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Avicultura

Programa de Vigilância Estratégica é uma poderosa ferramenta contra Escherichia coli patogênica aviária

Monitoramento da E. coli na avicultura industrial é feito por meio de coletas de amostras das aves, do ambiente e de vetores como o Alphitobius diaperinus. Esse trabalho é importante para os profissionais da avicultura entenderem melhor as fontes de infecção e dinâmicas de transmissão, e assim, organizar intervenções que minimizem o desenvolvimento e a disseminação da resistência antimicrobiana, mitigando seu impacto.

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Foto: Shutterstock

A colibacilose aviária refere-se a qualquer infecção localizada ou sistêmica causada por uma cepa de Escherichia coli patogênica aviária (APEC). Apesar de ser considerado um importante membro da microbiota intestinal de aves e mamíferos, algumas cepas adquiriram fatores de virulência que as tornaram patogênicas para o homem e outros animais.

As APECs causam infecções extra-intestinais em aves, denominadas colibacilose, o que acarreta perdas econômicas significativas na avicultura. Entre os genes associados à virulência das APECs estão os genes iroN, iutA, iss, ompT e hlyF, propostos como marcadores de virulência dessas cepas.

A colibacilose é caracterizada como uma síndrome (Figura 1), que pode incluir doença respiratória, septicemia, síndrome da cabeça inchada, infecção do saco vitelino, onfalite e celulite. É também uma doença economicamente importante que ameaça a segurança alimentar e o bem-estar das aves em todo o mundo.

Figura 1 – Colibacilose é caracterizada como uma síndrome, que pode incluir doença respiratória, septicemia, síndrome da cabeça inchada, infecção do saco vitelino, onfalite e celulite.

As perdas econômicas resultam da mortalidade e da produtividade reduzida nas aves afetadas, incluindo taxas de incubação e produção de ovos diminuídas, aumento da condenação de carcaças no abate e custos significativos associados ao tratamento e profilaxia. A Escherichia coli (E.coli) também pode atuar como um patógeno oportunista ou secundário quando em associação com outros agentes infecciosos. No Brasil, as lesões associadas à colibacilose estão entre as principais causas de condenação de aves durante o processo de abate.

Escherichia coli multirresistentes

O número de cepas de E.coli multirresistentes tem aumentado consideravelmente nas últimas décadas, limitando as opções de tratamento com antimicrobianos em humanos e animais (Figura 2).

Figura 2 – Antibiograma com cepas sensíveis e multirresistentes

A resistência antimicrobiana é um dos problemas de saúde pública mais alarmantes dos últimos anos, um problema global que envolve a saúde humana, animal e ambiental. Estima-se que a cada ano 700 mil pessoas morrem por infecções causadas por superbactérias, e até o ano de 2050, a resistência bacteriana poderá causar a morte de aproximadamente 10 milhões de pessoas por ano. O uso generalizado de antimicrobianos, tanto em humanos quanto em animais, têm favorecido a seleção e disseminação da resistência bacteriana em todo o mundo.

O uso indiscriminado de antimicrobianos, não só com finalidade terapêutica, mas também com fim preventivo (melhoradores de desempenho) é atribuído como um dos principais responsáveis pelo aumento na quantidade e distribuição dos genes de resistência.

Nesse contexto, conforme a Instrução Normativa nº 01 de 13 de janeiro de 2020 do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) outorga-se a restrição em território nacional tanto para importação, fabricação, comercialização e uso de aditivos considerados melhoradores de desempenho que contenham antimicrobianos tilosina, lincomicina e tiamulina. No entanto, substâncias como a virginiamicina e bacitracina ainda são utilizadas de forma rotineira em criações comerciais de frangos de corte, visto que, sua ação inibe a proliferação de determinadas populações intestinais, como as bactérias do gênero Clostridium.

Casos de E.coli multirresistentes em animais de produção, animais domésticos e inclusive humanos têm sido registrados. Estas cepas se distribuem na população humana não só pelo contato direto com os animais, mas também pelo consumo de carne com a presença dessas bactérias. A β-lactamase de espectro estendido (ESBL) e as enzimas AmpC-like estão entre os mecanismos mais conhecidos de resistência bacteriana, ambos mediados por genes plasmidiais.

Em estudo conduzido em 2021, avaliando o uso de antimicrobianos no sistema de produção de frangos de corte, concluiu-se que o Alphitobius diaperinus é um dos fatores que influenciam na presença de linhagens de E.coli produtoras de β-lactamase de espectro estendido (ESBL) e resistentes a fosfomicina no sistema de produção do Brasil. Testes fenotípicos e genotípicos foram realizados em um total de 117 cepas isoladas de campo, e encontradas 78 cepas positivas para produção de ESBL.

Em relação à resistência frente à fosfomicina foram encontradas 26 cepas. Neste estudo, a cama dos aviários e os Alphitobius diaperinus se caracterizam como importantes pontos críticos na manutenção da prevalência das E.coli resistentes aos antimicrobianos na produção de frangos de corte. Além do mais, os determinantes genéticos que codificam as enzimas que propiciam a resistência bacteriana podem ser transferidos para cepas de E.coli da microbiota comensal das aves, podendo acarretar problemas futuros.

Avaliando a microbiota do sistema respiratório de frangos de corte pesquisadores identificaram cepas de E.coli multirresistentes nos sacos aéreos e pulmões de aves saudáveis. As categorias de antimicrobianos com maior resistência foram os β-lactâmicos, sulfonamidas, aminoglicosídeos e quinolonas. Sendo os anfenicóis a categoria de antimicrobianos que as cepas apresentaram maior suscetibilidade (Gráfico 1).

Gráfico 1 – Cepas de Escherichia coli resistentes a diferentes categorias de antimicrobianos

Esse resultado sugere que as aves saudáveis podem abrigar bactérias multirresistentes nas vias aéreas e atuar como reservatórios desses microrganismos. A presença de bactérias multirresistentes, mesmo que em menor proporção, deve ser avaliada sob a ótica da disseminação de microrganismos resistentes a antibióticos, o que pode comprometer os tratamentos antimicrobianos em granjas avícolas no futuro.

Ações nacionais e internacionais contra a RAM

Entidades internacionais já estão trabalhando há anos para melhorar a consciência e compreensão sobre a RAM (Resistência bacteriana aos antimicrobianos), incentivando implementação de padrões internacionais e fortalecendo o conhecimento por meio da vigilância e pesquisa.

O Brasil publicou, em 2018, o seu “Plano de Ação Nacional de Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos no Âmbito da Saúde Única” (PAN-BR), em convergência com os objetivos definidos pela Aliança Tripartite formada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), apresentados no Plano de Ação Global sobre Resistência aos Antimicrobianos. O PAN-BR define objetivos, intervenções estratégicas e atividades a serem executadas, de forma multidisciplinar, para o combate à RAM no país.

Além disso, o Brasil conta também com o “Plano de Ação Nacional de Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos, no Âmbito da Agropecuária”, o PAN-BR Agro, que descreve as ações específicas a serem desenvolvidas pelo setor agropecuário, relacionadas ao tema da RAM. Entre as atividades de responsabilidade do Mapa, detalhadas no PAN-BR Agro, destaca-se o compromisso assumido com a implementação de um programa de vigilância e monitoramento da resistência aos antimicrobianos no âmbito da agropecuária.

Programa de Vigilância Estratégica 

Dentre as principais medidas recomendadas pela OMS, FAO e OIE em total sintonia com o Programa de Saúde Única (One Health) estão o uso racional dos antimicrobianos e o desenvolvimento de programas de vigilância integrada da RAM na produção animal.

Diante disto, o monitoramento da presença de E.coli (APECs multirresistentes) é importante para os profissionais da avicultura entenderem melhor as fontes de infecção e dinâmicas de transmissão, e assim, organizar intervenções que minimizem o desenvolvimento e a disseminação da resistência antimicrobiana, mitigando seu impacto.

Este programa propõe o monitoramento da E.coli na avicultura industrial, por meio de coletas de amostras das aves, do ambiente e de vetores como o Alphitobius diaperinus. Uma investigação epidemiológica, onde as amostras isoladas serão pesquisadas por técnicas fenotípicas e genotípicas.

Como primeira etapa do trabalho é realizado as coletas no campo nos diferentes segmentos da criação de aves (matrizeiros, incubatórios e frangos de corte) com o isolamento e identificação das cepas a nível laboratorial. Com as cepas isoladas são desenvolvidos seis passos em busca de informações importantes para tomadas de decisões:

  • Step 1 – A pesquisa dos genes de virulência é o primeiro passo para o diagnóstico correto! Uma poderosa ferramenta utilizada para distinguir os isolados APEC (Escherichia coli Patogênica Aviária) dos isolados AFEC (Escherichia coli comensal/fecal Aviária) presentes nos diferentes segmentos da avicultura industrial.
  • Step 2 – Pesquisa de sensibilidade aos antimicrobianos (antibiograma), e pesquisa dos genes de resistência a ESBL (Beta-lactamases de espectro estendido). Quando as bactérias se tornam resistentes, elas são mais perigosas devido à possível falha do tratamento, perda de opções de tratamento e aumento da gravidade da doença. O teste RAM, através do antibiograma e testes genotípicos, é a forma correta e fundamentada para a escolha das melhores soluções.
  • Step 3 – Avaliação do índice MAR. O índice MAR (Multiple Antibiotic Resistance Index) é um método eficaz, válido e econômico que é usado no rastreamento de origem de organismos resistentes a antibióticos. A avaliação do MAR é fundamental para identificar isolados de alto risco.
  • Step 4 – ERIC – PCR  (Enterobacterial Repetitive Intergenic Consensus)  análise usada para identificar similaridades genéticas entre as cepas encontradas nos diferentes segmentos da produção.

Figura 3 – Halo de inibição (mm) produzido por Lactobacillus spp frente a E. coli

Spet 5 – Antagonismo, após a definição do perfil das cepas, as APECs multirresistentes são direcionadas para avaliação do antagonismo frente a 11 cepas de Lactobacillus provenientes de um probiótico comercial (Figura 3). Alguns probióticos estão sendo considerados uma alternativa promissora aos antibióticos contra infecções por enteropatógenos. No entanto, há um limite de informações sobre a diversidade e os potenciais probióticos anti-E. coli. Através do teste de antagonismo é possível oferecer aos clientes um programa estratégico personalizado aos desafios atuais de cada integração.

Step 6 – Plano de ação. Com a experiência acumulada no controle das APECs multirresistentes e as informações captadas no campo, é possível elaborar estratégias individualizadas para cada situação.

Além dos passos acima descritos, quando necessário pode ser realizada a determinação do CIM – concentração inibitória mínima, para alguns antimicrobianos pré-definidos, de uso rotineiro no sistema de produção avaliado.

Prevenção e controle 

O Programa de Vigilância Estratégica é uma ferramenta que busca entender o agente, suas fontes de infecção e dinâmicas de transmissão. Através das informações levantadas é possível organizar estratégias que visam diminuir o desenvolvimento e disseminação da resistência bacteriana e amenizar os prejuízos financeiros provocados pelas APECs multirresistentes dentro da cadeia produtiva de aves, além de contribuir com as políticas públicas que visam a promoção do uso racional de antimicrobianos na produção animal.

Desta forma, entendendo os desafios no campo, podemos elaborar programas de contenção e prevenção com produtos naturais, contribuindo na redução ou retirada dos antimicrobianos, e quando necessário o uso de antimicrobianos, é possível usá-los de forma correta e fundamentada em laudos laboratoriais.

As referências bibliográficas estão com os autores. Contato: fabrizio@vetanco.com.br.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse gratuitamente a edição digital Avicultura – Corte & Postura. Boa leitura!

Fonte: Por equipe técnica da Vetanco

Avicultura

Mandato de Ricardo Santin é renovado na presidência da ABPA

Ele também preside o Conselho Mundial da Avicultura, o Conselho de Administração do Instituto Ovos Brasil e da Câmara Setorial de Aves e Suínos do Ministério da Agricultura, além de ocupar a vice-presidência da Associação Latinoamericana de Avicultura.

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Ricardo Santin foi reconduzido ao cargo de presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal - Foto: Divulgação/ABPA

O advogado e mestre em Ciências Políticas, Ricardo Santin, foi reconduzido ao cargo de presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), após realização da Assembleia Geral realizada na quarta-feira (24), ocasião em que foi escolhido o novo Conselho Diretivo da associação.

O novo conselho será comandado por Irineo da Costa Rodrigues, que é diretor-presidente da Lar Cooperativa Agroindustrial há mais de três décadas, assumirá o posto até então ocupado pelo diretor comercial da Aurora Alimentos, Leomar Somensi.

O novo conselho diretivo contará ainda, entre titulares e suplentes com a participação de Neivor Canton, diretor presidente da Aurora Coop, José Carlos Garrote de Souza, presidente conselho de administração da São Salvador Alimentos, Cláudio Almeida Faria, gerente geral da Pif Paf Alimentos, Irani Pamplona Peters, presidente da Pamplona Alimentos, José Roberto Fraga Goulart, diretor-presidente da Alibem, José Mayr Bonassi, Rudolph Foods, Fábio Stumpf, diretor vice-presidente de agro e qualidade da BRF, Marcelo Siegmann, diretor de exportações da Seara, Dilvo Grolli, diretor presidente Coopavel, Bernardo Gallo, diretor geral Cobb-Vantress, Rogério Jacob Kerber, diretor executivo SIPS, Antônio Carlos Vasconcelos Costa, CEO Avivar Alimentos, Dilvo Casagranda, diretor de exportações da Aurora Alimentos, Carlos Zanchetta, Diretor de Operações da Zanchetta Alimentos, Nestor Freiberger, presidente da Agrosul, Cleiton Pamplona Peters, diretor comercial mercado interno da Pamplona Alimentos, Elias Zydek, diretor executivo da Frimesa, Gerson Muller, conselheiro Vibra Agroindustrial, Leonardo Dall’Orto, vice-presidente de mercado internacional e planejamento da BRF, Jerusa Alejarra, Relações Institucionais da JBS, Valter Pitol, diretor-presidente da Copacol, Mauro Aurélio de Almeida, diretor da Hendrix Genetics para o Brasil, José Eduardo dos Santos, presidente da Asgav, Jorge Luiz de Lima, diretor da Acav/Sindicarne, e Roberto Kaefer, presidente do Sindiavipar.

O ex-ministro e ex-presidente da ABPA, Francisco Turra, também foi reconduzido à presidência do Conselho Consultivo da associação, juntamente com os demais membros do conselho: “Agradeço a confiança do novo Conselho da ABPA e do presidente Irineu na continuidade deste trabalho da entidade que, pela união de esforços, tem gerado grandes resultados para a cadeia produtiva. Ao mesmo tempo, faço especial agradecimento a Leomar Somensi, que nos conduziu desde o primeiro dia de existência da associação, superando grandes crises e conquistando vitórias históricas para o nosso setor. O setor todo rende uma especial homenagem à esta inestimável liderança exercida por ele ao longo destes 10 anos”, destaca Ricardo Santin.

Além da presidência da ABPA, Santin é presidente do Conselho Mundial da Avicultura (IPC, sigla em inglês), do Conselho de Administração do Instituto Ovos Brasil e da Câmara Setorial de Aves e Suínos do Ministério da Agricultura, além de vice-presidente da Associação Latinoamericana de Avicultura (ALA).

Fonte: Assessoria ABPA
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Avicultura

Uma cooperativa para se chamar de Lar

No movimento cooperativista é possível encontrar histórias de dedicação, visão e colaboração. Uma delas, a Voz do Cooperativismo encontrou em Medianeira (PR), na conversa com Irineo da Costa Rodrigues, presidente da Lar Cooperativa, que compartilha os detalhes de sua jornada pessoal e profissional

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Fotos: Divulgação/OP Rural

No movimento cooperativista é possível encontrar histórias de dedicação, visão e colaboração. Uma delas, a Voz do Cooperativismo encontrou em Medianeira (PR), na conversa com Irineo da Costa Rodrigues, presidente da Lar Cooperativa, que compartilha os detalhes de sua jornada pessoal e profissional, destacando como sua vida se entrelaça com a história e os ideais da cooperativa. Confira!

O Presente Rural – Fale um pouco sobre sua história dentro do cooperativismo e na Lar. Como essas duas histórias se unem?

Irineo da Costa Rodrigues – A Cooperativa Lar foi criada nos anos 1960, quando houve uma migração de pessoas do sul do país para onde hoje é o município de Missal. A Igreja Católica inclusive, através de uma encíclica do Papa João XXIII, que dizia que as pequenas economias deviam se juntar ou em cooperativas. Cinco dioceses na época foram até o governador Moisés Lupion pedir uma ajuda à Igreja. O governador doou a essas cinco dioceses cinco mil alqueires, ou seja, mil alqueires a cada. Assim, vieram agricultores do sul da região das Missões, de origem alemã e católicos pequenos agricultores.

Presidente da Lar Cooperativa, Irineo da Costa Rodrigues: “Nosso quadro de associados está caminhando para chegar a 14 mil”

Na medida em que eles vinham, compravam uma colônia de terra que é dez alqueires e a igreja separava um valor para formar uma cooperativa. E assim nasceu a Cooperativa Lar, que foi fundada no dia 19 de março de 1964. Dia 19 de março é Dia de São José, esposo de Maria e o nome do padre que foi colonizador e gerente da colonizadora, e foi o primeiro presidente da cooperativa. A cooperativa nasceu sob a égide da Igreja. No dia 19 de março de 2024 a Lar completou 60 anos.

Eu sou da região da campanha do Rio Grande do Sul. Minha cidade natal é Canguçu e meu pai era pequeno produtor. Produzia leite, batata, cebola, pêssego e na época ele se associou à cooperativa de leite. Infelizmente ela descontinuou por má gestão e então eu sempre convivi com meu pai falando em cooperativa.

Depois fui estudar sete anos no Colégio Agrícola Visconde da Graça, em Pelotas (RS), e lá nós tínhamos uma cooperativa escolar. Então, de novo falando em cooperativa e estudando um pouco. Quando vim para a agronomia, me formei em 1973, em Pelotas, também na grade curricular tinha matérias voltadas ao cooperativismo.

No comecinho de 1974 me formei engenheiro agrônomo e pensei em sair do Rio Grande do Sul, porque as faculdades de agronomia estavam lá na cidade de Pelotas, que é mais antiga do país. Já tinha a URGS, de Porto Alegre, e tinha a de Santa Maria. O Paraná só tinha uma que era a Federal do Paraná. Santa Catarina não tinha faculdade de agronomia, ou seja, o Rio Grande do Sul formava muitos agrônomos. E eu vi o exemplo de outros, eu queria ser produtor rural. Pensei “vou no rumo do Centro-Oeste, no Mato Grosso”, mas o Mato Grosso ainda não tinha a agricultura.

Entrei na Emater do Paraná, trabalhei sete anos e, mais da metade do tempo, com o chefe em Cascavel. Fui chamado pela Embrapa em 1974, não quis ir, eu até tinha uma data para ir para a Carolina do Norte fazer o mestrado nos Estados Unidos. E digo “não, se eu for para a Embrapa eu vou ter que ir fazer mestrado, quem sabe doutorado, e eu não vou ter oportunidade de começar na agricultura antes”. Fiquei sete anos na antiga Carpa, a Emater hoje. E a Carpa tinha o trabalho de fomentar o cooperativismo, falar com os agricultores e é um trabalho que eu fazia. Ou seja, em quatro momentos: com o meu pai, colégio agrícola, na faculdade e depois na antiga Carpa, eu sempre vivi, respirei um pouco o cooperativismo.

Quando saí da Emater, a Sudcoop, que hoje é a Frimesa, entrou em dificuldade e vim ser presidente dessa cooperativa e fiquei até o ano de 1983. Em 1984 e 1986 vim para a Cotrefal (Lar) como diretor-secretário e fiquei um pouco frustrado porque a cooperativa não andava. Então me afastei e, quando voltei, em 1990 por nove anos acumulei a Presidência da Sicredi e da atual Lar.

Então eu já tinha passado pela diretoria da Frimesa, fui presidente da Codetec sempre – eu a fundei e a vendi, e ela teve um papel bem importante. Foi vendida por uma decisão das cooperativas, não era minha decisão.

O Presente Rural – Quando a Lar decidiu diversificar e industrializar sua produção?

Irineo da Costa Rodrigues – Eu só assumi a presidência da Lar com essa ideia de que tinha que fazer duas coisas, até pelo lado de engenheiro agrônomo e de educador da Emater, que tinha que profissionalizar, que tinha que trazer mais eficiência na agricultura e, também, tinha que agregar valor, porque pequenas propriedades não se viabilizam só com grãos e nós já tínhamos através da Frimesa um pouco de suinocultura e leite. Primeiro passo foi aumentar a suinocultura, aumentar a produção de leite, buscar mais produtividade. Na época, criamos os chamados programas de eficácia. Aí nós entramos com a cultura da mandioca e de hortigranjeiros, mas mirando frango. Até que foi possível, quatro anos depois, pois estávamos com um estudo pronto para entrar na avicultura, no dia 09/09/1999, ou seja, em menos de uma década a Lar já estava agregando valor, diversificada e mais industrializada.

O Presente Rural – Presidente, a Lar é destaque tanto em número de colaboradores como associados. Ao que o senhor atribui esse desempenho todo?

Irineo da Costa Rodrigues – Cresceu o número de associados porque mais agricultores passaram a confiar na gestão. Não tínhamos médios e muito menos grandes produtores associados à cooperativa. Passaram a se associar e depois aumentou o quadro de associados quando a Lar foi para o Mato Grosso do Sul, claro, tínhamos associados lá, mas muitos sul-mato-grossenses se associaram à Lar. Como também quando fomos para o Norte do Paraná, para expansão da avicultura. O nosso quadro de associados está caminhando para chegar a 14 mil. Por termos uma avicultura muito intensa, a Lar se tornou em 24 anos a terceira maior empresa de abate de frango do país, a quarta maior da América Latina. A avicultura é muito intensa em ocupação de mão de obra. Nossa avicultura, hoje, precisa de 21 mil funcionários. Então, dos 24 mil funcionários, 21 mil estão na avicultura.

Presidente da Lar Cooperativa, Irineo da Costa Rodrigues: “Uma cooperativa vai bem quando ela preenche uma necessidade do agricultor, porque ele tem que precisar da cooperativa”

O Presente Rural – Ainda em relação ao quadro de colaboradores e dos associados, quais os benefícios ou ações que a Cooperativa tem nessas duas frentes?

Irineu da Costa Rodrigues – Perante aos associados é o trabalho intenso de levar tecnologia, levar a atualidade para eles produzirem mais. E pela diversificação, também conseguimos levar mais renda aos associados. Mas a Lar também tem alguns programas adicionais. Nós bonificamos os associados por fidelidade, por compra de insumos e por milho de qualidade, pois precisamos de uma matéria-prima boa para nossa pecuária. Com isso, premiamos quem tem milho com mais qualidade. Além de distribuição de sobras, podemos citar levar educação e oportunidade para os associados estudarem. Hoje nós temos o curso, talvez inédito no Brasil, de bacharel em agronegócio para agricultores.  Para os funcionários, é um trabalho incessante de qualificação, gerar oportunidades para que nossos funcionários estudem para serem melhores técnicos e melhores gestores.

O Presente Rural – Como o senhor avalia o cooperativismo no ramo agropecuário e o cooperativismo no Brasil?

Irineu da Costa Rodrigues – Ele é extremamente necessário. Penso que ele vai se expandir. Claro que, vez ou outra, alguma cooperativa não tem sucesso, mas isso se deve a alguns fatores. Primeiro, uma cooperativa vai bem quando ela preenche uma necessidade do agricultor, porque ele tem que precisar da cooperativa. Se a cooperativa preenche essa necessidade é meio caminho andado. Segundo, tem que ter uma gestão boa. E, às vezes, as cooperativas se perdem um pouco com a vontade de querer ajudar o associado, exagera na ajuda, ou também por falta de conhecimento, não são felizes nas decisões tomadas na área comercial, industrial. A cooperativa tem que preencher o interesse do associado e tem que ter uma boa gestão.

E outra palavra que não é mágica, mas é importante, é confiança. A cooperativa tem que gerar confiança. Com esses três alicerces uma cooperativa vai bem, ela cada vez mais encanta seu associado, cada vez se expande mais. Claro que isso não é unanimidade, até porque não dá para uma diretoria de cooperativa atender tudo que o associado quer, pois têm alguns que exageram no pedido. O cooperativismo está sendo cada vez mais importante para o país. Cada vez mais está participando mais da produção, como no estado do Paraná, onde mais de 50% da produção do estado passa por cooperativas.

O Presente Rural – Hoje a cooperativa trabalha em diversas áreas do agronegócio. Poderia traçar um panorama dessas áreas?

Irineu da Costa Rodrigues – A Lar tem um foco. Isso foi definido há duas décadas, quando nós passamos a diversificar muito e poucos associados tinham o interesse por aquelas atividades. O foco da Lar é o que a nossa região faz, foco em grãos, em carnes e insumos. Temos logística, temos transporte, serviços. Criamos a cooperativa de crédito, a Lar Credi para focarmos no agricultor. Não é uma crítica, mas as cooperativas quando ficam grandes, focam muito no meio urbano, de certa forma deixam um pouco de lado o agricultor. Atendem muito bem, são fantásticas, são muito fortes, têm uma boa gestão, mas na nossa região, quando a Lar Credi foi criada, levou um choque. Nós percebemos as outras cooperativas, sem citar o nome, se voltando mais para o agricultor porque viram a Lar Credi como uma concorrente forte. E nós não vamos fazer muito barulho, vamos crescendo pouco a pouco, porque a base da Lar Credi é operar com simplicidade, com baixo custo e focada no agricultor. Nós trouxemos um seguro que, para os nossos produtores, foi fantástico. Na avicultura, por exemplo, era um seguro muito caro e esse seguro que nós trouxemos cobre a mortalidade de aves.

O Presente Rural – A avicultura teve uma expansão expressiva nos últimos anos. Até onde a Lar pretende chegar?

Irineu da Costa Rodrigues – De certa forma, a Lar chegou onde queria chegar. Nós precisávamos aumentar a nossa avicultura, porque é uma atividade que tem que crescer para diluir custo. Nós tivemos essa percepção. Nos ressentíamos de ter uma planta para o mercado interno, então, adquirimos a Granjeiro, em Rolândia. Conversávamos muito com a Copagril sobre a necessidade que eles tinham de aumentar, porque com o abate pequeno não era sustentável. O Ricardo Chapla era o presidente, ele cogitou outras empresas que poderiam comprar, outras cooperativas e eu fiquei um pouco frustrado que a Lar não estava na lista, acho que ela era considerada meio pequena. Mas a Lar precisou ser ousada, ter coragem para assumir uma atividade que tinha valor alto e deu certo.  O negócio foi relâmpago. No primeiro dia útil de três anos atrás, a Lar já estava abatendo frango em Marechal Cândido Rondon. Acreditamos que a Lar é reconhecida, está fazendo um bom trabalho.

Presidente da Lar Cooperativa, Irineo da Costa Rodrigues foi entrevistado pelo jornalista e editor-chefe do Jornal O Presente Rural, Giuliano De Luca e por Ueslei Stankovicz para o Programa Voz do Cooperativismo

O Presente Rural – Falando também em suinocultura, como estão as perspectivas? E, falando do aumento no abate do frigorífico Frimesa, tem expectativas de crescimento nessa área também?

Irineu da Costa Rodrigues – A avicultura do ano passado sofreu muito. O Brasil estava com o abate muito alto. Deu muito prejuízo até o mês de agosto, mas muito prejuízo mesmo. A partir de setembro passa a ter resultado positivo, mas nós não cobrimos o prejuízo de avicultura do ano passado. Isso vai demorar uns meses ainda. A suinocultura está com problema semelhante. Ela não deu prejuízo que o frango deu, mas a gente vai ver balanços complicados em empresas que só têm suínos. Isso porque a China deu um “boom” quando ela precisou controlar a peste suína africana, depois se preparou para poder voltar com produção máxima e modernizada e ela está comprando pouco. Então a suinocultura no Brasil possivelmente terá o primeiro semestre ainda duro, sem grandes margens, ou em alguns casos sem margem, acumulando algum prejuízo.

Mas a suinocultura da Lar foi positiva no ano passado. Na nossa forma de ver, no sistema integrado da Frimesa, você deve olhar seu custo e sanidade e a Lar tem sanidade extraordinária. E quando se tem mais produtividade, se diluem os custos. A Frimesa entrou numa época difícil e ela precisa aumentar o abate, pois caso contrário não irá diluir custos.  Mas isso está acontecendo. No ano passado ela teve que arcar com todos os custos de uma empresa em seu início, o que não foi tão fácil, mas teve bom resultado. Precisamos olhar na suinocultura, tanto quando na avicultura, o nível de alojamento, se não passaremos a ver problemas financeiros nessas áreas este ano.

A Lar cresceu muito na produção de suínos, tanto é que no ano passado nós entregamos suínos para Frimesa, para a Friela, Frivatti e vendemos um pouco para o mercado livre. Agora, a partir de janeiro, com a Frimesa ampliando o abate, 100% da matéria prima da Lar está indo para ela.

O Presente Rural –  No Brasil, as taxas estão um pouco elevadas. Isso tem algum impacto na ideia de crescimento da Lar, ou dos próprios produtores rurais?

Irineu da Costa Rodrigues – Primeiramente, a Lar chegou num tamanho adequado, então não temos hoje grandes ideias de expansão. Ela vai investir esse ano mais de 500 milhões para modernizar parque industrial, aumentar um pouco a frota, ampliar grãos. A Lar poderá crescer, eventualmente se surgir uma boa oportunidade, como surgiu a Granjeiro, como surgiu a própria intercooperação com a Copagril. Mas, uma das razões é o juro alto, sim.

O Presente Rural – Quais os principais desafios que a Lar sente hoje?

Irineu da Costa Rodrigues – Nossa preocupação é a queda no preço dos grãos, pois produzimos ainda com custos altos. E, claro, estamos muito preocupados com essas questões de logística que não melhoram nunca. As estradas já deveriam estar todas duplicados, elas são deficientes. Nos preocupa também energia elétrica, que não é adequada ao nível de consumo que temos hoje. A toda hora cai energia, morre frango. Nós não temos conectividade, não temos sinais bons aqui para as máquinas modernas que temos. Em alguns lugares há problemas de água e estradas vicinais. Segurança jurídica e marco temporal, por exemplo. Há indígenas que vêm do Paraguai, que são massa de manobra, criar tensão na região. Como, de certa forma, o MST, que na nossa região está tranquilo, mas a toda hora a gente vê alguém incentivando os movimentos sociais.

O Presente Rural – Quais são as oportunidades emergentes que a Lar observa par ao agronegócio brasileiro?

Irineu da Costa Rodrigues As oportunidades são muito grandes, porque nós temos território, nós temos terra, nós temos know how, nós temos clima. E quando falo em know how é porque temos pessoas que sabem fazer agricultura. Os outros países também têm esse potencial, mas não têm a tecnologia, não tem know how como o nosso agricultor sabe fazer. Então, por isso, o Brasil seguramente vai, cada vez mais, ter uma produção maior.  Mas claro, outros países começam a criar barreiras, barreiras tarifárias, sanitárias. Precisamos ter um governo que faça o trabalho contraponto, que divulgue mais como trabalhamos. Nós temos uma narrativa muito ruim no Brasil, inclusive brasileiros estão falando que a nossa produção não é saudável, que agride o meio ambiente, que tem trabalho escravo. Brasileiros fazendo jogo de interesses fora do país. Nós temos que sair na frente com uma nova narrativa, falar qual agricultura nós fazemos e chamar os clientes, mostrar para eles. Já ocorreu de clientes da Lar que vieram do exterior ficarem surpresos ao verem árvores na beira das estradas e rios, pois se fala que no Brasil não há mais mata. Essa narrativa precisa ser construída para que sejamos melhores vistos lá fora.

O Presente Rural – Na sua visão, o que é o agronegócio do futuro e como o cooperativismo se encaixa nele?

Entrevistado do Programa Voz do Cooperativismo, presidente da Lar Cooperativa, Irineo da Costa Rodrigues destacou os principais avanços e conquista da cooperativa

Irineu da Costa Rodrigues – O agronegócio é uma necessidade. Nós vamos ter nove bilhões de pessoas, então é um incremento de mais de um bilhão e meio de pessoas que precisam se alimentar e têm muitas regiões do mundo em que as pessoas passam fome. Estamos numa atividade essencial, diria até mais essencial que a saúde, porque não tendo alimentação, não tem como ter saúde.

Isso tem uma perspectiva muito grande para o nosso país. Cada vez mais a gente observa que quem tem tecnologia para o agro vem para o Brasil. O país vai atrair muitos investidores porque ele tem uma condição espetacular para produzir muito mais. E nós temos que ter a sabedoria de aproveitarmos essas oportunidades. E sim, penso que as cooperativas estão fazendo isso. A Lar não cresceu nos últimos anos à toa, ela buscou crescer, ela se preparou, ela tem na educação e na inovação pilares importantes. Nós somos uma cooperativa que estuda muito. Até temos falado que a Lar é uma cooperativa educadora. Temos aqui grupos de cumbuca espalhados em todo a cooperativa, onde as pessoas se reúnem para estudarem juntas, discutir o que estudam e aplicarem o estudo. Isso está dentro do DNA da cooperativa e é isso que nos dá essa confiança de que a Lar tem mais facilidade de superar dificuldades. Nós acreditamos que ela é uma cooperativa bem resiliente, porque ela, desde o começo do ano, trabalha como se já fosse um cenário difícil. E se ele aperta, o pessoal se dedica um pouco mais. Se o ano vai bem, a gente não afrouxa não. Então vamos produzir um bom resultado financeiro no final do ano, porque o associado quer sobra e o funcionário quer participação do resultado.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse a versão digital de Avicultura de Corte e Postura clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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Avicultura

Inscrições com desconto ao Simpósio de Incubação e Qualidade de Pintos encerram dia 30 de abril

Evento será realizado nos dias 21 e 22 de maio em Uberlândia (MG).

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A Fundação de Apoio à Ciência e Tecnologia Avícolas (Facta) realiza, entre os dias 21 e 22 de maio, o Simpósio de Incubação e Qualidade de Pintos no Nobile Suíte Hotel em Uberlândia (MG),

Todas as palestras serão realizadas de forma presencial e as inscrições podem ser feitas pelo site da Facta. Os valores, com desconto do primeiro lote variam de R$ 390,00 para profissionais e R$ 195,00 para estudantes. Estes valores estarão disponíveis até o dia 30 de abril.

Para se inscrever clique aqui. A inscrição só será confirmada após o pagamento, que pode ser realizado via depósito bancário, PIX, transferência bancária ou pelo cartão de crédito.

As inscrições antecipadas podem ser feitas até dia 16 de maio, não sendo possível se inscrever presencialmente no dia do evento.

Programação explora tópicos importantes para a avicultura

Durante o Simpósio de Incubação e Qualidade de Pintos, os participantes terão a oportunidade de se aprimorar em uma variedade de temas fundamentais para o setor avícola. Um dos pontos de discussão será a otimização da janela de nascimento e seus impactos na qualidade e desempenho das aves adultas. Os especialistas compartilharão novos conceitos sobre como aperfeiçoar esse processo para garantir melhores resultados na produção avícola.

Além disso, a limpeza, desinfecção e controle da contaminação no incubatório serão abordados em detalhes. Os participantes terão  acesso à informações sobre as melhores práticas para manter um ambiente higiênico e seguro para o desenvolvimento dos pintinhos. Confira a programação completa clicando aqui.

Fonte: Assessoria Facta
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