Brasil. Isso ocorre durante todo o ano, o que significa que aves migratórias chegam todos os meses ao país de áreas contaminadas de diferentes partes do mundo. “Essa descoberta colocou a defesa agropecuária em alerta constante. Nosso trabalho é voltado não apenas para conter o foco, mas, sim, para garantir que a doença fique fora das granjas comerciais”, reforça Spim, acrescentando: “Através de uma parceria com a Universidade Federal do Paraná, que possui um centro de estudos de animais da fauna marinha no litoral, somos comunicados sempre que eventos fora do comum, como a morte de aves silvestres, acontece à beira mar, inclusive com os pesquisadores nos auxiliando na identificação de aves suspeitas”.

Como proceder em casos suspeitos

Em caso de detecção de um foco suspeito de Influenza aviária, Spim explica que o controle é realizado conforme o Plano Nacional de Contingência, disponível no site do Ministério da Agricultura e Pecuária, que estabelece zonas de atuação, perímetros de vigilância e atividades específicas para controlar o foco. “Cada zona possui protocolos diferentes para mitigar a disseminação do vírus”, expõe.

O médico-veterinário ressalta que a notificação imediata é fundamental. “Qualquer suspeita, especialmente em granjas comerciais, deve ser comunicada à Adapar imediatamente. No caso de uma confirmação em uma granja comercial, o Brasil perde seu status de país livre da doença, o que terá uma repercussão global. Isso pode levar ao fechamento e dificuldade de recuperação de mercados”, aponta, ampliando: “A colaboração entre todos os elos da cadeia produtiva e instituições de pesquisa é essencial para garantir a segurança da produção avícola e proteger a reputação do Brasil como um dos principais produtores e exportadores de alimentos do mundo”.

 Importância da conscientização sobre a doença

Além das medidas de controle voltadas para a segurança alimentar e a reputação da indústria avícola paranaense e brasileira, também é importante desmistificar mitos e informar o consumidor sobre a doença e que o consumo de produtos avícolas é seguro mesmo que haja ocorrência de foco em granjas comerciais. A Influenza aviária é um vírus que circula no mundo há muitos anos, com um novo ciclo iniciado em 2014. No entanto, nunca houve registro de casos em humanos devido ao consumo de carne de frango e de ovos. “O consumo de carne e de ovos é segura”, ressalta.

A intensificação do controle da doença é fundamental devido ao impacto significativo que ela pode ter na cadeia de produção das aves. “Além de proteger a saúde das aves e garantir a qualidade dos produtos avícolas, os esforços de controle da Influenza aviária visam também tranquilizar o consumidor quanto à segurança dos alimentos. A conscientização sobre a doença e suas formas de transmissão ajuda a evitar preocupações desnecessárias e a manter a confiança na qualidade dos produtos avícolas disponíveis no mercado”, argumenta o médico-veterinário.

 O que fazer em caso de suspeita da doença

Ao avistar uma ave morta, Spim reforma que não se deve aproximar e nem mexer no animal, a fim de evitar a propagação do vírus. “Comunique imediatamente a suspeita ao Serviço Veterinário Oficial da sua região, que fará o trabalho de investigação e, se a suspeita for confirmada, desencadeará todas as medidas cabíveis”, salienta.

A Adapar dispõe de 21 Unidades Regionais de Sanidade Agropecuária (URS) com a atribuição de administrar 130 Unidades Locais de Sanidade Agropecuária (ULSA) e 33 Postos de Fiscalização do Trânsito Agropecuário (PFTA). Para saber onde está localizada a unidade da sua região acesse www.adapar.pr.gov.br/Pagina/Unidades-Regionais-de-Sanidade-Agropecuaria-URS.

Para prevenir e reduzir o risco de introdução da Influenza aviária na criação de aves comerciais é necessário tomar as seguintes medidas:

  • Cercar as unidades produtivas avícolas para que outras pessoas não entrem na produção.
  • Evitar o trânsito de pessoas e animais, bem como o contato das aves comerciais como patos, marrecos, gansos, perus e pássaros silvestres.
  • Realizar a lavagem e desinfecção de veículos para entrar e sair do núcleo de produção na propriedade.
  • Limpar e desinfetar regularmente sapatos, roupas, mãos, gaiolas, caixas, equipamentos e utensílios usados no aviário.
  • Evitar compartilhar ferramentas ou equipamentos com outros criadores.
  • Lavar sempre as mãos antes e depois de interagir com as aves.
  • Realizar controle de roedores e outras pragas que possam veicular doenças.
  • Oferecer água tratada às aves. O contato com água sem tratamento, procedente de nascente, pode comprometer todo o plantel.
  • Notificar o Serviço Veterinário Oficial da presença de sinais de doenças nervosas, respiratórias ou casos de morte repentina de grande quantidade de aves em um pequeno período de tempo.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse a versão digital de Avicultura de Corte e Postura clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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