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Quais os gatilhos que podem mudar o mercado de milho na safra 2024/25?
Este novo ciclo se inicia sob um viés de margens mais apertadas. Desta forma, a leitura que temos para o final deste ano e início de 2025 em relação a preços é um cenário mais desafiador para construção de margens.

Especialmente nas últimas três safras, o mercado de commodities agrícolas atingiu patamares de valorização elevados e históricos. Porém, passada essa onda, a qual já era esperada que não se sustentaria por muito tempo, o cenário começou a pender sentido aos padrões “normais” de equilíbrio. Com o milho não foi diferente, e o grande desafio dos produtores na safra 2023/24 foi se adaptar às quedas relevantes de preço, realidade esta que deve se manter.
Muitos agricultores já estão preparando a safra 2024/25, alguns campos de milho verão, por exemplo, já estão sendo semeados no momento em regiões do Rio Grande do Sul e Paraná onde a janela de plantio é mais precoce. Este novo ciclo se inicia sob um viés de margens mais apertadas. Desta forma, a leitura que temos para o final deste ano e início de 2025 em relação a preços é um cenário mais desafiador para construção de margens.
Isso deve ocorrer devido a alguns fatores importantes, o primeiro deles que destacaria, é em relação ao mercado internacional. Temos um excedente importante de milho no cenário externo, importantes concorrentes como os Estados Unidos vêm produzindo bem, além disso, acrescentaria a Ucrânia que apesar do cenário geopolítico, tem dado conta da demanda europeia exportando até para outros países da Ásia.
Já o Brasil, mesmo diante de alguns desafios, está colhendo uma safra robusta de inverno de mais de 100 milhões toneladas de milho. Quando somadas todas essas ofertas, temos cenário tanto interno quanto externo de excesso de estoques. Por isso este final de 2024 deve ter essa “ressaca” de preços baixos.
Principais gatilhos de mudança
Para poder traçar perspectivas de um cenário futuro, o primeiro passo é saber quais os principais gatilhos que levariam a essas mudanças. O primeiro deles, é a continuidade de desvalorização da moeda brasileira que impacta diretamente na formação de preço ao produtor seja de milho ou de outras commodities exportadas. Isso pode seguir em função do cenário fiscal interno ou da conjuntura externa, como a eleição presidencial nos Estados Unidos, a volatilidade dos mercados, as questões de conflitos no Oriente Médio e no Leste europeu.
O segundo elemento, já pensando no primeiro semestre de 2025 passa a ser a intenção do produtor norte americano em relação a uma possível diminuição de área plantada. Como os preços estão baixos também para eles, não causaria espanto a diminuição de área que limitaria a oferta e estabilizaria os estoques globais.
O terceiro ponto é o clima. Quanto a este item, a nossa leitura é de um cenário de neutralidade com um La Niña de baixa intensidade. Apesar da expectativa ser de menos chuvas na região Sul – onde se concentra a maior parte do milho verão, a baixa intensidade do fenômeno pode limitar os efeitos negativos sobre produtividade e produção na região.
Como se preparar?
Em momentos do mercado como o que se desenha no próximo ciclo de margens baixas, o produtor precisa ser eficiente, é não deve cair no dilema de diminuir custo e produzir menos, muito pelo contrário, é preciso continuar produzindo mais utilizando mais tecnologia. Um ponto importante é a estratégia de compra de insumos e também para a venda da produção. Historicamente os que compram bem nas janelas corretas aproveitando as oportunidades de mercado, conseguiram ter uma longevidade maior dentro da atividade agrícola.
Outro item fundamental está relacionado a gestão interna da propriedade e essa importância temos visto na prática durante as auditorias com os produtores participantes do concurso de produtividade do Getap. Quando visitamos aqueles com boa gestão, é muito claro a forma como se apresentam. Eles têm os dados da propriedade de forma clara e precisa e de fato possuem o controle sobre aquilo que estão fazendo, seguindo os parâmetros administrativos, financeiros e técnicos. Tudo isso somado resulta-se em uma precisa tomada de decisão.
Portanto, diante deste cenário desafiador que se desenha, é o momento de ser eficiente. Nas últimas três safras os preços estavam altos, por isso todas operações tinham resultado, agora quando a margem é mais estreita só vai se destacar aqueles que são mais organizados. Como a agricultura é uma atividade de longo prazo para se manter nela é preciso bom planejamento e estratégia também a longo prazo.

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Educação política para fortalecer o cooperativismo
Para garantir políticas públicas eficazes e defender o setor agro, cooperativas devem mobilizar cooperados e eleger representantes comprometidos com suas causas.

Na complexa realidade brasileira, torna-se imprescindível adotar com mais firmeza uma estratégia decisiva para a defesa e o fortalecimento do sistema cooperativista: a representação política. Em uma sociedade democrática, livre e plural, grande parte das soluções para nossos desafios passa, inevitavelmente, pela via política. O cooperativismo, como parte ativa dessa sociedade, precisa de influência e poder para assegurar decisões, políticas públicas, planos e recursos que permitam superar dificuldades crônicas.
O caminho mais legítimo e eficaz é a eleição de representantes verdadeiramente comprometidos com a causa cooperativista, capazes de compreender sua relevância para o bem-estar de milhões de brasileiros e para o futuro do País. Contudo, representatividade não nasce espontaneamente; exige conscientização, organização e mobilização.

Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).
No interior do cooperativismo, a agricultura permanece como um dos setores mais vulneráveis — e seus problemas repercutem de imediato em toda a sociedade. O agro responde por cerca de 23% do PIB brasileiro, considerando a cadeia agroindustrial. Ainda assim, essa importância nem sempre se traduz em políticas governamentais que assegurem desenvolvimento equilibrado. Por isso, a palavra de ordem deve ser participação. Chega de omissão. É preciso engajar cooperados e lideranças, debater projetos, esclarecer dúvidas e ampliar o discernimento político. Quem não participa não pode reclamar: soluções não caem do céu.
A representação política confere visibilidade ao sistema, coloca pautas essenciais do cooperativismo na agenda governamental e fortalece a articulação em defesa dos produtores. Em 2026, o País elegerá presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais. Por isso, a atenção à escolha de representantes — especialmente no Congresso Nacional e na Assembleia Legislativa — é decisiva para acompanhar matérias que afetam diretamente o setor. Não se trata de defender legendas específicas; a pluralidade partidária deve ser respeitada, evitando sectarismos. Tudo o que diz respeito à vida social passa necessariamente pelo Parlamento.
O cooperativismo não busca privilégios. Busca participar ativamente da construção política e defender seus pleitos de forma legítima. A lógica é clara: segmentos bem organizados elegem mais representantes e protegem melhor seus interesses. A história comprova. Na Assembleia Nacional Constituinte, o movimento cooperativista elegeu 47 deputados, que formaram uma Frente Parlamentar de 217 parlamentares. Como resultado, seis artigos fundamentais foram incluídos na Constituição, entre eles o que assegura a autogestão cooperativista.
Diante de um setor agrícola sensível e frequentemente desassistido, torna-se vital ampliar a capacidade de intervenção política. Em democracias consolidadas da Europa e da América do Norte, cooperativas e agricultores exercem forte influência institucional — e o Brasil precisa seguir esse caminho.
Com essa visão, a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e o Sistema OCESC desenvolvem o Programa de Educação Política do Cooperativismo Brasileiro, destinado a conscientizar cooperativas e cooperados sobre a importância da representatividade junto ao Poder Público. A defesa institucional começa pelo conhecimento: compreender o funcionamento do Estado, o processo legislativo e os instrumentos legítimos de atuação qualifica a participação e fortalece a capacidade de incidência política. Quanto mais preparada estiver a base cooperativista, mais sólidas serão as políticas públicas construídas a partir de seus valores e necessidades.
É essencial que o engajamento político vá além dos períodos eleitorais. Somente com ação contínua, planejamento e mobilização permanente será possível superar a baixa densidade da representação parlamentar e garantir ao cooperativismo o protagonismo que sua relevância econômica e social exige.
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Adaptação climática redefine estratégias do agronegócio brasileiro
Setor avança em tecnologias, gestão e políticas para reduzir riscos e garantir produção em um cenário de clima cada vez mais instável.

O agronegócio brasileiro convive com um paradoxo evidente quando o assunto é mudanças climáticas. O setor responde por parcela significativa das emissões, ao mesmo tempo em que está entre os mais expostos ao avanço da temperatura, aos períodos prolongados de ondas de calor e à instabilidade do regime de chuvas. Esse conjunto de pressões biofísicas transforma a adaptação em pauta importante nas negociações do ramo. As discussões sobre riscos climáticos já não comunicam mais apenas tragédias do horizonte. Atualmente elas se fazem presente no cotidiano de produtores e fazem com que estes e as cooperativas, setor público e instituições financeiras precisem tomar decisões hoje para evitar perdas amanhã.

Artigo escrito por Milena Magalhães Oliveira, pesquisadora da Cepea.
Essa mudança de postura tem feito o agronegócio ocupar lugar de destaque na formulação de ações de adaptação. Produtores expandem o uso de sistemas integrados de produção, rotação de culturas, adotam cultivares mais tolerantes ao calor e ajustam calendários agrícolas de plantio com base em informações climáticas. A digitalização avança com sensores, monitoramento em tempo quase real e ferramentas que orientam o manejo da água, tornando a irrigação inteligente. Do lado do governo, programas de crédito rural e seguros agrícolas incorporam exigências ambientais e critérios técnicos alinhados à resiliência climática. Essas estratégias aproximam as políticas públicas das necessidades dos produtores no campo e priorizam investimentos que mitigam os riscos e vulnerabilidade climática, e, consequentemente, produtiva.
O setor privado tem se movimentado com rapidez. Grandes empresas do agronegócio já entendem que seguir padrões ambientais consistentes é uma questão de continuidade operacional, acesso a mercados e manutenção de reputação. As negociações multilaterais traçam um tortuoso e árduo mapa do caminho para salvar o planeta e metas globais ambiciosas permanecem distantes, ao passo que cadeias produtivas já direcionam recursos para inovação focada na adaptação, biotecnologia, manejo sustentável e redução de riscos climáticos.
Nesse caminho, empresas líderes funcionam como sinalizadoras. Elas orientam fornecedores, organizam programas de conformidade, estabelecem metas próprias de redução de emissões e estimulam o uso de tecnologias que reduzem perdas e ampliam a segurança da produção. Esse movimento gera referências para o restante do setor e reforça a ideia de que adaptação não é apenas resposta a eventos climáticos extremos. É uma estratégia de permanência econômica em um ambiente climático que já mudou e seguirá pressionando para um novo (e sustentável) formato de produção no campo.
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Produção On Farm avança com marco legal e puxa nova onda de inovação no agro
Biofábricas nas propriedades, gestão digital e conectividade aceleram o uso de biológicos, reduzindo gastos e fortalecendo a agricultura regenerativa.

O agronegócio brasileiro vive um momento de forte crescimento, conforme apontam dados do Produto Interno Bruto (PIB). De acordo com cálculos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o setor registrou alta de 6,49% no primeiro trimestre de 2025. O investimento no segmento também segue em expansão, alcançando R$ 608 bilhões, segundo o Boletim de Finanças do Agro, divulgado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
Nesse cenário positivo, o modelo On Farm vem ganhando protagonismo por sua capacidade de gerar impacto econômico, ambiental e tecnológico. Com a aprovação do Projeto de Lei PL 658/2021 na Câmara dos Deputados, o chamado Marco Civil do Setor de Bioinsumos, a produção On Farm, passa a contar com regras claras e estruturadas. Essa regulamentação define parâmetros para a multiplicação de microrganismos diretamente nas propriedades rurais, garantindo aos agricultores o acesso a produtos de qualidade, fiscalizados e seguros para o consumidor.
Vantagens do modelo On Farm

Artigo escrito por Laerte Nogueira, Squad Leader da Everymind; e Bruno Arroyo, gerente de Marketing Estratégico da Agrobiológica.
Além da segurança jurídica, que protege o produtor e exige um cadastro simples dos biológicos multiplicados On Farm (quando para uso próprio), o modelo traz impactos diretos na agilidade do manejo. Com as biofábricas instaladas nas propriedades, o próprio produtor, com apoio de um time técnico, ganha autonomia para produzir seus biodefensivos e bioestimulantes, reduzindo custos logísticos, por exemplo.
Outro ponto importante é o avanço na qualidade dos prestadores de serviço e das empresas do segmento. A nova legislação permite que os bioinsumos sejam tratados conforme suas características, sem passar pelos mesmos trâmites burocráticos dos produtos químicos. Isso oferece ganhos significativos em registro e disponibilização de novas ferramentas biológicas no mercado.
Com a segurança jurídica estabelecida, o setor tende a atrair ainda mais investidores, impulsionando a inovação em biotecnologia e acelerando o desenvolvimento do modelo. Além disso, com a agricultura de precisão cada vez mais presente e a busca constante por produtividade, o On Farm se consolida como um grande aliado do produtor rural.
Tecnologia apoia avanço do On Farm
Nos últimos anos, a evolução tecnológica das empresas que atuam com o modelo On Farm aproximou essa produção, antes artesanal, de um padrão industrial. Produtos e processos avançam significativamente. Um exemplo são os meios de cultura para fungos, que hoje apresentam alto grau de eficiência e estabilidade.
A tecnologia está presente em todas as fases do processo, desde a biotecnologia aplicada aos meios de cultura e aos biorreatores, até a gestão completa da produção. Essa integração permite ao produtor ser mais preciso e ágil na proteção de suas lavouras contra pragas, doenças ou impactos climáticos, realizando a produção em larga escala dentro da própria fazenda.

Foto: Shutterstock
O avanço da conectividade rural também tem papel essencial nesse cenário, uma vez que a expansão das redes 4G e 5G e o uso de conexões via satélite possibilitam a coleta de dados em tempo real das biofábricas, favorecendo análises rápidas, maior controle de produção e agilidade nos processos de cadastro e fiscalização.
Além dos biorreatores cada vez mais tecnológicos, os softwares de gestão têm contribuído para otimizar a operação, tendo em vista que essas ferramentas permitem que fornecedores de meios de cultura, que são a matéria-prima para o On Farm, administrem contratos de comodato dos biorreatores, antecipem pedidos e renovem contratos com mais eficiência, integrando o campo à gestão digital.
Redução de custos
A redução de custos é um dos principais atrativos do modelo On Farm, pois o produtor precisa adquirir apenas uma pequena quantidade de inóculo para multiplicar os biológicos na própria fazenda, alcançando rendimentos até sete vezes maiores em volume. Isso reduz gastos em toda a cadeia, desde embalagens e fretes até revendas intermediárias.
Aumento da eficiência
A eficiência operacional também é ampliada, a multiplicação dos biológicos próxima à lavoura permite aplicações mais rápidas e eficazes no combate a pragas, doenças e na correção de deficiências do solo. Em algumas situações, a economia pode variar entre 45% e 60%, com respostas agronômicas altamente positivas. O uso de microrganismos benéficos tem se mostrado eficiente no manejo do solo, reduzindo a pressão de patógenos e pragas.
Impacto ambiental e desafios
O uso de insumos biológicos já é, por si só, uma prática sustentável, pois promove uma proteção natural e regenerativa das lavouras, além de contribuir para a saúde do solo. Com o Marco Legal dos Bioinsumos (Lei nº 15.070), o modelo On Farm facilita a expansão dessa prática, permitindo a produção em escala e o uso mais amplo dos biológicos.
Ao substituir manejos químicos, o produtor reduz custos e amplia o uso dos bioinsumos em frentes como o manejo do solo e controle de nematoides, além de melhorar o aproveitamento de nutrientes. Essas ações contribuem diretamente para o avanço da agricultura regenerativa no país.
No entanto, o principal desafio enfrentado pelo modelo é a formação e qualificação de equipes técnicas para operar as biofábricas com segurança e eficiência. Outro ponto crítico é a fiscalização sobre o uso e a eventual comercialização indevida dos biológicos multiplicados para uso próprio.
Por outro lado, com regulamentação sólida, suporte tecnológico e investimentos crescentes, o setor tem diante de si uma oportunidade única de unir produtividade, sustentabilidade e inovação, elementos essenciais para o futuro da agricultura nacional.



