Avicultura Agronegócio 4.0
Qualificação profissional e conectividade são desafios, mas avicultura brasileira é protagonista mundial ao adotar tecnologias
O 4.0 já é uma realidade há algum tempo no agronegócio. As tecnologias disponíveis, e que continuam sendo criadas diariamente, auxiliam toda a cadeia produtiva, desde o produtor rural até a agroindústria.

O 4.0 já é uma realidade há algum tempo no agronegócio. As tecnologias disponíveis, e que continuam sendo criadas diariamente, auxiliam toda a cadeia produtiva, desde o produtor rural até a agroindústria. Porém, com tantas novidades chegando, algumas dúvidas podem surgir: o setor está preparado? Há pessoal capacitado para lidar com isso? É possível acompanhar tudo e saber o que usar? E o pior: a propriedade tem acesso à internet? Para sanar estas e outras dúvidas, a reportagem de O Presente Rural conversou com o presidente da Associação Catarinense de Avicultura (Acav) e diretor do Sindicato das Indústrias da Carne e Derivados no Estado de Santa Catarina (Sindicarne), José Antônio Ribas Júnior.

Para Ribas, a grande pegada quando o assunto são estas tecnologias é a importância das pessoas no processo. “Nós precisamos desenvolver pessoas, porque a tecnologia está andando muito rápido e quem serão os profissionais que vão trabalhar com essa tecnologia. Ainda é um grande desafio desenvolver produtores, transportadores, operadores de granja, de transporte das aves, de ração, de incubatório, de produção. Temos o trabalho de desenvolver não somente o produtor, mas a assistência técnica, veterinários, técnicos, agrônomos, zootecnistas, desenvolver todas essa cadeia de pessoas conectadas a avicultura”, sustenta.
O Presente Rural – São muitas as novas tecnologias que estão surgindo para o agronegócio nos últimos anos. Como a agroindústria está absorvendo todas estas novidades?
José Antônio Ribas Júnior – O novo Vale do Silício do mundo é o agronegócio brasileiro, está acontecendo um movimento extraordinariamente grande, um movimento qualificado e competente de criar soluções tecnológicas para muitas questões dentro do agronegócio. Na atividade de aves e suínos, esse movimento vem sendo ampliado de maneira significativa em inúmeras frentes. O grande drive de absorção de todas as oportunidades tecnológicas que abrem um link de possibilidades que talvez a gente nem tenha a dimensão de entender ainda, porque abre um novo universo de possibilidades, é de analises de dados, de geração de conhecimento, de interrelação de variáveis, de possibilidades de gerar informação, de ler coisas que hoje o olho humano não lê, de conseguir ter a sensibilidade de temas que dependem muito de gente e que você possa tirar isso desse obstáculo é muito grande.
Então como o setor vai pensar e absorver tudo isso? Fundamentalmente é uma eleição de tecnologias que geram resultado, porque a tecnologia em si só não tem fim, ela precisa ser uma tecnologia que gere resultado e esse resultado pode ser desde uma melhoria de qualidade, pode ser uma melhoria de possibilidade de trabalho, de posto de trabalho, pode ser uma redução de custo, uma agregação de valor. Tem vários drives, mas a grande resposta é: o que vai estabelecer que tecnologias que ficam em pé e tecnologias que serão descartáveis é realmente qual resultado que ela gera. E isso todos os fornecedores de tecnologia precisam ter muito claro. Vender tecnologia por si só não muda nada. É muito bonito eu ver coisas na tela do meu celular, eu ter uma inteligência artificial gerando ajustes, fazendo algumas leituras. Mas se isso não gera algum valor agregado, alguma melhoria de resultado, seja na granja desde que for aumentar a eficiência, aumentar qualidade, reduzir custos, seja qual for, não fica em pé.
O Presente Rural – A agroindústria está preparada para absorver todas estas novidades que estão chegando?
José Antônio Ribas Júnior – A agroindústria brasileira sempre foi de ponta na área de aves e suínos, sempre foi protagonista, de vanguarda. O Brasil produz em nível tecnológico que não deixa a desejar para ninguém no mundo. Tem lugares que está robotizado. A gente não pode confundir tecnologia e robotização, são coisas que eventualmente são a mesma coisa, mas toda robotização está dentro da tecnologia, mas nem toda tecnologia é robotização. Nós temos coisas muito mais amplas sob a ótica tecnológica e o setor do agronegócio é vanguarda nisso, no modelo de criação de aves e suínos, vanguarda no jeito de operar essas cadeias, nas competências que transformaram nosso setor no maior exportador de aves do mundo, num relevante de suínos do mundo, de ter o status sanitário que nós temos, de produzir com a qualidade que nós produzimos, com custo competitivo que nós conseguimos alcançar. Isso mostra que é um setor muito receptivo à inovação. Daqui saíram grandes movimentos de produção que hoje são reconhecidos pelo mundo na competência que é feito aqui. Então tenho certeza de que o setor não somente está de braços abertos, como ele é participante desse processo, mais do que isso, ele é construtor desse processo, somos autores desse processo. O setor vem construindo soluções e vem gerando tecnologias e ele é puxador de todo esse processo.
O Presente Rural – O que existe de novo que a agroindústria está usando?
José Antônio Ribas Júnior – Tem muita coisa de novo sendo trazido de tecnologia. Desde tecnologias de imagem, que permite através de câmeras de vídeo fazer a leitura de peso de animais, de grano de peso, de comportamento animal, para que a gente amplie mais ainda a nossa competência de bem-estar animal, por exemplo, porque fica menos dependente do homem, do operador, de ter a percepção, que eventualmente ele não enxerga aquilo que está acontecendo. Então temos câmeras de vídeos fazendo esse movimento, nós temos ciência de dados conseguindo fazer análises estatísticas de uma amplitude de informações muito maior e permitindo decisões melhores, mais qualificadas. Nós temos também ganho de tempo de resposta da qualidade de análise de dados, pela capacidade desses dados transitarem e serem analisados. Esse tempo de resposta tem valor. Enfim, tem uma amplitude de novas tecnologias acontecendo de uma maneira muito grande.
Tecnologias ampliando e substituindo alguns produtos, até trazendo a possibilidade de gente fazer uma ração mais qualificada, produzindo probióticos, prebióticos, que substituem antibióticos, ou seja, é mais saúde, super conectado ao One Health, que é o conceito da saúde única, é o conceito de nós evitarmos as resistências bacterianas, de melhorar a sanidade e saúde de toda a produção. Enfim, têm muitas tecnologias chegando, sem contar todo esse aparato tecnológico que hoje está embarcado em um galpão de aves, um galpão de suínos, que permite o controle de muitas variáveis, como temperatura, umidade, concentração de gases, disponibilidade de comida e água. Há uma série de tecnologias sendo embarcadas hoje em todo o sistema, tecnologias de rastreamento, que permitem o movimento de monitoramento das rações por transporte, da logística, otimizando a logística, com ganhos para o planeta, porque você reduz consumo de combustível, você permite segurança, porque isso também permite que a gente monitore se os caminhões estão respeitando as regras de trânsito, por exemplo. Têm muitos ganhos na qualidade de vida, na qualidade da produção e na eficiência do sistema de criação. Eu sou muito empolgado com essa ideia porque ela vai permitir que a gente construa muitas soluções novas e ofereça muita eficiência ao sistema. Mas, de novo, sempre gerando resultado.
O Presente Rural – Pode citar algumas tecnologias que surgiram, mas ainda está difícil de serem “aproveitadas” pela agroindústria?
José Antônio Ribas Júnior – Têm muitas tecnologias que ainda carecem de viabilidade, delas conseguirem mostrar seus resultados. Essas tecnologias de imagem que eu citei ainda estão passando por calibração, por aprendizado, os algoritmos precisam aprender mais isso, leva tempo de você botar muita informação para dentro para acontecer esse aprendizado. Há outras tecnologias que ainda têm problemas de alto custo, ainda são caras para serem acessadas e isso vai passar por um tempo para a gente conseguir construir soluções mais baratas, conseguir desenvolver tecnologias internamente no Brasil, então também passam por este processo. Nós temos um exemplo muito claro, que a poucos anos atrás a produção de energia fotovoltaica era um pouco proibitiva, o custo benefício era ruim, hoje já está muito mais acessível, então mostra que o tempo vai trazendo soluções mais assertivas ainda. Uma grande dificuldade que existe no Brasil ainda é a conexão, a transmissão de dados, ainda muito precária no meio rural e isso também traz um pouco de restrição, porque essa integração de informação, toda essa conectividade vai passar por esses obstáculos que é são, por exemplo, a conectividade.
O Presente Rural – Percebe-se que, mesmo com tantas novidades surgindo quase que diariamente, ainda falta alguma inovação chegar a agroindústria? Qual seria?
José Antônio Ribas Júnior – Com certeza ainda faltam inovações chegarem ao nosso setor. Nós ainda temos uma desafio muito grande com o meio ambiente de reduzir a nossa pegada de carbono, então a gente precisa olhar para essa cadeia de maneira mais ampla ainda para eficiência na produção dos grãos, para eficiência do consumo e da transformação desse grão em proteína animal, ainda há muito o que se buscar de conseguir dar mais ciência aplicada à produção de milho dedicado ao frango, ao suíno, soja dedicada a essas espécies, têm muitas coisas por fazer ainda que podem trazer resultados para o planeta, porque isso é eficiência da cadeia de produção, que traz dentro do seu escopo esse conceito de sustentabilidade.
Nós ainda precisamos desenvolver o melhor uso da água, o uso racional da água ainda é uma oportunidade. Nós temos uma oportunidade para ampliar mais ainda o bem-estar animal, então ainda tem temas muito importantes a serem desenvolvidos e que. Tenho certeza que com essas novas tecnologias chegando, esse grande número de empresas e pessoas estudando e olhando para o agronegócio, porque o agronegócio virou algo atrativo para o mundo inteiro. Nós estamos vendo o presidente da Microsoft investindo em agronegócio, o presidente do Facebook olhando para questões do agronegócio, o Google olhando para o agronegócio, ou seja, o agronegócio parte de um pressuposto muito simples: é dali que o mundo se alimenta. Independentemente do que você opta por alimentação, essa alimentação virá do agronegócio, então por isso que ele está ganhando tanta relevância. Mas ainda há muita tecnologia. Nós ainda precisamos fazer o alimento chegar no prato de muita gente, então também vamos precisar do apoio da tecnologia para chegar ao prato de muita gente que hoje não consegue ter um prato de comida qualificado na sua mesa. Há muita coisa a ser feita ainda.
O Presente Rural – Quais são os desafios que a agroindústria vem enfrentando quando o assunto são estas novas tecnologias 4.0?
José Antônio Ribas Júnior – Um dos grandes desafios do 4.0 é a conectividade, a transmissão de dados, sem nenhuma dúvida. Ela ainda é um dos grandes problemas, a cobertura de 3G, 4G, no meio rural, no setor de produção é muito fraca ainda e isso limita. O mundo quer falar de 5G, mas nós ainda temos limitações muito grandes de cobertura, obstáculos bastante importantes. Mas eu quero botar um ponto aqui que é muito relevante, que talvez seja um dos grandes temas do agronegócio: nós precisamos desenvolver pessoas, porque a tecnologia está andando muito rápido. Quem serão os profissionais que vão trabalhar com essa tecnologia? Ainda é um grande desafio desenvolver produtores, transportadores, operadores de granja, de transporte das aves, de ração, de incubatório, de produção. Temos o trabalho de desenvolver não somente o produtor, mas a assistência técnica, veterinários, técnicos, agrônomos, zootecnistas, desenvolver todas essa cadeia de pessoas conectadas a avicultura. Que profissional nós precisaremos ter nesse novo mundo da tecnologia? Esse é um trabalho de desenvolvimento grande que as agroindústrias tem feito. Temos chamado a universidade, a academia para dentro dessa discussão, para que a academia se conecte a isso, entenda essa necessidade, essa demanda, e trabalhe junto conosco para desenvolver esses profissionais e para disponibilizar ao mercado um profissional qualificado para este mundo. Essa geração nova já vem muito conectada a essas tecnologias, mas estão conectadas às tecnologias para o seu uso pessoal, para as suas questões pessoais.
Agora, como você interage com essas tecnologias profissionais, com essas tecnologias de processo, com essas tecnologias da cadeia de produção de maneira a fazer elas darem o resultado que se espera? Esse é um grande trabalho de desenvolvimento que vem sendo feito, academias de treinamento, lives, webinares, enfim, muita coisa tem sido buscada. A gente aprendeu com a pandemia o uso das tecnologias, das videoconferências, de acessar pessoas com imagem, então nós temos que buscar muito disso para fazer desenvolvimento, um trabalho contínuo e muito importante para que a gente vá desenvolvendo as pessoas para tirarem o máximo proveito da tecnologia.
O Presente Rural – Como o senhor, como um profissional da agroindústria, vê a chegada destas novas tecnologias e a adaptação que as empresas estão tendo que fazer para poder usá-las ao máximo?
José Antônio Ribas Júnior – A chegada das novas tecnologias olhamos com muito otimismo, uma percepção, um mundo de oportunidades que pode se abrir, de ganhos de eficiência, seja por tempo de resposta aos problemas, quando a gente conseguir conectar essa enormidade de dados que nós manuseamos de uma formulação de ração, de um pintinho que é produzido, de um controle de ambiência que esse animal é submetido, todas essas variáveis, do jeito de transportar, do controle de transporte, quando todas essas variáveis começam a se integrar e interagir, serem cruzadas e serem correlacionadas nós podemos ter muitos aprendizados, podemos melhorar e qualificar muito a nossa decisão, podemos ganhar em eficiência. Há essa expectativa de que nós temos realmente que tirar resultado disso e em um curto prazo. É obvio que isso é uma jornada muito extensa, mas a gente precisa ir conquistando terreno e gerando resultado, porque isso vai motivando o produtor, o colaborador, as lideranças da empresa a investir cada vez mais em tecnologia porque ela vai dando resultado, a se aprimorar nos uso dela e tudo isso trazer benefícios para toda a cadeia de produção.
O Presente Rural – Em comparação com outros países, como o Brasil está na adesão destas novas tecnologias 4.0?
José Antônio Ribas Júnior – Todos os países do mundo estão trabalhando em cima do 4.0, existe muita ciência em cima disso. Mas eu não tenho nenhuma dúvida que o Brasil está puxando muito desses temas. Porque no Brasil o campo tem sido muito fértil para o desenvolvimento das tecnologias, o uso delas e para realmente fazer elas serem realmente relevantes no processo de produção. O Brasil não está atrás de nenhum país. Obviamente que alguns países que já detêm muito conhecimento científico e muita competência na produção da tecnologia, que consegue produzir, até porque o Brasil ainda é depende da importação de muitos itens tecnológicos, esses países acabam tendo essa vantagem competitiva. Mas o que nos difere é que o protagonismo do setor, a interatividade de toda essa cadeia que é integrada consegue fazer com que a velocidade nossa consiga ser muito grande porque o sistema de integração, sistema cooperativo, são alavancagem importantes nesse processo porque eles conectam o produtor muito rapidamente a estas tecnologias e fazem o filtro de quais tecnologias realmente são relevantes porque se não o produtor fica exposta o que chega até ele pode não ser a melhor tecnologia ou que não esteja atendendo seu objetivo. As cooperativas, as agroindústrias, todo o sistema de integração da produção de aves e suínos tem essa competência de fazer essa filtragem, trazer o que há de melhor e de colocar os seus especialistas a estudar cada vez mais para que o que chegue ao produtor chegue de maneira mais assertiva. Isso faz com que o Brasil ganhe uma velocidade muito grande. A gente vem observando que aqui no Brasil esse processo tenha andado muito mais rápido, o que acontece nesse mundo digital aqui no Brasil impressiona o mundo inteiro, porque a gente vem desenvolvendo muitas soluções de uma maneira muito rápida.
Outro ganho da tecnologia que é muito relevante é que ela está trazendo um benefício adicional muito bonito, que é a atratividade para os jovens da atividade de aves e suínos. Há 25 anos, quando eu era extensionista, a gente tinha uma preocupação muito grande com isso no meio rural, com o envelhecimento do campo. Hoje a gente vê muitos filhos de produtores muito atraídos pela atividade, ficando na granja, querendo conduzir o negócio, porque perceberam na tecnologia uma melhor qualidade de vida, facilitou muito o trabalho, deixou o trabalho menos braçal e muito mais intelectual, e essa turma, a nova geração, que está chegando se atrai muito por isso. Então está sendo também um instrumento de fixação de mão de obra no campo, de atratividade para o jovem e ele vai fazer um upgrade em tudo isso porque ele vem com essa vontade, com esse apetite pela tecnologia, então estamos conseguindo inclusive este ganho.
O Presente Rural – O senhor pode citar alguns exemplos de quais são estas tecnologias de IA, Big Data, entre outras, na avicultura?
José Antônio Ribas Júnior – Têm muitos exemplos de tecnologia que existem hoje. Na avicultura existem painéis de controle integrado de tudo o que acontece no ambiente do aviário, que aquele painel já faz a leitura de temperatura, da umidade, da ventilação, da luminosidade, da sensação térmica, da quantidade de gás presente, e o próprio painel já decide qual equipamento ligar, quando ligar, e faz todo esse gerenciamento. Isso já é um algoritmo, uma inteligência dentro do sistema gerenciando o processo. Já existem sistemas disponíveis que inclusive podem tomar a decisão de rapidamente reagir a qualquer situação imprevista, olhando até para o consumo de ração do animal, seja de aves ou de suínos, do consumo de água, e também já tomar a decisão, existe já a tecnologia que consegue, ao você fotografar um animal, ter um diagnóstico de qual é o problema que aquele animal pode estar passando, qual é a dificuldade, até mesmo qual é a própria doença, baseado em alguma sintomatologia ou sinal que o animal pode estar passando e que isso ajuda o produtor a fazer o seu diagnóstico.
Já existe muita ciência de imagem, gerando peso dos animais, gerenciando em tempo real o peso dos animais, existem imagens trabalhando para fazer a qualificação do animal no abate, para fazer a leitura de qualidade daquele animal, e com isso permitir que você diferencie qualidade e possa também remunerar meritocraticamente por qualidade, ou que você possa destinar um tipo de característica de um animal para um produto A ou B. Tudo isso já são tecnologias que estão aí. E agora com a chegada da nuvem, a possibilidade que já está acontecendo de jogar dados na nuvem e você ter uma possibilidade de administrar um número de dados muito maior, interrelações muito maiores também já é uma situação que já está disponível.
O Presente Rural – Além da agroindústria, outros elos da avicultura estão preparados para absorver todas estas novas tecnologias?
José Antônio Ribas Júnior – O setor já está sim preparado para tudo isso, o setor vem se preparando para isso e já falava em tecnologia na década de 1980 quando começaram a automatizar processos de criação. Como eu falei, o setor é muito protagonista nisso, tem uma capacidade de inovação impressionante, se reinventa a cada crise, entendendo que precisa buscar soluções. Então, o setor está preparado para tudo isso, sim. Obvio que sempre buscando mais e melhor conhecimento para administrar tudo isso, investindo nos profissionais. Eu pessoalmente acredito muito nessas soluções, nós estamos investindo como setor, como empresa, como profissional neste processo porque acreditamos que ele vai trazer melhores resultados do que nós operamos hoje e isso, em última análise, para mim, tudo isso tem uma conexão superimportante que é a sustentabilidade. Nós vamos ser mais eficientes sob todas as óticas, mais eficientes socialmente, porque vamos ser mais includentes, em governança porque vamos administrar melhor, dar mais transparência sob a nossa gestão, vamos poder mostrar em tempo real o que a gente fala e faz, e vamos ser mais eficientes no consumo dos recursos naturais do planeta. Tudo isso vai trazer um resultado muito positivo e a gente acredita muito nisso.
Hoje todas as empresas estão assumindo compromissos de sustentabilidade, tem esse conceito novo do ESG, que traz o meio ambiente, social e governança, e tudo isso já está conectado. Essa tecnologia vai permitir a gente conquistar melhores resultados, mais eficiência e fundamentalmente mostrar ao consumidor que é, em última análise, o grande beneficiário de tudo isso, porque ele vai poder acessar um produto muito mais sustentável no seu prato, com muito mais qualidade. A gente vai poder atingir melhor esse consumidor, desde aquele que vai poder acessar pela primeira vez um prato de comida qualificado até os mais exigentes que vão poder ter um acesso à informação diferenciado, mostrando o quão competente é o nosso sistema de produção.
O Presente Rural – Como o senhor vê o comportamento do setor quanto a estas novas tecnologias?
José Antônio Ribas Júnior – Consegue cobrir todos os assuntos deste tema que são superimportantes nesse processo. Nós não podemos perder de vista os drives que conduzem tudo isso. Da gente cuidar melhor de gente, de todas as pessoas que estão envolvidas na cadeia de produção, melhorando a qualidade de vida delas, através das tecnologias, através da facilidade das rotinas de trabalho, através da eficiência do trabalho. Nós temos que cuidar do meio ambiente e a tecnologia nos ajudará com isso, usar melhor os recursos naturais, mostrar à sociedade o quão somos comprometidos com o meio ambiente, que isso já é um DNA do setor, mas vamos poder mostrar isso com mais clareza. A gente vai poder dar muita atenção a toda a eficiência e qualificação dos nossos produtos, dando condição de melhorar bem-estar animal mais ainda, esses conceitos de One Health, de redução de antibióticos, enfim, tem inúmeros ganhos associados a isso. Tudo ao seu tempo, tudo construído com muita seriedade, com muita responsabilidade para que a gente vá construindo dias melhores à frente.
Sou um otimista sobre isso, mas com muito realismo, para que a gente não queira desenhar algo excepcional e deixe de fazer o que é bom, para a gente ir fazendo um passo de cada vez realmente com essa sensação de que estamos construindo um caminho certo. Muitos aprendizados acontecerão, mas estamos superabertos para esses aprendizados. Eu pessoalmente tenho aprendido muito nesse segmento, nesse setor, das oportunidades que a gente pode aproveitar. Não tenho dúvidas de que estamos construindo dias melhores à frente porque todos nós estamos muito imbuídos de entregar um planeta melhor para as próximas gerações, produzindo alimentos de maneira muito correta e transparente para que toda a sociedade tenha muito orgulho da produção de proteína que nós fazemos.
O produtor do agronegócio tem uma capacidade muito grande de gerar qualidade de vida, não somente por toda a economia que ele movimenta, mas também nos indiretos para toda a sociedade, até porque é um setor que gera movimento econômico, que traz investimentos, que geram mais empregos, emprego gera mais consumo, consumo gera mais movimento econômico que gera mais empregos, que gera mais consumo. Veja que a gente alimenta uma roda de ganhos sociais, econômicos e agregação de valor para a sociedade que é muito grande. E o que a gente quer fazer é que a tecnologia facilite tudo isso. E em outro viés que melhore muito o nosso nível de comunicação com o nosso cliente, com o nosso consumidor, com a sociedade, mostrando como que a gente produz para que tenham segurança, que nós cuidamos de todos os aspectos de sanidade, de saúde, de bem-estar, das pessoas para que possam consumir um alimento de maneira muito tranquila de que estão cuidando do planeta, das pessoas e dos animais. Tudo isso nos reserva benefícios muito grandes para serem conquistados.

Avicultura
Paraná registra queda no custo do frango com redução na ração
Apesar da retração no ICPFrango e no custo total de produção, despesas com genética e sanidade avançam e mantêm pressão sobre o sistema produtivo paranaense.

O custo de produção do frango vivo no Paraná registrou nova retração em outubro de 2025, conforme dados da Central de Inteligência de Aves e Suínos (CIAS) da Embrapa Suínos e Aves. Criado em aviários climatizados de pressão positiva, o frango vivo custou R$ 4,55/kg, redução de 1,7% em relação a setembro (R$ 4,63/kg) e de 2,8% frente a outubro de 2024 (R$ 4,68/kg).
O Índice de Custos de Produção de Frango (ICPFrango) acompanhou o movimento de queda. Em outubro, o indicador ficou em 352,48 pontos, baixa de 1,71% frente a setembro (358,61 pontos) e de 2,7% na comparação anual (362,40 pontos). No acumulado de 2025, o ICPFrango registra variação negativa de 4,90%.
A retração mensal do índice foi influenciada, principalmente, pela queda nos gastos com ração (-3,01%), item que historicamente concentra o maior peso no custo total. Também houve leve recuo nos gastos com energia elétrica, calefação e cama (-0,09%). Por outro lado, os custos relacionados à genética avançaram 1,71%, enquanto sanidade, mão de obra e transporte permaneceram estáveis.

No acumulado do ano, a movimentação é mais desigual: enquanto a ração registra expressiva redução de 10,67%, outros itens subiram, como genética (+8,71%), sanidade (+9,02%) e transporte (+1,88%). A energia elétrica acumulou baixa de 1,90%, e a mão de obra teve leve avanço de 0,05%.
A nutrição dos animais, que responde por 63,10% do ICPFrango, teve queda de 10,67% no ano e de 7,06% nos últimos 12 meses. Já a aquisição de pintinhos de um dia, item que representa 18,51% do índice, ficou 8,71% mais cara no ano e 7,16% acima do registrado nos últimos 12 meses.
No sistema produtivo típico do Paraná (aviário de 1.500 m², peso médio de 2,9 kg, mortalidade de 5,5%, conversão alimentar de 1,7 kg e 6,2 lotes/ano), a alimentação seguiu como principal componente do custo, representando 63,08% do total. Em outubro, o gasto com ração atingiu R$ 2,87/kg, queda de 3,04% sobre setembro (R$ 2,96/kg) e 7,12% inferior ao mesmo mês de 2024 (R$ 3,09/kg).
Entre os principais estados produtores de frango de corte, os custos em outubro foram de R$ 5,09/kg em Santa Catarina e R$ 5,06/kg no Rio Grande do Sul. Em ambos os casos, houve recuos mensais: 0,8% (ou R$ 0,04) em Santa Catarina e 0,6% (ou R$ 0,03) no território gaúcho.
No mercado, o preço nominal médio do frango vivo ao produtor paranaense foi de R$ 5,13/kg em outubro. O valor representa alta de 3,2% em relação a setembro, quando a cotação estava em R$ 4,97/kg, indicando que, apesar da melhora de preços ao produtor, os custos seguem pressionados por itens estratégicos, como genética e sanidade.
Avicultura
Produção de frangos em Santa Catarina alterna quedas e avanços
Dados da Cidasc mostram que, mesmo com variações mensais, o estado sustentou produção acima de 67 milhões de cabeças no último ano.

A produção mensal de frangos em Santa Catarina apresentou oscilações significativas entre outubro de 2024 e outubro de 2025, segundo dados da Cidasc. O período revela estabilidade em um patamar elevado, sempre acima de 67 milhões de cabeças, mas com movimentos de queda e retomada que refletem tanto fatores sazonais quanto ajustes de mercado.
O menor volume do período foi registrado em dezembro de 2024, com 67,1 milhões de cabeças, possivelmente influenciado pela desaceleração típica de fim de ano e por ajustes de alojamento. Logo no mês seguinte, porém, houve forte recuperação: janeiro de 2025 alcançou 79,6 milhões de cabeças.

Ao longo de 2025, o setor manteve relativa constância entre 70 e 81 milhões de cabeças, com destaque para julho, que atingiu o pico da série, 81,6 milhões, indicando aumento da demanda, seja interna ou externa, em plena metade do ano.
Outros meses também se sobressaíram, como outubro de 2024 (80,3 milhões) e maio de 2025 (80,4 milhões), reforçando que Santa Catarina segue como uma das principais forças da avicultura brasileira.
Já setembro e outubro de 2025 mostraram estabilidade, com 77,1 e 77,5 milhões de cabeças, respectivamente, sugerindo um período de acomodação do mercado após meses de forte atividade.
De forma geral, mesmo com oscilações, o setor mantém desempenho sólido, mostrando capacidade de rápida recuperação após quedas pontuais. O comportamento indica que a avicultura catarinense continua adaptável e resiliente diante das demandas do mercado nacional e internacional.
Avicultura
Setor de frango projeta crescimento e retomada da competitividade
De acordo com dados do Itaú BBA Agro, produção acima de 2024 e aumento da demanda doméstica impulsionam perspectivas positivas para o fechamento de 2025, com exportações em recuperação e espaço para ajustes de preços.

O setor avícola brasileiro encerra 2025 com sinais de recuperação e crescimento, mesmo diante dos desafios impostos pelos embargos que afetaram temporariamente as margens de lucro.
De acordo com dados do Itaú BBA Agro, a produção de frango deve fechar o ano cerca de 3% acima de 2024, enquanto o consumo aparente deve registrar aumento próximo de 5%, impulsionado por maior disponibilidade interna e retomada do mercado externo, especialmente da China.

Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a competitividade do frango frente à carne bovina voltou a se fortalecer, criando espaço para ajustes de preços, condicionados à oferta doméstica. A demanda interna tende a crescer com a chegada do período de fim de ano, sustentando a valorização do produto.
Além disso, os custos de produção, especialmente da ração, seguem controlados, embora a safra de grãos 2025/26 ainda possa apresentar ajustes. No cenário geral, os números do setor podem ser considerados positivos frente às dificuldades enfrentadas, reforçando perspectivas favoráveis para os próximos meses.



