Avicultura
Protease termoestável na nutrição de aves
Nas últimas décadas diferentes grupos de enzimas exógenas tem sido estudadas para aves objetivando melhorar o aproveitamento do alimento oferecidos para esses animais
Artigo escrito por Sebastião Aparecido Borges, Consultor Técnico Científico da Tectron Nutrição e Saúde Animal
Enzimas são proteínas globulares com uma complexa estrutura tridimensional que aceleram processos químicos. Elas exercem seus efeitos catalíticos em condições ambientais adequadas, como pH, temperatura e umidade, além de possuírem substratos específicos para atuação. As enzimas podem ser endógenas (secretadas pelo animal) ou exógenas (adicionadas às rações). A ampla maioria das enzimas exógenas utilizadas nas dietas animais é oriunda de fontes de fermentação fúngicas ou bacterianas.
A proteína presente na dieta precisa ser hidrolisada pelas enzimas proteolíticas digestivas das aves, que quebram as ligações peptídicas entre os aminoácidos, tornando-os disponíveis para absorção pelo epitélio. Sabendo que o TGI das aves é mais curto que o dos mamíferos, é necessário que a maquinaria funcione de maneira eficiente para promover os processos de trituração do alimento e desnaturação das proteínas pela ação enzimática. A digestão proteica inicia-se no proventrículo. Nos segmentos anteriores ao proventrículo, como boca, esôfago e papo não existe ação de enzimas proteolíticas, nem ação mecânica de trituração.
No proventrículo há a secreção de ácido clorídrico (HCl) e pepsinogênio pelas células principais. O ambiente ácido (pH em torno de 2,0) proporcionado pelo HCl é ideal e transforma o pepsinogênio em pepsina. Essa enzima é caracterizada como endopeptidase e cliva as ligações entre os aminoácidos leucina-valina, tirosinaleucina, fenilalanina-tirosina. Porém, a eficiência da digestão proteica no proventrículo depende da característica física da proteína ingerida e do tempo de permanência nesse segmento.
No duodeno, as proteínas da dieta sofrem ação das enzimas secretadas pelo pâncreas e intestino. As principais enzimas proteolíticas secretadas pelo pâncreas são: tripsina, quimiotripsina, carboxipeptidases A e B e elastase.
A tripsina e a quimiotripsina são endopeptidases e quebram as ligações peptídicas em locais específicos no centro da cadeia. A tripsina hidrolisa ligações dos aminoácidos lisina e arginina e a quimiotripsina cliva as ligações entre fenilalanina e tirosina. As carboxipeptidases são exopeptidases que hidrolisam as porções terminais da cadeia de aminoácidos.
A hidrólise proteica se completa pela presença das peptidases de membrana que culminam na absorção de aminoácidos livres e dipeptídeos para dentro dos enterócitos, que serão absorvidos na corrente sanguínea somente na forma de aminoácidos livres após ação de peptidases citosólicas.
Nas últimas décadas diferentes grupos de enzimas exógenas tem sido estudadas para aves objetivando melhorar o aproveitamento do alimento oferecidos para esses animais. Porém, existe grande variação dos resultados de digestibilidade publicados com enzimas. Essa variação pode ocorrer principalmente em função dos seguintes fatores: diferenças na metodologia para determinar a digestibilidade dos nutrientes, composição e dose da enzima utilizada em cada ensaio, e ainda se há a mistura de enzimas, podendo haver efeitos sinérgicos que alteram e dificultam a comparação dos resultados entre trabalhos, pH ótimo da enzima e pH dos segmentos intestinais, forma física da dieta (farelada, peletizada), idade das aves, presença de fatores antinutricionais nas dietas, entre outros.
Assim, a utilização de enzimas na nutrição animal deve levar em consideração que estas precisam manter um nível de atividade suficiente para que se possa obter resposta significativa em termos de desempenho zootécnico com o seu uso. Além disso, é importante que, mesmo com a mistura de outros ingredientes em uma ração, ou em situações de armazenamento do produto em diferentes temperaturas, as enzimas se mantenham ativas ao longo de todo o processo de produção de rações e também não se degradem pela ação das enzimas endógenas do animal. Logo, o processo industrial através do qual se obtém enzimas exógenas deve levar em consideração essas variáveis.
Do ponto de vista científico e ou prático, a utilização de enzimas, por exemplo as proteases, deve prever a presença e a quantidade do substrato alvo (proteína) na dieta, bem como a recuperação segura da enzima nas rações após o processamento das mesmas. Outro aspecto relevante é a medida ou recuperação do substrato nas excretas das aves. Não menos importante, mas pouco estudado, é o conhecimento do comportamento das enzimas exógenas na luz intestinal frente às diferentes condições químicas e aos diferentes substratos presentes.
As enzimas podem ser comercializadas na forma de Blends ou de Mono componentes. Blends são complexos enzimáticos que contêm mais de um tipo de enzima ou são combinações de enzimas mono componentes. Por exemplo, uma Serino Protease ou, a associação de uma Serino Protease com uma Protease Aspártica; neste último caso, uma com ação em pH ácido (estômago) e outra com ação em pH neutro-alcalino (duodeno, jejuno). As enzimas atuais têm predominância de uma atividade específica, protease, por exemplo.
Tuoying (2005) cita que enzimas são adicionadas às rações como aditivos alimentares a mais de 50 anos, porém a partir de 1995 notou-se grande avanço das pesquisas na área de enzimologia para nutrição. Krabe & Lorandi (2014) mostraram uma tendência de aumento no número de pesquisas com proteases nos últimos três anos para frangos de corte e concluem que as proteases ou enzimas proteolíticas serão o próximo foco intensivo de pesquisa na nutrição animal relacionada à enzimologia e nutrição.
A aplicação de proteases na nutrição de aves tem como principal objetivo complementar a ação das enzimas endógenas secretadas pelo animal. A fisiologia do TGI desses animais secreta diversos tipos de enzimas proteolíticas, entretanto com a inclusão de enzimas exógenas, o aproveitamento desses nutrientes pode ser intensificado.
De acordo com Siala et al. (2009), a grande maioria das proteases são obtidas a partir de cepas bacterianas de Bacillus. Entretanto, as proteases fúngicas representam grande potencial de crescimento, uma vez que possuem maior facilidade de processamento do que as de origem bacteriana. Os autores isolaram o microrganismo Aspergillus niger como grande produtor de proteases ácidas, tendo atividade ótima em pH em torno de 3,0, considerando-o de uso estratégico para a indústria. Castro et al. (2014) concordaram com o exposto e citaram que as proteases de A. niger são mais ativas em pH entre 3,0 e 4,0, mas são estáveis em pH variando de 2,5 a 4,5. Com relação às proteases de origem bacteriana, Pant et al. (2015) citam que a indústria geralmente as utiliza como produtoras de proteases e que as oriundas de fermentação por bactérias do gênero Bacillus subtilis são consideradas proteases alcalinas e possuem pH de atividade entre 7,0 e 8,0, sendo o ponto ótimo de pH 7,4.
Dassi et al., (2016) mostraram o efeito da associação de uma protease acida com uma protease alcalina sobre a digestibilidade de fontes proteicas das rações. Houve um efeito significativo das proteases sobre a digestibilidade da fração proteica, bem como sobre a metabolizabilidade da energia. Outro aspecto importante é o fato de que a suplementação de proteases resulta em uma importante redução no erro padrão da media, o que confere uma maior previsibilidade em formulações práticas de rações.
Mais informações você encontra na edição de Aves de abril/maio de 2017 ou online.
Fonte: O Presente Rural

Avicultura
Indústria avícola amplia presença na diretoria da Associação Brasileira de Reciclagem
Nova composição da ABRA reforça a integração entre cadeias produtivas e destaca o papel estratégico da reciclagem animal na sustentabilidade do agronegócio brasileiro.

A Associação Brasileira de Reciclagem (ABRA) definiu, na última sexta-feira (12), a nova composição de seu Conselho Diretivo e Fiscal, com mandato até 2028. A assembleia geral marcou a renovação parcial da liderança da entidade e sinalizou uma maior aproximação entre a indústria de reciclagem animal e setores estratégicos do agronegócio, como a avicultura.
Entre os nomes eleitos para as vice-presidências está Hugo Bongiorno, cuja chegada à diretoria amplia a participação do segmento avícola nas decisões da associação. O movimento ocorre em um momento em que a reciclagem animal ganha relevância dentro das discussões sobre economia circular, destinação adequada de subprodutos e redução de impactos ambientais ao longo das cadeias produtivas.
Dados do Anuário da ABRA de 2024 mostram a dimensão econômica do setor. O Brasil ocupa atualmente a terceira posição entre os maiores exportadores mundiais de gorduras de animais terrestres e a quarta colocação no ranking de exportações de farinhas de origem animal. Os números reforçam a importância da atividade não apenas do ponto de vista ambiental, mas também como geradora de valor, renda e divisas para o país.
A presença de representantes de diferentes cadeias produtivas na diretoria da entidade reflete a complexidade do setor e a necessidade de articulação entre indústrias de proteína animal, recicladores e órgãos reguladores. “Como único representante da avicultura brasileira e paranaense na diretoria, a proposta é levar para a ABRA a força do nosso setor. Por isso, fico feliz por contribuir para este trabalho”, afirmou Bongiorno, que atua como diretor da Unifrango e da Avenorte Guibon Foods.
A nova gestão será liderada por Pedro Daniel Bittar, reconduzido à presidência da ABRA. Também integram o Conselho Diretivo os vice-presidentes José Carlos Silva de Carvalho Júnior, Dimas Ribeiro Martins Júnior, Murilo Santana, Fabio Garcia Spironelli e Hugo Bongiorno. Já o Conselho Fiscal será composto por Rodrigo Hermes de Araújo, Wagner Fernandes Coura e Alisson Barros Navarro, com Vicenzo Fuga, Rodrigo Francisco e Roger Matias Pires como suplentes.
Com a nova configuração, a ABRA busca fortalecer o diálogo institucional, aprimorar práticas de reciclagem animal e ampliar a contribuição do setor para uma agropecuária mais eficiente e ambientalmente responsável.
Avicultura
Avicultura supera ano crítico e pode entrar em 2026 com bases sólidas para crescer
Após enfrentar pressões sanitárias, custos elevados e restrições comerciais em 2025, o setor mostra resiliência, retoma exportações e reforça a confiança do mercado global.

O ano de 2025 entra para a história recente da avicultura brasileira como um dos anos mais desafiadores. O setor enfrentou pressão sanitária global, instabilidade geopolítica, custos de produção elevados e restrições comerciais temporárias em mercados-chave. Mesmo assim, a cadeia mostrou capacidade de adaptação, coordenação institucional e resiliência produtiva.
A ação conjunta do Governo Federal, por meio do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e de entidades estaduais foi decisiva para conter danos e recuperar a confiança externa. Missões técnicas, diplomacia sanitária ativa e transparência nos controles sustentaram a reabertura gradual de importantes destinos ao longo do segundo semestre, reposicionando o Brasil como fornecedor confiável de proteína animal.
Os sinais de retomada já aparecem nos números do comércio exterior. Dados preliminares indicam que as exportações de carne de frango em dezembro devem superar 500 mil toneladas, o que levará o acumulado do ano a mais de 5 milhões de toneladas. Esse avanço ocorre em paralelo a uma gestão mais cautelosa da oferta: o alojamento de 559 milhões de pintos em novembro ficou abaixo das projeções iniciais, próximas de 600 milhões. O ajuste ajudou a equilibrar oferta e demanda e a dar previsibilidade ao mercado.
Para 2026, o cenário é positivo. A agenda econômica global tende a impulsionar o consumo de proteínas, com a retomada de mercados emergentes e regiões em recuperação. Nesse contexto, o Brasil – e, em especial, o Paraná, líder nacional – está bem-posicionado para atender ao mercado interno e aos principais compradores internacionais.
Investimentos contínuos para promover o bem-estar animal, biosseguridade e sustentabilidade reforçam essa perspectiva. A modernização de sistemas produtivos, o fortalecimento de protocolos sanitários e a adoção de práticas alinhadas às exigências ESG elevam o padrão da produção e ampliam a competitividade. Mais do que reagir, a avicultura brasileira se prepara para liderar, oferecendo proteína de alta qualidade, segura e produzida de forma responsável.
Depois de um ano de provas e aprendizados, o setor está ainda mais robusto e inicia 2026 com fundamentos sólidos, confiança renovada e expectativa de crescimento sustentável, reafirmando seu papel estratégico na segurança alimentar global.
Avicultura
Avicultura encerra 2025 em alta e mantém perspectiva positiva para 2026
Setor avança com produção e consumo em crescimento, margens favoráveis e preços firmes para proteínas, apesar da atenção voltada aos custos da ração e à segunda safra de milho.

O setor avícola deve encerrar 2025 com desempenho positivo, sustentado pelo aumento da produção, pelo avanço do consumo interno e pela manutenção de margens favoráveis, mesmo diante de alguns desafios ao longo do ano. A avaliação é de que os resultados permanecem sólidos, apesar de pressões pontuais nos custos e de um ambiente externo mais cauteloso.
Para 2026, a perspectiva segue otimista. A expectativa é de continuidade da expansão do setor, apoiada em um cenário de preços firmes para as proteínas. Um dos principais pontos de atenção, no entanto, está relacionado à segunda safra de milho, cuja incerteza pode pressionar os custos de ração. Ainda assim, a existência de estoques adequados no curto prazo e a possibilidade de uma boa safra reforçam a visão positiva para o próximo ano.

No fechamento de 2025, o aumento da produção, aliado ao fato de que as exportações não devem avançar de forma significativa, tende a direcionar maior volume ao mercado interno. Esse movimento ocorre em um contexto marcado pelos impactos da gripe aviária ao longo do ano e por um desempenho mais fraco das exportações em novembro. Com isso, a projeção é de expansão consistente do consumo aparente.
Para os próximos meses, mesmo com a alta nos preços dos insumos para ração, especialmente do milho, o cenário para o cereal em 2026 é considerado favorável. A avaliação se baseia na disponibilidade atual de estoques e na expectativa de uma nova safra robusta, que continuará sendo acompanhada de perto pelo setor.
Nesse ambiente, a tendência é de que as margens da avicultura se mantenham em patamares positivos, dando suporte ao crescimento da produção e à retomada gradual das exportações no próximo ano.
Já em relação à formação de preços da carne de frango em 2026 e nos anos seguintes, o cenário da pecuária de corte deve atuar como fator de sustentação. A menor disponibilidade de gado e os preços mais firmes da carne bovina tendem a favorecer a proteína avícola. No curto prazo, porém, o setor deve considerar os efeitos da sazonalidade, com maior oferta de fêmeas e melhor disponibilidade de gado a pasto, o que pode influenciar o comportamento dos preços.
