Notícias Focado nos Estados da região Sul
Programa Leite Seguro entra em nova fase
Trabalhos visam aprimorar qualidade, segurança e integridade do leite e produtos derivados, desde a fazenda até a mesa do consumidor.

Maior projeto de pesquisa em leite da história do Brasil, o Programa Leite Seguro entra na fase de coleta de dados, em campo, depois de meses de restrições impostas pela pandemia. Cerca de 250 propriedades, chamadas de unidades produtoras de leite (UPL), passam a ter acompanhamento de bolsistas contratados via Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A nova etapa deve alavancar o trabalho da equipe, formada por especialistas de diversas áreas, que pretende criar um programa de Estado, focado no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Iniciado em 2019, o Leite Seguro trabalha com questões como qualidade, segurança e integridade do leite e seus derivados em toda a cadeia produtiva leiteira, desde a propriedade rural até o consumidor final.
“Visamos a alimentação saudável e a proteção da saúde do consumidor de todos os produtos lácteos”, resume Marcelo Bonnet, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, em Pelotas (RS) e um dos idealizadores do projeto, que está organizado em cinco eixos de atuação “Começamos com a segurança do leite e boas práticas agropecuárias, é um diagnóstico para entender o que move o nosso produtor de leite a adotar determinadas práticas e vamos trabalhar, com ele, para melhorar ao máximo possível essas rotinas”, acrescenta. As outras frentes de ação são de pesquisas em resíduos e contaminantes, transferência de tecnologias, tecnologia da informação e os benefícios de consumo e consumo consciente para os consumidores. Elas estão sendo implementadas, de forma integrada, em toda a cadeia produtiva.
Mesmo com as restrições sanitárias, importas pela pandemia, o teletrabalho tornou possível à equipe avançar em frentes como planejamentos, contratos e obras. Em breve, devem começar as reformas de dois laboratórios, em Porto Alegre e Pelotas, onde o programa está centralizado. Todo o trabalho é desenvolvido em parceria entre o Núcleo de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Leite da Embrapa Clima Temperado e o Laboratório Federal de Defesa Agropecuária do Rio Grande do Sul (LFDA-RS), ambos vinculados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Os recursos, em torno de R$ 30 milhões, foram obtidos junto ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). O fundo é abastecido com o dinheiro obtido pelas agências reguladoras, ao multarem empresas públicas de serviço (telefonia, eletricidade). “As verbas são destinadas a projetos que sejam muito impactantes e que transformem a vida no país. Nossos concorrentes eram fortes e felizmente a nossa proposta foi aprovada por unanimidade”, comemora Bonnet.
Atualmente, cerca de seis bilhões de pessoas consomem lácteos, no mundo inteiro, e um bilhão estão envolvidas na cadeia produtiva, de forma direta ou indireta. Considerado um produto de excelente qualidade nutricional, o leite é produzido em mais de 99% dos municípios brasileiros. Com produção de 35,4 bilhões de litros no ano passado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país é o terceiro maior produtor do mundo. “Vamos dar ao consumidor evidências de que o produto é seguro, íntegro e de qualidade, há muita tecnologia, conhecimento e gente participando disso. Além disso, temos algumas das indústrias mais modernas do mundo”, garante o pesquisador, doutor em ciência de alimentos, com ênfase em leite.
Bonnet afirma que a qualidade média do leite brasileiro melhorou muito nas últimas décadas, mas pode avançar mais. Dificuldades infraestruturais e de logística, como estradas em más condições, energia e comunicação precárias e falta de saneamento básico, são gargalos que limitam a produtividade e a competitividade.
Como o próprio nome do programa sugere, o Leite Seguro trabalha especialmente com a segurança, fazendo análise de risco completa do campo até a mesa do consumidor. “O produto é seguro, mas queremos maximizar essa segurança. Trabalhamos com análise e priorização quantitativa de riscos, usando ferramentas estatísticas de modelagem matemática bastante elaboradas. Vamos analisar quais são os riscos mais importantes da cadeia produtiva e, com isso, conseguir otimizar a alocação de recursos públicos e privados, pode ser dinheiro, gente, competências, programas, tudo será voltado para esse fim”, projeta Bonnet.
O pesquisador afirma que uma cadeia de leite que se desenvolve bem, ajuda, também, o desenvolvimento do país. “O projeto surge dentro dessa dimensão, através do leite podemos examinar todos os grandes programas nacionais. Desde o ponto de vista econômico e social, até aspectos técnicos, científicos, tecnológicos, de infraestrutura ou logística”. E acredita que ela pode servir de modelo para examinar, aprofundar e elucidar questões importantes da segurança alimentar mundial. A ideia é que o projeto se torne perene no país.

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Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025
Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves
A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.
Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.
Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.
Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves
Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.
Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.
Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.
Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.
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Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
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Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.



