Conectado com

Suínos Nutrição

Quais são os níveis de microminerais e vitaminas praticados nas rações comerciais para suínos em fase de crescimento e terminação no Brasil?

Níveis elevados praticados destes oligolementos pode sugerir uma tentativa de ajuste nutricional às modernas demandas que os animais detêm

Publicado em

em

Arquivo/OP Rural

Artigo escrito pelo Dr. Danyel Bueno Dalto, Agriculture and Agri-Food Canada, Sherbrooke, e Dr. Caio Abércio da Silva, professor da Universidade Estadual de Londrina

As dietas comerciais para suínos são comumente formuladas com níveis de vitaminas e microminerais superiores aos recomendados pelas tabelas de referência, visando assim garantir margens de segurança, minimizando os riscos frente as possíveis variações nos níveis endógenos dos ingredientes, diferenças de biodisponibilidade, flutuações no consumo diário e/ou degradação de vitaminas devido às condições desfavoráveis de estocagem.

Carente de uma validação cientifica efetiva, atribui-se que os valores praticados pela indústria da nutrição animal para os níveis de microminerais e vitaminas correspondam a duas vezes as recomendações de referência. Não obstante serem escassas as informações a respeito, um estudo pioneiro identificou que os níveis de suplementação de vitaminas utilizados pela indústria suinícola americana guardavam um grande empirismo. Nesta linha, um estudo subsequente, também realizado nos Estados Unidos, ratificou que os níveis de suplementação de microminerais e vitaminas utilizados pela indústria suinícola daquele país apresentava grandes variações para a maioria dos nutrientes, independente da fase de produção.

Estas informações contrastam com os contínuos esforços que seguem buscando atualizar e identificar os níveis mais ajustados às necessidades nutricionais do suíno moderno. Uma grande limitação no que diz respeito aos minerais traços e, principalmente, às vitaminas é o fato que a maioria das pesquisas realizadas neste sentido datam das décadas de 40 e 50 e, portanto, foram baseadas num modelo animal muito distante do suíno atual. Neste contexto, pesquisadores reportam, especificamente para as vitaminas, que margens de segurança destas nas rações poderiam ser introduzidas, respeitando, todavia, o custo real de cada vitamina.

Particularmente, este tema é, do ponto de vista econômico, mais apelativo para as fases de crescimento e terminação, cujos gastos com a alimentação são muito expressivos, o que remete a compreender que os eventuais desvios nos níveis destes oligoelementos (especialmente quando acima das recomendações de referência), sem uma correspondente resposta no desempenho zootécnico, podem ter repercussões financeiras negativas para o segmento.

Nesse contexto, o objetivo do presente estudo foi identificar os níveis de microminerais e vitaminas presentes em rações comerciais utilizadas nas fases de crescimento e terminação pela indústria suinícola brasileira, fomentando informações que poderão auxiliar nutricionistas e pesquisadores nas ações em prol da melhora dos aspectos técnicos e econômicos no segmento.

Material e Métodos

Este levantamento foi realizado nos meses de Junho a Dezembro de 2019, estando envolvidas como colaboradoras 15 empresas produtoras de premix/núcleo para suínos, com atuação nas diversas regiões do Brasil, e 15 cooperativas/agroindústrias do setor suinícola brasileiro.

Os dados coletados compreenderam os níveis mínimos de garantia de microminerais e vitaminas dos produtos de linha de empresas de premixes/núcleos, juntamente com sua indicação de uso, e os níveis de microminerais e vitaminas das rações finais utilizadas pelas cooperativas e integrações. Cada empresa participante também informou a fase na qual o produto (premix/núcleo e/ou ração) era indicado, compreendendo a idade do animal ou sua faixa de peso ou ainda a categoria atendida. As fases, portanto, avaliadas corresponderam a: crescimento (71 a 120 dias de idade) e terminação (121 dias de idade até o abate).

Dentro de cada fase foram avaliados os seguintes microminerais e vitaminas: cobalto (Co), cobre (Cu), cromo (Cr), ferro (Fe), iodo (I), manganês (Mn), selênio (Se), zinco (Zn), vitamina A (vitA), vitamina D (vitD), vitamina E (vitE), vitamina K (vitK), tiamina (vitB1), riboflavina (vitB2), niacina (vitB3), ácido pantoténico (vitB5), piridoxina (vitB6), biotina (vitB7), ácido fólico (vitB9), cobalamina (vitB12), colina e ácido ascórbico (vitC).

Os dados foram compilados e submetidos à análises estatísticas descritivas. Para cada fase de produção foram calculadas taxas entre as médias dos níveis de suplementação de microminerais e vitaminas obtidos no presente estudo e os valores registrados nas Tabelas Brasileiras de Suínos e Aves para as fases correspondentes; e também a relação destes com os valores obtidos no levantamento realizado junto à indústria suinícola americana, estabelecendo um processo comparativo com estas referências.

Resultados

Os níveis de microminerais variaram entre 1,1 e 1,3 vezes os valores indicados pela TBSA para a fase de crescimento (Tabela 1) e entre 1,3 e 13,0 vezes para a fase de terminação (Tabela 2). Em relação a USA, os presentes níveis representaram entre 0,9 e 2,3 vezes os valores obtidos para ambas as fases. Para a fase de crescimento, os presentes valores são similares às indicações da TBSA, mas para a fase de terminação, exceto pelo Se, os valores foram largamente superiores. Quando comparados aos valores da USA, os níveis de Mn e I foram largamente superiores. Com exceção do Cu (70,3-74,1%), Mn (64,1%; apenas crescimento) e Co (109,4-136,0%), poucas amplitudes de variação (entre 20,2 e 49,0%) foram observadas para microminerais entre as empresas.

Os níveis de vitaminas lipossólúveis (Tabelas 1 e 2) representaram entre 0,9 e 1,4 vezes os valores indicados pela TBSA e entre 0,9 e 1,5 vezes os valores obtidos por USA. Enquanto na ração de crescimento os níveis de vitD e vitE foram superiores aos valores USA mas similares à TBSA, na ração de terminação os níveis de vitA e vitD foram superiores aos valores da TBSA e apenas a vitD foi superior a USA. Grandes amplitudes de variação foram observadas apenas para vitE (73,7%) nas rações de crescimento e para todas as vitaminas lipossólúveis (entre 50,4 e 63,5%), exceto pela vitA (35,7%), nas rações de terminação.

Os níveis de vitaminas hidrossólúveis (Tabelas 1 e 2) representaram entre 0,9 e 2,2 vezes os valores indicados pela TBSA e entre 0,8 e 2,0 vezes os valores obtidos por USA. Exceto pelas B5 (apenas crescimento), B3 e B6, os presentes níveis foram muito superiores aos recomendados pela TBSA, enquanto os níveis da vitamina B7 foram particularmente superiores aos valores USA. Exceto pela vitamina B3 (41,7%) e B6 (48,8%; apenas terminação), grandes amplitudes de variação foram observadas para as demais vitaminas desse grupo (entre 50,0 e 145,00%) entre as empresas.

Tabela 1 – Média, coeficiente de variação (CV), valor mínimo (Min), percentil 25% (25%), mediana, percentil 75% (75%), valor máximo (Max), proporção em relação a valores de referência brasileiro (Taxa TBSA) e proporção em relação à valores norte-americanos (Taxa US) das concentrações de microminerais e vitaminas adicionadas à rações de crescimento (71 à 120 dias de idade).

Tabela 2 – Média, coeficiente de variação (CV), valor mínimo (Min), percentil 25% (25%), mediana, percentil 75% (75%), valor máximo (Max), proporção em relação a valores de referência brasileiro (Taxa TBSA) e proporção em relação à valores norte-americanos (Taxa US) das concentrações de microminerais e vitaminas adicionadas à rações de terminação (121 dias de idade até abate).

Discussão

De modo geral, os níveis de microminerais e vitaminas utilizados pela indústria suinícola brasileira nas fases de crescimento e terminação são superiores aos recomendados pela TBSA. Apesar desses resultados serem esperados, os níveis médios de suplementação utilizados (considerando as fases de crescimento e terminação conjuntamente) pela indústria brasileira foram 17, 58 e 31% superiores, respectivamente, às recomendações da TBSA para vitaminas lipossolúveis, vitaminas hidrossolúveis e microminerais, não superando a expectativa de que estes valores fossem em torno de duas vezes a recomendação. No entanto, os níveis de cobre para a fase de terminação superaram estas médias.

Em relação aos níveis utilizados pela indústria americana para as fases de crescimento e terminação, os resultados para as vitaminas lipossolúveis mostram que os níveis brasileiros variaram ligeiramente entre os limites inferiores e superiores. Para as vitaminas hidrossolúveis esses níveis tenderam a serem majoritariamente inferiores, enquanto para os microminerais as variações oscilaram entre 20 e 60% superiores.

Os níveis supra nutricionais de Cu praticados nas dietas de suínos em fase de terminação, observados nesse estudo, também foram relatados em outro estudo de 2016, que trata que nestas dosagens o objetivo do mineral é a ação como promotor do crescimento. No entanto, segundo o NRC (2012), níveis de suplementação acima de 250 mg/Kg podem ser tóxicos para os suínos, não existindo evidências que nestas condições venham a promover algum benefício adicional.

Os níveis recomendados pela TBSA para I e Mn são muito superiores aos recomendados pelo NRC (2012), e os níveis utilizados pela indústria suinícola brasileira mostram-se largamente superiores aos níveis do USA. Apesar de perdas de desempenho serem observadas apenas com níveis de suplementação extremamente elevados (800 mg/Kg para I e 500 mg/Kg para Mn), a utilização de níveis semelhantes aos observados no presente estudo para I e Mn para as fases crescimento e terminação não encontra base científica.

Quanto ao selênio (Se), os níveis utilizados na América do Norte seguem a legislação vigente, que limita seu uso ao nível máximo de 0.3 mg/Kg. No Brasil, apesar de não haver normas claras a esse respeito, os níveis utilizados pela indústria são apenas ligeiramente superiores. No entanto, o potencial efeito positivo de níveis mais elevados deste mineral tem gerado uma pressão da indústria norte-americana para alterações nos limites legais. De fato, a grande variabilidade na concentração endógena de Se nos ingredientes, associado ao intenso metabolismo dos suínos modernos, sugere que a suplementação com 0.3 mg/Kg de Se pode ser sub-ótima para suportar o sistema antioxidante demandado pela genética e pelas condições adversas que são frequentes, como o estresse pelo calor, a alta pressão de infecção, e mesmo a pressão oxidativa causada pela ovulação em porcas hiper-prolíficas.

O presente estudo demonstrou que a indústria suinícola brasileira utiliza a suplementação com Co, Cr, colina e vitC de forma mais disseminada, comparado à indústria suinícola americana. Adicionalmente, a indústria brasileira faz uso de todas as vitaminas hidrossolúveis nestas fases, enquanto nos EUA a maioria não registrou a utilização das vitaminas B1, B6, B7, B9 e/ou colina no crescimento e terminação.

Conclusões

As grandes amplitudes de variação no uso de microminerais e vitaminas observadas entre as empresas, especialmente para vitaminas hidrossolúveis, reflete existir uma postura de precaução ou segurança diante de possíveis variações quantitativas e/ou qualitativas destes elementos nas dietas finais oferecidas aos animais.

Em geral, os níveis elevados praticados destes oligolementos pode sugerir uma tentativa de ajuste nutricional às modernas demandas que os animais detêm. Todavia, há indicativos de que a diversidade dos níveis utilizados não tem um amplo respaldo científico, apontando para uma lacuna, que deve ser explorada com mais pesquisas e investimentos.

Outras notícias você encontra na edição de Suínos e Peixes de maio/junho de 2021 ou online.

Fonte: O Presente Rural

Suínos

Importância do diagnóstico para controle de diarreia em leitões de maternidade

Ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais.

Publicado em

em

Fotos: Divulgação/Agroceres Multimix

Artigo escrito por Lucas Avelino Rezende, consultor de Serviços Técnicos de suínos na Agroceres Multimix

Uma das causas mais frequentes de morte de leitões na maternidade, sem dúvidas, é a diarreia neonatal, que pode ser causada por diversos fatores, incluindo infecções bacterianas, virais ou parasitárias, bem como problemas nutricionais ou ambientais.

Por ser multifatorial, a simples presença de patógenos entéricos nem sempre é suficiente para produzir doença clínica. Diante disso, é importante saber que é necessário haver uma interação hospedeiro-ambiente-patógeno. Diferenças em práticas específicas de manejo e ambiente, bem como características do animal e do rebanho, podem influenciar muito o risco de ocorrência da doença.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Alguns fatores podem contribuir para o aumento na ocorrência da diarreia pré-desmame, como: leitões de baixo peso ao nascer, baixa temperatura ambiental levando ao estresse pelo frio, higiene ruim da gaiola de parição, ingestão de leite e colostro insuficientes e o número insuficiente de tetos para a prole.

As principais causas infecciosas de diarreia em leitões na maternidade no Brasil são as Clostridioses, Colibacilose, Rotaviroses e Coccidiose. Em alguns casos, a coinfecção de dois ou mais agentes podem estar presentes e agravar o caso de diarreia.

A sobrevivência de leitões é influenciada por vários fatores, incluindo ordem de nascimento, peso ao nascer, ingestão de colostro e níveis séricos de imunoglobulina G (IgG). Esses fatores interagem de maneiras complexas para determinar a suscetibilidade do leitão a doenças e a saúde geral.

Um importante ponto para entender a dinâmica do surgimento de diarreias na maternidade é a avaliação da ingestão de colostro pelos leitões, uma vez que é essencial para a imunidade passiva dos leitões recém-nascidos, já que não há transferência de imunoglobulinas e outros componentes da imunidade materna para os leitões via transplacentária.

De modo geral, granjas com baixo peso ao nascimento ou uma grande variabilidade do tamanho dos leitões nascidos são aquelas mais desafiadas com diarreias na maternidade, porque leitões com menor peso ao nascer podem ter dificuldade em consumir colostro suficiente, resultando em níveis mais baixos de IgG e maior suscetibilidade a infecções.

O diagnóstico clínico da causa da diarreia em leitões pode ser subjetivo e propenso a erros. Fatores como estresse, condições ambientais e outros problemas de saúde subjacentes podem ser muito semelhantes aos sintomas da diarreia. Para isso, devemos desenvolver critérios de diagnóstico mais objetivos para diarreia em leitões, como: monitorar os leitões desde o nascimento, permitindo a detecção precoce da doença, incorporar testes laboratoriais (por exemplo, consistência fecal, pH e níveis de eletrólitos), realizar necropsias e exames complementares a detecção viral ou bacteriana, como histopatologia e imuno-histoquímica.

Diagnóstico

Um diagnóstico preciso ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais. Um dos pilares para isso é a coleta adequada de amostras. Ela permite a identificação dos agentes etiológicos, avaliação da resposta imune e a monitorização da eficácia das terapias.

A escolha do tipo de amostra dependerá do agente etiológico suspeito e dos objetivos do exame. As amostras mais comuns incluem:

  • Fezes: A coleta de fezes é o método mais simples e acessível. É importante coletar amostras frescas e representativas de diferentes animais do lote. Para suspeitas virais é importante coletar sempre de animais na fase aguda da doença, quando a eliminação viral é maior. Para casos de suspeita parasitária é importante associar o diagnostico com histopatologia, uma vez que a eliminação do Cystoisospora é intermitente.
  • Sangue: A análise do sangue permite avaliar a resposta imune, a presença de anticorpos e detectar alterações bioquímicas.
  • Conteúdo intestinal: A coleta do conteúdo intestinal é indicada para a identificação de patógenos que colonizam o intestino delgado ou grosso.
  • Tecidos: A coleta de tecidos para histopatologia é parte fundamental e complementar as análises de cultivo bacteriano e detecção viral nas fazes ou conteúdo intestinal.

A coleta de amostras deve ser realizada de forma cuidadosa para evitar a contaminação e garantir a qualidade do material. Os recipientes utilizados para a coleta das amostras devem estar limpos e esterilizados para evitar a contaminação por outros microrganismos. De modo geral, é importante que as amostras sejam bem refrigeradas e nunca congeladas, uma vez que o processo de congelamento pode inviabilizar o cultivo bacteriano.

Após a coleta das amostras, diversos métodos podem ser utilizados para o diagnóstico, dentre eles cultura que possibilita a identificação e o isolamento de bactérias, PCR que detecta a presença de DNA ou RNA de vírus, bactérias com alta especificidade, sorologia para pesquisa de anticorpos contra os agentes infecciosos, indicando uma infecção prévia ou atual e a histopatologia que permite a avaliação de lesões histológicas e a identificação de agentes infecciosos em tecidos.

A histopatologia desempenha um papel crucial no diagnóstico preciso de doenças intestinais em leitões. Através da análise microscópica de tecidos, é possível identificar lesões características de diversas doenças, auxiliando na diferenciação entre condições infecciosas, inflamatórias, neoplásicas e degenerativas.

A escolha do método de coleta de amostra e do exame laboratorial dependerá do agente etiológico suspeito, da fase da doença e dos recursos disponíveis. A correta coleta e o transporte das amostras são essenciais para garantir a qualidade dos resultados.

A interpretação correta dos resultados dos exames laboratoriais é crucial para o diagnóstico preciso e o tratamento adequado da diarreia em leitões. Ela envolve a análise dos dados obtidos, a correlação com os sinais clínicos e a consideração de outros fatores, como a idade dos animais, as condições de manejo e a história epidemiológica do plantel.

Em resumo, o diagnóstico é uma ferramenta essencial no combate à diarreia em leitões de maternidade, uma vez que permite ações direcionadas e eficazes para controlar e prevenir a doença, garantindo a saúde e o bem-estar dos animais.

As referências bibliográficas estão com o autor. Contato: marketing.nutricao@agroceres.com.

O acesso é gratuito e a edição Suínos pode ser lida na íntegra on-line clicando aqui. Tenha uma boa leitura!

Fonte: O Presente Rural com Lucas Avelino Rezende
Continue Lendo

Suínos

Especialista evidencia importância de os profissionais da cadeia suinícola entenderem o que é sustentabilidade

Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção.

Publicado em

em

Foto: Shutterstock

Na suinocultura, a sustentabilidade se tornou um dos principais desafios enfrentados pelos profissionais do setor. O médico-veterinário José Francisco Miranda, especialista em Qualidade de Alimentos, destaca que a compreensão desse conceito é fundamental para que zootecnistas e veterinários contribuam efetivamente para a produção sustentável de suínos. “É preciso entender que a sustentabilidade não é custo, mas investimento”, afirma.

Ele ressalta que, ao longo dos últimos 15 anos, a discussão sobre práticas sustentáveis ​​esteve frequentemente atrelada a um aumento nos custos, envolvendo ações como o plantio de árvores e a adequação da dieta dos animais. “Essas práticas eram vistas como um custo, o profissional precisa desmistificar essa visão. Na verdade, boas práticas de produção estão intimamente ligadas a resultados positivos”, explica.

Para Miranda, a eficiência na conversão alimentar é um exemplo claro de como sustentabilidade e produtividade caminham juntas. “Não existe produção com alta conversão alimentar que não seja sustentável. Os números de emissões são baixos quando a eficiência é alta”, ressalta.

Um ponto destacado pelo especialista é o papel dos zootecnistas e nutricionistas na cadeia produtiva. “Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção. E cada vez mais eles terão um papel significativo na implantação da sustentabilidade dentro das empresas”, afirma.

O entendimento das análises de sustentabilidade e das tecnologias disponíveis é essencial. Miranda menciona, como exemplo, o uso de aditivos nutricionais, como a protease, que permite reduzir a quantidade de soja na ração. “Com isso, é possível diminuir a pegada de carbono em até 12%. No entanto, menos de 40% dos produtores no mundo utilizam essa tecnologia, o que revela uma falta de informação e confiança na eficácia desses produtos”, expõe.

Comunicação e conscientização

Para que as informações sobre sustentabilidade sejam disseminadas na suinocultura é fundamental que os profissionais comuniquem os benefícios dessas práticas não apenas entre si, mas também para a alta direção das empresas. “Os profissionais precisam trazer essa informação para a gestão, conscientes de que a sustentabilidade deve ser uma estratégia de crescimento, não apenas uma preocupação financeira”, destaca Miranda.

O especialista também ressalta a importância de uma colaboração entre academia, indústria e governo para facilitar a adoção de novas tecnologias. “Cada parte da cadeia produtiva deve contribuir para acelerar esse processo. É um esforço coletivo que envolve desde a produção até a comercialização”, enfatiza.

Compromisso do setor

Miranda acredita que o setor está comprometido com a adoção de práticas sustentáveis, embora reconheça a necessidade de discussão sobre o que é realmente necessário para essa transição. “As empresas entendem que a sustentabilidade traz benefícios não apenas para o planeta, mas também para sua própria lucratividade, mas é preciso acelerar a implementação destas práticas sustentáveis”, frisa,

Para se destacar neste cenário, Miranda enfatiza que os profissionais devem se aprofundar nas análises de sustentabilidade e na análise do ciclo de vida dos produtos. “Um bom profissional deve entender desde a produção do grão até o produto final que chega ao consumidor. Se ele se restringir a uma única área, pode perder de vista os benefícios que sua atuação pode trazer para toda a cadeia”, salienta.

A visão do especialista reforça que a sustentabilidade na suinocultura não é uma tendência passageira, mas uma necessidade imediata. “A adoção de práticas sustentáveis, aliada ao conhecimento técnico e científico, é fundamental para garantir um futuro mais responsável e eficiente para a indústria suinícola”, afirma.

O acesso é gratuito e a edição Suínos pode ser lida na íntegra on-line clicando aqui. Tenha uma boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
Continue Lendo

Suínos

Suinocultura teve ano de recuperação, mas cenário é de cautela

Conjuntura foi apresentada ao longo de reunião da Comissão Técnica de Suinocultura da Faep. Encontro também abordou segurança do trabalho em granjas de suínos.

Publicado em

em

Foto: Divulgação/Sistema Faep

Depois de dois anos difíceis, a suinocultura paranaense iniciou um período de recuperação em 2024. As perspectivas para o fim deste ano são positivas, mas os primeiros meses de 2025 vão exigir cautela dos produtores rurais, que devem ficar de olho em alguns pontos críticos. O cenário foi apresentado em reunião da Comissão Técnica (CT) de Suinocultura do Sistema Faep, realizada na última terça-feira (19). Os apontamentos foram feitos em palestra proferida por Rafael Ribeiro de Lima Filho, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A mesma conjuntura consta do levantamento de custos de produção do Sistema Faep, que será publicado nos próximos dias.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

O setor começou a se recuperar já em janeiro deste ano, com a retomada dos preços. Até novembro, o preço do suíno vivo no Paraná acumulou aumento de 54,4%, com a valorização se acentuando a partir de março. No atacado, o preço da carcaça especial também seguiu esse movimento. A recomposição ajudou o produtor a se refazer de um período em que a atividade trabalhou no vermelho.

Por outro lado, a valorização da carne suína também serve de alerta. Com o aumento de preços, os produtos da suinocultura perdem competitividade, principalmente em relação à carne de frango, que teve alta bem menor ao longo ano: o preço subiu 7,7%, entre janeiro e novembro. Com isso, a tendência é que o frango possa ganhar a preferência do consumidor, em razão dos preços mais vantajosos.

“Temos que nos atentar com a competitividade da carne suína em relação a outras proteínas. Com seus preços subindo bem menos, o frango se tornou mais competitividade. Isso é um ponto de atenção para a suinocultura, neste cenário”, assinalou Lima Filho.

Exportações

Foto: Claudio Neves

Com 381,6 mil matrizes, o Paraná mantém 18% do rebanho brasileiro de suínos. A produção nacional está em estabilidade nos últimos três anos, mas houve uma mudança no portifólio de exportações paranaenses. Com a recomposição de seus rebanhos, a China reduziu as importações de suínos. O país asiático – que chegou a ser o destino de 40% das vendas externas paranaenses em 2019 – vai fechar 2024 com a aquisição de 17% das exportações de suínos do Paraná.

Em contrapartida, os embarques para as Filipinas aumentaram e já respondem por 18% das vendas externas de carne suína do Estado. Entre os destinos crescentes, também aparece o Chile, como destino de 9% das exportações de produtos da suinocultura paranaense. Nesse cenário, o Paraná deve fechar o ano com um aumento de 9% no volume exportado em relação a 2023, atingindo 978 mil toneladas. Os preços, em compensação, estão 2,3% menores. “Apesar disso, as margens de preço começaram a melhorar no segundo semestre”, observou Lima Filho.

Perspectivas

Diante deste cenário, as perspectivas são positivas para este final de ano. O assessor técnico da CNA destaca fatores positivos, como o recebimento do 13º salário pelos trabalhadores, o período de férias e as festas de final de ano. Segundo Lima Filho, tudo isso provoca o aquecimento da economia e tende a aumentar o consumo de carne suína. “A demanda interna aquecida e as exportações em bons volumes devem manter os preços do suíno vivo e da carne sustentados no final deste ano, mantendo um momento positivo para o produtor”, observou o palestrante.

Para 2025, se espera um tímido crescimento de 1,2% no rebanho de suínos, com produção aumentando em 1,6%. As exportações devem crescer 3%, segundo as projeções. Apesar disso, por questões sazonais, os produtores podem esperar uma redução de consumo nos dois primeiros meses de 2025. “É um período em que as pessoas tendem a ter mais contas para pagar, como alguns impostos. Além disso, a maior concorrência da carne de frango pode impactar a demanda doméstica”, disse Lima Filho.

Além disso, o aumento nos preços registrados neste ano pode estimular o alojamento de suínos em 2025. Com isso, pode haver uma futura pressão nos preços nas granjas e nas indústrias. Ou seja, o produtor deve ficar de olho no possível aumento dos custos de produção, puxado principalmente pelo preço do milho, da mão de obra e da energia elétrica. “O cenário continua positivo para a exportação, mas o cenário para o ano que vem é de cautela. O produtor deve se planejar e traçar suas estratégias para essa conjuntura”, apontou o assessor da CNA.

Segurança do trabalho

Além disso, a reunião da CT de Suinocultura da FAEP também contou com uma palestra sobre segurança do trabalho em granjas de suínos. O engenheiro e segurança do trabalho e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sandro Andrioli Bittencourt, abordou as Normas Regulamentadoras (NRs) que visam prevenir acidentes de trabalho e garantir a segurança e o bem-estar dos trabalhadores.

Entre as normativas detalhadas na apresentação estão a NR-31 (que estabelece as regras de segurança do trabalho no setor agropecuário), a NR-33 (que diz respeito aos espaços confinados, como silos, túneis e moegas) e a NR-35 (que versa sobre trabalho em altura). Em seu catálogo de cursos, o Sistema Faep dispõe de capacitações para cada uma dessas regulamentações.

Fonte: Assessoria Sistema Faep
Continue Lendo

NEWSLETTER

Assine nossa newsletter e recebas as principais notícias em seu email.