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PronaSolos avança para consolidação da rede nacional de PD&I em Ciência do Solo
Projeto financiado pela Finep/MCTI, no âmbito do CT-Agro, irá estabelecer as bases estruturantes e consolidar equipes que atuarão na execução do programa PronaSolos, coordenado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, que resultará no mapeamento de todo o território nacional até 2048 em escalas iguais ou mais detalhadas que 1:100.000.

O Programa Nacional de Levantamento e Interpretação de Solos do Brasil (PronaSolos) teve nesta semana mais um importante capítulo. O I Workshop do Projeto PronaSolos MCTI/Finep reuniu na Embrapa Solos, no Rio de Janeiro (RJ), entre os dias 4 e 6 de julho, pela primeira vez presencialmente, a equipe do projeto estruturante desenvolvido no âmbito do programa que irá revolucionar o conhecimento sobre os solos brasileiros.
O objetivo principal do projeto é estabelecer uma rede de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) para ampliar a capacidade nacional em assuntos relacionados aos recursos naturais solo, água e biodiversidade, abrangendo diferentes áreas da ciência do solo e de temas afins. Essa ação tornará possível a execução do PronaSolos, um programa de Estado que mobilizará nas próximas décadas centenas de especialistas para investigação, documentação, aquisição de novos dados, inventário e interpretação dos dados de solos brasileiros. O objetivo é ter, até 2048, todo o território nacional mapeado em escalas que vão de 1:25.000 a 1:100.000, que permitem aplicações em âmbitos municipal e local.
O projeto é financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), via Fundo Nacional Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), no âmbito do CT-Agro. O orçamento global do projeto é de R$ 11,9 milhões, com vigência de 2 anos, podendo ser prorrogado. São mais de 150 especialistas envolvidos em 10 metas e 41 atividades e entregas.
Participaram ativamente das discussões do workshop especialistas da Embrapa Solos, Embrapa Cerrados, Embrapa Agricultura Digital, Embrapa Instrumentação, Serviço Geológico do Brasil (SBG), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Universidade Federal de Viçosa (UFV), Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS), além de representantes da Finep, do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que coordena o PronaSolos.
Além das apresentações técnico-científicas do projeto (veja detalhes no quadro ao final da matéria), foram debatidas questões legais e de governança para a consolidação da rede de PD&I e da criação de um fundo para apoiar o PronaSolos.
O workshop
Maria de Lourdes Mendonça Santos Brefin, chefe geral da Embrapa Solos e coordenadora geral do projeto PronaSolos MCTI/Finep, conduziu o workshop no Auditório do prédio histórico que abriga a Embrapa Solos, onde foi realizada a reunião que deu origem à Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, ainda em 1947. De acordo com a pesquisadora, o local escolhido tem vocação para eventos determinantes para a ciência do solo no Brasil.
A pesquisadora lembrou que desde a década de 1980 o Brasil não realiza mais levantamentos sistemáticos de solos, e ainda hoje são utilizados dados e informações gerados nas décadas anteriores, em escalas não compatíveis com as necessidades do País.
“Atualmente fazemos agricultura com uma venda nos olhos, pois conhecemos menos de 5% dos nossos solos em escalas de 1:100.000 ou mais detalhadas. Até hoje produzimos conhecimento essencialmente com os dados e mapas produzidos pelo Radam Brasil, em escalas de 1:1.000.000, enquanto os Estados Unidos, nosso concorrente na balança comercial, conhecem seus solos em escalas de 1:25.000 ou 1:20.000. Temos a responsabilidade de deixar, em nome de nossa geração e das gerações passadas de pedólogos do Brasil, o caminho pavimentado e estruturado para o PronaSolos, um programa que vai durar 30 anos e que será continuado pelas novas gerações”, disse Maria de Lourdes à equipe.
A pesquisadora destacou a importância de reunir pela primeira vez presencialmente toda a equipe do projeto, o primeiro com caráter estruturante do PronaSolos desde a sua formalização como programa de Estado, em 2018. “É muito importante para que as equipes co-executoras possam interagir e se conhecer melhor. As interações entre os especialistas proporcionaram ajustes e inclusões de atividades em algumas metas, com compartilhamento de dados, informações e conhecimento, num nível tecnológico e científico altíssimo, em termos de métodos e métricas”, avaliou.
Rodrigo Secioso, superintendente da Área de Inovação 3 da Finep, destacou que a iniciativa do projeto estruturante é o pontapé inicial de muitas outras inovações que terão que ser desenvolvidas a partir da rede e da plataforma de pesquisa que estão sendo criadas. “Esse projeto financiado pela Finep/MCTI é apenas o início. Começamos por essa parte de estruturação, para iniciar o desenvolvimento de tecnologias para caracterizar os atributos do solo, integrar mapeamento digital, construir uma plataforma de mapeamento de solo brasileiro. Isso é crucial para que seja possível desenvolver soluções mais adequadas e eficientes para as culturas brasileiras, para a nutrição de plantas, e assim garantir a segurança alimentar e a sustentabilidade da agricultura brasileira”, pontuou.
O Mapa foi representado no workshop por Gustavo dos Santos Goretti, coordenador-geral de Irrigação e Conservação do Solo e Água, do Departamento de Produção Sustentável e Irrigação (Depros), da Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo (SDI).
Ele destacou que o ministério está buscando unir forças de diversas instituições e parceiros, incluindo os produtores, para iniciar o mais rapidamente possível os trabalhos de campo para o mapeamento das áreas definidas como prioritárias pelo PronaSolos. Em breve devem ser publicados os decretos com a atualização dos membros dos comitês estratégico e executivo do programa.
Goretti também revelou que há a perspectiva de que o mapeamento das áreas prioritárias esteja no Plano Plurianual (PPA) 2024/2027 do ministério, que permitirá que o PronaSolos tenha, a partir do ano que vem, acesso aos primeiros recursos para iniciar os trabalhos de campo, conforme previsto no Programa.
Programa estratégico para o Brasil e o planeta
Clenio Pillon, diretor executivo de Pesquisa e Inovação da Embrapa, participou da abertura do workshop, de maneira remota. Ele destacou que o PronaSolos, além de ser um programa estruturante interno da Embrapa, em consonância e alinhamento com os 33 portfólios de PD&I da empresa, é um programa de Estado estratégico para o Brasil.
“Temos a real dimensão do que significa um levantamento sistemático como o que está sendo proposto pelo programa, em termos de mapeamento e caracterização desse recurso natural tão estratégico para a nossa segurança e soberania alimentar. É impensável fazermos a gestão dos nossos recursos naturais sem um conhecimento aprofundado, especialmente dos recursos que são basilares para a produção de alimentos, como solo, água e biodiversidade, que têm um nexus muito forte com as questões climáticas e toda a pauta das mudanças do clima”, ressaltou o diretor.
Ele destacou que o PronaSolos, além de contribuir com dados e informações a partir das plataformas que estão sendo desenhadas pelo programa e pelo projeto, irá subsidiar a formulação de políticas públicas, melhorando a capacidade do País de fazer gestão e ordenamento territorial de forma harmônica e sustentável. “Estamos falando aqui não somente de um programa e de um projeto de PD&I, mas de algo que contribuirá fortemente para futuras políticas públicas, não só na questão da produção de alimentos, mas também relacionada a planejamento ambiental, questões de estrutura e logística, de acesso a crédito.”
Pillon também salientou a importância dos processos de governança, articulação e indução de políticas públicas que estão sendo construídas no âmbito do PronaSolos. “Hoje não há como pensarmos em avançar no conhecimento e na proposição de soluções e novas iniciativas sem termos redes robustas e ambientes de inovação aberta constituídos, com o apoio dos nossos ministérios, dentro de uma agenda que é de interesse não só da Embrapa e parceiros, mas também do País e do planeta”, concluiu o diretor.
Aspectos jurídicos da governança de solos
Carlos Alberto Valera, promotor de justiça de Minas Gerais, participou do workshop com uma palestra que destacou os aspectos jurídicos da governança de solos no Brasil e a experiência desenvolvida pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), em parceria com o Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM) e outros parceiros, para a criação do Sistema de Apoio ao Diagnóstico das Pastagens Degradadas (SIPADE). Ele coordena o Núcleo Integrador para Tutela da Água e do Solo (Nutas) do MPMG.
O promotor explicou que solo e subsolo são recursos ambientais por força de lei, pelo artigo 3º da Lei Federal nº 6938, de 1981. Logo, eles estão protegidos pelo artigo 225 da Constituição e são direitos fundamentais. “O que nós precisamos, e o PronaSolos dará essa resposta, é conhecer o nosso solo e o nosso subsolo, para que o gestor possa tomar uma decisão efetiva para a proteção e exploração adequada desse recurso. É impossível tomar qualquer decisão em nível de território, seja em qual escala for, sem conhecer os solos”, destacou.
Valera explicou que o MPMG criou, de maneira pioneira, um núcleo específico para tutela integradora da água e do solo, e agora trabalha num software para identificação de pastagens degradadas, o SIPADE. “E por que as pastagens degradadas? Por que são os dados mais superlativos de degradação [de solos] do País. A ideia é que o PronaSolos traga esse conhecimento sobre os nossos solos para que possam ser adotadas políticas públicas que, de um lado, permitam a exploração e a produção, por que nós reconhecemos a importância do agro para o Brasil, mas que também cumpra o requisito ambiental respeitando a capacidade de uso desse recurso fundamental para a nossa soberania”, concluiu o promotor.
Experiências em base de dados e interoperacionalidade
A programação do workshop foi fechada, no dia 6 de julho, com uma mesa redonda que discutiu as bases de dados de solos já existentes e os desafios para a interoperacionalidade entre elas. O PronaSolos já possui uma plataforma tecnológica, lançada em dezembro de 2020, que disponibiliza à sociedade, por meio de um sistema de informações geográficas (SIGWeb), uma vasta base de dados e de informações de solos existentes e disponíveis no País.
Especialistas da Embrapa Agricultura Digital, IBGE e Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UFTPR) apresentaram suas experiências e debateram junto com os pesquisadores participantes do evento sobre como as instituições devem desenvolver a governança dos dados já existentes, originados de trabalhos desenvolvidos desde a década de 1940, e o grande volume de novas informações que o PronaSolos irá gerar ao longo das próximas três décadas.
O pesquisador Stanley Oliveira, chefe geral da Embrapa Agricultura Digital, mostrou como está estruturado o Banco de Dados de Solos (BD Solos), fruto de uma parceria entre Embrapa Solos e Embrapa Agricultura Digital e lançado ao público em 2015, Ano Internacional do Solo. Essa base de dados incorpora amostras e perfis de solos de todo Brasil, apresentando uma descrição detalhada das características morfológicas, físicas, químicas e mineralógicas desses perfis com suas localizações geográficas. O sistema também contempla um módulo para dados de análises de fertilidade de solos e outro para mapas.
Oliveira apontou que o grande desafio do PronaSolos é caminhar na direção de dados padronizados, que sejam fáceis de ser encontrados e acessados, que tenham interoperacionalidade, que possam ser trocados com instituições estrangeiras e que sejam reutilizáveis, seguindo os padrões internacionais. “É um processo irreversível, e com isso irão se beneficiar a academia, a Embrapa e outras instituições de pesquisa e o governo. A Embrapa Agricultura Digital já tem especialistas [em Tecnologia da Informação] com treinamentos prontos que podem ser dados para multiplicadores de todos os parceiros integrados na rede”, revelou.
O IBGE participou das discussões da mesa redonda com diversos especialistas que trabalham diretamente com a Infraestrutura de Dados Espaciais (INDE), instituída em 2008 pelo decreto federal nº 6.666 e gerida pelo instituto. A INDE tem o propósito de catalogar, integrar e harmonizar dados geoespaciais existentes nas diversas instituições do governo brasileiro, produtoras e mantenedoras desse tipo de dado, de maneira que possam ser facilmente localizados, explorados e acessados para os mais diversos usos, por qualquer cidadão que tenha acesso à rede mundial de computadores.
Os dados geoespaciais são catalogados por meio dos seus respectivos metadados, publicados pelos produtores e mantenedores desses dados. De acordo com os especialistas do IBGE, a plataforma de infraestrutura de dados espaciais da Embrapa (GeoInfo) é um dos cases de sucesso de integração com a INDE.
Marcelo Maranhão, assessor técnico da Diretoria de Geociências do IBGE, destacou que o desafio no âmbito das instituições que integram a rede do PronaSolos é promover a capacitação das equipes que irão cuidar do cadastro dos dados e metadados gerados. “É seguir as normas que hoje já estão estabelecidas no Brasil, pela INDE. O IBGE já conta com uma capacitação permanente tanto para a construção da infraestrutura de dados como para a questão de cadastramento de metatados”, reforçou. Maranhão também expôs sobre a necessidade de financiamento e de pessoas de diversas instituições parceiras para geração das bases cartográficas nas escalas requeridas pelo PronaSolos.
Já o professor da UTFPR Alessandro Samuel Rosa apresentou a experiência da plataforma SoilData, repositório de dados da pesquisa em ciência do solo mantida pela universidade.
Segundo o professor, há um grande volume de dados sendo produzidos pelas instituições de pesquisa e em trabalhos de graduação, mestrado e doutorado, e todos eles têm o seu impacto na resolução de problemas de grupos de pesquisa, pontual ou de longo prazo. Mas quando esses dados são introduzidos de maneira adequada em uma plataforma como o SoilData, abrem-se outras possibilidades, aumentando esse potencial. “Quando trazemos os dados para um outro ambiente de produção, além de dar visibilidade ao trabalho de campo e laboratório, podemos agregá-los a outros dados, abrindo possibilidades que talvez antes não tinham sido pensadas. É fundamental que as universidades e os institutos de pesquisa abracem essa causa”, concluiu.
Metas do projeto apresentadas no workshop
• Meta 1 | Rede Nacional de PD&I em Ciência do Solo e temas afins, integrando todas as ICTs, empresas privadas e organizações que atuam nos temas – apresentada pela chefe geral da Embrapa Solos, Maria de Lourdes Mendonça Santos Brefin.
• Meta 2 | Protocolos modernos de caracterização de atributos, levantamento pedológico e interpretações para o uso sustentável de solos tropicais apoiados por sensores orbitais e geotecnologias – apresentada pelos pesquisadores da Embrapa Solos Waldir de Carvalho Junior, Amaury de Carvalho Filho e José Francisco Lumbreras
• Meta 3 | Instrumentos de sensoriamento proximal, seguindo preceitos da química verde, calibrados para caracterização de atributos químicos e físicos de solos – apresentada por equipe da Embrapa Solos: pesquisadores Etelvino Novotny e Wenceslau Teixeira e analistas Silmara Bianchi e Bianca Mattos.
• Meta 4 | Protocolo de estudos da biodiversidade dos solos do Brasil/Estudos da saúde dos solos do Brasil – apresentada pela pesquisadora da Embrapa cerrados Ieda Carvalho.
• Meta 5 | Soloteca nacional oficial do Brasil, com amostras de solos para estudos em todos os campos de aplicação – apresentada pelo pesquisador da Embrapa Solos Mauricio Rizatto.
• Meta 6 | Plataforma tecnológica e sala de controle e situação para a execução dos protocolos e gestão dos projetos do PronaSolos – apresentada pelo chefe do departamento d Informações Institucionais do Serviço Geológico do Brasil, Edgar Shinzato.
• Meta 7 | Recursos humanos ao nível de mestrado, doutorado e pós-doutorado em áreas da fronteira do conhecimento para avanço dos estudos de levantamento e classificação de solos, apresentado pelo professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Carlos Schaefer
• Meta 8 | Um modelo piloto de aplicação da governança executiva do PronaSolos, nas regiões Sul do MS e Norte do PR, para demonstração da multifuncionalidade do solo para a sociedade em geral, apresentada pelos pesquisadores da Epamig Sanzio Molica e José Mário Ferreira.
• Meta 9 | Plataforma de comunicação e marketing do PronaSolos para negócios e relacionamento institucional, gestão institucional, governança estratégica, disponibilizada para a sociedade – não apresentada durante o workshop.
• Meta 10 | Laboratório Nacional de Referência e Inovação em Métodos de Análise de Solos em apoio ao PronaSolos – apresentada pela analista da Embrapa Solos Silmara Bianchi.
Histórico do PronaSolos
A construção do programa PronaSolos começou em 2013, a partir de uma articulação iniciada em Berlim, no evento 2º Global Soil Week, entre a chefe geral da Embrapa Solos, Maria de Lourdes Brefin, o então presidente da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, Gonçalo Signorelli, e o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Aroldo Cedraz. Na época, o mundo despertava para a importância da ciência do solo para a segurança alimentar e as questões das mudanças climáticas.
Em março de 2015, declarado pela ONU como o Ano Internacional do Solo, as três instituições realizaram a Conferência sobre Governança do Solo, em Brasília, que reuniu autoridades e lideranças brasileiras e internacionais sobre o assunto. O evento evidenciou a falta de dados de solos em escalas compatíveis com a tomada de decisão em nível de microbacias, a dispersão desses dados entre instituições diversas, a falta de uma legislação única que tratasse solo e água em conjunto e a ausência de governança de solos no País, bem como de programas voltados ao conhecimento do solo, sua proteção e conservação.
A conferência produziu o documento intitulado “Carta de Brasília”, que foi publicado e distribuído em diversas instituições brasileiras. O TCU também produziu, no escopo do evento, um levantamento sobre a governança de solos no Brasil, que culminaria meses depois no Acórdão TCU 1942/2015, que trata justamente da governança de solos do País. Este acórdão lançou as diretrizes que orientaram a formulação do Programa Nacional de Levantamento e Interpretação de Solos do Brasil (Pronasolos), por meio de um projeto especial liderado pela Embrapa Solos.
Após mobilização interinstitucional liderada pelo Ministério da Agricultura e pela Casa Civil, que formularam a proposta de um programa nacional apoiados pelas instituições que atuam com base na ciência do solo, a formalização do PronaSolos como programa de Estado aconteceria em 2018, por decreto presidencial. A primeira nomeação dos comitês estratégico e executivo do programa foi publicada em 2020.

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Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025
Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves
A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.
Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.
Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.
Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves
Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.
Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.
Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.
Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.
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Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
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Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.



