Suínos Suinocultura
Profissional explica principais pontos de limpeza, desinfecção e vazio sanitário em granjas
Médica veterinária Anne de Lara explica que processo é extremamente importante para contribuir com a saúde animal e econômica

A sanidade do rebanho é um dos pontos mais importantes da suinocultura. Adotar os melhores métodos de manejo que garantam este status é um ponto fundamental para atingir melhores resultados. Porém, ainda existem casos em que por falta de planejamento ou conhecimento, alguns detalhes que são importantes são deixados de lado quando o assunto é a limpeza e desinfecção do ambiente antes de receber um novo lote. Para esclarecer dúvidas sobre este assunto, a médica veterinária e doutoranda da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Anne de Lara, fala sobre “Pressão de infecção: quais os melhores métodos de lavagem, desinfecção e vazio sanitário a serem adotados na suinocultura” durante o Seminário Internacional de Suinocultura (Sinsui), que aconteceu em maio, em Porto Alegre, RS.
A profissional explica que o tema é bastante amplo porque é utilizado em várias áreas, seja humana, farmacêutica ou produção animal. Dessa forma, o objetivo é tratar qual a realidade hoje, o que pode ser feito para reduzir a pressão de infecção no campo, de que forma esse processo de limpeza e desinfecção pode contribuir e quais as ferramentas que existem hoje para isso.
Anne comenta que atualmente a suinocultura possui vários processos e manejos que no decorrer do tempo fizeram com que aumentasse a pressão de infecção. Entre eles estão a densidade animal e o aumento da produtividade. “Os animais contaminam as instalações com agentes da microbiota e também com agentes patogênicos, quando presentes no rebanho. Associado a isso, há muitos locais onde a estrutura da granja não tem o melhor tipo de piso. Estas particularidades podem fazer com que os agentes permaneçam nas instalações”, afirma. Adotando melhores processos, isto pode ser resolvido, mas ainda é um desafio para a suinocultura, esclarece a profissional.
Ela diz que em alguns casos, não ocorre o planejamento para o intervalo adequado entre lotes. “Existem desafios em relação ao tempo hábil para fazer esse processo. Então, quanto mais otimizado e mais assertivo for a etapa de limpeza e desinfecção, especialmente quando não há muito tempo para executar, melhor será o resultado para reduzir a contaminação nas instalações”, conta. A profissional explica que para que o próximo lote a ser alojado tenha uma condição de ambiente favorável para o desempenho dos leitões, é necessário que o procedimento de limpeza e desinfecção seja realizado da melhor forma possível e aproveitando o tempo disponível. “Por isso também a importância da adoção de processos padronizados”, reitera.
Entendendo cada um dos processos
A médica veterinária diz que a limpeza da matéria orgânica residual é a parte mais importante de todo o processo, pois a efetividade das etapas seguintes são dependentes desse processo inicial. “Deve ser realizada de forma criteriosa com a utilização de ferramentas adequadas como detergentes, água de boa qualidade sob pressão e por pessoas treinadas”, afirma.
Já a desinfecção, conta Anne, deve ser realizada em instalações secas, após a limpeza prévia, utilizando produtos com espectro conhecido e na concentração adequada. “Vários são os fatores que podem reduzir a eficiência dos desinfetantes, portanto deve-se atentar às características de diluição, estabilidade, aplicação, tempo de contato e qualidade da limpeza das instalações”, alerta.
O vazio sanitário, acrescenta a profissional, é um processo complementar. “Portanto, este é totalmente dependente da qualidade dos processos anteriores. O objetivo do vazio sanitário é permitir a ação residual dos desinfetantes e o processo de dessecação”, conta.
Repetibilidade
Anne informa que o processo de limpeza e desinfecção deve ser realizado no intervalo entre o alojamento dos animais. “Portanto, quanto melhor a execução desse processo, melhor o aproveitamento do tempo e o resultado final. A padronização de processos é importante para que se obtenha repetibilidade, por meio de métodos seguros e efetivos”, conta.
Ela cita alguns detalhes que são importantes para estabelecer um programa de limpeza e desinfecção. “Inicialmente, o treinamento das pessoas envolvidas é essencial. Esse treinamento deve deixar claro para quem realiza o processo e qual a importância de ser feito da melhor forma, mostrando o impacto que isso tem no resultado do lote”, afirma. Anne explica que esse processo vai reduzir a exposição dos agentes aos animais que serão alojados e, com isso, a probabilidade de desencadear doença clínica reduz. “Essa comunicação é bastante importante”, assegura.
Quanto a realização do procedimento em si, a profissional explica que é preciso ter as ferramentas adequadas para a realização do mesmo, ou seja, um detergente e desinfetante com efetividade comprovada. “Uma série de fatores contribuem para o sucesso do processo, como utilização das concentrações adequadas e respeitar o tempo mínimo de contato dos desinfetantes com as instalações”, diz.
Outra questão importante destacada pela médica veterinária, e que impacta bastante, é o intervalo de tempo hábil para os processos serem realizados. “Isso depende do tamanho da instalação, mas pelo menos seis dias de intervalo entre lotes são necessários para executar o processo de limpeza e desinfecção e ter um mínimo de vazio sanitário”, afirma. Ela diz que este tempo varia bastante conforme a realidade de cada granja, porém, se o tempo for limitado e reduzido não será possível executar todas as etapas.
Após a limpeza, desinfecção e vazio sanitário, destaca a profissional, é importante estabelecer inspeções para definir se o processo foi realizado corretamente e se obteve o resultado esperado. Anne destaca que o principal benefício ao realizar corretamente cada um dos processos é a redução da pressão de infecção, fornecendo assim um melhor ambiente aos animais. “Além de favorecer o bem-estar, há uma redução na probabilidade de desencadeamento de doenças clínicas nos animais e por consequência um melhor desempenho do rebanho”, garante. Deve-se considerar ainda que um programa básico de limpeza e desinfecção custa em média 1 a 2% do custo total do lote, comenta. Enquanto que o tratamento de doenças clínicas normalmente é superior a isso.
Dificuldade ainda é grande
A médica veterinária comenta que ainda existem dificuldades em operacionalizar estes pontos na granja. “Uma questão muito importante é o tempo hábil para realizar um processo adequado. Além desse fator, a condição das instalações também impacta, especialmente no caso de granjas sem manutenção adequada, onde há muitas falhas em piso e equipamentos”, afirma.
Ela acredita que fatores importantes que dificultam a execução do procedimento é o curto intervalo entre lotes praticado e as condições estruturais das granjas. “Essa questão do tempo mínimo e a qualidade dos pisos são condições importantes atualmente no Brasil que podem dificultar a obtenção de bons resultados nos planos de desinfecção”, conta. Além do mais, a comunicação e treinamento do pessoal, informa, é outro grande obstáculo.
A médica veterinária garante que todos os processos a serem realizados são simples. “Isso desde que seja estabelecido um plano considerando os principais fatores como disponibilidade de ferramentas adequadas e equipe treinada”, assegura.
Todos dentro todos fora
Anne conta que este processo de limpeza e desinfecção deve ser realizado em todas as fases da produção, uma vez que o processo reduz a pressão de infecção por agentes que podem acometer os suínos nas diferentes fases de produção. Além disso, ela acrescenta que quando esse processo é associado ao manejo “todos dentro, todos fora”, há um ganho significativamente maior, uma vez que a medida que todos os animais são retirados das instalações é retirado também o fator colonização. “Com a saída dos animas é possível fazer um processo adequado de limpeza e desinfecção, visto que não terão mais animais colonizando e contaminando o ambiente durante essa etapa”, assegura.
Já em granjas onde não há retirada total dos animais não quer dizer que a limpeza e desinfecção não são importantes. “Mas o resultado vai ser diferente, porque ainda terá fluxo de animais e pessoas que podem contaminar a instalação. No caso de granjas de reprodutores, onde somente algumas baias ou alas passam pelo processo de limpeza e desinfecção enquanto outros animais ainda permanecem nas instalações, o processo é importante, mas a redução da pressão de infecção normalmente é inferior”, afirma. Ela acrescenta que nas fases de creche e terminação é muito relevante a adoção do sistema “todos dentro, todos fora” para viabilizar um adequado processo de limpeza e desinfecção, bem como obter outros ganhos relacionados ao desempenho dos animais.
Programa feito em equipe
Um fator importante e essencial citado por Anne é que os planos sejam desenvolvidos junto com as equipes executoras, para que as ações sejam aplicáveis à rotina. “O plano vai ficar muito mais aplicável e diretamente fácil de executar se forem consideradas a participação das pessoas que fazem esse processo e que o conhecem, para que seja aplicado para aquela realidade”, afirma.
Ela comenta que alguns planos podem não se aplicar diretamente a todos os tipos de granja. “Por isso é importante sempre trazer as pessoas que estão diretamente envolvidas no processo para discutir e elaborar os planos de desinfecção”, sustenta. Além do mais, é necessário que esta equipe entenda o porquê de estar realizando esta etapa. “É importante que os envolvidos compreendam que esse processo não é somente um preparo e sim ações que vão contribuir para a saúde do lote”, diz.
Anne destaca ainda que o programa deve ser completo. “Não podemos pensar na desinfecção sem ter uma limpeza bem realizada. A grande maioria dos desinfetantes reduz eficiência na presença de matéria orgânica. Então a limpeza deve ser bem executada, removendo toda a matéria orgânica para seguir com o processo de desinfecção”, reafirma. Da mesma forma, o vazio sanitário é um processo complementar aos dois primeiros. “Por isso é tão importante que cada etapa seja feita adequadamente”, alerta.
Outras notícias você encontra na edição de Suínos e Peixes de maio/junho de 2019 ou online.

Suínos
Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura
Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.
O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.
As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.
Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.
Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.
Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.
Suínos
Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças
Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.
Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.
No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.
Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.
Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.
Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.



