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PSA abre os olhos da China para mudança radical na suinocultura

Essas empresas estão inclinadas a produzir produtos cada vez mais elaborados, com um forte apelo visual nas embalagens, refletindo o esforço da China em agregar valor e sofisticação aos seus produtos suínos.

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A China é o maior produtor e consumidor de carne suína do mundo, e a suinocultura é um componente crucial para garantir a segurança alimentar de sua população de 1,4 bilhão de pessoas. Mais de 50% da produção mundial de carne suína vem do país, o que torna a suinocultura chinesa um pilar estratégico para sua economia. Entretanto, a imagem de uma produção suína moderna e eficiente contrasta com uma realidade cheia de extremos. Enquanto algumas fazendas na China têm adotado tecnologias de ponta e práticas de alta eficiência, muitas outras ainda operam de maneira bastante tradicional, ou até rudimentar.

Com uma área territorial que ocupa a quarta posição global, quase 1 milhão de km2 maior que o Brasil, a China apresenta realidades regionais muito diferentes. É um país de extremos e isso se reflete também na suinocultura. Everton Gubert, CEO da Agriness, foi até lá para compreender melhor o modelo chinês de produção. Ele conversou com produtores, veterinários, nutricionistas e gestores, e percebeu que a suinocultura chinesa está em plena transformação, especialmente desde a chegada da Peste Suína Africana (PSA) em 2018. Em entrevista exclusiva ao jornal O Presente Rural, Gubert conta que a doença foi um divisor de águas e tem mudado profundamente o cenário da produção suína no país.

Durante sua viagem, Everton visitou instalações do Tianpeng Group e da Qingliang Foods, onde observou escritórios modernos e fazendas verticais em desenvolvimento. Essas empresas estão inclinadas a produzir produtos cada vez mais elaborados, com um forte apelo visual nas embalagens, refletindo o esforço da China em agregar valor e sofisticação aos seus produtos suínos.

Concentração e transformação da produção

Fotos: Divulgação/Everton Gubert

Preocupado em manter a segurança sanitária e evitar qualquer risco de contaminação na suinocultura brasileira, Gubert decidiu não entrar em nenhuma propriedade ou granja, mesmo cumprindo os protocolos sanitários, mas acompanhou a realidade do setor por meio de diálogos e entrevistas com diversos profissionais envolvidos na suinocultura chinesa e também mídias especializadas. Foi assim que ele conheceu as disparidades do setor: de um lado, grandes produtores com instalações de alta tecnologia e práticas avançadas; de outro, pequenos produtores que operam em condições bem mais modestas, muitas vezes com sistemas de produção de subsistência. Essa dualidade demonstra o enorme desafio que a China enfrenta ao tentar modernizar e padronizar sua produção. Gubert se concentrou nas granjas tecnificadas.

Nos últimos anos, explica Gubert, a PSA gerou um movimento de concentração da produção em grandes grupos e uma busca por maior tecnificação e biosseguridade. Pequenos produtores, que não têm condições de cumprir as exigências sanitárias necessárias, estão deixando a atividade. “A PSA transformou totalmente o cenário. Pequenos produtores estão saindo da atividade, e há um movimento forte de concentração de produção”, observa Everton. Além disso, a China está investindo cada vez mais em tecnologias para alcançar maior eficiência e sustentabilidade, mas o caminho ainda é longo. Muitos produtores sequer registram dados básicos de sua produção, o que dificulta a gestão eficiente.

“A suinocultura Chinesa é gigante. Eles são praticamente 20 vezes maiores que a suinocultura brasileira e ainda possuem uma discrepância grande quanto ao uso de tecnologia. Há muitas granjas quem mal anotam as informações, muitas que anotam os dados ao menos em fichas, muitas que já têm consciência da importância de digitalizar os dados e utilizar um sistema de gestão e algumas granjas supermodernas que utilizam fortemente tecnologias de monitoramento, automação e IoT para gerir melhor a sua estrutura. Mas uma coisa é certa: as granjas chinesas estão cada vez mais se modernizando, com um foco crescente em sanidade, sustentabilidade e eficiência e produtividade”.

A biossegurança foi um dos temas mais abordados durante as conversas de Everton com os profissionais chineses. A PSA deixou claro para os produtores que a biosseguridade não é apenas uma recomendação, mas uma necessidade para garantir a continuidade da produção. “Os chineses estão cada vez mais conscientes da importância da biossegurança. Eles estão implementando controle rigoroso de acesso, protocolos de quarentena e desinfecção das instalações. Isso mostra que a sanidade está se tornando uma prioridade, e é uma mudança cultural significativa”, comenta Everton.

Baixa eficiência

Na questão da eficiência, a realidade chinesa ainda é desafiadora. Gubert conta que grande parte das granjas na China continua operando com baixa produtividade, com índices que variam entre 18 e 20 desmamados por fêmea ao ano. A maioria das granjas ainda trabalha em sistemas de ciclo completo. A Peste Suína Africana impôs uma maior conscientização sobre a importância de medidas de biosseguridade, mas a falta de tecnologias de gestão ainda é uma barreira para alcançar melhores resultados.

“Na China existe uma diferença muito grande entre as granjas super tecnificadas e as mais antigas. Vejo que no Brasil essa diferença é muito menor. Em virtude de sermos um país exportador e que precisamos seguir normas rigorosas para exportar, organizado pela agroindústria, temos uma suinocultura mais profissional, tecnificada e muito mais produtiva em relação a eles. A questão zootécnica de produtividade é onde reside a grande diferença. A média brasileira é de 30,05 desmamados/fêmea/ano (DFA), enquanto que na China esse índice não passa de 20. Em termos de gestão eu comparo a China com o Brasil de 2001, quando eu comecei a trabalhar no setor. Apesar de serem super avançados tecnologicamente na maioria dos setores, na suinocultura a transformação digital está no início, salvo as granjas mais modernas construídas de 2020 pra cá”, explica, ampliando: “A baixa produtividade está relacionada especialmente com falta de conhecimento de gestão para conduzir melhor as granjas. O que me chamou a atenção foi a falta de eficiência”, pondera.

Genética

A genética é outro aspecto importante. Everton explica que a China a predominância de uma mescla entre genéticas chinesas e de outras regiões do mundo, como Estados Unidos e Europa. Entretanto, os resultados ainda são inconsistentes, e a média de produtividade fica abaixo do que é observado no Brasil. “O que ainda prevalece é o uso e desenvolvimento de linhagens locais adaptadas às condições chinesas. Há também a combinação de genética importada e local que visa melhorar a eficiência zootécnica, com foco em crescimento rápido, resistência a doenças e qualidade da carne”, aponta Gubert.

Sustentabilidade e bem-estar animal

Quando o assunto é sustentabilidade, o CEO da Agriness comenta que a China tem feito avanços, mas ainda existem muitos desafios. Algumas granjas mais modernas estão adotando tecnologias como biodigestores para transformar dejetos em energia e placas solares para geração de eletricidade, como aqui no Brasil. Everton explica que observou que há um crescente esforço para reduzir a pegada de carbono e tratar os resíduos de forma mais sustentável, mas essas práticas ainda são limitadas a uma pequena parcela dos produtores.

“A preocupação com a sustentabilidade é cada vez mais presente na China. As granjas chinesas estão investindo em tecnologias para tratamento de resíduos, como biodigestores, que transformam resíduos em energia, uso de geração de energia através de placas solares e há um esforço crescente para reduzir a pegada de carbono através de práticas como a reciclagem de nutrientes e a eficiência energética”, menciona. “O governo chinês tem estabelecido metas ambiciosas para a redução de emissões, e isso está começando a impactar o setor suinícola. No entanto, a adoção dessas práticas está restrita às granjas mais tecnificadas”, afirma Everton.

O uso racional da água também é uma questão relevante. Algumas granjas adotaram tecnologias para reduzir o desperdício, como bebedouros automáticos e sistemas de monitoramento para detectar vazamentos, mas muitas instalações continuam sem práticas consistentes de reaproveitamento. Essa disparidade é uma grande diferença em relação ao Brasil, onde as preocupações ambientais e a busca por uma produção mais sustentável têm se tornado prioridade, especialmente devido às exigências do mercado internacional.

Everton também apontou as diferenças em termos de instalações e bem-estar animal. Enquanto algumas granjas chinesas têm instalações modernas, como por exemplo baias coletivas, que atendem aos padrões de conforto e sanidade, muitas outras estão operando com estruturas ultrapassadas, que não oferecem condições adequadas aos animais. “Há uma grande diferença entre as estruturas das granjas. Algumas são modernas, enquanto outras são extremamente precárias”, comenta. O bem-estar animal está começando a ganhar espaço, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido para que isso se torne um padrão na suinocultura chinesa.

Processamento e distribuição da carne suína

O processamento e a distribuição da carne suína também apresentam uma grande disparidade. Existem instalações modernas, que seguem padrões elevados de qualidade e industrialização, e outras que operam de forma muito básica, com pouca ou nenhuma tecnologia envolvida. Muitas empresas chinesas estão apostando na verticalização, controlando todas as etapas do processo produtivo, desde a criação até a industrialização da carne. “A tendência é que a produção se concentre cada vez mais em grandes grupos, que estão investindo em modernização e integração”, observa Everton.

Comparação com a suinocultura brasileira

Em comparação com o Brasil, Everton destaca que a suinocultura brasileira é muito mais profissional e tecnificada. “No Brasil, temos uma suinocultura organizada, com um nível elevado de gestão e produtividade. A média brasileira é de 30,05 desmamados por fêmea ao ano, enquanto na China esse número não passa de 20”, afirma. A modernização e a exigência de padrões internacionais de qualidade colocam o Brasil em uma posição de destaque, enquanto a China ainda enfrenta desafios significativos para atingir o mesmo nível de eficiência.

Apesar disso, Everton acredita que o potencial de crescimento da suinocultura chinesa é enorme. A concentração da produção em grandes grupos, a modernização das instalações e a adoção de novas tecnologias são sinais de que a China está caminhando para um modelo mais eficiente. “A China é um país dinâmico, e o governo tem um papel decisivo nas mudanças. Se houver uma decisão estratégica para transformar a suinocultura, eles têm capacidade para isso”, diz Everton.

Tendências disruptivas

Everton observa ainda que a China está apostando em algumas tendências disruptivas que, embora ainda incipientes, podem se tornar elementos fundamentais na transformação do setor. Uma dessas tendências são as granjas verticais, uma abordagem bastante diferente do modelo tradicional, que visa otimizar o uso do espaço em áreas urbanas e periurbanas. “Eles têm testado as granjas verticais, mas ainda é uma incógnita se esse modelo será viável em larga escala. Pode ser uma tentativa de resolver o problema da PSA, mas não sabemos se vai se sustentar”, diz Everton.

“O máximo de tecnologia que eu vi foi o expressivo uso de automação, visão computacional, robôs para limpeza de dejetos, utilização de sensores e monitoramento por câmara de praticamente todos os pontos das granjas. Sistemas automatizados de alimentação são comuns, permitindo a distribuição precisa de ração em horários programados ou conforme a demanda dos animais, mas nada tão diferente do que usamos nas granjas mais modernas do Brasil”.

Impacto da urbanização do consumo da carne suína

Outro ponto levantado por Everton foi a urbanização acelerada da China e como isso tem impactado o consumo de carne suína. A migração da população rural para as cidades, combinada com o aumento da renda per capita, tem levado a mudanças nos hábitos alimentares. “A urbanização está mudando o perfil do consumo. Há um aumento na demanda por produtos prontos e de conveniência, e as empresas estão investindo em cortes mais elaborados e produtos de maior valor agregado”, observa. Esse movimento também abre oportunidades para a industrialização e a verticalização da produção, o que pode levar a um setor mais organizado.

O consumo de carne suína, que tradicionalmente sempre foi elevado na China, passou por uma fase de retração durante os anos mais críticos da PSA. Com a necessidade de dizimar grande parte do rebanho, houve escassez de oferta e aumento dos preços, o que forçou muitos consumidores a migrar para outras fontes de proteína, como peixes e frutos do mar. “O governo incentivou o consumo de outras proteínas durante a crise da PSA, como peixes e frutos do mar, mas agora o consumo de carne suína está estabilizado”, diz Everton.

Uso de antibióticos e vacinas

A questão do uso de antibióticos e vacinas também foi abordada durante as conversas de Everton com os profissionais chineses. Embora haja um esforço crescente para utilizar vacinas e reduzir o uso de antibióticos, ainda existem desafios consideráveis. “O uso de antibióticos continua sendo uma questão delicada na China. Embora existam regulamentações, a implementação varia bastante entre as granjas”, comenta Everton. Ele destaca que a prevenção, com foco em biosseguridade e vacinação, está se tornando mais comum, mas o avanço é desigual.

O papel do governo na transformação do setor

O modelo de produção suína na China está em constante mudança, e a tendência é que o setor se torne cada vez mais concentrado e tecnificado. No entanto, como Everton ressaltou, o ritmo dessa transformação depende muito do apoio governamental e da capacidade dos grandes grupos de investimento de liderarem esse processo. “O governo chinês tem um papel crucial na transformação do setor. Se houver apoio, a modernização pode ocorrer muito rapidamente, especialmente com os grandes grupos. Mas os pequenos produtores têm cada vez menos espaço nessa nova realidade”, diz Everton.

Lições para o Brasil

Para o Brasil, menciona Gubert, a experiência chinesa traz importantes lições sobre os desafios na suinocultura, mas uma em especial: “Sanidade, sanidade e sanidade. O preço a ser pago se algumas doenças entrarem em nosso país pode ser catastrófico. Haja vista o quanto os chineses estão sofrendo com a sanidade deles. Creio que estamos fazendo um belo trabalho em todas essas áreas com profissionais e empresas, cada uma do seu setor, produzindo um avanço ininterrupto da nossa suinocultura desde 2001, quando entrei no mercado. Creio que as principais lições aprendidas foram produzidas mais no campo das diferenças culturais, políticas que há entre Brasil e China. Como a China vive um modelo político socialista casado com um modelo econômico capitalista, o governo é um grande parceiro dos empreendedores e trabalha para facilitar o desenvolvimento dos negócios. O governo é dinâmico e rápido. Faz acontecer. Pelo lado da força de trabalho, a mentalidade do chinês é de que ele precisa vencer na vida utilizando o estudo e o trabalho como os grandes pilares para a prosperidade. Isso faz com que o chinês tenha muita vontade de trabalhar, aprender e crescer profissionalmente. Há um aspecto de meritocracia muito estabelecido na sociedade e cada um deles quer se destacar entre uma população gigante com 1,4 bilhão de pessoas”.

A transformação da suinocultura chinesa

A China, com seu dinamismo e capacidade de adaptação, certamente continuará sendo uma protagonista no cenário da suinocultura global. As mudanças em curso no país representam tanto desafios quanto oportunidades para o Brasil e para o mundo. A transformação da suinocultura chinesa mostra que, apesar dos obstáculos, há espaço para avanços significativos quando há disposição para investir, inovar e aprender. Para o Brasil, acompanhar de perto essa evolução pode ser um passo essencial para garantir um futuro ainda mais sólido e promissor para o setor suinícola.

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Fonte: O Presente Rural

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Doença de Glässer, como superar esse desafio?

Esta bactéria é um dos primeiros microrganismos a colonizar o trato respiratório superior dos leitões, geralmente nos primeiros dias de vida, sendo a mãe uma fonte importante de transmissão para os filhotes.

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Artigo escrito por Equipe técnica Ourofino

A doença de Glässer é causada pela bactéria Glaesserella (G.) parasuis e afeta exclusivamente suínos. Esta bactéria é um dos primeiros microrganismos a colonizar o trato respiratório superior dos leitões, geralmente nos primeiros dias de vida, sendo a mãe uma fonte importante de transmissão para os filhotes.

A manifestação da doença está associada a diversos fatores, incluindo a virulência do sorovar presente na granja, manejo, mistura de lotes, protocolo vacinal e a presença de co-infecções. As perdas econômicas decorrentes da doença de Glässer incluem refugagem, mortalidade, especialmente nos casos superagudos, além dos custos com tratamentos e assistência veterinária.

A principal característica das lesões observadas na doença de Glässer é uma inflamação serofibrinosa das serosas, que aparece na forma de pleurite, peritonite, pericardite e poliatrite. Esta inflamação gera um aspecto repugnante nas carcaças, levando à depreciação e consequente perda financeira para os produtores.

Etiologia, Epidemiologia e Patogenia

A G. parasuis é uma bactéria gram-negativa, com sorovares classificados conforme a virulência e o tipo capsular. Há 15 sorovares descritos, mas uma grande parte dos casos é causada por sorovares não-tipificáveis. No Brasil, a maioria dos isolados conhecidos são de alta e média virulência, além dos não-tipificáveis. A diversidade antigênica das cepas circulantes torna o controle do patógeno desafiador, impactando negativamente na eficácia das vacinas atualmente disponíveis.

As matrizes são a principal fonte de infecção para os leitões neonatos, transmitindo a bactéria por contato direto. Ao mesmo tempo, com a colostragem e amamentação durante a fase de maternidade, a mãe transfere aos filhotes anticorpos protetivos para os sorovares com os quais ela teve contato. Isso gera um equilíbrio que ajuda a prevenir o desenvolvimento da doença nessa fase inicial, e a bactéria pode ser isolada de animais saudáveis.

Quando os leitões vão para a fase de creche, ocorre normalmente uma mistura de lotes de leitões de diferentes origens, ao mesmo tempo em que há um decaimento da imunidade colostral, fazendo com que haja uma maior circulação de diferentes sorovares entre os leitões. Essa fase é um ponto chave no desencadeamento da doença, pois alguns animais podem ter ali o seu primeiro contato com o patógeno. Como há uma baixa proteção cruzada natural entre os sorovares, a janela imunológica que ocorre após o desmame juntamente com a mistura de lotes se tornam um importante fator de risco para a doença.

A depender da virulência dos sorovares circulantes, a doença poderá cursar com índices de mortalidade mais altos do que o esperado para a fase. Entendendo esse contexto, é possível encontrar diferentes sorovares em um único animal, gerando infecções mistas complexas.

A presença de co-infecções também contribui para a infecção pela G. parasuis, especialmente em condições de imunossupressão. Em novos surtos ou em granjas mais novas, observa-se a forma superaguda da doença, caracterizada por morte súbita, enquanto em granjas onde a doença é endêmica, apenas os animais negativos para aqueles sorovares manifestam a doença.

Após a colonização do trato respiratório superior, dependendo da virulência da cepa, a doença pode seguir diferentes caminhos (Figura 01). Cepas não virulentas ou de baixa virulência são controladas pelos macrófagos pulmonares, gerando uma resposta inflamatória moderada que impede a progressão da infecção.

Por outro lado, cepas virulentas possuem mecanismos de evasão do sistema imunológico, como a depleção de linfócitos T, permitindo que a bactéria se multiplique e se dissemine pela circulação sanguínea, alcançando as serosas. Há, então, uma resposta imunológica tardia com a ativação excessiva de macrófagos, levando a uma intensa inflamação com depósito de fibrina e acúmulo de líquidos, que é a principal característica desta doença.

Figura 01. Patogenia da Doença de Glasser

Como se apresenta

A doença de Glässer apresenta-se de diversas formas. A forma clássica, de curso agudo, ocorre principalmente em leitões na fase de creche, caracterizada por febre alta, apatia, anorexia e dificuldade respiratória. As articulações podem apresentar aumento de volume devido ao acúmulo de líquido sinovial. Na necropsia, é comum encontrar grandes quantidades de fibrina nos órgãos e líquido serofibrinoso nas cavidades.

A forma septicêmica ocorre sem polisserosite, com apatia, dificuldade respiratória e distúrbios da coagulação sanguínea, podendo resultar em morte súbita. As lesões incluem focos de hemorragia, petéquias e trombos. As formas crônicas apresentam fibrose do pericárdio, pleura e peritônio, além de artrite crônica.

A forma respiratória cursa com pneumonia, podendo G. parasuis atuar como patógeno primário ou secundário a infecções imunossupressoras, como em casos de circovirose e infecção pelo vírus influenza A.

Diagnóstico

O diagnóstico da doença baseia-se no histórico da granja, sinais clínicos e achados de necropsia, sendo a confirmação laboratorial essencial. Devem ser selecionados pelo menos cinco animais por unidade produtiva para aumentar as chances de isolar todos os sorovares envolvidos.

Após a necropsia, o coração, saco pericárdico e pulmões devem ser removidos e enviados para análise, juntamente com líquido articular colhido de forma asséptica. Suabes de pleura e peritônio também são indicados para isolamento do patógeno. É recomendado enviar a cabeça inteira para avaliação e coleta de materiais de forma asséptica, uma vez que o cerebelo costuma ser afetado na fase sistêmica da doença.

O isolamento do patógeno é importante para identificar os sorovares presentes, e a técnica de PCR multiplex é recomendada pela sua alta sensibilidade e especificidade. Técnicas sorológicas são indicadas para avaliar o processo de infecção e imunização.

Controle e Prevenção

O tratamento com antimicrobianos deve ser feito com base em testes de susceptibilidade para evitar o surgimento de cepas resistentes. É importante monitorar a ingestão de água e alimentos pelos animais, especialmente os mais apáticos, para garantir a eficácia do tratamento.

Para garantir um bom desempenho na granja, é necessário assegurar uma boa colostragem, cuidado na introdução de novos animais e correção dos fatores de risco associados à doença. Aliada a estas condições, a vacinação é a melhor estratégia para superar os desafios da doença de Glässer. Uma nova vacina foi desenvolvida utilizando-se cepas nacionais, com o objetivo de oferecer proteção heteróloga comprovada contra 96% dos sorovares circulantes no Brasil. Desta forma, independente dos sorovares circulantes na granja, os animais vacinados com esta vacina estarão protegidos. Esta proteção superior reduz a preocupação de um monitoramento constante e custoso para mapear os sorovares circulantes para posteriores ajustes em caso de uso de vacina autógena. Além disto, em razão da complexidade e dificuldade de isolamento, os sorovares circulantes podem não estar presentes na vacina autógena.

Além disso, essa nova vacina é polivalente, e promove uma proteção superior quando comparada às demais vacinas do mercado, com a conveniência de uma dose única. Esta característica possibilita inúmeros benefícios para os animais, técnicos e produtores, como por exemplo: otimização da mão-de-obra para vacinação, bem-estar e redução do estresse dos leitões em razão da não aplicação de uma segunda dose, redução de espaço para armazenagem (menor número de frascos).

Em resumo, o controle da doença de Glässer depende de uma vacinação eficaz. Já está disponível no mercado uma vacina com cepas nacionais, heteróloga e de dose única, que protege contra a maioria dos sorovares e simplifica o manejo, promovendo conveniência, economia e bem-estar animal.

As referências bibliográficas estão com os autores. Contato: consultoria.imuno@ourofino.com.

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Fonte: O Presente Rural com Equipe técnica Ourofino
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Suínos

Nova edição de Suínos evidencia os impactos da PSA na suinocultura chinesa e iniciativas sustentáveis no Brasil 

A publicação também destaca o início de um estudo fundamental para o futuro da suinocultura brasileira: o Projeto Suinocultura Sustentável do Brasil, liderado pela Embrapa Suínos e Aves.

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A mais recente edição de Suínos de O Presente Rural já está disponível na versão digital, trazendo à tona temas de grande relevância para o setor agropecuário global. A matéria de capa oferece uma análise detalhada sobre como a Peste Suína Africana (PSA) está transformando o cenário da suinocultura na China, o maior produtor e consumidor de carne suína do mundo. O país, responsável por mais de 50% da produção mundial de carne suína, depende fortemente da suinocultura para garantir a segurança alimentar de sua população de 1,4 bilhão de pessoas.

Embora a China esteja investindo em tecnologias de ponta e métodos de alta eficiência em algumas áreas, a reportagem expõe uma realidade contraditória, onde muitas fazendas ainda operam de maneira tradicional e, por vezes, rudimentar. Essa disparidade acentua os desafios enfrentados pelo país em um momento de choque causado pela PSA, doença que já devastou parte significativa da produção chinesa, provocando um abalo nas cadeias de abastecimento globais.

A edição também destaca o início de um estudo fundamental para o futuro da suinocultura brasileira: o Projeto Suinocultura Sustentável do Brasil, liderado pela Embrapa Suínos e Aves. A iniciativa visa padronizar a mensuração da sustentabilidade no setor, oferecendo métricas adequadas à realidade nacional. A importância desse estudo reside na crescente demanda por práticas sustentáveis, tanto por parte dos consumidores quanto dos mercados internacionais, e o Brasil busca se posicionar como um exemplo global de sustentabilidade na produção de carne suína.

Além disso, a publicação traz uma série de reportagens sobre as agroindústrias de carne suína que já estão adotando práticas sustentáveis. Em Minas Gerais, por exemplo, uma fazenda conseguiu neutralizar suas emissões de gases do efeito estufa e ainda capturar carbono, um modelo que pode servir de inspiração para outras propriedades do setor.

O conteúdo desta edição também explora debates de alto nível ocorridos no Simpósio Brasil Sul de Suinocultura (SBSS), onde grandes indústrias da carne suína nacional compartilharam suas perspectivas e desafios. A publicação apresenta ainda uma análise do mercado de rações no Brasil, com previsão de um crescimento de 2,4% na produção em 2024 em comparação com o ano anterior.

Há ainda artigos técnicos escritos por profissionais de renome do setor falando sobre manejo, inovação, produtos, bem-estar e as novas tecnologias existentes no mercado. A publicação conta ainda com matérias que trazem novidades das principais e mais importantes empresas do agronegócio nacional e internacional.

O acesso é gratuito e a edição Suínos pode ser lida na íntegra on-line clicando aqui. Tenha uma boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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Suínos Editorial

Sustentabilidade invisível prejudica o agro

Sem dados concretos e específicos para o Brasil, a sustentabilidade dessas iniciativas permanece invisível aos olhos dos mercados internacionais, o setor acaba sendo avaliado por métricas globais genéricas que não refletem nossa realidade.

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Foto: Divulgação

Artigo escrito por Giuliano De Luca, jornalista e editor-chefe do O Presente Rural

É com grande expectativa que acompanhamos o início de um estudo fundamental para a suinocultura brasileira, que promete lançar luz sobre um dos maiores desafios enfrentados pelo setor: a mensuração real e padronizada da sustentabilidade. Liderado pela Embrapa Suínos e Aves, o “Projeto Suinocultura Sustentável do Brasil” busca criar métricas adaptadas à realidade brasileira, oferecendo ao setor um caminho claro para comprovar seus esforços sustentáveis. Contudo, uma pergunta inevitável paira no ar: por que esse projeto, tão crucial, demorou tanto a sair do papel?

Há muito tempo, a suinocultura brasileira vem adotando práticas sustentáveis, seja na redução do uso de antibióticos, no manejo eficiente de água e ração, ou na utilização de biodigestores para gerar energia limpa. No entanto, sem dados concretos e específicos para o Brasil, a sustentabilidade dessas iniciativas permanece invisível aos olhos dos mercados internacionais – e, pior ainda, o setor acaba sendo avaliado por métricas globais genéricas que não refletem nossa realidade. Isso prejudica a competitividade de nossos produtos no cenário global, uma vez que, sem indicadores precisos, os avanços feitos pelos produtores brasileiros ficam no plano do discurso, o famoso “gogó”.

Esse estudo, que está apenas começando, deveria ter sido uma prioridade há anos. Não é segredo que os mercados internacionais são cada vez mais exigentes quando o assunto é sustentabilidade. E não há dúvida de que a criação de um protocolo nacional de indicadores, adaptados ao nosso contexto, será um divisor de águas. Não apenas para a suinocultura, mas para todas as cadeias produtivas do agronegócio brasileiro.

O agronegócio brasileiro é diversificado e poderoso, e a suinocultura está longe de ser a única cadeia que sofre por não ter métricas precisas de sustentabilidade. Setores como a avicultura, bovinocultura, agricultura de grãos e tantos outros enfrentam os mesmos desafios. O que estamos assistindo com este projeto pioneiro pode – e deve – servir de exemplo para todas as cadeias produtivas do agro. Precisamos de indicadores próprios que nos permitam medir com precisão o impacto ambiental de nossa produção, além de mostrar ao mundo que o Brasil é, de fato, sustentável.

É o momento de deixar para trás a “sustentabilidade de gogó” e abraçar a mensuração real dos nossos progressos. Mais do que uma ferramenta de comunicação, esses dados serão um pilar estratégico para garantir nossa competitividade e, consequentemente, nossa presença em mercados internacionais cada vez mais criteriosos.

O Projeto Suinocultura Sustentável do Brasil é uma peça-chave nesse processo, mas é apenas o começo de um movimento maior. Este estudo precisa abrir caminho para que todos os setores do agronegócio adotem a mesma postura: mensurar, aprimorar e, finalmente, mostrar ao mundo que o Brasil não só fala de sustentabilidade – o Brasil a pratica.

Se quisermos continuar a ser líderes globais em produção agropecuária, precisamos garantir que nossas ações estejam respaldadas por dados concretos. O caminho da sustentabilidade passa, antes de tudo, pela transparência e pela responsabilidade. E este estudo é o primeiro passo para que todas as cadeias produtivas do Brasil sigam essa jornada essencial.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo na suinocultura acesse a versão digital de Suínos clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural com Giuliano De Luca
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