Bovinos / Grãos / Máquinas
Professor defende seleção de animais eficientes em dietas de baixa proteína
Docente enaltece que a eficiência no uso de nitrogênio na produção de bovinos é tarefa primordial para melhorar o desempenho produtivo.

Reduzir custos, aumentar a produção e ter um manejo cada vez mais eficiente. Esse é o objetivo dos produtores que trabalham com o agronegócio. Por meio de estudos científicos, novas formas de manejo trazem benefícios ao sistema. É o caso dos pecuaristas que encontram, na eficiência do uso do nitrogênio, um aliado para maximizar a produção de bovinos. A eficiência no uso de nitrogênio na produção de bovinos é o assunto desta matéria especial do O Presente Rural, que entrevistou o professor, Luiz Felipe Prada e Silva, docente associado da Universidade de Queensland, na Austrália.
Conforme o professor, os ruminantes têm a capacidade de fabricar proteínas de qualidade alta a partir do elemento químico do nitrogênio. “Por isso, a gente consegue usar ureia na alimentação de ruminantes. Isso ocorre porque as bactérias do rúmen conseguem modificar os ingredientes. Desta maneira, é possível que você alimente primeiro as bactérias do rúmen, e isso depois vai ser absorvido pelos animais. Isso cria uma situação extremamente interessante para alimentação dos bovinos”, pontua o professor.
Essa característica cria uma oportunidade na nutrição de bovinocultura de corte, que é o uso de ingredientes simples nitrogenados, como Aurélio e o Sulfato de Amônio. “É importante destacar que o nitrogênio está presente em praticamente todos os ingredientes da dieta, por exemplo, o pasto tem proteínas e tem compostos nitrogenados que não são proteínas, mas são outros compostos que têm nitrogênio, tudo isso ajuda muito na nutrição dos bovinos”, esclarece.
O nitrogênio pode ser usado no manejo de gado de corte e gado de leite. “Cada produção vai ter as suas peculiaridades. Para que o uso do nitrogênio seja eficiente é preciso considerar também as diferenças entre animais a pasto, semi-confinados e confinados, utilizando estratégias diferentes”, adverte.
Produção e eficiência

Luis Felipe Prada e Silva, professor associado da Universidade de Queensland, na Austrália – Fotos: Arquivo Pessoal
O profissional ressalta que a eficiência no uso de nitrogênio é uma das formas de avaliar a eficácia de um sistema. “Isso é importante por dois principais fatores. Primeiro, o custo da dieta, pois quando você tem um sistema mais eficiente significa que estará melhor utilizando o recurso nutricional para transformar isso em nitrogênio. O segundo ponto é a parte ambiental, pois se você tem uma ineficiência no uso de nitrogênio, pode acontecer de os animais eliminarem este nitrogênio de volta para o meio ambiente, o que pode ter um efeito poluente”, informa.
Conforme o professor, é preciso repensar a forma do manejo de produção dos bovinos. “Os bovinos são os animais mais eficientes em preservar nitrogênio. Porém, em muitos casos, os sistemas de produção da pecuária são os menos eficientes, porque não aproveitam as características dos animais e acabam mantendo dietas com excesso de nitrogênio. Isso quer dizer que os bovinos são ótimos em preservar o nitrogênio quando em dietas de baixo nitrogênio, mas eles são muito ruins em preservar nitrogênio em dietas com excesso de nitrogênio”, destaca.
Essa peculiaridade será o tema central da palestra, além de apresentar a tese de que a seleção dos animais mais eficientes pode ser a chave para melhorar a eficiência do uso de nitrogênio, maximizando a produção. “O que me preocupa bastante é que ao longo de décadas nós fazemos uma seleção equivocada, pois selecionamos animais que são eficientes quando em dietas de alta proteína, quando poderíamos fazer o contrário, selecionar os animais que sabem lidar com uma menor ingestão de nitrogênio, e desta maneira, poderíamos parar com a prática de super alimentar os bovinos com proteína e nitrogênio”, opina.
Estudos científicos
O palestrante pontua que a situação do Brasil e do restante mundo está bem aquém dos resultados científicos. “Ainda percebemos que os produtores têm a tendência de super alimentar os animais com nitrogênio. Isso faz com que a eficiência seja muito baixa, pois nós temos um animal que é muito bom para preservar nitrogênio, mas nós não somos capazes de usar essa habilidade porque super alimentamos os animais com dietas de alta proteína”, reforça.
É importante ter ciência se os bovinos estão ou não excretando muito nitrogênio no meio ambiente, sendo que as formas mais difundidas para medir são a coleta de sangue do animal, para verificar o nível de ureia e também a coleta da urina dos animais, para medir o nível de ureia na urina. Uma nova abordagem está sendo estudada, conforme explica o professor. “É uma medida simples, que é medir os isótopos estáveis do nitrogênio nos tecidos do animal. Você pode pegar o pelo da cauda do animal e fazer uma medida simples da proporção de isótopos de nitrogênio nesse pelo da cauda, isso vai te dar um ranking dos animais que são mais ou menos eficientes”, explica.
Segundo o profissional, a Europa tem vários estudos para aumentar a eficiência do uso de nitrogênio em gado de leite baseados nessa técnica de mensuração. “Aqui na Austrália, nós também estamos utilizando os isótopos estáveis como uma medida simples para classificar os animais. É por tudo isso que eu acredito que temos conhecimento suficiente para focar mais na formulação de dietas para a eficiência ao invés pensar apenas na produção total do animal”, expõe.
“Nós precisamos sair da filosofia de focar a máxima produção, mesmo que isso implique um excesso de proteína e entrar na filosofia de formulação de dietas, na qual vamos ser mais conscientes da eficiência de uso, dos ingredientes e do impacto ambiental. Os pecuaristas e as indústrias precisam fazer um papel melhor, selecionando animais que são mais eficientes e buscando formular dietas mais eficazes”.
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Regeneração de pastagens e sistemas integrados ganham protagonismo na pecuária brasileira
Especialistas destacam que eficiência produtiva, solo saudável e adoção de ILPF são caminhos centrais para uma pecuária sustentável e de baixo carbono.

A regeneração de pastagens degradadas e a adoção de sistemas integrados de produção devem ocupar o centro da estratégia da pecuária brasileira para os próximos anos. Essa visão foi defendida por Fábio Dias, líder de Pecuária Sustentável da JBS, durante sua participação no VEJA Fórum de Agronegócio, realizado nesta segunda-feira (24), em São Paulo.
Ao participar do painel “Agricultura Sustentável: como produzir sem desmatar”, o executivo ressaltou que a eficiência produtiva e a sustentabilidade caminham juntas para garantir a perenidade do negócio. Com atuação em 20 países e relacionamento diário com centenas de milhares de produtores, a JBS enxerga a saúde da cadeia de fornecimento como prioridade. “A produção pecuária e agrícola precisa prosperar por muitos anos, não apenas por alguns. Se os produtores não forem bem, toda a cadeia não irá bem”, explicou.
Dias também analisou a mudança de paradigma no setor: se antes o foco estava exclusivamente no volume de produção, hoje a degradação e a queda de produtividade, especialmente em áreas de abertura mais antigas, impulsionaram uma nova mentalidade voltada à longevidade e à qualidade do solo.
Segundo Dias, essa agenda regenerativa é um imperativo de gestão, focada na melhoria contínua do ativo ambiental. “É fundamental garantir que a fazenda seja mantida em condições de produtividade superior a cada ano, demonstrando que a exploração pecuária de longo prazo é totalmente sustentável”, afirmou.
O executivo reforçou a singularidade do modelo brasileiro, capaz de acomodar duas ou três safras na mesma área. Nesse contexto, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) surge como ferramenta vital. A presença animal no sistema não apenas diversifica a renda, mas eleva a biologia do solo e sua capacidade de estocagem de carbono. “Colocar animais numa área aumenta a vida do local, eleva a qualidade da terra e mantém o solo coberto durante todo o ano”, explicou Dias. De acordo com o executivo, a eficiência gerada pela ILPF, somada à redução da idade de abate dos animais, resulta em menor pressão por desmatamento e queda nas emissões entéricas, pavimentando o caminho para uma pecuária brasileira de baixo carbono.
Para acelerar a adoção dessas tecnologias e fortalecer a formalização da cadeia, a JBS estruturou um ecossistema robusto de difusão de conhecimento, assistência técnica e gerencial. O objetivo é empoderar o produtor para a tomada de decisões embasadas. “Construímos um ecossistema que difunde conhecimento e apoio aos produtores”, reforçou Dias.
Essa estratégia, operacionalizada por meio do programa Escritórios Verdes, criado em 2021, e que que oferecem assistência técnica, ambiental e gerencial gratuita, tem gerado impacto mensurável: desde então, já foram mais de 20.000 produtores apoiados, reinseridos na cadeia produtiva legal e sustentável.
O líder de Pecuária Sustentável da JBS concluiu que o potencial do Brasil em ter uma pecuária baixa em carbono é evidente, dada a capacidade de armazenagem do solo tropical e a redução da idade de abate dos animais. “Ao aumentar a produção por área, a JBS enxerga um futuro brilhante para a pecuária brasileira, onde a sustentabilidade se torna o novo padrão de eficiência e inclusão produtiva”, pontuou.
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Mercado do leite volta a cair em novembro e mantém pressão sobre o produtor
Demanda mais fraca e custos elevados sustentam pressão negativa sobre o preço ao produtor.

O preço médio nacional do leite ao produtor fechou novembro de 2025 em R$ 2,44 por litro, conforme o boletim Indicadores Leite e Derivados, elaborado pelo Cileite/Embrapa. O valor representa queda de 3,8% na comparação mensal e recuo de 14,8% em 12 meses, consolidando um ano de forte retração para o setor.
A análise regional mostra que todos os estados acompanhados registraram variações negativas, como em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. As barras do gráfico destacam uma tendência comum de queda, com redução próxima a 4%.
Derivados também caem

Foto: Sistema Faep
Os preços dos lácteos seguiram o mesmo movimento. O boletim indica retração de 1,0% no conjunto de “Leite e Derivados” e queda de 0,2% em outro agrupamento de produtos monitorados. Entre os itens acompanhados individualmente, o leite UHT apresentou variação negativa mais intensa, acompanhado por baixas em queijos, manteiga, creme de leite e leite condensado — todos com índices de redução destacados na coluna “Em 12 meses”.
Consumo interno não reage
O relatório também traz a evolução do ticket de compra de lácteos no varejo, mostrando oscilações ao longo de 2023, 2024 e 2025. A curva referente a 2025 revela leve recuperação no segundo semestre, mas ainda distante dos patamares observados em anos anteriores. Segundo o boletim, o consumo interno não tem acompanhado a oferta, o que contribui para a continuidade da pressão sobre os preços ao produtor.
Cenário segue desfavorável ao produtor
Com custos ainda elevados em várias regiões e baixa capacidade de repasse pela indústria, o momento permanece desafiador para a cadeia produtiva. A retração em praticamente todos os indicadores reforça o ambiente de margens apertadas e de incerteza para o início da temporada 2026.
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Mato Grosso institui Passaporte Verde e eleva padrão socioambiental da pecuária
Nova lei, que entra em vigor em 2026, estabelece critérios socioambientais e rastreabilidade completa do rebanho para atender às exigências dos mercados internacionais.

A Assembleia Legislativa de Mato Grosso aprovou, em duas votações, na última quarta-feira (19), o projeto de lei que institui o Programa Passaporte Verde, iniciativa que coloca o Estado na vanguarda da pecuária sustentável no Brasil. A nova legislação entra em vigor em janeiro de 2026 e estabelece critérios socioambientais para todo o monitoramento de rebanho bovino e bubalino mato-grossense, com o objetivo de atender às exigências dos mercados internacionais mais competitivos.
O Passaporte Verde, desenvolvido pelo Instituto Mato-grossense da Carne (Imac) em parceria com o Governo do Estado e o setor produtivo, propõe o monitoramento socioambiental completo da cadeia da carne, desde o nascimento do animal até o abate. O programa prevê etapas de implantação para incluir propriedades de todos os portes, oferecendo suporte técnico e orientação aos produtores.
Entre os objetivos dessa política de sustentabilidade estão o desenvolvimento sustentável, a inclusão e consciência produtiva, o acesso ao mercado global, qualidade e monitoramento, incentivo de parcerias do setor privado com entidades públicas, a valorização de serviços ambientais, além do estímulo do ambiente de concorrência equitativa na cadeia produtiva.
A iniciativa reforça o compromisso de Mato Grosso com a produção responsável, rastreabilidade, transparência e conservação ambiental, critérios cada vez mais valorizados pelos importadores e consumidores globais. Países da Europa e da Ásia, por exemplo, têm adotado políticas que priorizam produtos com comprovação de origem sustentável e desmatamento zero. “Mato Grosso se consolida como pioneiro em sustentabilidade com o Passaporte Verde. Estamos mostrando ao mundo que é possível produzir mais, com responsabilidade ambiental e inclusão social. Esse programa será uma vitrine da pecuária moderna, transparente e comprometida com o futuro do planeta”, comemorou o presidente do Imac, Caio Penido.



